sábado, 14 de julho de 2018

Se houver traças a Croácia será Campeã do Mundo

"Amanhã haverá um novo campeão do mundo. A França é favorita. Os franceses já conquistaram títulos mundiais e europeus e a selecção da Croácia nunca ganhou nada de jeito. Por isso mesmo, neste altíssimo patamar a que chegaram, manda o bom senso não esperar por surpresas nem, muito menos, por anedotas. Este Mundial da Rússia até teve as suas graças como a saída rápida dos alemães pela porta dos fundos ou a cruelíssima contabilização do tempo que Neymar passou deitado na relva. Mas o que importa é saber se hoje, pelo final da tarde, terão conseguido os croatas fazer em Moscovo o mesmo que os portugueses fizeram há dois anos em Paris perante uma França também favorita até doer. Pode acontecer. Se Modric se magoar e abandonar o campo antes do primeiro quarto-de-hora do jogo não sem que antes uma traça tenha pousado amorosamente numa sobrancelha do próximo melhor jogador do mundo, então teremos uma grande, grande surpresa no Estádio Lujniki em Moscovo. Venham as traças!
O próximo campeonato – aquilo que verdadeiramente a todos interessa – sofreu uma partida em falso. Coisa nunca vista no nosso futebol que, praticamente, já viu de tudo. O primeiro desenho do calendário da prova viu-se deitado ao lixo em função de uma disfunção operacional. Um erro humano na leitura dos números, coisa que a qualquer um pode acontecer ou já ter acontecido, invalidou o que a sorte tinha ditado a todos os concorrentes no sorteio original obrigando a uma segunda tômbola e a um segundo calendário, forçosamente diferente, que foi o que ficou a valer. No calendário errado havia "derby" em Alvalade à 3.ª ronda e no calendário da rifa certa há "derby" na Luz à 3.ª jornada. Ninguém pode adivinhar o que de inovador poderia ter calhado na 3.ª jornada, em termos da Segunda Circular, se os erros de leitura tivessem persistido e houvesse necessidade de um terceiro sorteio… Mas factos são factos e, assim, fica o Benfica a saber que recebe o velho rival entre dois jogos de qualificação para a Liga dos Campeões e fica o Sporting a saber que terá de visitar a casa do rival de sempre nas vésperas do acto eleitoral apontado para 8 de Setembro. Venha o diabo e escolha.
Como nunca mais ninguém lhe louvou o "comportamento ético" desde que as escutas do Apito Dourado viraram um sucesso, o presidente do FC Porto elogiou-se agora a si próprio numa publicação interna do clube a que preside exaltando, justamente, o seu "comportamento ético" face ao momento vivido pelo Sporting. Fez, no entanto, uma distinção preciosa ao nomear as pessoas do Sporting a quem telefonou para, sob "palavra de honra", garantir que não contrataria nenhum dos trânsfugas. Pinto da Costa referiu-se a Bruno de Carvalho diplomaticamente por "presidente" mas para José Maria Ricciardi e para, Eduardo Barroso, num registo mais intimista, empregou os termos "amigos" e "distintos". Que maldade."

Do Mundial 1998 ao Mundial 2018: vingar uma geração ou repetir uma conquista?

"A Croácia está pela primeira vez num final de um Mundial, depois da excelente prestação no Mundial 1998, quando atingiu as meias-finais, mas foi eliminada pela selecção que acabaria por se sagrar campeã do mundo: a França. (...)

Chegou o jogo mais aguardado do Mundial: a final, claro. De um lado, a França de Didier Deschamps, que procura voltar a sagrar-se campeã do mundo depois de conquistar o Mundial de 1998, no qual eliminou, nas meias-finais, a... Croácia - até hoje a melhor versão dos croatas num Campeonato do Mundo.
Do outro, a Croácia de Zlatko Dalic que, ao chegar à final pela primeira vez na sua história, não vai querer desperdiçar a oportunidade de escrever o seu nome nos vencedores da competição mais importante do mundo - fazendo justiça à geração de 1998, que tinha nomes como Davor Suker, Zvonimir Boban e Robert Prosinecki, entre muitos outros.
França
Depois de eliminar a Bélgica nas meias finais, com um golo de Umtiti na sequência de um canto marcado por Griezmann, a seleção francesa garantiu a sua terceira presença numa final de um Mundial, onde procurará de uma vez por todas esquecer a final de Paris, no Euro 2016, na qual perdeu frente a Portugal, apesar do favoritismo.
À imagem do que aconteceu durante todo o Mundial, espera-se uma França bastante perigosa num momento muito específico: o da transição ofensiva, onde Mbappé (com três golos marcados é, a par de Griezmann, o melhor marcador francês) surge como o jogador mais decisivo.
Este momento - a transição ofensiva - começa a ser preparado quando a França não tem a bola, com o posicionamento de Mbappé a ser diferente do posicionamento dos restantes médios. Inicialmente organizados em 4-4-2 no momento defensivo, os franceses optam, na maioria dos lances, por defender apenas com três jogadores na linha média, permitindo assim que Mbappé permaneça numa zona mais subida do que os colegas.
Kanté, Pogba e Matuidi, três médios com muita capacidade física, controlam a largura toda do campo, basculando de um lado para o outro consoante a zona da bola, protegendo assim tanto o corredor lateral onde a bola se encontra como o corredor central.
Mbappé posiciona-se numa zona mais à frente dos restantes médios (principalmente quando a bola está no lado oposto) para, assim que a França recupere a posse de bola, ser a principal referência para a transição ofensiva, uma vez que está mais próximo da linha defensiva adversária e pode utilizar toda a sua velocidade para atacar a profundidade.
Croácia
Depois de eliminarem a Inglaterra no prolongamento (desta vez não foi preciso penáltis, ao contrário do que aconteceu nos oitavos e nos quartos-de-final), por 2-1, com golos de Perisic e Mandzukic, a Croácia tem agora uma oportunidade de ouro para se vingar da eliminação de 1998, onde caiu aos pés dos franceses, que acabaram por conquistar o troféu.
Como referido na antevisão ao jogo das meias-finais, a Croácia tem revelado algumas dificuldades em ligar a fase de construção com a de criação, apesar de ter médios muito evoluídos tecnicamente, como é o caso de Rakitic e Modric.
Deste modo, e contra uma França que permite pouco espaço entre linhas no corredor central, é de prever uma Croácia a atacar mais pelos corredores laterais, como fez contra a Inglaterra, principalmente na segunda parte.
Modric do lado direito e Rakitic do lado esquerdo aproximaram-se muito dos corredores laterais para combinarem com os respectivos defesas laterais (Vrsaljko e Strinic), de modo a criarem condições para fazer a bola chegar a zonas de finalização através de cruzamentos, onde Mandzukic (dois golos marcados no Mundial) e um dos extremos (Rebic ou Perisic, consoante o lado onde é feito o cruzamento) procuram ser agressivos para se anteciparem aos defesas adversários (algo que funcionou contra Inglaterra).
Tendo em conta o estilo de jogo de cada selecção, prevê-se uma final bastante equilibrada ao nível da posse de bola, e com ambas as selecções a alternarem entre um futebol mais técnico e apoiado, e um futebol mais físico.
Isto é, com a bola em jogadores como Kanté, Pogba e Mbappé, apesar destes serem muito fortes tecnicamente, veremos uma França a explorar mais a dimensão física do jogo, principalmente ao nível da condução de bola desde zonas mais recuadas e nos movimentos de ataque à profundidade, enquanto que dos pés de Griezmann sairá um futebol mais técnico, de passe e criatividade.
Na Croácia acontecerá o mesmo, com os médios Rakitic e Modric a representarem um futebol mais técnico, de passe curto e progressão apoiada, enquanto jogadores como Rebic, ao nível da condução de bola, e Perisic e Mandzukic, nos duelos em zonas de finalização, levarão o futebol croata para uma dimensão mais física.
Depois, há também um outro factor que pode ser fatal: as bolas paradas. Têm sido decisivas em tantos jogos durante o Mundial da Rússia que não será surpreendente se a final for resolvida numa bola parada (de referir que a Croácia já teve 34 cantos a seu favor enquanto a França apenas teve 19). 
Ambas as selecções têm vários jogadores muito fortes nos duelos aéreos: Lovren, Vida e Mandzukic do lado croata; e Umti, Varane e Pogba do lado francês, além de excelentes marcadores de bolas paradas como Modric e Griezmann."

