domingo, 29 de julho de 2018

Jota

Portugal, acabou de sagrar-se Campeão Europeu de Sub-19. Pela primeira vez, uma geração portuguesa é campeã europeia de sub-19!!! Juntando assim o título Europeu de sub-17 com o sub-19 como é óbvio pela primeira vez!!! Sendo que a equipa que venceu hoje a Itália numa épica final, por diversos motivos não teve vários 'titulares' (Félix, Gedson, Leite, Dalot, Leão, David Tavares...) que não foram convocados!!!

Com 'selo' Caixa Futebol Campus (Seixal) temos 9 jogadores nesta equipa: Virgínia, Martelo, Quina e o David Carmo já não são do Benfica, mas passaram por cá... Florentino, Jota, Nuno Santos, Dju e o Zé Gomes são nossos.

Se no caso do Florentino, as suas exibições não são surpresa para ninguém, respira talento e classe... só não está no plantel principal, porque de facto a concorrência para a posição é enorme (empréstimo a equipa da I Liga, ou regresso à B, tenho dúvidas).
No caso do Jota, tenho que admitir que o nível exibicional, do nosso extremo criativo, surpreendeu-me!
A qualidade técnica do Jota não é surpresa para ninguém, mas durante a sua carreira na formação do Benfica, ficou sempre a dúvida, se toda aquela tendência para 'brincar na areia' seria perdida quando chegasse à idade sénior!
Este campeonato da Europa, 'tirou-me' as dúvidas: temos jogador para o Benfica!
E até no aspecto físico impressionou-me: mudança de velocidade muito boa, ganhou músculo (mas não exagerado) e boa reacção à pressão após perda de bola...
Acabou este Europeu como melhor marcador e melhor jogador!!!
Recordo, que o Félix é mais novo do que o Jota... O ano passado o Jota acabou por ter algumas lesões irritantes, e na parte final, acabou por 'descer' aos Juniores, terminando a época com alguns altos e baixos e talvez por isso, nem sequer houve a 'ilusão' de uma possível chamada para fazer a pré-época  com o plantel principal, como aconteceu com o Félix e o Gedson...
Mas vendo como se exibiu neste Europeu, talvez tenha sido um erro!!!!

Ainda por cima o Félix, tem sido usado neste 433 da pré-época, como um extremo, algo que ele não é... O Jota neste 433 da pré-época, estaria completamente à vontade...
Ainda por cima, numa pré-época que tem demonstrado a falta de extremos 'furadoros' no plantel principal... que arriscam o 1x1 sem medos e hesitações!!! E ainda por cima sabe marcar bolas paradas (todo o tipo), como poucos...!!!

O Mundial de sub-20 na Polónia começa a 23 de Maio de 2019, muito provavelmente o Jota nessa altura, já fará parte do plantel principal do Benfica.

PS: Onde anda o 'pessoal' que queria acabar com as equipas B?!!!

Pouco importam os adeptos

"Pode um clube existir sem adeptos? O Belenenses (SAD) parece querer mostrar que sim. Cortada a ligação que restava ao clube e os laços emocionais do Restelo, pouco fica do clube tem nas suas vitrinas um troféu de campeão nacional. No fundo, a Liga NOS 2018/19 terá entre os participantes um clube novo, que veste as mesmas cores do Clube de Futebol Os Belenenses - mas nem sequer o mesmo emblema.
É uma realidade nova no futebol português, mas os sinais há muito que estavam à espreita. A tricefalia que se vive no nosso país foi esmagando os restantes clubes para aquilo que são hoje: pouco representativos em termos sociais, muitas vezes nem sequer localmente. Tornou-se banal ver jogos de Liga com poucas centenas de adeptos no estádio. É, muito provavelmente, aquilo que vai acontecer com este novo Belenenses (SAD), mas o mais triste é que o aspecto das bancadas do Estádio Nacional não será muito diferente daquele que já se vê em grande parte dos outros recintos, mesmo de clubes fundados há quase 100 anos.
No actual modelo de negócio do futebol português, as fontes de receitas para quase todos os clubes são apenas três: direitos de TV, bilheteira dos encontros diante de FC Porto, Benfica e Sporting e transferência de jogadores. Tudo o que seja relacionado com a dimensão do próprio clube, seja venda de bilhetes anuais, quotização ou merchandising, é insignificante para a maioria. Por isso, chame-se Belenenses ou FC Jamor, nada coloca os azuis atrás da concorrência directa no arranque da Liga. Continuará a receber o mesmo da televisão, a ter boas casas nos jogos com os três grandes e a, se a época correr bem, vender os melhores jogadores.
Esta indiferença leva, aos poucos, ao declínio do nosso campeonato. Não é um fenómeno exclusivo de Portugal, mas o desequilíbrio crónico que sempre tivemos (e não só no futebol...) potencia o problema. Actualmente, é mais fácil encontrar um adolescente que tenha o onze do Bayern Munique na ponta da língua do que um que consiga dizer o nome de cinco jogadores de qualquer equipa que tenha acabado a Liga NOS abaixo do sexto lugar. A globalização tem este efeito: aproxima-nos de estrelas que antes só víamos uma vez por semana (e nem sempre), ao domingo à noite.
O Belenenses (SAD), 'clube' sem adeptos, que oferece (sim, de borla) o bilhete de época a quem o teve em épocas anteriores, poderá ser a primeira experiência do género. Mas nada impede que o fenómeno se repita: com o dinheiro certo, é possível 'inventar' um clube, levá-lo à Liga e, depois, montar o negócio no mesmo modelo em que quase todos vivem: TV, receitas de jogos grandes e venda de futebolistas. Basta isto para que os adeptos se tornem definitivamente supérfluos."

