sexta-feira, 29 de junho de 2018

O Voo da Águia

"Este Voo da Águia começa no sintético da Luz com 18 equipas e 250 atletas que vieram de todo o país movidos por uma mesma vontade de vencer e pelo convívio esperado de extraordinário dia à Benfica. Nem todos vibram com as nossas cores, mas todos respeitam os nossos símbolos e a nossa História e todos sentem um grande orgulho em vir aqui equipados disputar um jogo de futebol. Sentem isso com um privilégio, e não é para menos: há uma coisa comum a todos estes atletas, é que nenhum tem menos de 50 anos. Além disso têm em comum o gosto pela prática do futebol e a vontade de se manterem activos, de boa saúde e com elevado moral.
Walking Football é tudo isto e muito mais, para além do exercício físico e da melhoria da qualidade de vida, é uma garantia de prevenção para a saúde, precisamente nas idades de maior risco. Mas se é verdade que o corpo pede cuidados, não é menos verdade que a alma também precisa deles e que o pior risco é a solidão e os sentido de inutilidade que a idade vai instalando nos sentimentos de cada um. Esse risco estes homens e estas mulheres não correm!
O remédio é simples e universal, um medicamento esférico que dá pelo nome de 'bola' e que tem o condão de os ligar a todos e de lhes trazer alegria, amizade e saúde. Dir-se-á que não é tudo, mas são três ingredientes fundamentais da felicidade humana! Ainda por cima, para apimentar a coisa, juntámos alguns nomes da Glória Benfiquista num passado recente e ainda muito vivo na memória de todos. E então, sim, foi o máximo, pisar o campo com o capitão Veloso, com o Ramires e com o Paulo Santos e entrar por uma imersão total no mundo Benfica com entrada no estádio e um bom almoço nas áreas Corporate a mostrar que para nós os seniores merecem tratamento VIP. Em cima de tudo isto o voo da águia. E sempre que o Benfica homenageia o povo, a águia voa mais alto!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Comunicação por fora e por dentro

"Um dia destes, à tarde, depois da concisa conferência de imprensa do presidente Luís Filipe Vieira, dei comigo a ver a SIC Notícias, onde peroravam três 'independentes' causídiacos, todos com ferrete verde. O que mais custa, nos dias que correm, é ver a sanha assumida, agora despudoradamente, por órgãos de comunicação outrora tidos como neutrais relativamente às normas da informação e por opinadores encartados das suas sabedorias profissionais. O mais acabado desprezo pelo sentido ético ou pelo rigor deontológico com que uns e outros se apresentam diante dos públicos parece ser o novo modelo generalizado da comunicação portuguesa - já ninguém disfarça, mesmo nos fora tidos como mais 'sérios' e convencionais.
Os incautos espectadores, ouvintes e leitores que, dantes, só de longe e de tempos a tempos, percepcionavam aqui e ali, um sinal ou uma leve indicação acerca da preferência deste ou daquele jornalista quanto ao tema em análise, têm cada vez mais que se conformar agora, com o descaramento e a impudícia com que os 'jornalistas' bolçam sentenças e apresam juízos, com que os 'moderadores' conduzem capciosamente os debates e sem que sejam respeitados e avocados os soberanos princípios do contraditório e da dúvida. Os programas cumprem-se em promíscuos rituais pastosos em que se especula e se insinua, não para esclarecer, não para destrinçar, não ao serviço das realidades e da verdade dos factos, mas, antes e exclusivamente, para escarafunchar e induzir conclusões previamente estabelecidas em pérfidos guiões, conforme convenha aos seus próprios e respectivos interesses pessoais, de classe, de partido, de clube ou de corporação dos protagonistas de serviço e às conveniências e alinhamentos comerciais dos seus patrões.
Se formos a ver, tirando os canais do serviço público, em que, salvo raras excepções, patentemente tudo é sempre só azul por fora e por dentro, a 'informação' de cada um dos canais generalistas tem pelo menos duas cores: uma que serve para fora, e outra (ou outras duas), que verdadeiramente a(s) define(m) lá por dentro, para executar inflexíveis dictats editoriais anti-benfiquistas. A primeira cor que domina a imagem e o ambiente dos telejornais das restantes estações portuguesas - o mais importante de todos os programas de uma TV - nos cenários, nos mobiliários, nas auto-promoções e nos grafismos, normalmente só serve para atrair e enganar o espectador desprevenido: sem se aperceber da manigância, ele é inconscientemente levado a identificar-se com a cor que lhe vai na alma...
Mas os reiterados factos nos induzem a supor é que, nas sedes de decisão, os elencos das redacções estejam, afinal, a ser preferentemente constituídos não se acordo com critérios profissionais, mas segundo alinhamentos clubísticos, partidários ou de outras crenças, desde que determinados pelas chefias, de modo a que possam cumprir-se os mais enviesados desígnios. Os canais, à primeira vista distraída, até parecem que 'são' todos do Benfica. Mas, no fundo, no fundo, dominantemente, ali só se deixa que os artistas pensem, escrevam, falem ou vomitem... desde que seja em azul ou, então, em verde."