Faz sentido? (parte 1)

"Estaremos nós à altura de conseguir manter os nossos jovens no futebol? Fará sentido a pressão e a ausência de diversão que os jovens na formação sentem desde cedo? Muitos deles, quando chegam a juniores A (18/19 anos) já têm 14 anos de futebol e muitos poucos de diversão, pois desde cedo começaram a ter campeonatos com classificação, algo que apenas deveria acontecer a partir dos 14 anos. Fará sentido obrigarmos jovens a treinar três a quatro vezes por semana, depois de dias de aulas preenchidos? Fará sentido jogarem todos os fins-de-semana?
Fará sentido que, quando terminam os campeonatos, ainda fazerem torneios em vez de ir de férias? Fará sentido os pais, desde cedo, pressionarem os filhos a terem bons desempenhos no futebol, esquecendo tantas vezes a mesma exigência na escola? Fará sentido julgarem estar ali a salvação financeira da família? Será esta formação que queremos? Não será este um dos motivos que faz tantos desistirem aos 18/19 anos? Não será uma injustiça que, quando chegam a seniores, muitos clubes abdicam dos seus serviços em troca de estrangeiros de qualidade duvidosa? Não estará o futebol a ser ultrapassado pelo futebol virtual? Estarão estes jovens dispostos a serem os adeptos do amanhã, que compram o seu bilhete e vão assistir a um jogo de futebol, tal como para ir ver um concerto ou um festival de jogos electrónicos?
A FPF já detectou algumas fragilidades mas todos nós, enquanto agentes desportivos, devemos unir-nos, de uma vez por todas, na tentativa de encontrar uma fórmula que permita o equilíbrio entre o negócio e o lazer por forma a que os nossos jovens cresçam sem pressão. Deixem-nos tratar o treinador por míster, o Árbitro por senhor Árbitro, o colega por amigo e reconhecer o pai como o seu fiel adepto e fã, e não por Árbitro/treinador/dirigente/empresário..."

Rússia"18 valeu pelo enxovalho

"Do Mundial, escolho a censura planetária às fitas de Neymar. A batota é inevitável; que sejamos todos cúmplices, nem tanto

O presidente da FIFA viu, na Rússia, o melhor Mundial de todos os tempos. Consigo arranjar maneira de o perceber. Uma das hipotéticas evoluções foi a redução do desnível entre selecções. Se houve coitadinhos, foram menos do que o habitual (talvez o Panamá, eventualmente a Arábia Saudita) e outros, como o Japão ou Marrocos, deram grandes saltos. Visto que não estive lá, não sei avaliar o catering, nem os salamaleques, e suspeito que devem ter pesado na avaliação de Infantino, para além do autoelogio e da reverência obrigatória ao patrocinador Vladimir Putin. O melhor, e mais oportuno, do Mundial foi a sova (quase totalmente figurada, até no relvado) que Neymar levou do planeta inteiro, por ter andado a rebolar na relva muito mais do que é aconselhável. Escrevo isto a morder a língua, porque concordo com o meu amigo Álvaro Magalhães - o futebol não é catequese, nem escola de etiqueta -, mas estamos a ficar anestesiados (ou cúmplices) a todas as vigarices, pulhices e sonsices, fora e dentro do relvado. Simular agressões ou praticar antijogo não terá a gravidade de subornar jogadores, manipular classificações de árbitros, ou de quase tudo o que Bruno de Carvalho faz, mas é transmitido em grandes ecrãs, em alta resolução e em câmara lenta, dúzias de vezes por semana, sem nenhum verdadeiro tipo de crítica ou de repressão. Funciona como uma telescola para os cadetes e adeptos. Nos dois últimos campeonatos portugueses, vimos brilhantes exemplos dessa batota. Até por isso, o enxovalho planetário a Neymar fez bem ao estômago."


PS: O cumulo da falta de vergonha no focinho... como é que um gajo destes, vem falar de batota, depois de participar activamente no maior esquema de batota do desporto português!

Néstor Pitana: o verdadeiro vídeo-árbitro

"Pitana, até mais do que Kuipers, rapidamente se fez notar. A partir do momento em que a Argentina foi eliminada, era quase impossível que não fosse ele o escolhido para o jogo decisivo.

Tenho dentro da cabeça uma constelação de nomes de árbitros, esses órfãos de aplausos do futebol: Rosa Santos, Carlos Valente, Fortunato Azevedo, Veiga Trigo, Vítor Correia, Francisco Silva, José Pratas e Alder Dante. Repito: Alder Dante! Agora com ponto de exclamação e tudo porque um pai que põe um nome destes a um filho sonha com um príncipe das letras, um general, um imperador e, à falta de pena, espada ou ceptro, terá de servir um sinal de pontuação. Em tempos mais recentes, e por razões acima de tudo fonéticas, destacam-se nomes inapagáveis como Lucílio e Elmano, apelidos raros como Paraty (paz à sua alma) e Xistra, e o imbatível Olegário Benquerença, que está para a arbitragem como o nome de Possidónio Cachapa está para a literatura.
A minha memória também é habitada por árbitros estrangeiros e os seus nomes de ressonâncias ficcionais, estrangeiras e musicais: Joël Quiniou, Sándor Puhl, Michel Vautrot, Mario van der Ende, Pierluigi Pairetto e Brizio Carter. Outros aparecem-me em todo o esplendor arbitral, como o longilíneo Kim Milton Nielsen e o pretor do apito Pierluigi Collina, o único árbitro capaz de pedir meças a alguns jogadores no campeonato das celebridades. Independentemente das suas qualidades técnicas, o que distinguia Collina era a sua presença. Se o símbolo da justiça é uma estátua vendada, o símbolo da justiça futebolística poderia ser um busto de Collina de olhos bem abertos e cabeça glabra.
Este Mundial já me ofereceu dois nomes para essa constelação de juízes, os únicos que mencionei nestas crónicas: o argentino Néstor Fabián Pitana e o holandês Bjorn Kuipers. Curiosamente, foram ambos escolhidos para estar na final de domingo. Pitana nas quatro linhas, Kuipers como 4º árbitro. Interpreto esta coincidência como um desmentido daquela noção comum que o melhor árbitro é o árbitro “invisível”. Pitana, até mais do que Kuipers, rapidamente se fez notar. A partir do momento em que a Argentina foi eliminada, era quase impossível que não fosse ele o escolhido para o jogo decisivo.
Num campeonato em que uma das más novidades foram os protestos de jogadores e treinadores a reclamar a intervenção do VAR, Pitana, no início do jogo França-Uruguai, arrumou logo essas pretensões, com berros e uma linguagem corporal e gestual que dizia claramente “não me venham cá com essas merdas do VAR porque quem manda aqui sou eu.” Havia o risco de uma medida acertada – a introdução do VAR – se tornar num pretexto para motins recorrentes e empolamento de queixas. Naquele momento, Pitana (um nome de árbitro, se é que isso existe) resolveu um problema à FIFA e reservou o seu lugar para a final de domingo. Fê-lo, quer-me parecer, com a noção adequada do poder visual da actuação do árbitro. Com isto quero dizer que Pitana foi um verdadeiro vídeo-árbitro, o árbitro que se comporta com plena consciência de que está a ser visto, o árbitro que sabe que uma componente do seu trabalho é a forma como jogadores, público e tele-espectadores o vêem, num sentido literal. A “presença” do árbitro, para usar novamente este termo de conotação religiosa, é um instrumento da sua autoridade.
O que surpreende alguém que apenas conheça Nestor Pitana deste Mundial, como é o meu caso, é saber que, na Argentina, ele está longe de ser consensual. É difícil conciliar o árbitro de postura marcial (embora atenuada por se inscrever num fundo performativo) com o indivíduo dubitativo e hesitante de que fala a imprensa argentina. Veja-se este vídeo do Youtube em que um treinador tresloucado o confronta com modos pouco graciosos:

