quarta-feira, 25 de julho de 2018

Perdido dentro do tabuleiro

"Em Canal Street, Nova Orleães, um negro idoso propôs a Morphy: «Jogo sem uma das torres, para te dar vantagem»

Em Nova Orleães, no final do século XIX, Canal Street era um centro do xadrez de rua, geralmente espontâneo. Baixo, magro, de colete e monóculo, bengala sempre pronta a ser erguida perante alguém mais expansivo, Paul Morphy tornou-se num fantasma habitual do sítio. Já poucos lhe prestavam atenção. Tornara-se um maníaco, convencera-se que queriam envenená-lo, pelo que só comia refeições preparadas pela mãe e pela irmã, recusava-se a entrar num barbeiro garantindo que todos os fígaros da cidade queriam cortar-lhe a garganta.
Vários anos antes, Morphy sentara-se frente a frente com um negro idoso e perturbador. Com o tabuleiro entre ambos, este propusera-lhe: «Para te dar uma pequena vantagem, jogo sem uma das torres». Assim fez e ganhou. Na desforra, repetiu a facécia. Ao terceiro jogo, Morphy disse que jogaria também sem uma das torres. Deu um xeque-mate fácil. Mais tarde explicaria: «Ao tirar uma das torres, ele passava a jogar outro jogo. Não era xadrez. Era quase idêntico, mas diferente. Quando, por minha vez, tirei a torre, passei a jogar o mesmo jogo do que ele e a partir daí foi simples».
Desde criança que Paul Morphy se mostrou absolutamente dotado para o domínio das 64 casas. Apresentava-se no clube de xadrez da Royal Street de calções de veludo e laçarote ao pescoço e provocava umas boas gargalhadas antes de deixar profundamente abespinhados os que iam tendo a coragem de desafiá-lo. Ernest Morphy, seu tio, diretor do jornal La Régence, escreveu sobre ele: «When seated before the chessboard, his face betrays no agitation even in the most critical positions; in such cases he generally whistles an air through his teeth and patiently seeks for the combination to get him out of trouble».
O assobio entredentes de Morphy era exasperante para os adversários. Algo de causar aneurismas e comichões no sangue, diria o Alencar d’Os Maias.
O miúdo estava-se bem nas tintas. Depois de ter batido Johann Lowental, um refugiado húngaro com fama de xadrezista invencível, o fedelho limitou-se a reduzir a isto o seu espinafrado opositor: «Um tipo cómico».
Paul Morphy concluiu o seu curso de Direito, na Universidade da Louisiana, tão jovem que teve de esperar dois anos para poder praticar advocacia. Conta a lenda que se limitara a decorar, sem qualquer esforço, todas as sebentas. A paciência não era, de certo, uma das suas virtudes. De tal forma que, nesse tempo em que os lances de xadrez não eram cronometrados e os jogos podiam durar horas a fio, ou mesmo dias inteiros, criou uma aversão atroz a todos os adversários que considerava lentos, como por exemplo, Louis Paulsen, um emigrante alemão que o levava ao desespero pela sua lerdeza e, desconcentrando-o, acabava por vencê-lo.
Em 1858, Morphy tinha criado uma obsessão. Ou melhor: mais uma obsessão. Teria de defrontar, desse por onde desse, o inglês Howard Staunton, considerado o mais forte jogador de xadrez da Europa. Tanto assim que embarcou para Londres na sua peugada. Debalde. Bem à inglesa, Staunton recebeu o seu convite como snob que era: «Morphy is a professional, not a gentleman!». Frase definitiva, por mais que o americano jurasse a pés juntos que nunca tinha ganho um tostão num tabuleiro.
Frustrado em Londres, seguiu para Paris onde se tornou famoso por disputar simultâneas de olhos vendados contra oito adversários, ganhando sempre. Foi aí que a confusão começou a tomar conta dele. Regressou a Nova Orleães decidido a nunca mais voltar a jogar xadrez. Abriu um consultório jurídico mas os seus clientes queriam ouvi-lo falar do jogo e não de querelas legais. Podia ter desistido dos tabuleiros, mas estes nunca mais sairiam da sua vida.
Voltou a estudar. Matemática, física, qualquer matéria que lhe desse na gana. Ao contrário da opinião de Staunton, a fama de Morphy nos Estados Unidos estava firmemente escorada. A revista Chess Monthly dedicou-lhe uma edição na qual se podia ler: «His genial disposition, his unaffected modesty and gentlemanly courtesy have endeared him to all his acquaintances».
De pouco lhe serviu.
Durante a sua estadia em Paris, Morphy foi atacado por violentas febres intestinais e tratado à base de sanguessugas. Talvez tenha nascido aí o seu pavor ao envenenamento. E foi certamente a partir daí que começou a ter comportamentos cada vez mais estranhos. Edward Winter, que escreveu uma biografia sobre ele, refere o seu hábito de compor no meio do quarto um semicírculo formados por uma dúzia de pares de sapatos. Questionado sobre isso, encolhia os ombros:«Fica mais fácil para escolher os que quero usar».
Depois saía para Canal Street de monóculo equilibrado numa das arcadas supraciliares e observava os jogadores de xadrez à distância. Eles sabiam quem era Paul Morphy. Já Morphy tinha muitas dúvidas em relação ao assunto. Ficara infinitamente preso para lá do tabuleiro."

