sexta-feira, 27 de julho de 2018

O dilema de Jonas

"Nem parecia Verão. É verdade que o tempo até estava a aquecer, e as camisolas da selecção pelas ruas já assinalavam a presença massiva de emigrantes em férias... todavia faltava algo: notícias a darem conta de propostas milionárias pelo Jonas. Devo dizer que ainda não fiz praia este ano pelo medo de chegar perto da costa e aperceber-me repentinamente que estamos no outono. Agora que o Jonas 'está perto de sair' já posso, finalmente, preparar a toalha e o bronzeador convicto de que este sol é mesmo veranil. Os dados são os de sempre. Sabemos que existe o interesse de clubes milionários, oriundos da China e da Arábia Saudita, dispostos a avançar com uma proposta milionária, a oferecer um contrato milionário, o que permitiria ao Jonas, imagine-se, ficar milionário. Qual será a melhor solução para todas as partes? Para os clubes interessados, a resposta é óbvia: contratar o Jonas. Do ponto de vista do Benfica, a decisão está longe de ser simples.
Recordo-me de Bruno de Carvalho revelar que tinha recebido uma proposta de 80 milhões de euros, pagos é pronto, por um jogador que os jornais afirmavam ser Slimani. Tenho por princípio acreditar em tudo aquilo que Bruno de Carvalho diz e, portanto, se havia um clube na China decidido a dar 80 milhões de euros pelo Slimani, suponho que as propostas chinesas pelo Jonas, mais euro, menos euro, devem rondar os 800 milhões. De facto, este parece-me ser o valor justo a pagar por um craque da classe do Jonas.
Se o salário for proporcional, imagino o turbilhão de incertezas que vai na cabeça do Pistolas. Ganhar mais do que Ronaldo, Messi, Neymar e Bruno Fernandes juntos, ou vestir o manto sagrado?
Caramba, até eu ficava na dúvida."

Pedro Soares, in O Benfica

Adversário perigoso

"Não pode dizer-se que o Fenerbahçe tenha deixado más recordações aos benfiquistas. Duas eliminatórias disputadas, e duas passagens - a primeira em 1975-76, com uma expressiva goleada na Luz (7-0) seguida de derrota tangencial na Turquia (0-1), e a segunda, bem mais recente, que valeu a chegada à final da Liga Europa de 2013, repetindo-o então o desaire mínimo em Istambul (0-1), com posterior reviravolta em Lisboa (3-1), em jogo ainda bem vivo na nossa memória. A estatística vale o que vale, e o passado é para a história. Por isso, o resultado do sorteio de segunda-feira que voltou a colocar-nos frente a frente com o emblema turco não permite qualquer tipo de triunfalismo. Pelo contrário, trata-se de um adversário difícil, que obriga a uma viagem longa, e cujo estádio apresenta um ambiente extremamente adverso. É lá que se vai disputar a segunda mão, pois também nesse alinhamento a sorte não esteve connosco.
Do lote de adversários possíveis, creio que poderíamos ter sido bastante mais felizes. Quer Standard de Liège, que, sobretudo, Sparta de Praga eram conjuntos bem mais apetecíveis para esta fase preliminar de acesso. Enfim, agora não adianta chorar. Há que enfrentar aquilo que temos por diante, com confiança e com optimismo, sabendo, porém, que só um Benfica já com andamento forte poderá bater estes turcos.

PS: Parabéns ao nosso atletismo, que conquistou o oitavo título nacional consecutivo; e parabéns igualmente aos juniores do hóquei, que juntaram o seu título aos de futebol, futsal, andebol, atletismo e voleibol em idêntica categoria, mostrando que o futuro é nosso."