O futebol argentino é um mundo à parte, sem dúvida, mas esta transformação do árbitro também pode ser sinal de outra coisa. Da mesma maneira que há jogadores secundários que, nas suas selecções, assumem o papel de estrelas, também haverá árbitros que, ao ser-lhes dado o maior dos palcos, ganham um estatuto, digamos, shakesperiano, maior do que é habitual, maior do que a própria vida. 
“Puteado” (para recorrer a uma expressão porteña), cuspido e ameaçado, que mais do que árbitro parece um Cristo no Calvário ou um mártir das distritais em Portugal, Pitana (e não tem o próprio nome qualquer coisa de sibilante?) chegou à Rússia como se não tivesse um passado. Tornou-se, por mérito próprio, uma das figuras do Mundial. Os seus compatriotas já o avisaram para aproveitar o momento porque, quando regressar à Argentina, voltará a ser o Pitana, árbitro comum e bode expiatório dos fracassos dos outros. Mas estas quatro semanas de glória já ninguém lhas poderá tirar."

O bêbado e a equilibrista

"Moscovo – Saio para a rua, são quatro e meia da manhã, o céu claro lá em cima, para já sem nuvens, um resto de ruído que deixo ficar para trás à medida que me afasto das portas do Bruxelles, esse bar simpático com dezenas de cervejas belgas que encontrei o ano passado, por acaso, na Rua Malaya Dimitrova. Sim, porque se a Bélgica já foi eliminada, as cervejas, não.
Um casal discute do outro lado de um rectângulo relvado onde crescem arbustos. Gestos largos os dele, mais irritado, talvez ainda não tenha digerido a derrota da Rússia frente à Croácia ou, mais provavelmente, esteja mas é a sofrer as consequências de excesso de vodca na sua função hepática. 
“A lua/ Tal qual a dona do bordel/ Pedia a cada estrela fria/ Um brilho de aluguel”, cantaria Elis Regina, observando a cena.
Ela de braços cruzados, num paroxismo de paciência. Ela a mulher, não a lua, que se renova e dentro de dois dias será nova. Ah! As russas são tão românticas! Mesmo quando se casam por dinheiro.
Não lhe adivinho a idade. Talvez quarenta e tal anos, trazendo às costas uma carga excessiva de relacionamentos anteriores que a faz encolher os ombros enquanto o bêbado esbravata, rompe aos saltos e aos pinotes, a música ao longe, ao longe dentro de mim: “Mas sei que uma dor assim pungente/ Não há de ser inutilmente/ A esperança...”
Vou olhando esses sinais. Eu, em relações, já fiz como Vinicius, e tirei da minha vida as guerras de palavras de forma a poder continuar a ter vivos os meus amores mortos. Não deixo mais que a tua amargura me encha as gavetas dos dias e das noites; não deixo que pouses sobre a minha escrita a teimosia das tuas mãos para sempre frias; és agora um nome, apenas uma palavra feita de ar como todas as palavras.
Alguns resistentes caminham pelo passeio, quase a meu lado. Trazem vestidas camisolas verdes da Alemanha, confesso que acho graça a uma Alemanha de verde, Alemanha, esse país no qual até as florestas são negras. Um cão dorme debaixo de um banco, acho que é a primeira vez que estou a ver um cão à solta pelas ulitsas de Moscovo, ou talvez seja o bicho de estimação do casal que discute para lá das 5,4 oitavas de extensão de voz da contralto peruana Yma Sumac.
Vendo bem, só ele é que discute e não é alto nem contralto, apenas grotesco e exasperado, sem controlo nas mãos, que parecem velas assopradas de moinhos, não consegue conter lá dentro tudo aquilo que devia ter esquecido já, voando para norte como Akka de Kebnekaise e Nills Hölgersson, sempre para norte, onde não há nem tristeza nem sofrimento.
A manhã clareia por detrás das fachadas nobres dos edifícios solenes. Na Rússia, às vezes o destino não é tão importante como o caminho. Por isso, sigo o meu e deixo para trás o homem que se arrepela até ao choro e a sua amante perdida que não sei se voltará a reencontrar, deixo para trás a mulher de braços cruzados cansada de guerras domésticas e utilitárias, deixo para trás o cão adormecido e o resto da madrugada e sigo o meu caminho em busca da verdade dos cadernos, as palavras que não digo, que não sei dizer, que nunca soube dizer, que sei apenas escrever por toda a parte onde exista uma página em branco. As palavras que vou amontoando letra a letra dentro de mim sem saber onde as despejar de vez em quando.
Quando virar a esquina que aí vem, tê-los-ei deixado assim para sempre guardados nas lembranças, o bêbado e a equilibrista de Elis Regina, os gestos de encontro ao cais dos braços que se cruzaram e não voltarão a descruzar-se nem para um abraço de adeus.
Sigo o meu caminho pensando que não faz muito sentido aquilo que dizem por aqui: que se realmente existir uma fórmula universal pela qual o homem consegue acabar com todos os seus problemas de uma só vez, essa fórmula é uma noiva russa. Dispenso. Limito-me a andar de um lado para o outro à procura de onde colocar este ponto final."

#Mulheres

"A FIFA pede para as estações de televisão evitarem transmitir imagens de mulheres bonitas nas bancadas, devido às queixas de sexismo apresentadas durante o Mundial de futebol, na Rússia. Quando estamos a assistir a um evento desportivo, as imagens do público são quase sempre o que menos importa e, assim sendo, pode nem fazer grande diferença. Mas peca por defeito. Nesse caso, também as mulheres feias são dispensáveis, bem como os homens, mais ou menos esbeltos. Depois, há o conceito de bonito. Aquela que é uma bela mulher para mim, pode ser feia para o operador de câmara, ou vice-versa. E o mesmo se aplica aos homens. A FIFA também é, portanto, discriminatória e sexista. A não ser que haja aqui rabo escondido com outro Mundial de fora: dentro de quatro anos, o torneio será disputado no Qatar, onde as senhoras andam, normalmente, mais preenchidas com roupa do que os astronautas nos passeios espaciais, e a intenção pode muito bem ser desabituar os telespectadores. Pensando melhor, o pedido da FIFA nada deve ter a ver com o Mundial do Qatar, nem sequer com as senhoras, porque, se estivessem realmente preocupados com as mulheres, os patrões do futebol não aceitariam realizar o evento em países onde, em muitos casos, elas são privadas de direitos fundamentais e tratadas abaixo de camelo."

Finalmente, proibido mulheres bonitas nos estádios

"Ainda não é bem proibido, mas quase. A FIFA recomendou que os realizadores de tv não passem imagens de mulheres bonitas nos estádios por ser sexista. Embora pedir aos realizadores que sejam estes a decidir quem é bonita ou feia e só transmitir imagens de mulheres que eles acham feias, — vão ficar felicíssimas de aparecer na tv — já seja perfeitamente aceitável, claro.