José Nuno Martins, in O Benfica

Como um deus que dorme

"Sochi – Sinal de decadência é quando o Chico Buarque aparece em Lisboa e a gente já não joga mais aquelas peladas contra o Polytheama, a equipa que nunca perde, porque o Chico não aceita a derrota e, mesmo derrotado, dá os parabéns ao adversário por se ter batido num jogo que nunca poderia ganhar. Está uma lua cheia, enorme, quase grávida no céu de Sochi. Ouvi-o cantar: “O malandro/ Na dureza/ Senta à mesa/ Do café/ Bebe um gole/ De cachaça/ Acha graça/ E dá no pé.” E ao ouvir o balanço desse sotaque musicado a que Olavo Bilac chamava “Última flor do Lácio”, parece que desencaixa da “Die Dreigroschenoper”, de Brecht e de Kurt Weill, MacHeath, Mackie Messer, Mack the Knife, que Bobby Darin cantava mais languidamente – “Oh, the shark, babe/ Has such teeth, dear/ And it shows them pearly white/ Just a jackknife has old MacHeath, babe/ And he keeps it, ah, out of sight” – e o grande Francis Albert, de Hoboken, repete no espaço do bar que ameaça fechar, deixando-me ao sereno com aquela sede própria das madrugadas.
Um grupo barulhento de uruguaios foi-se desintegrando e se alguém andar por aí, “sneakin’ round the corner, could that someone be Mack the Knife?”
A rapariga morena que tenta levar para casa o amante circunstancial tem, de facto, dentes afiados de tubarão. Saem ambos tropeçando no céu como se fossem bêbados e recebo dela um último olhar, desencantado mas decidido. Com aqueles dentes, o que lhe fará ao pescoço? Olhos embotados de cimento e lágrima. Levanto-me e o Sinatra ainda canta: “Oh, that line forms on the right, babe/ Now that Macky’s back in town.” Também estou de volta à cidade. Pela porta entra a humidade do mar Negro como a noite. Lá fora, um silêncio estranho. Como se Deus dormisse."

Paraquedista de Berna

"No Rússia’2018, não mais jogará a Alemanha. Em momento de tristeza germânica, lembramos Friedrich Walter, capitão no primeiro título alemão, em 1954 e um dos melhores de sempre da selecção. Participaria ainda no Mundial da Suécia’58 e, aos 42 anos, recusaria a possibilidade de marcar presença no Chile’62.
O capitão Fritz foi guerreiro dentro e fora do campo. Em 1940 e já em plena Segunda Grande Guerra, venceu o primeiro combate pela Alemanha (9-3), derrubando com três golos uns indefesos romenos. Em 1942, a selecção germânica teve de suspender a sua actividade no dia em que Fritz contribuía para derrotar a Eslováquia por 5-2. Após 19 golos, a guerra calava os seus festejos e o futebol alemão e chamava o capitão para o pior dos jogos: o de matar para sobreviver.
Despida a camisola da selecção, Fritz foi convocado para vestir o uniforme da Força Aérea Alemã (Luftwaffe) como paraquedista do III Reich e, a partir dos céus da Europa, conheceu outros estádios… de terror, acabando na Rússia como prisioneiro de guerra. Após o conflito, o seu paraquedas nunca mais se abriu e os combates silenciaram a sequência de Mundiais de 1942 e 1946, impedido a participação alemã no Brasil, em 1950. Depois da Guerra, o futebol resgataria a Alemanha das cinzas com o título Mundial à custa da Hungria, uma das melhores selecções da história, comandada pelo Major Galopante Ferenc Puskas.
Durante seis anos, a Hungria perderia somente ‘o tal’ jogo! O poderio húngaro ficou patente na fase de grupos, ao vencer os alemães, por 8-3, num grupo com a Turquia e os sul-coreanos, agora de má memória! Aos 34 anos, Fritz, com o irmão Ottmar Walter, ergueu a Taça Jules Rimet e tornou-se o herói orgulhoso de uma guerra inócua. Foi capitão, comandou a selecção e fez explodir de júbilo os alemães com o ‘Milagre de Berna’.
Joachim Löw igualou o recorde negativo com 80 anos do seleccionador alemão Sepp Herberg, responsável pela eliminação germânica na primeira ronda do França’38. Porém, foi Hergerg que, 16 anos depois, venceu o Mundial’54. A reter: há sempre novo jogo! Com ou sem Löw, mas nunca com Löw… expectation!"