Luís Fialho, in O Benfica

Octacampeões

"Creio que nunca escrevi esta palavra a propósito de um feito do Sport Lisboa e Benfica. No passado fim-de-semana, vibrei muito com mais um título conquistado pela nossa equipa masculina de atletismo. Simplesmente notável a façanha de conquistar por oito vezes consecutivas o principal título nacional desta modalidade histórica no nosso Clube.
As minhas primeiras palavras vão para os nossos atletas, que foram fantásticos. A forma como se bateram prova que eles são, neste momento, os principais intérpretes do que é sentir o Glorioso. Pedro Pablo Pichardo, Tsanko Arnaudov, Paulo Conceição, Diogo Ferreira, António Vital da Silva, Francisco Belo, Ricardo dos Santos, Samuel Barata, Rui Pinto, André Pereira, João Oliviera, Leandro Ramos, Miguel Carvalho, Diogo Antunes, Diogo Mestre, João Fonseca, Ivo Tavares, José Carlos Pinto, José Lopes, Rafael Jorge, Delvis Santos, Diogo Pinhão, José Tavares, Marcos Afonso e André Costa deram uma lição do que é envergar o 'Manto Sagrado'. Inspirados na liderança da competentíssima professora Ana Oliveira e na dedicação dos membros da estrutura do atletismo, as nossas 25 estrelas fora letais.
Uma última e justíssima palavra para o nosso vice-presidente Fernando Tavares, que teve o engenho e a arte de preparar, conjuntamente com o presidente, Luís Filipe Vieira, esta equipa fabulosa. Fernando Tavares foi sagaz, focado nos objectivos traçados e muito claro nas opções e contratações que fez. Fez as escolhas certas, quer nos atletas contratados, quer nos que se mantiveram e, sobretudo, na forma como valorizou todos os nossos activos. Lembro-me bem do derrotismo de muitos benfiquistas quando se registou 'a debandada'. Fernando Tavares nunca se deixou intimidar pelas saídas, e os resultados estão à vista! Ele é, sem dúvida, um dos grandes obreiros deste título."

Pedro Guerra, in O Benfica

Estás convocado!

"Esta é a frase de sonho de qualquer jogador, e os jovens dos nossos projectos sabem que para a escutar não basta ser 'bom de bola', é preciso ser 'bom na escola'.
Este poderia mesmo ser um lema de projecto Para ti Se não Faltares, mas, na verdade, é apenas um pensamento generalizado entre os jovens e as famílias que já sabem que na Fundação Benfica é do campeonato da vida que tratamos, e, neste campeonato especial, eles são as estrelas!
Dito isto, não se pense que na selecção o jogo é a feijões ou que o futebol produzido não presta. Que o digam os jovens ao longo do estágio, no meio de tanto esforço e concentração, mas que o digam sobretudo os seus adversários no final, que encontram pela frente um osso duro de roer e um adversário leal mas verdadeiramente digno desse nome.
Só podia ser assim, graças aos jovens e à equipa técnica que faz sempre um trabalho exemplar, por isso os jovens entram amigos e saem equipa, entram centrados no individuo e nas suas qualidades e saem focados no grupo e nas suas contribuições individuais para atingir um resultado que é de todos. Não podia haver melhor lição depois de tanta diversão e amizade. Esta não é a única, mas é uma das principais lições dos desportos colectivos: não somos nada sem o grupo, mas podemos fazer a diferença no grupo! Ou, dito de forma inspirada na mística benfiquista, sabemos ser todos, mas também sabemos ser, de todos, um!"

Jorge Miranda, in O Benfica

O mais importante de todos os reforços...

"O Benfica não para. Mesmo em tempo da tradicional pausa de Verão, a Grande Estrutura não se detém para solidificar o seu poderoso desenvolvimento, com base no estudo e na reflexão sobre as análises aos processos anteriormente implantados, e na constante atenção aos mercados nacionais e internacionais, ou, em transição para o futuro imediato, já no treino de campo que visa o apuramento das perfomances, marcas e resultados da época passada, conjugado com a chegada de novos atletas e a adaptação aos recursos postos à disposição das equipas em todas as modalidades e escalões. O Benfica não para no Verão, nem em nenhuma das estações. Todos os departamentos bombam em regularidades meticulosamente traçadas e programadas, primeiro na reserva dos gabinetes e depois nos estágios de pré-época, no sentido de poderem atingir os seus respectivos objectivos com os quais se sedimenta, há cento e quatorze anos cumpridos, a mesma cultura de universalidade e de vitórias que foi estabelecida pelos nossos Maiores, segundo as raízes fundacionais que escolherem e logo passaram a praticar.
As redes sociais da Benfica Multimédia partilharam, há dias, um vídeo rapidamente tornado viral, em que, num alegre convívio em sala fechada, no estádio no St. George's Park National Football Centre, no interior de Inglaterra, os jogadores recém-chegados à nossa equipa de elite, um a um, de microfone em punho, apresentavam aos colegas e ao staff as suas expectativas e as suas habilidades canoras,
Naquela espécie de divertida praxe que será comum nos estádios iniciais mas só agora foi revelada, mais do que serem postos à prova perante os mais experientes, os mais novos não só passam pelo crivo dos dichotes, piadas, incentivos e risotas dos mais velhos como, no final da sessão, se vêem a saborear o direito de se sentirem 'mais iguais' a todos os restantes companheiros de equipa.
Ali, naquele ambiente descontraído, sem bola, nem qualquer responsabilidades tácticas a cumprir, numa atmosfera em que se encontram encerrados uns com os outros, o que mais evidentemente ressaltava no vídeo era a compreensão, a tolerância, a brincadeira, o divertimento e o companheirismo entre todos os membros da nossa equipa.
Eles (todos eles, aliás), uns e outros, são jovens raros e escolhidos, para quem se aproximam, a passos largos, os momentos em que vão ser observados e julgados pelas suas capacidades profissionais, segundo implacáveis critérios da mais elevada exigência, conformes aos incomuns níveis de remuneração que são atribuídos na sua profissão. Mas, como outrora já aconteceu connosco, antes de um período de exames decisivos, sempre soube bem descontrair e partilhar a boa-disposição de quem nos recebe e de quem está mais perto de nós.
Por mim, não tenho dúvidas: aquela alegria transbordante e o convívio mais intenso são os primeiros sintomas de que a autoconfiança já será, talvez, o mais importante de todos os reforços que chegaram para a #Reconquista ao Benfica da nova época."

