terça-feira, 31 de julho de 2018

A geração de 1999

"O futebol de formação em Portugal aparenta ser um mistério: um país pequeno, economicamente remediado, de fraca cultura desportiva e com poucos jogadores federados, tem resultados bem melhores do que seria de prever. Só em europeus de sub-19, fomos a três finais nos últimos cinco anos e a selecção de sub-21 esteve invencível de Outubro de 2011 a Junho de 2017.
A explicação para este sucesso está, em primeiro lugar, no trabalho feito nas academias dos clubes (dos três grandes, mas não só), na aposta que a Federação tem feito, dando condições únicas às selecções, mas, em importante medida, também na alteração do quadro competitivo. A este respeito, sublinhe-se os ganhos de maturidade que resultaram da criação das equipas B. Se no Euro 2016, nove dos 23 campeões europeus tinham jogado em equipas B, no último Mundial de sub-20, o mesmo era verdade para 20 dos seleccionados. Agora, neste europeu de sub-19, tivemos uma selecção formada por jogadores que, ainda mais jovens, já quase todos tiveram experiências em equipas B. Há um antes e depois das equipas B para o futebol de selecções jovens em Portugal. Sintomaticamente, os sub-21 estiveram os tais seis anos invencíveis a partir de 2011 e após terem falhado três vezes consecutivas a qualificação para o Euro (curiosamente, as equipas B foram criadas em 2012). Permanece, por isso, um mistério a aposta da Federação numa competição de sub-23 (que perpetua os campeonatos jovens) e o desinvestimento no projecto das B.
Mas, para além de explicações mais estruturais, sobra também o talento impressionante desta geração de 1999. Além dos jogadores de grande qualidade que estiveram na Finlândia, este grupo tem, pelo menos, mais seis jogadores que, por estarem nos A dos seus clubes, não foram ao europeu, mas que são uma mais valia. Com Dalot, Diogo Leite, Rafael Leão, João Félix, Gedson e David Tavares, este grupo, daqui a um ano, e se for exposto a um ambiente competitivo exigente nos seus clubes, tem todas as condições para trazer de volta para Portugal o título de campeão do Mundo de sub-20.
Sobra, contudo, uma inquietação. A passagem dos jovens talentos para as equipas principais continua a ser difícil: porque falham ou, muito pior, porque são vendidos prematuramente. Penso no caso do meu Benfica: Rúben Dias, capitão em todos os escalões, aparenta estar na porta de saída para o Lyon (!), antes de maturar como capitão na equipa principal; quando se vê o Jota a jogar, a sensação com que se fica é que deve estar na iminência de ser vendido por 15 milhões para um Wolverhampton da vida. Pior, isto numa altura em que o Benfica parece estar interessado, para a mesma posição, em Omur, um turco, também de 1999, com passagem ultradiscreta pelo europeu, com menos cinco centímetros do que o Jota, mas pelo qual, a crer na imprensa, terá sido feita uma oferta ao Trabzonspor de dez milhões de euros mais dois jogadores. O costumeiro carrossel de comissões e de intermediários que dá que pensar."

50%+1: A/C de Sporting e Belenenses e tantos outros

"A perda do controle da maioria do capital da SAD por parte do clube é tema central da campanha eleitoral para o Sporting e, um pouco por toda a parte, tem alimentado tristes novelas com desfechos tão tristes desfechos quanto o são o desaparecimento de emblemas históricos ou divórcios em praça publica entre clubes e respectivas SAD.
Num planeta futebol cada vez mais orientado para o dinheiro, o futebol alemão é o último bastião do fair play comercial, mas resistirá quanto tempo mais? O presidente-executivo do Bayern, Karl-Heinz Rummenigge, diz que chegou a hora de acabar com a regra dos 50+1 que até aqui tem impedido que investidores estrangeiros, muitos sem experiência anterior no futebol, assumam o controle dos clubes da Bundesliga.
A regra dos 50+1 estipula que o clube deve deter sempre uma participação social mínima de 50% mais uma acção, evitando assim que investidores com agendas guiadas mais pelos resultados económicos do que pelos resultados desportivos forcem mudanças nos clubes contra a vontade dos adeptos.
Entre outras externalidades positivas esta é a regra que tem mantido os preços dos ingressos baixos e os estádios cheios, dando à Alemanha a cultura desportiva mais saudável do futebol europeu.
Mas Rummenigge diz que esta regra torna os clubes alemães cada vez menos competitivos nas competições europeias, impedidos que estão de lutar com as mesmas armas dos clubes-empresa da Premier League. "Estão todos com medo de perdermos competitividade se nos abrirmos ao mercado mas o oposto já é verdadeiro, a Alemanha só tem a ganhar com isso", disse Rummennige. "Ou vamos por esse caminho também ou vamos acabar por pagar um preço de ficar de fora. (...) Temos que parar de promover o populismo. (...) A Alemanha não é uma ilha deserta."
A tentativa mais recente de derrubar a regra dos 50+1 fracassou em Março. A maioria dos 36 clubes das 1.ª e 2.ª Bundesligas votou favoravelmente a moção apresentada pelo mais romântico dos clubes alemães, o FC St. Pauli. Assim manteve-se o sistema de aprovação por parte dos clubes da liga da entrada de quaisquer investidores maioritários em qualquer um dos clubes membros. Este sistema de aprovação da propriedade entre pares é único na Europa, embora os investidores que tenham interesses registados num clube por pelo menos 20 anos possam pedir uma isenção ao mesmo, como a concedida à Bayer em Leverkusen ou à Volkswagen em Wolfsburg. Outra excepção é o Hoffenheim, onde o bilionário Dietmar Hopp foi autorizado a assumir o controle maioritário em 2014, após investir consistentemente no clube durante mais de duas décadas.
Num plano muitíssimo menos inclinado do que a derrapagem dos nossos clubes no ranking da UEFA, os clubes alemães vêm enfrentando dificuldades acrescidas nas competições europeias e nenhum clube da Bundesliga chega a uma final de uma competição europeia desde 2013.
O Bayern e o Eintracht Frankfurt são os grandes dinamizadores de uma revolução que, a ser bem sucedida, alterará definitivamente os paradigmas do futebol alemão enquanto modalidade popular, da e para a população. Para os clubes alemães será o cair da máscara de respeitáveis instituições sociais e formativas de promoção da pratica desportiva. Passaram a ser tratadas por um povo culto e responsável, como quaisquer outros promotores de uma actividade comercial.
Atendendo à festa familiar que é hoje o futebol alemão, não é certo que 'Herr' Karl-Heinz tenha feito bem as contas a tudo quanto o futebol alemão e os seus clubes podem vir a perder."