Deus perdoa, Thomas não… E o contrarrelógio?

"Resolvida que parece estar a questão da liderança da Sky - na estrada, como os responsáveis da equipa britânica sempre defenderam -, a favor do camisola amarela, vale a pena sublinhar que não só o galês mostrou estar melhor do que Froome como respondeu afirmativamente à dúvida sobre como se aguentaria na terceira semana do Tour, teste ao qual nunca fora devidamente submetido. E ainda amealhou uns segundinhos - grande demonstração de confiança e vontade de vencer! -na duríssima chegada da original etapa de hoje, que provocou mesmo estragos. Que o diga Froome, que a 2m31s do colega de equipa na geral terá mesmo de ficar feliz por ser um Sky que não ele a subir ao lugar mais alto do pódio de Paris.
Tudo indica que far-se-á história nesta Volta a França, mas dificilmente acontecerá o quinto triunfo do britânico nascido no Quénia e sim uma estreia. Thomas ou Dumoulin? Essa é a questão e todos os olhos estão já nos 31 quilómetros do contrarrelógio de sábado, pois a complicada etapa de sexta-feira termina com 20 quilómetros de descida. Não é crível que, em condições normais, o holandês ganhe dois minutos ao galês no exercício individual, apesar de ser superior na especialidade de maior sofrimento do ciclismo. É campeão mundial de contrarrelógio em título e nos 12 em que se defrontaram, de 2013 até hoje, só por uma vez Thomas ficou à frente de Dumoulin, no Tirreno-Adriático do ano passado (um foi oitavo, o outro 13º). Os dados de Dumoulin nesses confrontos são, no entanto, arrasadores: cinco vitórias e quatro segundos lugares; Thomas tem um segundo, um terceiro e mais quatro top-10. O pior que Dumoulin fez foi o já referido 13º posto...
Só que com 1m59s de desvantagem e com a camisola amarela no corpo de Thomas - que dá uma motivação extra a quem a enverga -, a missão de Tom Dumoulin parece impossível. Até porque o derradeiro "crono" de uma grande volta depende, em maior medida, de questões de motivação e do estado físico do que de ser ou não especialista."