José Nuno Martins, in O Benfica

Pesca nas mossas águas territoriais

"Volto ao tema do futebol de formação, com a excelente notícia que é a presença de Portugal na final do Europeu de sub-19, onde vamos medir forças com a Itália. Há uma semana, neste mesmo espaço, tive oportunidade de referir que, embora por cá continuássemos a trabalhar bem, na FPF e nos clubes, a concorrência do estrangeiro era cada vez maior e devíamos estar preparados para essa realidade, apoiados na convicção profunda de que não há outra via para o progresso do futebol português que não seja a da formação. A esta constatação, deverá ser ainda acrescentado mais um ponto, que tme a ver com a forma cada vez mais agressiva como os grandes emblemas europeus vêm pescar às águas territoriais do futebol luso, levando o desenvolvendo alguns dos talentos que por cá andam à mão de semear. Por exemplo, na nossa Selecção de sub-19 está Domingos Quina, filho de Sanuel Quina, um extraordinário defesa do Benfica dos idos anos 80 e 90 do século XX, que é figura de proa no West Han sub-23, clube que espera muito dele. E no Manchester United evolui Angel Gomes, 17 anos, filho de Gil Gomes, campeão do Mundo de sub-20 por Portugal em 1991, que optou pela selecção inglesa, por quem se sagrou campeão do Mundo de sub-18. Anteontem, na Champions Cup, que decorre nos Estados Unidos, viu-se Rafael Camacho, português de 18 anos, assistir Salah para um dos golos do Liverpool contra o Manchester City. Rafael, que andou pela formação do Sporting e teve uma experiência no City, regressou a Massamá, partindo a seguir para a terra dos Beatles, onde está a impressionar Klopp. Há um mundo novo que nos bate à porta..."

José Manuel Delgado, in A Bola

Hora de decisões

"Estamos a 15 dias do início da Liga e a 8 do primeiro jogo oficial, a Supertaça, que se joga dia 4 em Aveiro, e ainda há muito para definir em algumas equipas. Da competição profissional aos juniores, escalões que começam a jogar a 18 de Agosto, este é o momento que nunca se pode descurar. Há falhas, decisões que podem não ser as melhores, mas a ausência de decisão é que não pode ser invocada. O tempo passa rapidamente, para os adeptos parece que ainda falta muito mas todos os profissionais sabem que está a chegar um momento importante. Começar a ganhar é objectivo para todos. Temos um primeiro bloco de jogos até à pausa para os jogos, até à pausa para os jogos das selecções em Setembro, em que a pressão está controlado, mas no segundo bloco, de Setembro às datas FIFA de Outubro, esses condições podem alterar-se significativamente. Claro que existe aqui um regra de proporcionalidade, o principal campeonato tem problemas diferentes do dos juniores. Contudo, todos têm que se preparar com antecedência, e essa antecedência é, no mínimo,  resolver os maiores problemas agora. Em Outubro é tarde, e se analisarmos épocas passadas, facilmente percebemos que o sucesso é uma excepção quando a época é preparada de forma deficiente.
Na generalidade dos países, o modelo competitivo provoca estas situações de pressão exagerada em fases primárias da prova. O que não pode ser argumento pelos concorrentes, mas pode, e deve, ser analisado por todos para melhor compreensão do modelo, ou mesmo para o melhorar.
Portugal tem tido uma prestação brilhante ao nível das competições no futebol jovem, quer se trate de selecções ou clubes. Isto significa que temos jogadores com potencial, o que é reconhecido por todos. Aproveitar e potenciar esses jogadores é determinante para o futuro das competições. Vai surgir um novo espaço competitivo, os sub-23, que analisarei em momento posterior, mas que abre caminho a uma possível nova abordagem ao modelo existente."