Os campeões sem medo

"Saúdo a selecção de sub-19. Somos campeões europeus, estão de parabéns os jogadores pelo brilhante percurso e vitória na competição, a equipa técnica liderada pelo Hélio Sousa e a estrutura da Federação Portuguesa de Futebol, pelo trabalho que têm desenvolvido para a promoção e desenvolvimento do jovem jogador português.
O sucesso dos sub-19 resulta de um trabalho articulado desde a captação ao treino e à competição regular, pelo que quero também saudar os clubes que apostaram na formação destes jovens atletas e das famílias que os apoiam. Estes resultados não surgem por acaso, conquistar os europeus de sub-17 e sub-19 não foi um golpe de sorte, foi o resultado de uma renovação das infraestruturas que acolhem o futebol de formação em Portugal, designadamente através do modelo de certificação das entidades formadoras.
Há, todavia, quem procure limitar esta aposta, insista em balizar por baixo, não tenha visão a médio ou longo prazo. É tempo de a política desportiva nacional se centrar no praticante. Uma politica integral e efectiva. Defender o jogador em todas as suas dimensões é defender o desporto e assegurar o futuro.
Em meu nome pessoal enquanto presidente do Sindicato, depois de destacar o mérito colectivo, quero também destacar o sucesso individual. A distinção do Trincão e o do Jota, um prémio ao seu talento, é um incentivo ao trabalho e ao crescimento e, paralelamente, inspira os demais colegas, projectando uma geração que dará, ainda, muitas alegrias a todos os portugueses.
Quanto à final, fica na memória muitos golos, sofrimento até ao fim, mas sempre atacar, sem medo. Não há barreiras insuperáveis quando se acredita. Dez dias volvidos de uma derrota com esta fantástica selecção italiana, mostrámos uma enorme capacidade de superação no duelo que realmente importava. Bem hajam!"

O futebol que aí vem...

"Não vale tudo para ganhar. E as justiças civis e desportivas parecem saber disso

Sérgio Conceição disso-o recentemente e com toda a razão. Esperemos que, esta época, os verdadeiros protagonistas do jogo sejam apenas jogadores e treinadores.
Nunca é de mais recordar mas, por vezes, torna-se demasiado fácil esquecer: são eles as estrelas deste espectáculo.
São eles que brilham em campo, que enchem o relvado, que desfilam talento. Talento que seduz, que procura vitórias, que tenta o sucesso.
São deles as jogadas inventadas nos treinos e a magia calçada nas botas.
São eles que fazem as tácticas e que marcam os golos. São eles que planeiam e são eles que executam. São eles que libertam o imaginário do adepto e que alimentam o sonho do menino que quer ser craque.
Os tempos são outros e a velocidade a que a informação circula é vertiginosa. Tudo se diz e tudo se sabe ao segundo, via multiplataformas que moram à distância de um clique.
Tal como tudo o resto, também o futebol está entregue à tecnologia.
Hoje parte considerável do mundo que o dirige, analisa e crítica fá-lo com legitimidade, mas sem nunca o ter sentido ou vivido por dentro, o que é perigoso. E estranho.
Por isso, permitam-me um conselho: pensem antes de agir, reflictam antes de falar. A vossa opinião pesa. Sejam sensatos. Correctos. Educados.
As atitudes e opiniões de quem tem responsabilidade podem e devem ser firmes e críticas, mas nunca falsas. Nunca ameaçadoras. Nunca incendiárias.
A difamação, a leviandade e a malícia contagiam a opinião pública. enervam o adepto. Destroem o trabalho honesto de gente competente, séria e com carácter.
O sucesso desportivo de um clube não deve ser conseguido fora das quatro linhas.
O futebol é uma actividade demasiado valiosa. Não pode dar abrigo a quem, directa ou indirectamente, o usa com agenda própria, para fins menos claros. Menos legais. Desonestos.
Não vale tudo para ganhar. E as justiças desportivas e civis parecem agora saber disso. Felizmente.
Porque o futebol que verdadeiramente interessa não é o dos egos, das ganâncias e da chico-espertice.
É o dos jogadores e treinadores. E mais cedo ou mais tarde voltará a ser. Esperemos que já em 2018/2019.

Duarte Gomes, in A Bola

PS: A utilização das palavras do Sérgio Conceição para 'ilustrar' esta opinião, só pode ter sido uma tentativa de sarcasmo por parte do autor.
Como é que uma pessoa que como jogador e agora como treinador, defende o Clube que é a maior ilustração do 'vale tudo para ganhar', o Clube responsável por todos os crimes possíveis e imaginários... O Clube da difamação, da malícia... Como é que esta pessoa, vem apelar à pacificação do Tugão!!!
Só por ter sido sarcasmo!