Mas sem dúvida que é uma excelente medida, tendo em conta que 99% dos homens que vêem futebol são neandertais rebarbados que só vêem os jogos por causa daqueles 4 segundos em que aparece na bancada uma semi-divindade com vagina e uma bandeira pintada na cara. Portanto, tenta-se resolver o sexismo tratando os homens como pilas acéfalas ambulantes e culpabilizando as mulheres bonitas. Bom, mas ainda assim não é perfeito. Há que ir mais longe.
Para começar, as mulheres bonitas têm de ser proibidas de entrar nos estádios. Mesmo que os tarados não as vejam na tv, os que estão no estádio podem olhar para elas e é incrivelmente sexista olhar para uma mulher cuja sociedade diz maioritariamente ser bonita. Mais tarde, deviam até ser proibidas de sair de casa. Mulher bonita é mulher que se põe a jeito, está mesmo a pedi-las, não é?
Relativamente à realização dos jogos de futebol, e apoiando sempre a igualdade de género, acho que os homens também devem ser protegidos do sexismo. Quase nunca vi mulheres a comentarem o André Silva, o Adrien, o Beckham, o Ronaldo e até o Quaresma, o rebelde que lhes cheira a pecado, sem ser pelas suas qualidades futebolísticas, como é óbvio.
Mesmo que sejam incomparavelmente menos incomodados do que as mulheres, o melhor era que os operadores de câmara passassem a filmar os jogadores só do tornozelo para baixo. Não só é excelente para os tarados e taradas não estarem a dizer coisas como “Ai, este Diogo Faro (gosto de imaginar que ainda vou ser jogador da bola) é cá um pedacinho de céu, era lavar aquele corpinho todo à base de língua e cuspo!”, como também é bastante económico. É só deixar meia dúzia de câmaras mesmo na relva à volta do campo e já está, não é preciso ninguém para as segurar. Ou então filmar só os jogadores feios. Era ter uma câmara só para o Herrera, por exemplo. Tudo isto me parece realmente adequado e nada uma forma primitiva e altamente redutora da sexualidade e da educação social. Nada como reduzir o ser humano a um amontoado de hormonas sexuais e descontroladas para se começar a resolver o problema do sexismo.
Bem, agora vou para o Alive. Mas estejam descansados que vou estar sempre a olhar para o chão porque aquilo está cheio de pessoas bonitas e não quero olhar para nenhuma para não ofender."

#FÍFIA

"A FIFA conseguiu transformar um debate interessante numa anedota. Proibir as televisões de mostrar imagens de "mulheres atraentes" nas bancadas durante os jogos de futebol pode, no limite do absurdo, criar um movimento em contraciclo das "mulheres feias" que, a partir de agora, sejam as únicas contempladas com base no normativo estético. Bom, mas como se definem os critérios de beleza? A FIFA vai distribuir um manual de fisionomia às estações? Com um capítulo dedicado ao dress code, com múltiplas alíneas sobre decotes? E, já agora, porque não obrigar os realizadores a filmar também homens atraentes? Se virem o bom-senso avisem. Ao ter optado por uma proibição simples, e de muito discutível aplicação, a FIFA perdeu uma oportunidade para fomentar uma discussão válida sobre um problema escondido. A verdade é que se recorre exageradamente a planos apertados de adeptas, algumas das quais modelos que buscam promoção pessoal, e que isso resulta num desequilíbrio, atendendo à diversidade de espectadores nas bancadas. Alertar para isto é uma coisa. Proibir é outra. É apanhar a onda dos radicalismos. É ser sexista tentando evitá-lo. A única preocupação da FIFA é mesmo o Mundial do Qatar de 2022, onde, por imperativos religiosos, não há tolerância com a exposição da beleza feminina. Business as usual, portanto. Ou não fossem os petrodólares tão sexy."

Capitão coragem

"Hoje joga a Bélgica e recuperamos Jan Ceulemans, que contribuiu para a melhor classificação belga em Mundiais: 4.º lugar no México’86.
Jan estreou-se pelos Diabos Vermelhos aos 19 anos, na qualificação falhada para o Mundial da Argentina de 1978. O carismático ‘Capitão Coragem’ – pela liderança e labor demonstrado dentro e fora do campo – marcou 23 golos pela Bélgica e ainda é um dos seus jogadores mais internacionais (96).
Em 1980, Ceulemans foi vice-campeão europeu pela Bélgica. O robusto Jan – media cerca de 1,90 m – apresentou qualidade de passe e bom jogo aéreo. Titular em todos os jogos, foi escolhido para a equipa do torneio e ficou em 5.º lugar na votação para a Bola de Ouro.
Com o início da década de 1980, surgia a ‘Bélgica de Ceulemans’, enquanto guia de uma grande geração belga presente em três Mundiais: 1982, 1986 e 1990.
Em 1982, na abertura, Jan ajudou à vitória por 1-0 contra os campeões argentinos (já com Maradona). No jogo seguinte, os belgas defrontaram El Salvador, que sofrera das mãos húngaras a maior derrota do Mundial: 10-1. Avisados, os salvadorenhos apresentaram-se ultradefensivos e a Bélgica lá goleou por… 1-0.
Mas o grande momento de Ceulemans surgiu no México’86. Na fase a eliminar, superaram a forte URSS por 4-3 e a Espanha nos penáltis, sempre com o ‘Capitão Coragem’ em grande destaque, com um golo em cada jogo.
Na meia-final, a Argentina desforrou-se de 1982 com dois golos de/à Maradona (o segundo, uma espécie de ‘encore’ do conhecido ‘slalom’ contra a Inglaterra) e o 3.º lugar, golo de Jan, seria perdido para a França. O Capitão surgiu na equipa ideal ao lado de vultos como Tigana, Platini e Maradona. Foi preciso Coragem!
Bravura é o que os belgas pedem à nova geração de ouro para que, não morrendo na praia, consiga ‘trabalhar para o bronze’ e supere a ‘Bélgica de Ceulemans’.
Hoje pode ser o dia de um novo Capitão que crie a ‘Bélgica de Hazard’! A má notícia para os ingleses é que a Bélgica também tem, entre outros, De Bruyne, Mertens e Lukaku. Lá diz o adágio… um hAZARd nunca vem só!
Palavra e… Coragem de Capitão?"

O jogo de que “ninguém quer saber” mas que, vá lá, no fundo, no fundo, até querem: uma viagem pelo terceiro lugar do Mundial

"Inglaterra e Bélgica disputam hoje aquele que para muitos é um dos jogos mais inconsequentes do universo futebol: o da atribuição do terceiro lugar no Mundial. E que, talvez por isso, costuma ser um dos mais animados e recheado de golos. (...)

"Ninguém quer jogar este jogo", atirou o seleccionador inglês Gareth Southgate na ressaca da derrota nas meias finais frente à Croácia. "Acho que esta partida nunca devia ser disputada", disse Louis Van Gaal também como reacção a uma eliminação, desta feita da Holanda contra a Argentina nas meias-finais do Mundial 2014. Podem ser palavras amarguradas proferidas no calor da desilusão mas que não deixam de reflectir aquilo que muitos acham do desafio de atribuição do terceiro e quarto lugar do Mundial, que hoje Inglaterra e Bélgica disputam: porquê?
É habitualmente um jogo que, na antecâmara, aparece quase como um presente envenenado para duas equipas que só querem ir para casa após falharem a oportunidade de estarem na partida mais importante das suas vidas, a final. Animosidade que também contribuiu para a sua reputação baixa entre os adeptos que, a acreditar nas reacções mediáticas, nunca parecem muito entusiasmados com a perspectiva de garantir pelo menos uma medalha de bronze.
O que acaba por nem sempre corresponder à verdade. Porque se é certo que para os tradicionais candidatos ter que lutar pelo terceiro lugar pode ser desmotivante, equipas surpresa que não estavam nas cogitações para chegarem tão longe podem ver no desafio uma oportunidade de, ainda assim, fazerem história. Que o diga, por exemplo, Portugal que na sua primeira participação num Mundial, em 1966, contra grande parte das expectativas, garantiu o terceiro lugar contra a União Soviética por 2-1, em ambiente de festa.