José Couceiro, in A Bola

Nunca mais!

"Os últimos acontecimentos têm vindo a demonstrar que, contrariamente a um passado bem recente, não há lugar a 'vendettas'

Escrevo este texto no mais profundo dos silêncios. O silêncio que me é imposto pela dor e sofrimento das gentes do Laos e da Grécia, pela água e pelo fogo que os deuses (ou os homens?) quiseram lançar, em fúria desmedida, num cortejo de perfeito horror, tal como acontecera em Portugal há cerca de um ano. A lembrança torna-se, pois, aqui e agora, indispensável e obrigatória - não obstante tratar-se, como é o caso, de um espaço dedicado ao desporto - sobretudo, para nos lembrar a precariedade da condição humana e, ao mesmo tempo, o direito a celebrarmos a vida mesmo no meio da mais horrível das tragédias. Por essa razão, não deixamos também de acompanhar o que de mais relevante vai ocorrendo à nossa volta, seja na política, nas artes ou mesmo no seio do nosso clube de sempre (Sporting) que, agora, com ponderação e bom senso, procura sarar feridas profundas que alguns irresponsáveis provocaram no reino sagrado do leão. Os últimos acontecimentos têm vindo a demonstrar que, contrariamente a um passado bem recente, não há lugar a vendettas mas tão só o direito de exigir responsabilidades a todos quantos atentaram contra os interesses leoninos. Mas importa preservar o clima de serenidade e de elevação de que têm dado mostras que a Comissão de Gestão quer a Comissão de Fiscalização quer ainda a Assembleia Geral, sempre com estrita observância da legalidade estatutária largamente sufragada pelos Tribunais. As provocações continuarão por mais algum tempo, grotescas e patéticas, tal e qual os seus autores. Sempre com recurso aos mesmos métodos, os tais actores de opereta continuarão a fazer ouvidos de mercador à mensagem dos associados do passado dia 23 de Junho que os tatuou de vergonha para a posterioridade. Aos poucos, a firmeza, serena mas implacável, vai provocando o desespero e a raiva daqueles que optaram pela violação da lei e dos regulamentos e que, agora, sem pudor, aspiram à embriaguez de um palco que, no fundo, sabem perdido. Em breve, os sócios, como sempre acontece, estabelecerão um novo rumo para o Clube, não esquecendo a página mais negra da sua história. É que a culpa jamais poderá morrer solteira. «Nunca mais» será o lema dos verdadeiros sportinguistas."

Abrantes Mendes, in A Bola

Dar o melhor de si: uma perspectiva católica do desporto

"O fascínio que cada vez mais suscita o desporto no mundo global e o “vencer a todo o custo” expõem-no a desvios incompatíveis com a dignidade da pessoa.