Dar o melhor de si

"Quando um estudioso sério faz um exame crítico da cultura ocidental, das suas origens, do seu desenvolvimento, das suas tendências, do seu significado e valor, em todos os momentos da História da Cultura Ocidental o cristianismo está presente como elemento substancial.
Acentuemos, sem receio, que o cristianismo, com as qualidades e os defeitos dos homens que dizem vivê-lo, é uma herança que enforma as instituições do nosso direito, a imaginação dos nossos escritores, o rigor dos nossos cientistas e as raízes da nossa ética. Pode dizer-se mesmo que a Europa, no que de mais autêntico ela tem, nasce da admiração fervorosa pela mensagem cristã. O próprio Augusto Comte e o seu notável discípulo Emílio Littré reconheceram na Idade Média uma “obra política da sabedoria humana”, precisamente pelo monoteísmo da sua mensagem político-religiosa. A meu juízo, para imortalizar a Idade Média, a Divina Comédia, a Canção de Rolando, a Suma de S. Tomás, S. Alberto Magno (físico, botânico e naturalista), a Opus Magnum de Rogério Bacon (1214-1292), os estilos românico e gótico – a meu juízo, para imortalizar a Idade Média, basta citar estes homens e estas obras. Augusto Comte, no seu Cours de Philosophie Positive nota, na Idade Média, “um profundo sentimento de dignidade, de respeito, de elevação, pela pessoa humana” que o introdutor do positivismo filiava no sistema católico de clara distinção entre o poder político e a hierarquia religiosa, proclamando assim uma incontroversa autonomia da moral e da religião, em relação a qualquer sistema político. O conceito de “pessoa humana” é, nitidamente, de origem cristã, pois que defende o respeito e o culto pelo “ser humano”, antes e acima das leis e dos decretos régios e governamentais. À luz do Evangelho, em cada um de nós, há uma vida moral independente do próprio Estado.
O cristianismo é, de facto, a matriz da civilização e da cultura europeias. Não se estranhe por isso que, no Vaticano, o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, sob sugestão do Papa Francisco, ocupe uma boa parte da sua reflexão, procurando abrir o desporto à mensagem do Evangelho. Desta reflexão nasceu um documento, Dar o Melhor de Si (Paulinas Editora, Lisboa, 2018) com prefácio, em forma de carta aberta ao Cardeal Kevin J. Farrell, Prefeito do Dicastério acima referido. São palavras do Papa: “O desporto é um lugar de encontro, em que pessoas de todos os níveis e condições sociais se unem para alcançar um objectivo comum. Numa cultura dominada pelo individualismo e pelo descarte das gerações mais jovens e dos mais idosos , o desporto é um âmbito privilegiado, em torno do qual as pessoas se encontram, sem distinção de raça, sexo, religião ou ideologia e onde podemos experimentar a alegria de competir para alcançar juntos uma meta, fazendo parte de uma equipa em que o êxito ou a derrota são partilhados e superados. Isto ajuda-nos a pôr de parte a ideia de conquistar sozinho um objectivo, centrando-se em si mesmo”. Portanto, para o Papa, no desporto, não se desenvolve um indivíduo, para viver uma vida egoísta de paixões, fazendo dos seus interesses o centro de tudo e de todas as coisas e… acabar escravo dos bens passageiros que o “marketing” e a publicidade lhe oferecem, para o manipular. Para o Papa, o desportista não se confunde com um indivíduo, porque é uma pessoa! E aprende isto mesmo, no desporto, que deverá transformar-se num veículo de formação. Escutemos, uma vez mais, o Papa Francisco: “Por isso, é necessária a participação de todos os atletas de qualquer nível e idade, para que os que fazem parte do mundo do desporto sejam um exemplo em virtudes como a generosidade, a humildade, o sacrifício, a constância e a alegria”.