Também por isso o jogo acaba sempre por ser um dos mais animados da competição. A diminuição da pressão e a introdução de alguns jogadores menos utilizados costuma promover uma abordagem mais atacante e despreocupada. Mesmo assim, será surpreendente saber que desde 1974 nenhum destes jogos teve menos de três golos marcados.
E o primeiro desafio de atribuição do terceiro lugar não deixou o seus créditos em mãos alheias, com a Alemanha a vencer a Áustria por 3-2. Desde então (com a excepção de 1950) que o jogo fez sempre parte integrante da prova, apesar dos protestos e má fama. Para a FIFA, além de facilitar as classificações do Mundial para registos históricos, costuma ser uma forma de atribuir um prémio de consolação, dar uma última partida à segunda cidade mais importante da prova e preencher o espaço sem jogos entre as meias-finais e a final.

Pacote Surpresa
Por outro lado é uma oportunidade para as equipas carpirem mágoas ou saírem em grande do mundial. A nível individual, também é um palco privilegiado para os candidatos à Bota de Ouro da prova ganharem o tão ambicionado título. Foi o que aconteceu a Salvatore Schillaci em 1990, Davor Suker em 1998 e Thomas Muller em 2010, com os três a marcarem os golos decisivos para o prémio neste encontro.
Se equipas como a França, que de forma famosa deixou Platini de fora nos dois jogos de terceiro lugar que disputou em 1982 e 1986 (mas que viu Just Fontaine marcar quatro golos na mesma partida em 1958 para se tornar no melhor marcador de sempre numa única edição do Mundial, com 13 golos) ou o Brasil (que em 2014 perdeu 3-0 com o Holanda após a traumatizante derrota por 7-1 frente à Alemanha) olharam para o evento como um jogo de segunda categoria, o caso muda de figura quando o confronto é entre duas equipas surpresa.

Foi o que aconteceu em 1994, quando a Suécia venceu a Bulgária por 4-0 e em 2002 quando a Turquia derrotou a anfitriã Coreia do Sul por 3-2 (com Hakan Sukur a marcar o golo mais rápido da história dos Mundiais). Mesmo a Alemanha, após a eliminação traumática frente à Itália em 2006, fez questão de fazer do jogo uma festa de comunhão com os adeptos, e venceu Portugal por 3-1.
Já as equipas que hoje se enfrentam só participaram por uma vez no, ainda assim, mal afamado jogo e nem uma nem outra conseguiu o terceiro lugar. É ver às 16h quem quebra a malapata, até porque se a história nos diz algo, é que a desilusão e falta de vontade costuma transformar-se em bom entretenimento."

Um jogo que ninguém quer jogar

"Enquanto Bélgica e Inglaterra trocavam passes como quem troca bocejos, em Wimbledon, Rafael Nadal e Novak Djokovic lutavam por cada ponto como se fosse o decisivo. Não podia haver maior contraste.

De quatro em quatro anos, a discussão repete-se: para que serve o jogo do 3º e 4º lugar? A resposta à La Palice é: para definir o 3º e o 4º lugar. Haverá, no entanto, maneiras menos sádicas de o fazer. Por exemplo, fica em 3º lugar a equipa eliminada na meia-final que tiver marcado mais golos ao longo do campeonato. Ou a que tiver sofrido menos golos. Ou a equipa com o equipamento mais bonito. Ou a equipa com o onze titular mais atraente de acordo com uma votação online. Ou o primeiro país por ordem alfabética. Na verdade, aos olhos dos jogadores qualquer alternativa deve parecer melhor do que este derradeiro suplício. Talvez seja esse o objectivo da FIFA: fazer com que nas meias-finais as equipas se esforcem tanto para atingir a final como para escapar ao jogo de consolação que, em vez de consolar, só exaspera o sofrimento.
Enquanto Bélgica e Inglaterra trocavam passes como quem troca bocejos, em Wimbledon, Rafael Nadal e Novak Djokovic lutavam por cada ponto como se fosse o decisivo. Não podia haver maior contraste competitivo. De um lado, vinte e dois jogadores ainda sob os efeitos atordoantes da mais dolorosa das derrotas – nunca nenhum deles disputou uma final de um Mundial e, para muitos, esta foi a última oportunidade – e, do outro, dois jogadores que já conquistaram tudo o que há para conquistar no ténis, mas que estavam a jogar no limite das forças, das capacidades técnicas e da pura vontade de vencer. A reacção de Djokovic a cada erro não forçado e a expressão física de Nadal quando ganhava um ponto após uma extenuante troca de bolas eram, por si só, razões suficientes para o espectador ficar preso ao televisor. Em São Petersburgo, os belgas comemoraram os golos com a alegria lutuosa de quem se despede pela última vez de um amigo que deixou tantas recordações maravilhosas. Imagine-se o que seria se, amanhã, Nadal tivesse de enfrentar John Isner, o outro semi-finalista derrotado, num jogo para se apurar o terceiro classificado. Aposto que ambos os jogadores inventariam uma lesão, um compromisso inadiável, a morte de um parente afastado, para escaparem à tortura.
Porém, este Bélgica-Inglaterra tinha a vantagem de ser o desenlace de uma história que começou a ser contada há duas semanas. Foram as duas únicas equipas que, neste Mundial, se enfrentaram mais de uma vez. Na primeira, ainda na fase de grupos, ninguém queria ganhar porque a vitória empurrava o vencedor para o lado difícil do sorteio. Agora, como castigo, tiveram de disputar o jogo que ninguém quer jogar. Um jogo cuja relevância é apenas estatística: Kane lá se sagrou melhor marcador do Mundial (a não ser que amanhã Mbappe ou Griezmann lhe estraguem as contas; a propósito, não me consigo lembrar de um Bota de Ouro tão fraco desde que Oleg Salenko ganhou em 1994 com cinco golos marcados aos Feijões num jogo a camarões) e a Bélgica lá cumpriu o objectivo de alcançar a melhor prestação de sempre.
Diga-se em abono da verdade que, não havendo muito a ganhar, uma derrota neste jogo pode deslustrar uma participação meritória, como um doce que amarga no fim. Aconteceu com Portugal em 2006. Depois de três vitórias na fase de grupos, de eliminar Holanda e Inglaterra, a selecção de Figo, Ronaldo e Deco perdeu nas meias-finais com a França e, no jogo da tortura, foi atropelada pela anfitriã Alemanha, motivada para dar uma última alegria aos seus adeptos. Agora aconteceu com Inglaterra. Esta derrota lança uma outra luz sobre a campanha inglesa: três vitórias (contra Tunísia, Panamá e Suécia), três derrotas (contra Croácia e Bélgica, esta duas vezes) e um empate (com vitória nos penáltis contra a Colômbia). Pode ser a melhor prestação da Inglaterra desde 1990, mas, olhando friamente para os números, nem com muito boa vontade se pode confundir este conjunto de resultados com uma gesta épica. Um regresso a casa após a meia-final teria sido mais digno e compassivo, mas a omnipotente FIFA gosta de torcer a navalha nos derrotados."