Novo desafio na carreira de um génio

"Nunca um jogador com 33 anos esteve no centro de uma operação de mercado tão espectacular – mas também nenhum, entre os melhores de sempre, chegou a fase tão adiantada da carreira com físico intacto e tanta fome de glória. Cristiano Ronaldo trocou o conforto do Real Madrid, clube no qual já era o mais extraordinário futebolista da história merengue, pela proposta da Juventus, que procura acomodar-se como potência europeia; deixou para trás uma carreira fantasmagórica, levada a cabo num contexto que já dominava, para abraçar um futebol mais táctico e rígido, menos livre e espectacular, susceptível de lhe levantar problemas de adaptação. Isto de aceitar desafio tão grande e arriscado aos 33 anos, com expectativa tão alta à volta, tem muito que se lhe diga: é o espelho perfeito de CR7.
A caminho da sexta Bola de Ouro, que fará dele o futebolista mais reconhecido da história do futebol, CR7 prolonga o desplante, que muitos continuam a interpretar como arrogância e má-educação, de invadir território sagrado: em Portugal (Eusébio posto em causa), no Real Madrid (vejam só, um português a discutir o trono com Di Stéfano…) e no Mundo (um deus a quem Pelé, Cruyff, Maradona e Messi já rendem tributo como parceiro). Vão tarde os pobres de espírito que julgam interferir no percurso imaculado com críticas despropositadas e irrelevantes para o que importa de facto. CR7 é, aos 33 anos (ou serão 25?), no início da aventura final da carreira, o maior fenómeno atlético e goleador da história do futebol.
Sendo incomparavelmente mais do que a monstruosidade estatística que o caracteriza, CR7 vai perceber que os números são o principal alimento dos interesses da nova realidade. O que fascinou a velha senhora foi marcar, há mais de uma década, ao ritmo dos grandes bombardeiros da primeira metade do século XX; é a expressão numérica evidenciada em produção individual própria de um extraterrestre fora de tempo; é o currículo repleto de distinções e honrarias personalizadas, como nenhum outro jogador na centenária história do futebol – cinco Bolas de Ouro e quatro Botas de Ouro, acompanhadas por cinco Ligas dos Campeões. Foram principalmente esses registos estratosféricos e o peso relativo nas grandes conquistas, Champions acima de todas, que levaram a Juventus a perder a cabeça por ele; é a associação à dinâmica vencedora do maior colosso futebolístico de sempre (Real Madrid) que lhe conferiu a imagem de profeta da sonhada glória europeia da Juve; de detonador da paixão do colosso italiano e alvo do maior negócio do calcio em muitos anos.
Em Madrid, mesmo quando não marcava, interferia no jogo, do qual era o sempre o epicentro indiscutível, como inspirador dos companheiros, ameaça para os adversários e eterno protagonista do espectáculo. Não é líquido que tal se repita agora em Itália. Foi a exuberância física, a impressionante regularidade e o talento grandioso que sustentaram a aura de génio absoluto, para muitos o maior de todos os tempos. Em Itália, onde só se glorifica a eficácia e rende tributo a dados concretos, como jogos, minutos, assistências e golos, CR7 está condenado a não descurar a estatística e os recordes; a manter a gloriosa capacidade para se construir com números e distinções individuais, ultrapassando limites cuja dimensão o tempo acentuou. Na Juve só cumprirá todos os requisitos da milionária contratação se, por exemplo, fizer mais de 30 golos numa época (só por duas vezes isso foi conseguido); se acrescentar mais títulos de campeão nacional (e vão sete seguidos para a Signora) e se conseguir liderar a Juventus à terra prometida da Champions (só duas no palmarés). Vai precisar, entre os 33 e os 37 anos, de repetir o que fez dos 20 até aqui. Ninguém o conseguiu. Mas os outros não se chamavam Cristiano Ronaldo.

Renato Sanches voltou a sorrir
Tudo mudou com um golo, uma grande exibição e elogios do novo treinador
Renato Sanches leva dois anos de desilusões. O último sorriso foi no Euro’2016 onde, partindo da indiferença, se tornou peça decisiva na grande conquista. Atravessado o deserto, no Bayern e no Swansea, viu-se entre a vontade benfiquista em resgatá-lo e de Niko Kovac, o novo responsável bávaro, em vê-lo em acção. O jogo com o PSG, sendo só um episódio, é para ser tido em conta. A história ainda só vai no início.

O renascimento de Rúben Semedo
Acabou o pesadelo de um homem que foi vítima dos seus próprios impulsos
Rúben Semedo assinou pelo Huesca, que subiu ao primeiro escalão espanhol. É uma grande notícia que o jovem (24 anos) prossiga a carreira, depois do enorme percalço que lhe aconteceu. Rúben não é um delinquente comum mas um cidadão que cometeu o crime (grave) de fazer justiça pelas próprias mãos. Mas um erro não pode legitimar outro, por sinal muito maior: acabar prematuramente para o futebol.

Enorme talento de João Filipe
O Europeu de sub-19 mostra geração notável, da qual sobressai um talento
João Filipe pintou a manta com a Finlândia: jogou, fez jogar, marcou, deu a marcar e foi permanente fonte de exaltação. Há cerca de quatro anos era, para a comunidade técnica nacional, o maior projecto do futebol português. A afirmação foi travada por lesões complicadas e inibidoras mas valeu a pena esperar. Mantenha ele o compromisso e o orgulho profissional que pode estar aqui um verdadeiro fenómeno."

Então e o "chuveirinho"?

"Caros treinadores, não tenham medo de fazer o feio. Ai, essas modernices...