A Santa Sé tornou público um documento intitulado "Dar o melhor de si: uma perspectiva católica do desporto e da pessoa humana”.
Trata-se de uma reflexão profunda e que é algo inédita na Igreja Católica que, justa ou injustamente, foi sempre vista como hostil ou dando pouca importância humana, social e ética ao fenómeno universal e global do desporto.
Deixo aqui alguns pontos do extenso documento que considero mais interessantes. No meio do actualismo insaciável e dos epifenómenos que satisfazem a gula desportiva mediática de quem noticia e de quem consome as notícias, sei bem que estas temáticas não são entusiasmantes. Aliás, a ausência de referências e o silêncio dos meios audiovisuais quanto ao documento são elucidativos do desprezo de quase tudo o que vem da Igreja, excepto se for algo criticamente excitante.
O documento avisa que não se trata de falar de uma visão de desporto cristão, mas antes de uma visão cristã do desporto. Este, enquanto actividade física em movimento, individual ou colectiva, de carácter lúdico ou de competição, com sistema de regras e de códigos, deve ser valorizado como um “ginásio de vida”, no qual as virtudes da temperança, da humildade, da coragem, da paciência podem ser desenvolvidas.
É chamada a atenção para o “sistema de desporto”, que o torna fascinante e popular por toda a parte e em todas as expressões, mas que, também e ao mesmo tempo, “o expõe a formas de instrumentalização funcional e ideológica”, que não lhe são originárias.
A parte do texto que mais me chamou a atenção foi a que discorre sobre elementos substantivos para um desporto de corpo, alma e espírito: liberdade, criatividade, igualdade de oportunidades, alegria, fair-play, coragem, harmonia, solidariedade.
Quanto ao fair-play reafirma-se que deve ser sempre visto como “uma oportunidade de educação para toda a sociedade”, uma polinização do exemplo de virtudes comportamentais. “Uma coisa é respeitarem-se as regras do jogo evitando ser-se sancionado pelo árbitro ou desqualificado por uma violação regulamentar; outra coisa é respeitar o adversário e a sua liberdade, seja qual for o enquadramento regulamentar.”
O documento aborda também reais perigos de desestruturação da harmonia imanente ao desporto. E exemplifica com a excessiva comercialização de alguns desportos ou com a dependência de modelos científicos sem preocupações éticas ou, ainda, a promoção de modos desportivos nos quais o corpo é reduzido a um mero objecto. O fascínio que cada vez mais suscita o desporto no mundo global e o “vencer a todo o custo” expõem-no a desvios incompatíveis com a dignidade da pessoa. A reflexão aponta, por exemplo, a instrumentalização para veicular interesses políticos, mediáticos, de facção ou de formas espúrias de poder, nacionalismos e explorações financeiras condenáveis.
Quanto à igualdade que deve estar implícita no desporto, diz-se que, todavia, “não significa homogeneidade e conformidade, significando, antes, respeito pela diferença e pela diversidade da condição humana, designadamente quanto ao sexo, idade, proveniência cultural e social e tradição”, não deixando de promover ou sustentar uma cultura de encontro, de paz e de inclusão.
O tema da solidariedade está desenvolvido com clareza, havendo um ponto mais específico que se refere à responsabilidade social dos atletas mais famosos e vitoriosos em actividades desportivas, que “todos os fins-de-semana levam muita gente aos estádios e aos quais os meios de comunicação social dedicam amplo espaço”.
Já na parte conclusiva, o texto chama a atenção para o que considera serem os quatro grandes desafios para o integral e são desenvolvimento desportivo, tendo em consideração a multiplicidade de agentes co-envolvidos no fenómeno desportivo (atletas, espectadores, media, gestores, empresários, políticos): a exploração e aviltamento do corpo, o doping, a corrupção na prática, na gestão desportiva e nas apostas e comportamentos desviantes no seio dos espectadores e adeptos.
Quanto ao primeiro ponto é chamada a atenção para o perigo da “automatização” de atletas, sobretudo nas competições de alto nível desportivo, na obsessão de alcançar o sucesso, as medalhas, recordes e ganhos pecuniários. Denunciam-se situações como as que “vêm tornando cada vez mais frequente práticas em que jovens são deixados nas mãos de treinadores e dirigentes unicamente interessados na especialização unidireccional de talento (...), com especializações precoces que abrem a porta, não raro, a infortúnios (...)”, exemplificando com a ginástica de elite onde há uma ditadura do protótipo de corpo ideal que exige brutais restrições alimentares e excessivas cargas de treino.
Sobre o doping físico e mecânico, que cada vez mais se disfarça de formas de desenvolvimento tecnológico ou descobertas no campo médico, é afirmado que é, tão-só, a ponta do iceberg de um fenómeno que está crescentemente a entrar nas profundezas do desporto. “Para o combater (...) não basta apelar à moral individual de cada atleta”, mas também envolver os principais agentes que, tantas vezes, estão na base da tentação de a ele recorrer."