A gestão desportiva do futebol face aos acontecimentos actuais, parte 2

"Que marketing e comunicação se pretende
A gestão de uma organização desportiva, não é muito diferente da gestão de uma outra qualquer organização, como já foi referido, mas temos de ter em consideração que o aspecto emotivo, a paixão, e o vinculo sentimental está mais presente nos consumidores que denominamos de adeptos ou simpatizantes do que noutras áreas de consumo. E, é este aspecto que marca a diferença entre o modelo europeu e o americano, onde este último assenta o seu foco no espectáculo, proporcionando entretenimento e criando conteúdos e experiências inesquecíveis para os seus adeptos.
Como muitas vezes acontece, um pouco de paixão e emoção aliada ao espectáculo seja a receita de um bom espectáculo desportivo, e esse deverá ser o foco de uma organização desportiva para com os seus adeptos, enquanto consumidores do espectáculo desportivo, diferentes stakeholders e competição.
Assim, não será de estranhar que se recorra á máxima de que se pode mudar de tudo menos de clube espelha bem este sentimento e esta atitude da sua legião de adeptos um pouco por todo o mundo. 
Desta forma os diversos sectores devem contribuir para potencializar ao máximo o seu produto no mercado da indústria desportiva e do espectáculo, que por via do potencial dos seus recursos humanos (treinadores, jogadores) e da área da gestão (desportiva, financeira e do marketing e comunicação) terá ou não condições para levar a cabo um bom espectáculo desportivo, promover o clube junto dos adeptos, criar o comprometimento com os adeptos; venda de activos, procura e manutenção de patrocinadores; venda de bilhetes e de produtos de merchandising, direitos de transmissão televisiva entre outros.
A organização desportiva ou clube tem de assumir-se como uma marca, inserida num mercado, quer seja só o mercado nacional mas também há clubes que têm pretensões de ser reconhecidos num mercado mais global, que necessita de se diferenciar dos outros clubes, que tem um produto que quer vender, seja ele aos seus sócios, adeptos, simpatizantes, patrocinadores, investidores, e é bom que esse produto se converta num espectáculo em que todos estes stakeholders sintam prazer, satisfação e vontade de voltar a disfrutar de mais momentos nomeadamente na ida a instalação desportiva para ver um jogo que não é mais que um evento que precisa de ser planeado e organizado para plena satisfação de todos.
Assim é fundamental que se compreenda o seguinte:
1 – É importante e saudável que exista forte concorrência;
2 – Gestão da competição de acordo com os interesses de todos;
3 – O equilíbrio na competição é importante;
4 – Incerteza dos resultados ajuda a captar adeptos e simpatizantes e atenção dos média;
5 – A importância dos adeptos com reflexo em diversas áreas tais como merchansing, venda de bilhetes, venda de produtos alimentares e bebidas;
6 - A comunicação com os adeptos e simpatizantes é fundamental;
7 – Capacidade de comunicação das organizações desportivas (clubes) e Liga/Federação;
8 – Campanhas de marketing das organizações desportivas (clubes) e Liga/Federação;
9 – Campanhas de responsabilidade social das organizações desportivas (clubes) e Liga/Federação;
10 – Perceber a mudança de hábitos dos adeptos;
11 – Evolução de outros desportos como por exemplo o eSports;
12 – Novos objectivos dos patrocinadores;
13 – A presença de novas tecnologias;

O que se passa em Portugal é difícil de compreender à luz dos princípios da Gestão Desportiva e do marketing e comunicação do desporto.
Raramente os clubes se colocam de acordo com as linhas orientadoras da competição, o que causa dificuldades de gestão do organismo que gere a modalidade.
Os clubes são catalogados de os três grandes, nos dois ou três outsiders e os outros clubes são o resto. Destes, só se fala se causam uma surpresa ao ganharem a um dos grandes ou quando jogam com eles.
Não seria do interesse comum dos clubes a defesa da imagem da competição, da valorização da competição, da necessidade do equilíbrio entre equipas e preocupação na segurança dos adeptos? 
Será que podemos ir ao estádio e regressarmos a casa sem que algo nos aconteça a nós ou família ou acompanhantes?
Não seria do interesse de todos que a instalação desportiva seja como uma casa para o adepto e um lar para os atletas e treinadores, no fundo um ponto de encontro por forma a aumentar as receitas? 
Então qual a razão de contrariarmos tudo o que é suposto ser feito?
Talvez se deva começar a reflectir sobre quem são os dirigentes desportivos e qual o seu percurso e traçar o seu perfil? São pessoas com passado desportivo? São antigos praticantes da modalidade? A que nível jogaram? Foram treinadores? De que nível? Qual a sua experiência como dirigente? São gestores de empresas? Com sucesso? Capazes de gerir equipas? As respostas a estas perguntas podem ajudar a traçar o perfil do dirigente desportivo e podermos agir ou ajudar em conformidade nomeadamente através de acções de formação ou até legislação sobre quem pode ser dirigente desportivo.

Criação de um plano de gestão desportiva, gestão do marketing e comunicação que permita a organização que gere a competição e os clubes:
- Afirmar a marca futebol português;
- Valorizar o campeonato português;
- Apostar na formação do jogador português;
- Formação efectiva do treinador português;
- Procurar que o futebol se torne um espectáculo para adeptos e simpatizantes;
- Levar o futebol aos jovens por forma a criar o espírito de adepto/consumidores do futuro;
- Proporcionar experiências positivas aos adeptos e simpatizantes;
- Fidelização de adeptos e simpatizantes;
- Captação de adeptos e simpatizantes;
- Criar uma comunidade de adeptos, que não necessariamente as claques;
- Comunicar com os adeptos: antes, durante e depois dos jogos;
- Os adeptos procuram novas experiências;
- Que tipo de informação é que estes procuram e qual é a que podemos dar;
- Ouvir a opinião dos adeptos;
- Criar valor para os adeptos;
- Criar valor para patrocinadores;
- Gerar retorno para os patrocinadores;
- Aumento de receitas;
- Instalações com qualidade;
- Instalações high tech;
- Temos que criar experiências memoráveis e a tecnologia pode contribuir para nos aproximar cada vez mais dos adeptos;
O que levará a uma:
- Confiança na organização desportiva;
- Lealdade;
- Vínculos mais duradouros;
- Procura de relacionamentos mais profundos;
- Falando a mesma linguagem;
- Experiências positivas para os adeptos e simpatizantes;

A implementação destas e de outras medidas é o desafio que qualquer organização desportiva tem pela frente assente na sua cultura, nos processos e talento e serão estes aspectos que contribuíram para o sucesso e diferenciação de uma qualquer organização desportiva.
O futuro não será por certo risonho se tudo continuar na mesma e passarmos uma esponja somente sobre o que aconteceu.
É visível que existem problemas ao nível educacional, social, económico e legal, e neste cenário é necessário uma nova atitude dos actuais actores, muitos deles referências de passados gloriosos, alguns outros com ideias muito valiosas para a melhoria das organizações desportivas e da competição, cabendo aos dirigentes procurar pontos comuns como forma de valorizarem o seu produto numa indústria desportiva onde o acesso a todo o tipo de conteúdos está à distância de um clik possibilitando ao adepto ver o que quer e quando quer no conforto do seu sofá e dessa forma não estar sujeito a más experiências ou ser sujeito a espancamentos e insultos. Para isto, muito pode contribuir o “Placard” e outras empresas que através do desenvolvimento de um programa de responsabilidade social poderia ajudar a desenvolver melhores comportamentos dos adeptos e simpatizantes e contribuir para a formação dos jovens enquanto desportistas sejam eles praticantes de um desporto quer sejam eles adeptos de um desporto."