Por fim, o Papa sublinha o papel do desporto como meio de missão e santificação: “O desporto é uma fonte riquíssima de valores e virtudes, que nos ajudam a melhorar como pessoas. Como o atleta durante o treino, a prática desportiva ajuda-nos a dar o melhor de nós, a descobrir sem medo os nossos próprios limites”. Por seu turno, o Documento Dar o melhor de si começa por mostrar o seu tronco original: “Hoje em dia, a universalidade da experiência do desporto, a sua força comunicativa e simbólica, as suas grandes potencialidades educativas e formativas são reconhecidas e evidentes. O desporto tornou-se um fenómeno de civilização, que habita de pleno direito na cultura contemporânea, permeando os estilos e as opções de vida de muita gente. Isso impele-nos a repropor a interrogação retórica de Pio XII: Como poderia a Igreja desinteressar-se dele?” (p. 10). E insiste, na página seguinte: “O magistério da Igreja apela continuamente à necessidade de promover um desporto para a pessoa, capaz de dar sentido e plenitude à vida, capaz de valorizar integralmente a pessoa, o seu crescimento pessoal e moral, social, ético e espiritual. O interesse da Igreja pelo desporto concretiza-se numa presença pastoral variada e difusa, tendo como ponto de partida e como fim o interesse do ser humano”. Por isso, não tem sentido o “desporto pelo desporto”. Sempre que o desporto não é meio e o ser humano não é fim, ou seja, sempre que não se põe o desporto ao serviço da eminente dignidade da pessoa humana, é evidente que a prática desportiva para pouco mais serve do que para adormecer as pessoas à recusa da sociedade injusta estabelecida. A clara noção da dignidade e independência do ser humano deve ressaltar, numa sociedade moderna, ou hipermoderna (Gilles Lipovetsky), da prática desportiva e, afinal, de tudo o mais que seja verdadeiramente humano. Por isso, a Igreja não defende “um desporto cristão, mas uma visão cristã do desporto”, a qual acrescenta à ética desportiva habitual a certeza da filiação divina dos desportistas pois que, enquanto pessoas, são filhos de Deus. E, assim, é o desporto que é ordenado para os interesses eternos da pessoa humana.
É esta a definição de desporto que o Dicastério propõe: “O desporto é uma actividade física em movimento, individual ou de grupo, de carácter lúdico e competitivo, codificado mediante um sistema de regras, que gera uma prestação confrontável com outras, em condições de iguais oportunidades” (p.23). Segundo o que venho estudando, há 40 anos, o desporto é, de facto, um dos aspectos da motricidade humana, com seis elementos essenciais: jogo, movimento, agonismo, transcendência, instituição e projecto. E com duas palavras indispensáveis: movimento e transcendência. José Tolentino Mendonça escreve, com a alma toda, como é seu hábito, no seu último livro, Elogio da Sede (Quetzal, Lisboa, 2018): “Jesus sabe que um simples copo de água não é banal, não é apenas isso. Esse gesto dialoga com dimensões profundas da existência, porque vai ao encontro daquela sede que está presente em todo o ser humano, que é sede de relação, de aceitação e de amor”. Para mim, é evidente que esta sede, esta vontade de transcendência, que em nós habita (transcendência de toda a complexidade humana) é a mais elevada expressão de humanidade, pois que funda a dignidade e valor do homem, na superação dos seus limites, dos seus vícios, das suas imperfeições. Verdadeiramente, fazer desporto deverá ser isto mesmo: uma tentativa, com a ajuda dos colegas e dos adversários, de superação dos nossos limites, dos nossos vícios, das nossas imperfeições. Mas vale a pena voltar ao Papa Francisco: “Quando o desporto é considerado apenas segundo parâmetros económicos, ou de consecução da vitória a todo o custo, corre-se o risco de reduzir os atletas a mera mercadoria lucrativa” (in Elogio da Sede, p. 51). Ora, o Desporto, como Educação, como Saúde, como Espectáculo, como Cultura da Inclusão, do Encontro e da Paz é bem mais, sem as dispensar, do que Economia e Finanças. A Igreja Católica (e daqui, na minha modéstia, a saúdo, por isso) está a ocupar-se, com rara finura, do “fenómeno desportivo”. Vai nascer um desporto novo?"