Cenário: jogo a eliminar. A equipa A está a perder por um ou até dois golos, a menos de dez minutos do fim do jogo. Até aí, passou largos minutos a tentar cercar a área da equipa B e ter oportunidades de golo. Foram escassas, as que teve. Em grande parte, porque a equipa B está “fechadinha” e forte a ocupar os espaços e impedir as investidas junto da sua área.
Senhoras e senhores, o “chuveirinho” não é um bicho papão! Actualmente, com o emergir do futebol de posse e de passe, parece que recorrer ao tradicional “chuveirinho” – vulgo despejar a bola na área contrária, fazendo subir os jogadores mais altos – se tornou algo próximo de uma heresia.
O Mundial já lá vai e já poucos querem saber dele, mas ainda cabe, dez dias depois da final, esta inquietação: foram, pelo menos, uns cinco jogos nos quais fiquei com uma urticária tremenda a ver os últimos minutos. “Por que motivo aquele gajo não manda subir os centrais e diz aos médios para despejarem lá a bola? Isto assim já não vai lá”. Esta foi a questão que fiz – umas vezes sozinho, outras acompanhado – durante várias partidas do Mundial. E aqui, claro, não podemos contar com os vários golos marcados nos últimos minutos dos jogos da fase de grupos.
Para que fique claro: jogar a bola pelo chão, usando a qualidade técnica dos criativos e os movimentos trabalhados no treino (ainda que esse trabalho, em caso de selecções nacionais, seja discutível) será, quase sempre, a melhor forma de chegar ao golo. Defendo isso. Mas reforço: é quase sempre a melhor solução. Quase sempre.
Caros treinadores, não tenham medo de fazer o feio. O "chuveirinho" é feio, sim, mas, por vezes, é a única solução. Ou pelo menos a mais indicada nos dez minutos finais de desespero.
Os jogadores já estão cansados, sem discernimento e, sobretudo, sem frescura física e mental para criar boas jogadas e decidir bem em zonas de criação e definição. Se a isto somarmos o facto de o adversário estar a defender em 30 metros e não ter um único jogador em zona ofensiva, o que impede o treinador, neste cenário, de, com risco controlado, fazer subir os gigantones e despejar lá a bola? A única coisa que o impede é o complexo. Complexo de querer fazer as coisas pela via mais bonita e de querer manter a dele avante: “foi a dar a bola aos craques que aqui cheguei, é com eles que vou ganhar”.
Mas não. Às vezes, é preciso chamar os tanques. Nunca saberemos o que teria acontecido a algumas equipas (Portugal, por exemplo, demorou muito a apostar nisto e, quando o fez, continuava a abusar da condução de bola) se tivessem feito chuveirinho, mas sabemos o que lhes aconteceu por não terem feito: nos últimos minutos, foram parcas as oportunidades de golo. Nos últimos minutos, somaram mais perdas de bola do que boas decisões. Nos últimos minutos, abdicaram de lutar com a melhor arma que poderiam ter. Boa escolha? Talvez não.
Modernices."

A verdadeira Sociologia indica o futuro!

"Quando alguém, que se intitula sociólogo, se comporta de forma tão absurda, que até surpreendeu António Costa, só podemos admitir que está a preparar o seu próprio futuro