O exercício físico como castigo

"O primeiro título que me veio à mente foi “a patologia social vista pelos olhos da ciência” para ligar ciência e sociedade.
Embora os cientistas sejam muitas vezes considerados como indivíduos alheados do seu envolvimento social, com pautas comportamentais solipsísticas muitas delas derivadas do seu empenhamento e focalização profissional, outras vezes estão híper-despertos para o que os rodeia. Penso que não é impossível compatibilizar concentração na investigação científica e consciência social e política. Por vezes, a investigação científica, além de ser perscrutação sobre o oculto funciona, também, como denúncia de muitas patologias sociais abrindo as mentes à força esclarecedora da ciência. Nas sociedades actuais, ainda muito marcadas pela força dos dogmas, a luta iluminista da ciência pela erradicação da mentira e do preconceito faz cada vez mais sentido. Não sei se algum dia o primado da ciência conseguirá mandar para o caixote de lixo da história o cortejo obscurantista de todos os preconceitos dogmáticos. Parece que a humanidade necessita mais de mentira que de verdade. A verdade é angustiante; a mentira é pacificadora e anula-nos a capacidade de reflectir sobre os mistérios do universo e da existência humana.
Este artigo consubstancia alguns relatos que a ciência investigou e que implicitamente se constituem como denúncia da patologia social e pessoal emergente.
Uma menina de 9 anos de idade, diagnosticada com o distúrbio de Défice de Atenção e Hiperactividade, vivia com o pai biológico, madrasta e avó paternal após a mãe ter perdido os direitos maternais por abuso infantil. Ao regressar da escola, criança foi punida pela avó, por ter roubado um rebuçado de uma colega da escola e ter negado o ato. Qual foi o castigo? Foi forçada a fazer, no quintal, sprints de 15 metros carregando nas costas paus pesados. Foi-lhe fornecida água para beber. Após mais de 3 horas de esforço sustentado ela colapsou, começou a vomitar e a ter convulsões tónico-clónicas. Foi de emergência para o hospital onde lhe foi diagnosticada coma não-respondente na Escala de Coma de Glasgow. Apresentava ao raio-X edema pulmonar não-cardiogénico tendo sido intubada e ventilada. Os sinais vitais eram os seguintes: peso = 26.3 kg; pressão sanguínea = 110/72; frequência cardíaca = 56 batimentos por minuto. Sódio plasmático = 117 mEq/L; potássio = 3.1 mEq/L; ureia = 9 mg/dL; creatinina = 0.3 mg/dL e gravidade específica da urina = 1.025. Após os exames foi medicada e transferida para um hospital pediátrico. Três dias depois morreu. O exame post-morten revelou edema cerebral maciço com herniação transtentorial (deslocação do úncus no sentido do mesencéfalo) e edema pulmonar.
O que se passou com esta criança? Ela foi vítima de uma encefalopatia hiponatrémica grave. Localizemos cientificamente o problema. O sódio (Na) é mantido no organismo em níveis estreitos (Na sérico = 136 a 145 mEq/L). Estamos perante uma situação de hiponatremia quando a concentração sérica de sódio é inferior a 135 mEq/L. Quanto mais baixa a concentração, mais perigosa é a situação. Clinicamente só se considera estado de hiponatremia quando o sódio sérico é inferior a 130 mEq/L. Verifica-se hiponatremia severa quando a concentração de Na é inferior a 120 mEq/L. Nesta situação, a taxa de mortalidade pode atingir, em adultos, os 50%. Nas crianças pode ser superior.
A encefalopatia hiponatrémica, situação em que o sangue fica diluído em excesso reduzindo dramaticamente o nível de sódio no plasma pode provocar, através da pressão osmótica, a invasão do cérebro pelo fluido plasmático. Esta patologia pode acontecer por ingestão excessiva de água. Na análise de situações idênticas detectamos o caso de 3 crianças que, como castigo, foram obrigadas a beber mais de 6 L de água. Todas desenvolveram convulsões, emesis (vómitos) e coma apresentando-se no hospital com hipoxemia (baixa de concentração de oxigénio no sangue) (PO2 = 44±8 mm Hg), hiponatremia (sódio plasmático = 112±2 mmol/L). Todas mostravam sinais corporais de violência física, mas a história de intoxicação hídrica forçada não foi relatada aos médicos que assim não puderam actuar sobre a causa principal da patologia. As crianças morreram e os familiares foram julgados e condenados.
Fazendo apelo às minhas mais recuadas memórias, lembro-me que quando era muito novo a minha mãe me relatava que “muitos anjinhos” na zona onde vivíamos tinham ido para o céu. Normalmente esses óbitos verificavam-se em estratos sociais muito desfavorecidos onde a fome era endémica. As mães, mal alimentadas, esquálidas e sem leite, recorriam sistematicamente aos biberões de água aquecida para saciar a fome dos filhos. Não me custa nada especular que muitas dessas mortes tenham sido induzidas por excessiva ingestão de água e a consequente encefalopatia hiponatrémica. 
O que é que estas informações carreiam de importante para o desporto?
O perigo, para o desportista, da excessiva ingestão de água. A intoxicação hídrica, também conhecida como hiponatremia dilucional, acontece porque a ingestão de água excede a capacidade renal de a excretar. A taxa de excreção renal de um adulto saudável é de cerca de 20 L por dia não ultrapassando 800-1000 mL/hora. Quando se ingere água acima deste valor entra-se numa situação de hiponatremia hipervolémica. Em maratonistas e ultramaratonistas a incidência de hiponatremia associada ao exercício (HAE) é elevada (>10%). Embora, normalmente, a situação de hiponatremia seja ligeira ou moderada e facilmente corrigida por intervenção terapêutica pode, em alguns casos mais severos, conduzir a situações fatais.
A situação de HAE pode derivar da conjugação de uma série de fatores. Assim, adicionalmente à ingestão excessiva de fluidos pode-se verificar o aumento da secreção de hormonas antidiuréticas, e.g. vasopressina, que conduz à retenção de fluidos, redução da produção de urina o que contribui para a diluição do sódio plasmático. Acresce que a secreção não-osmótica de arginina vasopressina como resposta ao stresse neuro-endócrino induzido por rabdomiólise pode ser uma causa potenciadora da secreção inapropriada da hormona antidiurética induzindo hiponatremia e eventual paragem cardíaca e edema cerebral.
Recentes episódios fatais no treino de tropas de elite portuguesas foram mal explicados e direcionados para a incúria dos instrutores quando a resposta aos casos letais pode estar relacionada com o balanço hídrico e os consequentes desvios osmolares que podem induzir situações de falência orgânica. Muitas situações de colapso orgânica não têm uma causa única e podem resultar da conjugação de factores diversos como choque de calor, hiponatremia, hipoglicemia, colapso associado ao exercício nomeadamente por falência cardíaca e cãibras musculares.
No desporto, nomeadamente nos esforços de longa duração, não raras vezes se verificam situações de desregulação hídrica e eletrolítica. Após uma ultramaratona de 161 km cerca de 6% dos corredores estudados (12) estavam hiponatrémicos com concentrações plasmáticas de sódio variando entre 131-134 mmol/L. Verificou-se que os atletas menos experientes apresentavam superior tendência para desenvolver hiponatremia e apresentar níveis mais elevados de CK que é um biomarcador relacionado com a taxa de destruição tecidular.
Num estudo que envolveu cerca de 200 atletas de esforços de ultraendurance – natação, ciclismo de estrada, ciclismo de montanha e corrida, 12 (6%) desenvolveram hiponatremia associada ao exercício. Alguns estudos com triatletas Ironman verificaram taxas de prevalência de hiponatremia até 29%.
Atletas de modalidades desportivas de ultraendurance que entrem em situação de hiponatremia estão mais sujeitos a desenvolver rabdomiólise induzida pelo exercício com elevadas taxas de creatina quinase um forte indicador de destruição muscular.
Importa referir que a hiponatremia associada ao exercício pode induzir, em alguns casos, situações de falência orgânica, normalmente relacionadas com excessiva ingestão de fluidos. Contudo, a resolução do problema não é fácil, pois foi verificado que mesmo com a ingestão de sódio durante os esforços prolongados muitos dos problemas relacionados com o exercício – hiponatremia, cãibras musculares, desidratação, náuseas e vómito não são evitados.
Parece que mesmo com níveis de treino equivalentes uns atletas têm superior tendência a desenvolver hiponatremia que outros. O controlo rigoroso do treino em situações diversificadas de stresse é condição sine qua non para se evitarem casos fatais no desporto e em outras atividades humanas."