E mais uma vez, tal como em 1942, a Alemanha não chegou a Moscovo

"Moscovo - Tenho a minha conta de aeroportos e, como os últimos Mundiais têm sido em países encorpados, as esperas foram maiores do que serão, certamente, no Qatar daqui a quatro anos, dê-se o caso de até lá me manter em funções pelo menos básicas. Ainda há pouco tempo fiquei preso mais de 14 horas em Teerão por causa da neve, que subiu até à zona das ancas de um homem de estatura meã, e os motivos de entretenimento não eram muitos. É em momentos como esses que tendo a observar e descubro que talvez não tenha sido totalmente generoso com a raça humana, que me inspira tão pouca curiosidade que não faço ideia se quem veio a meu lado, no aviãozinho minúsculo que me trouxe de Penza até Moscovo/Vnukovo (um aeroporto mais maneiro que o de Sheremetievo), tinha barba ou bigode ou suíças ou cavanhaque e, tendo-os, se era um cavalheiro ou uma senhora com pilosidade abastada.
Pacientemente, espero.
Duas horas já passaram, faltam mais três. Pelo que vou espreitando no ecrã, tal como em 1942, também não será desta que a Alemanha chegará a Moscovo.
Se aqui estivesse o grande Torga diria que a meu lado estão sentados homens distraídos da sua condição de almas penadas, mas o Torga também não era propriamente dado a elogios à espécie humana, da qual, muito provavelmente, nem fazia parte, para escrever como escrevia. Papagaiam em inglês. Pelo que falam e nada dizem, depreende-se o muito que sabem e não exibem, e daí a modéstia que lhes perpassa pelos rostos.
Se me virar para a esquerda, este joguinho inofensivo torna-se entusiasmante. Há um senhor idoso que tem problemas com a distinção das raças. Embirra com outro, ao que parece por não serem iguais, embora me dê a sensação de que as cores de ambos são absolutamente normais. Não concordo minimamente com o que diz, mas sinto-me obrigado a defender até à morte o seu direito a ser um perfeito asno. Já Guimarães Rosa teimava que pãos ou pães é uma questão de opiniões.
Outro, de feições orientais, exibe a sua acreditação de adepto, coisa que a organização deste Mundial impôs e faz com que perca a conta da gente que se cruza comigo com o nome dependurado ao pescoço, em caracteres ocidentais e cirílicos, para excluir todas as dúvidas. Ao ver-me olhar para ele, faz um pequeno aceno com a cabeça, próprio dessa educação depurada que transforma todos os japoneses em cavalheiros, mesmo quando são proprietários de cérebros caliginosos, fechados e impenetráveis. Ao longe, ainda vejo bem. Tomo assim conhecimento com Mr. Lawrence, que de repente já não me parece nada japonês, mas evito, como é óbvio, cair na esparrela de lhe desejar “Merry Christmas”. Não há que confiar nas primeiras impressões, por mais impressivas que sejam. 
Passa uma brasileira de calções curtíssimos cor-de-rosa (não, não levem isto para uma questão glandular, porque é mesmo uma moda) e tenho a tentação de cantarolar: “Se um outro cabeludo aparecer na sua rua/ Você vai lembrar de mim...”
Mas ela esqueceu-me e vai perdida no meio das outras garotas de Ipanema. Deve ser russa, afinal.
À medida que observo, sem saber ao certo para onde me virar, como o burro de Buridan, escuto esta babel de dialectos e de sotaques e recordo-me da teoria universal de Carlos V, da Lorena: “O francês é a língua que se usa para falar com um amigo; o italiano utiliza-se para falar com a amada; o holandês serve para nos dirigirmos aos empregados, e o alemão para darmos ordens aos soldados; o espanhol é a língua dos reis; para suplicar a Deus uso o latim; para discutir com o diabo prefiro o húngaro.”
O português pode ser uma língua dos diabos, mas não merece o esquecimento. É em português que falam os poetas. Em que outra língua se escreveria uma coisa assim? “Toulouse-Lautrec/ Foi um grande pintor/ Mas só depois de morto é que/ Lhe deram o devido valor.” Em nenhuma."