Vislumbrámos o futuro do Tour mas Roglic já merece o pódio

"Ver Chris Froome perseguir um fugitivo - e para defender o mais baixo lugar do pódio - não é, definitivamente, uma imagem normal. Mas nada que estranhe quem acompanhou este Tour e em particular a carreira de Primoz Roglic, o esloveno que se tem mostrado um fenómeno. Roglic ataca a subir, ataca a descer... A vitória na etapa foi um justo prémio para a garra e o espectáculo que deu hoje, na despedida das montanhas.
Roglic roubou mesmo o terceiro lugar a Froome, que deve ter feito as delícias daqueles que o assobiaram quando passou descolado do grupo dos favoritos na subida para o Aubisque. E esse é o pretexto ideal para apontar esta crónica para o trabalho de equipa do ciclismo, que muitos têm dificuldade em ver como uma modalidade colectiva. O esforço e a abnegação de Egan Bernal em prol de Froome, em especial quando perdeu o contacto com o grupo do amarela, foi um excelente exemplo do espírito colectivo que preside a este desporto de intenso esforço individual.
Assim como foi o trabalho de Kruijswijk para o companheiro Roglic no momento em que saltou do grupo e ganhou algum avanço para depois permitir ao agora terceiro classificado ir algum tempo (precioso) na sua roda.
Bernal, 21 anos, o Movistar Marc Soler, 24, e Roglic, 28 - Thomas, 31, só por muito azar perderá este Tour, mas estes nomes permitem-nos vislumbrar os próximos. E num futuro não muito distante, pois o contrarrelógio de amanhã é longo (31 km) e duro (900 m a 10% de inclinação a 3 km da meta). E quem chega a esta fase de uma corrida de três semanas com a alma e a força nas pernas de Roglic, consumado contrarrelogista, agora que está em terceiro e a somente 19 segundos de Dumoulin pensará por certo em subir mais um degrau."

Malcom e Alisson

"Nunca chega a haver um período light. Terminou o Rússia 2018, as épocas oficiais nas maiores ligas europeias ainda não iniciaram, mas a máquina já começa a subir as rotações e as transferências entre clubes de topo agarram a nossa atenção.
Em Portugal, Conceição reforçou o eixo da defesa com Mbemba, aquisição essencial para preencher a vaga de Marcano. Independentemente da situação de Krovinovic ou até de uma possível mudança de papel de Pizzi no meio-campo, Rui Vitória prepara um desenho com Jonas e Ferreyra em simultâneo no Benfica.
Já o Sporting tonifica os músculos com os “retornos” de Bruno Fernandes e Bas Dost. Sobre Badelj talvez possamos falar daqui a uns dias. Fica, em todo o caso, uma nota de apreço em relação ao trinco que acabou de sair. William Carvalho sabe jogar. E foi um dos melhores que vi em Alvalade naquela função. Chegou a hora de se divertir em Heliópolis, no jardim de recreio de Quique Setién.
No estrangeiro, a fotografia do brasileiro Malcom a beijar o símbolo do Barça mexeu com o sistema nervoso ‘romanista’. A loba foi apanhada na curva perante a operação relâmpago desencadeada pelos catalães para contratar o extremo do Bordéus. Monchi confiou (em demasia) na palavra dos girondinos, cuja lisura neste processo pode ser questionada. Aliás, deve mesmo ser questionada.
No entanto, mesmo depois de ouvir a história contada pelo director dos 'giallorossi', penso que a Roma podia ter-se defendido e batido melhor neste folhetim. O Barça montou um exército para cercar todos os agentes envolvidos para a transferência. Também acho que a Palavra é para ser valorizada em todos os domínios e admiro a atitude da Roma, não me interpretem mal. Mas nesta dimensão de negócios, com esta concorrência, a boa vontade não chega para todas as partes se não houver o resto… De qualquer forma, também não acho que Malcom fosse prioritário para os ‘blaugranas’. E também não acho que seja o fim do mundo para a equipa ‘giallorossa’ por o ter perdido. Seja Suso, Neres ou Bailey, o treinador Di Francesco ficará muito satisfeito.
Por falar em Roma, o Liverpool deixa um balúrdio em Trigoria por Alisson para se livrar dos enigmas gerados por Karius e Mignolet. Até pode ser por aí que Klopp ganha mais credenciais para se candidatar ao título de campeão de 2018/19, pois Alisson, o n.º1 de Tite, também tinha estado bem na equipa de Eusebio Di Francesco. Na verdade, faz muito tempo que os Reds não celebram o campeonato, ainda nem a Premier League tinha sido criada. A última vez foi em 1990, tendo o esquerdino John Barnes como principal figura. Por acaso até estiveram perto de ser campeões há pouco tempo, na época de Rodgers em 2014, altura em que Gerrard escorregou em Anfield, aos pés do atacante do Chelsea, Demba Ba. Esse deslize entregou o troféu a Manuel Pellegrini, comandante do Manchester City.
Por outro lado, Klopp regenerou o Liverpool em outros setores, neste que é o seu primeiro início de época sem Coutinho. Naby Keita e Fabinho dão ao treinador uma boa ossatura ao meio-campo, factor necessário face à lesão grave de Oxlade-Chamberlain. Na zona de maior criatividade, Shaqiri, adquirido ao despromovido Stoke City, é uma ótima solução para alternar entre o banco e o onze.
Na época passada a equipa chegou a Kiev e provou, na parte final da temporada, que houve capacidade para manter a equipa acelerada dos 60 aos 90 minutos, que era um dos parâmetros onde mais dúvidas eram geradas no inicio de 2017/18, devido à combustão rápida do jogador-tipo de Klopp e de como isso podia afectar a chegada à meta num estado de exaustão. A esse nível, penso que Klopp e os preparadores deram uma boa resposta aos cépticos. E havia razão de ser nesse cepticismo. Na parte do Liverpool estamos mais ou menos conversados. O problema é que os Reds não jogam sozinhos. Mourinho vai retocar o United, o Chelsea procura respirar ar puro com Sarri, enquanto Emery vai começar a transformar o Arsenal, como Pochettino fez nos Spurs. É toda uma óptima concorrência para Guardiola, cuja proposta de jogo continua demolidora e simultaneamente encantadora."