Vermelhão: Sado


Setúbal 1 - 1 Benfica


O Benfica raramente efectua jogos de pré-época com equipas do Tugão, hoje ficou bem explicito que é uma boa opção!!! Porrada de princípio ao fim... Parecia a final da Champions, da UFC!!! Tudo isto com o apitadeiro a 'treinar-se' para os jogos a sério!!!

Vamos ao jogo: boa primeira parte, com a maioria dos titulares; segunda parte feia, com muitas alterações, alguns jogadores que não agarraram a oportunidade (e provavelmente não vão ficar no plantel...), e as muitas paragens no jogo, com as faltas constantes a não ajudarem...
O grande destaque deste dois jogos, vai inteirinho para Gedson: ganhámos uma opção válida, provavelmente um 'titular'!!! Nem sempre é fácil a transição dos 'juniores' para o plantel principal, mas depois de ver estes dois jogos, parece-me que o Gedson é o 'novo' Renato... e por acaso até jogam na mesma zona do terreno!!! Se a Direcção estava a pensar em contratar um '8', provavelmente já não o vai fazer!!!

Em relação às outras 'caras novas', é claro que o Ferreyra será uma aposta ganha...; o Castillo vai ter minutos, mas provavelmente irá ter uma utilização parecida com o Raúl, vamos ver como irá reagir em termos de atitude; o Conti tem muita qualidade, mas precisa de ganhar músculo e 'posicionamento' na a jogar com a 'linha de quatro subida'...; Alfa é um enorme reforço...; Lema será o 4.º central... garantido assim a presença de 4 Centrais de qualidade, que podem jogar todos sem problemas...; o Odysseias acabou por ter 45 minutos sem trabalho, acredito que será titular...; a exibição do André Ferreira no jogo com os Sérvios poderá ter garantido um lugar no plantel...; foi curtinha a estreia do Ebuehi, mas deu sinais positivos! O Chiquinho, é um caso 'bicudo': tem demonstrado qualidade, tecnicamente é evoluído, mas se ficar no plantel, provavelmente terá poucos ou nenhuns minutos... provavelmente um empréstimo a uma equipa da I Liga será a melhor opção...
Em sentido contrário, estava à espera de mais por parte do Yuri...; o talento do Félix é indesmentível, mas parece-me que fisicamente ainda não está preparado... acredito que vai fazer muitos jogos na B... pode-se alegar que o Félix não é um Extremo, e nestes dois jogos foi mal 'usado', mas ainda falta mais um 'degrau' para ser opção...; o Heri também não é um Extremo puro, creio que vai ser emprestado...; o Varela acabou por sofrer um golo ingrato, praticamente no único remate do adversário à baliza... com toda a carga negativa em cima do Varela, a venda/empréstimo é a melhor opção...
A não utilização do Amaral e do Willock, parece indicar a 'porta' do empréstimo!

Ainda faltam alguns jogadores (Salvio, Carrillo, Zivkovic...), hoje o Rafa não foi opção por 'lesão', o Samaris também continua com a situação indefinida (além do Seferovic). Curiosamente, os 'ausentes' de hoje, são quase todos Extremos... e notou-se na segunda parte, a ausência de Extremos 'desequilibradores'! O Benfica, desmentiu hoje o interesse no Bernard, mas eu continuo a achar que precisamos de pelo menos um jogador de qualidade indiscutível para esta posição... O Carrillo afirmou hoje, que pretende ficar no Benfica... eu não duvido da qualidade do Peruano, e no Mundial demonstrou isso mesmo, o problema é mesmo, a capacidade de manter a mesma atitude, durante toda a época!!!

Venham reforços de classe

"Rui Vitória já percebeu que nada vai ganhar em Agosto. Mas pode hipotecar muita coisa. Vamos ter de começar fortes.

O sorteio da Liga ficou marcado pelo incidente que teve algo de caricato e surreal. Trocar um número seis pelo nove só podia dar um 31. No entanto, devo dizer que prefiro uma Liga que assume erros e os corrige do que uma Liga que faça batota. A correcção do erro fica em a quem o assumiu, por muito que tenha impacto mediático negativo. Passada a espuma do momento, fica a verdade. Digamos que houve verdade num sorteio que foi salvo pelo recurso ao VAR.
Num ano sob o lema da «Reconquista», parece profético o primeiro jogo ser contra o V. Guimarães. Temos um calendário exigente, mas seria sempre assim. Agosto infernal, com (esperemos) sete jogos em 20 dias. Rui Vitória já percebeu que não vai ganhar nada em Agosto, mas pode hipotecar muita coisa. Vamos ter de começar fortes e há todas as condições para isso.
A FIFA colocou um soporífero França - Bélgica à mesma hora do que um excitante Napredak - Benfica, depois não se pode queixar do share do Mundial. Como é óbvio, estive com os olhos no Torneio do Sado, mais não fosse para ver o novo equipamento alternativo. Quando joga o Benfica, todas as alternativas parecem pálidas. Destaco quem quase ninguém destacou, o guarda-redes regressado do Leixões, André Ferreira, que mostrou qualidade, e um interessante Gedson, que será no futuro próximo um grande jogador. Estes treinos são precoces e enganadores, ninguém melhor do que Rui Vitória para ver no trabalho diário as aptidões de um plantel que terá que emagrecer em número, mesmo que ainda precise de ser valorizado com uma ou outra contratação de classe para determinados lugares. Mais logo, contra o V. Setúbal, segue o aperitivo, no Torneio do Sado.
Com o Sporting a estabilizar, a recuperar bem alguns talentos e a fazer aquisições, com um FC Porto que ainda vai com força ao mercado, resta ao Benfica ser muito capaz e competente para fazer a nossa equipa da Reconquista.
Também há o Mundial, mas não é a mesma coisa. Uma final Croácia - França faz-me lembrar o que aqui escrevi quando o Mundial começou, sobre uma Croácia que iria garantidamente ser a surpresa. Até porque merece, não acredito que a Croácia ganhe a final à entediante França. O Mundial fraquinho merece um campeão fraquinho."

Sílvio Cervan, in A Bola

Orgulho matinal

"No sábado passado, contrariamente ao que é costume, não eram ainda nove horas e já andava na rua. A razão, claro está, foi o Benfica. E valeu muito e pena, como só o Benfica sempre vale.
Sobre o treino da nossa equipa de futebol, anda que justifique grandes considerações. A vénia aos adeptos foi bem executada, duas balizas, campo encurtado, três ou quatro pormenores de se lhes tirar o chapéu e nem uma das caras novas me deu razões para torcer o nariz, que é o que mais me preocupa nas pré-épocas. Recordo aquela década a partir de 1994 e ocorrem-me dezenas de jogadores tidos por fundamentais na apresentação, mas que se tornaram irrelevantes no fecho da temporada. Em muitos desses casos não houve grande mistério desde o início, só não se percebendo porque haviam sido contratados.
Apesar desta reminiscência, hoje nada mais sinto que optimismo e entusiasmo pelo que se avizinha. Os últimos anos, não obstante erros aqui e ali, ajudam-me a desfrutar de um capital de confiança inabalável, o que me liberta dos anseios outrora bem vincados na minha personalidade benfiquista e me permite uma vivência clubística mais serena, embora igualmente apaixonada. Do tal treino sobra, portanto, o que realmente importa: o reforço do sentimento de pertença a uma família unida por um ideal, uma cor e um emblema. E que bonito foi ver aqueles quase vinte mil benfiquistas, alguns ainda bebés ignorantes da sua condição benfiquista mas que um dia poderão afirmar orgulhosos que a sua primeira vez no Estádio da Luz foi pelo colo dos seus pais, movidos pelo benfiquismo numa manhã soalheira, a partilharem um momento inconsequente, mas revelador da força do nosso querido Benfica. E que força!"

João Tomaz, in O Benfica