A “A Ciência que tem por objecto o estudo das relações sociais que se estabelecem entre seres humanos que levam à constituição das sociedades”. Esta é uma definição possível de Sociologia. 
...Mas, hoje, o que interessa, com tanta “informação” e “data”, é a visão prospectiva, ou seja, poder adiantar, ou “antever”, o futuro, de modo a podermos preparar a sociedade para o enfrentar melhor e com menos “acidentes de percurso”...
Aliás “qualquer médico, com grande conhecimento e experiência, é o que faz perante um doente: avalia a situação actual (presente), ou seja, faz um diagnostica e, perante as perspectivas da evolução da situação, prescreve uma terapêutica, ou seja, um caminho a seguir, de modo a evitar um fim trágico, que poderia ser a morte do doente. Neste sentido o médico é também um cientista social, que existe há milhares de anos só que a Sociologia é muito recente, estamos a falar de Conte (curso de Filosofia Positiva), e Durkhein, (séc. XVIII / XIX).
... Mas quando alguém, que se intitula sociólogo, e se comporta de forma tão absurda, que até surpreendeu António Costa, só podemos admitir que está a preparar o seu próprio futuro, porque “exigir” à “geringonça”, (leia-se estrema esquerda) “Respeito” pelos compromissos com a “U.E.” e a “NATO”, é o mesmo que dizer-lhes: adeus, felicidades e até sempre...!
Hoje, ser um bom político, requer uma elevada dose de cinismo, de hipocrisia, grande domínio da semântica, para escolher palavras que só alguns letrados conhecem e, sobre tudo, o domínio absoluto da “Doutrina da Mentira Plausível”, ou seja, da desinformação, que teve o seu expoente máximo num conhecido político, durante a invasão do Iraque e a queda do seu ditador. 
...Mas voltando a Portugal, faz impressão assistir à “derrocada” da democracia, da verdadeira, e ver surgir uma “oligarquia” “P:S:”, com discursos musculados, populistas, estilo “Podemos”, mas que sabemos hoje, que, nas suas vidas privadas, se comportam como a “esquerda caviar”...
No futuro, este “P.S.”, será um partido que troca a competência e a independência, dos filiados escolhidos, pela obediência e submissão, absolutas, ao líder, ou seja, ”queres o tacho, então tens que obedecer, cegamente, ao teu líder”!
Tal e qual como no tempo de Salazar! Mas ao menos não digam que são democratas.
É pura questão de léxico!. É que quando alguém, que desde sempre, após o “25 de Abril”, se identifica com a social-democracia, do Dr. Mário Soares, e vê o que se passa hoje, sofre muito mais que qualquer outro cidadão de outro sector, porque sente que está a perder todas as suas referências e, que elas, estão de facto mortas, ou seja, morreram com Mário Soares.
Agora, resta-nos o futebol, a praia, se o Verão aparecer... e o preparar de mais uma legislatura que se afigura uma grande incógnita, já que há-de chegar o tempo do contra--ciclo, quer do Turismo, quer da “Onda” do Imobiliário, e, da paz, na Europa e no Mundo. Depois resta-nos voltar à rotina da prática da corrida matinal, na rua, de madrugada, porque não há dinheiro para mais, o ginásio, para os mais endinheirados e esclarecidos, pois sabem que esta prática é que os poderá manter vivos, e com alguma sanidade mental, já que sem este “desiderato”, podem perder a sua Homeostasia, ou seja, o seu equilíbrio funcional-orgânico.
Então, até à remodelação, não daquilo que possam pensar, mas daquilo em que nunca pensaram, ou seja, uma nova forma de mentir dizendo a verdade!"

'Top performance' e exaustão emocional: quando a vulnerabilidade se transforma em sucesso (o exemplo de Horta Osório)

"Depois de termos assistido a um grande (e merecido) destaque das questões de saúde mental associadas quer ao alto rendimento desportivo (através do discurso directo de diversos atletas, alguns “super-atletas”), quer ao contexto empresarial, através da coluna de Horta Osório (CEO do banco britânico Lloyds, e um dos, reconhecidamente, 'top-performers' deste segmento) no “The Guardian”, importa começar a colocar este tema “em cima da mesa”, não de uma forma pontual e episódica, mas através de um conjunto de medidas estratégicas para fazer face ao mesmo.
Como tão bem caracterizou Horta Osório “o problema da saúde mental é um problema de todo o Reino Unido que impacta a nossa economia todos os anos, aumentando os custos dos empregadores (através de produtividade baixa, pedidos de licença por doença, mudanças constantes de pessoal) e do nosso governo (pedidos de subsídios, menos impostos recolhidos). Mas, combater este tema não é só um tema de aumento de prosperidade, mas de forma crucial, de como trazer um enorme impacto na vida e no bem-estar das pessoas”.
Assim também o é em Portugal, onde a importância de criar soluções é igualmente urgente.