Sport Newark e Benfica

"(...)
O Benfica não é somente o maior clube de Portugal. É um dos maiores clubes do mundo. E é-o porque, na sua génese, é um clube popular, ancorado na força e dimensão dos seus sócios e simpatizantes. Eles são e continuarão a ser a sua maior riqueza. Foi na sua força, na força dos seus adeptos, que o Benfica cresceu e se posicionou entre os maiores clubes do mundo.
Nenhum outro clube, seja onde for, consegue mobilizar as suas gentes, como hoje aqui presenciamos, pese embora todo um oceano que nos separa de Lisboa. Nenhum outro clube tem uma massa adepta com um peso tão significativo na construção da sua história. Nenhum outro clube, jogue onde jogar, tem tantos adeptos a puxar por si.
Nenhum outro clube tem a vibrar nas bancadas um número 12 como o nosso. Seja em Portugal ou em qualquer outro canto da Europa, seja em paragens mais longínquas como aqui, nos Estados Unidos, como ficou patente ontem no jogo com o Dortmund e como será evidente, assim acredito, no jogo do próximo sábado com a Juventus.
E se em Lisboa, dada a proximidade, é mais fácil alimentar de benfiquismo a nossa alma, é nas Casas do Benfica que esse sentimento de comunhão entre clube e adeptos se intensifica, à medida que nos afastamos de Lisboa. Verdadeiro testemunho da dimensão universal do Sport Lisboa e Benfica, as Casas do Benfica desempenham essa extraordinária função de nos manter unidos num objectivo comum e de preservar e potenciar a história e a cultura do clube
É por isso um projecto que apadrinho e acarinho desde o meu primeiro momento no clube.
E é também por isso que, em conjunto com os vice-presidentes responsáveis por esta área, primeiro o Alcino António e, posteriormente, o Domingos Almeida Lima, bem como com o director do Departamento das Casas, Jorge Jacinto, entendi sonhar mais, ambicionar mais e ousar ainda mais. Foi dessa forma que iniciámos o processo de uniformização da imagem das Casas do Benfica e de ligação, em rede, ao Estádio da Luz. Único clube no mundo a fazê-lo e, dessa forma, a estar próximo dos seus sócios e adeptos.
Hoje somos todos testemunhas do sucesso do projecto, mas o caminho nem sempre foi fácil. Olhado com desconfiança por uns, desvalorizado por outros, valeu a crença que nele depositámos e, podemos dizê-lo, uma boa dose de teimosia para não cedermos às primeiras dificuldades. Não desistir faz parte do nosso ADN. Lutar contra as adversidades faz igualmente parte do nosso ADN. Querer vencer sempre é algo que está gravado no nosso código genético.
Tal como o nosso clube, não sou nem nunca fui pessoa de me assustar com os obstáculos que a vida nos coloca à frente. E tenho a sorte de liderar uma equipa que percebe o que isso quer dizer e que também não desiste assim que as primeiras contrariedades batem à porta.
De igual forma, também aqui, no Sport Newark e Benfica, nossa filial número 21, fundada há já 49 anos, encontrei esse mesmo espírito. Tive oportunidade de acompanhar as obras e conheço a extraordinária dedicação e o enorme esforço feito pelo Nuno Costa e pela sua equipa para que hoje pudéssemos estar aqui a inaugurar a Casa.
O Sport Newark e Benfica tem sabido enquadrar-se no seio de uma das maiores comunidades portuguesas na diáspora e, sobretudo, tem sabido dinamizá-la. Ver hoje, aqui, esta fervorosa moldura humana, com a imagem da nossa Catedral em fundo, é motivo de grande alegria pessoal e institucional. Por tudo isso, manifesto o nosso reconhecimento e apresento as nossas felicitações ao Nuno Costa e a toda a sua equipa.