O Exemplo de Horta Osório
A forte defesa de Horta Osório de um tema que, seja qual for o contexto de performance, se encontra vincadamente estogmatizado, resulta, como não podia deixar de ser, do seu próprio processo de transformação pessoal.
Como refere em discurso directo inúmeras vezes, ocupando cargos de elevada responsabilidade desde os 29 anos de idade, cedo compreendeu quão solitária pode ser a existência de um CEO, na medida em que, muitas das questões fracturantes com as quais sempre teve que lidar (do foro pessoal ou profissional), foram muito possivelmente vividas num silêncio auto-imposto, numa clara tentativa de não fragilizar a imagem do líder.
Assim se vive... ou por outra, “sobrevive”... na generalidade das organizações.
Por mais estudos que indiciem a necessidade imperial de se apostar na construção de 'Soft Skills' (ou, como referi num artigo anterior, 'Critical Skills') dos colaboradores pois, tornando-os mais resilientes, mais focados e comprometidos (com a sua vida pessoal e profissional) estamos, seguramente, a apostar na sua qualidade de vida e, em última análise, na sua capacidade em ser produtivos, a realidade continua a evidenciar que, maioritariamente, não existe uma estratégia clara (nem aposta) das organizações em munir os colaboradores com este tipo de ferramentas – opta-se ainda, num estilo muito mais clássico e ortodoxo, por apostar em formação técnica/tecnológica, por vezes sem aplicabilidade alguma, apenas para “cumprir” os planos obrigatórios de formação anual.

O Poder dos Testemunhos Reais
Como em qualquer outra área, nomeadamente nas que abordam temáticas que, classicamente, não se associam com um contexto “imaginado de super-heróis” (super atletas, super gestores), o TESTEMUNHO de pessoas que vivenciaram situações de “burnout” emocional para, em seguida, ativando os seus mecanismos de resiliência, se reerguerem e prosseguirem no seu projecto de vida (por vezes, até em patamares superiores) são perfeitamente fundamentais para quebrar o estigma e “tabu” que, infelizmente, ainda impera na nossa cultura de desempenho (desportivo, empresarial, artístico, outros...).
São fundamentais para dar o exemplo e indiciar o caminho a seguir.
O discurso directo de quem transformou adversidade em oportunidade, de quem aceitou olhar a sua fragilidade como fonte de informação para um novo salto desenvolvimental, transformando-a numa alavanca de superação e aumento de qualidade de vida e bem estar, não só é fundamental como é necessário.
Necessário para, de uma vez, entendermos que a nossa condição humana exige que se aprenda a lidar positivamente com todo o tipo de emoções, sabendo-as expressar pelos canais adequados, no timing certo.
E, daqui, não resulta nenhum “defeito” ou “falta de personalidade”... Resulta sim, uma enorme compreensão do funcionamento humano.

Quanto Maior o Poder, Maior a Responsabilidade
Era assim que aparecia escrito nos livros de banda desenhada de super-heróis da Marvel que lia em miúda e, na vida real, não é diferente.
Tão mais importante se torna o testemunho, quanto maior for a responsabilidade e influência do cargo que ocupam numa empresa ou do protagonismo que assumem numa dada área de performance, pois podem aproveitar os mesmos para começar a criar um novo olhar para uma questão que, afinal, pode muito bem ser apenas o primeiro passo para a elevação de toda a nossa existência.
O programa de “Optimal Leadership Resilience” de que Horta Osório nos fala no seu artigo traduz isto mesmo – a preocupação de uma Organização em capacitar as funções que se encontram mais sujeitas a stress com um conjunto de ferramentas (claramente também associadas ao desporto de alta competição) que potenciam as qualidades físicas e psico-emocionais de qualquer “performer”:
- Nutrição, monitorização cardíaca, gestão do sono, avaliação e análise psicológica, numa perspectiva de habilitar o individuo a confrontar-se positivamente com os desafios do presente.
Excelente a iniciativa de Horta Osório e do Lloyds pela visão e estratégia (a médio/longo prazo), pela preocupação com o ser humano e não com o “colaborador”, pela aposta numa equipa de “maratonistas felizes” e não de “sprinters exauridos”, enfim, uma vez mais pelo exemplo que nos trazem de que é possível fazer diferente... e repare-se (o grande “bicho papão” que existe em contextos de alto rendimento), sem qualquer receio de prejuízo da capacidade de performance da equipa (por que sabem, em última análise, que estão mesmo é a elevar as condições de performance). 
Por cá, fica o desafio para as empresas (e desporto em geral), que há muito, pessoalmente, vinco nas empresas e organizações desportivas com quem tenho a oportunidade de trabalhar, de se alinharem e criarem planos verdadeiramente focados nas necessidades das pessoas sem medos ou estigmas...
Ou não revelassem, as nossas “coxices” (entenda-se: fragilidades emocionais e físicas), também todo o nosso potencial de transformação e margem de progressão."