Pretendemos reforçar a afirmação da marca Benfica nos Estados Unidos e, nessa estratégia, as Casas do Benfica terão um papel fundamental. E esta Casa prova inequivocamente que o caminho iniciado, um caminho de maior qualidade e de maior proximidade, não tem retorno. Porque hoje, todos percebemos que é este o melhor caminho para que a enorme rede de Casas espalhadas por todo o mundo possa honrar e dignificar o Benfica, perpetuar a sua história e contribuir para o crescimento do clube.
Dentro de poucos dias têm início as competições oficiais. Quero, por isso, deixar uma mensagem de enorme ambição e confiança a todos os Benfiquistas. Esta será a época de reconquista! E de regresso rápido ao nosso ciclo vitorioso e de hegemonia no futebol português. Uma época em que também se torna exigível, todos, mas todos sem excepção contribuírem para uma melhoria do ambiente no desporto português.
O Benfica saberá honrar a sua história dando um contributo de serenidade e de paz ao futebol português. Faço votos de que a época que se avizinha seja merecedora de semelhante contributo por parte de todos os agentes desportivos. Faço igualmente votos de que todos percebam que nesta indústria, que se chama futebol, ninguém pode assobiar para o lado. Qualquer ataque desferido, qualquer polémica criada, não tem implicações no clube A ou B, mas sim em toda a estrutura do futebol.
É importante por isso que todos saibam assumir as suas responsabilidades pois só assim será possível valorizar e projectar o futebol português. O Benfica certamente saberá assumir as suas. Todos temos de ter noção de que é a imagem do País que está em causa, quando vemos as suas principais marcas envolvidas em permanentes polémicas e guerras. E como a maior marca nacional, temos bem consciência do exemplo que devemos dar.
Porque o Benfica de hoje não é o Benfica de há 20 anos. O marasmo em que o Benfica se encontrava obrigou-nos a muito trabalho, a muitas horas de sacrifício pessoal e de dedicação ao clube. Que ninguém duvide disso.
O Benfica de hoje é um clube moderno, organizado, responsável e sustentável, credível e preparado para continuar a vencer. É um clube que a todos, sem excepção, deve encher de orgulho. O Benfica de hoje é o Clube mais rentável de Portugal. É o único clube que consegue que nove dos dez principais patrocinadores sejam multinacionais de referência. É o único clube que está em vias de recuperar os seus capitais próprios a 100 por cento. É o maior clube de Portugal em número de sócios e um dos três maiores do mundo. É o clube português que mais jogadores forneceu às selecções que disputaram o último Mundial. É a base da maioria das selecções jovens nacionais. É o clube que mais títulos conquistou nos últimos cinco anos. É um clube com uma estabilidade directiva ímpar. É o clube que tem o melhor Estádio do País, único capaz de receber finais da Champions ou do Campeonato Europeu. É o clube que tem o melhor Centro de Formação e Estágios do País, distinguido recentemente como a melhor Academia do mundo. É o único clube que enche os estádios portugueses na qualidade de visitante.
É assim o nosso Benfica. O vosso Benfica. E é por tudo isto que afirmo que não somos grandes. Somos gigantes. Somos o Glorioso Sport Lisboa e Benfica
Viva o Sport Newark e Benfica.
Viva o Sport Lisboa e Benfica."