Chegados aos "oitavos"

"Mehdi Taremi. Já ninguém se lembra dele, mas a verdade é que esteve muito próximo de se tornar um dos mais agonizantes carrascos da história do futebol português. Se não estão a ver quem é, eu recordo: foi o autor do último remate do Irão no jogo em Saransk. Saiu ligeiramente ao lado e, caso tivesse havido mais pontaria, teria dado acesso aos oitavos-de-final para os persas com a consequente eliminação de Portugal.
O falhanço de Taremi foi festejado por Fernando Santos e o mais importante foi conseguido: a Selecção passou às eliminatórias e vai defrontar amanhã o Uruguai. Após dois jogos sofríveis contra Egipto e Arábia Saudita, Tabárez montou um losango no meio-campo contra a Rússia e essa fórmula foi bem conseguida, independentemente de Smolnikov ter sido visto o vermelho demasiado cedo e de isso ter facilitado. Bentancur não tem de correr tanto a defender como aconteceria no módulo anterior do meio-campo em linha, ficando agora mais perto da zona ofensiva de último passe, devidamente respaldado por Torreira, a formiguinha do meio-campo celeste que garante ligação na cobertura e na projecção atacante que também contempla as roturas de Vecino na aproximação à grande área adversária e a largura de Nández na faixa direita, contando que Cáceres possa defender esse flanco com o mais rotativo Laxalt a entrar pela ala esquerda.
O Uruguai é das melhores selecções mundiais no aproveitamento de pontapés de canto e livres laterais, pelo que deve haver uma atenção redobrada da equipa de FS para não cometer faltas desnecessárias na zona defensiva. Enquanto Guedes (rotura, sprint, cobertura a Torreira) e Bernardo (criação de jogo no espaço descoberto do Uruguai ao lado de Vecino e à frente de Laxalt) podem ter mais contexto neste jogo, apostava na manutenção de William e Adrien, com Moutinho a poder entrar na segunda parte para dominar, até no cenário de aguentar no prolongamento.
Apesar do monte de críticas generalizadas (mais embirrentas do que fundamentadas) em relação a William, FS é dos primeiros a admirar a sua valia a assumir a zona de construção. Aí, estou com Santos. William foi limitado contra o Irão por via da marcação pegajosa de Sardar Azmoun? Foi, como já foram Pirlo e Busquets em situações do género, não sendo precisa grande ciência para perceber que não dá para entrar muito no jogo nessas circunstâncias. E é nessa altura que a equipa, mais do que o jogador em questão, tem de criar escapatórias para que a equipa consiga pegar no jogo. Isso não aconteceu em grande parte do jogo, primeiramente pelo facto de Pepe e Fonte estarem mais encravados na saída de bola. Por outro lado, também se constatou o pormenor de Guerreiro e Cedric estarem mais focados em centrar o posicionamento em campo para que João Mário e Quaresma pudessem alargar o espaço de recepção junto da linha lateral, ao mesmo tempo que protegiam o eixo no adiantamento de Adrien (vide tabela com Quaresma no golo da trivela). Ou seja, se Guerreiro e Cedric não alargavam a receção junto da linha lateral, William tinha logo menos uma ou duas opções mais prontas para libertar a bola.
De qualquer forma, nem Bentancur ou outro uruguaio vão fazer a William aquilo que fez Azmoun. O contributo defensivo de Cavani será sobretudo visível a fechar do lado esquerdo uruguaio. O que vai acontecer é que o centrocampista da Juventus vai andar lá perto no mesmo raio de acção e será dessa forma que irá contribuir defensivamente para o conjunto de Tabárez, sem grandes correrias, mas a defender posicionalmente à sua maneira, para não dar demasiada folga aos médios-centro portugueses. E claro que não haverá marcação individual em William, pelo que este até pode vir a ter um jogo mais participativo e elaborar como sabe, com serenidade e qualidade na entrega para desobstruir."

Querida, não esperes por mim

"Penza - Pushkin, para muitos o grande poeta russo, gostava de pensar na morte. E escreveu: “É triste minha estrada./ E me anuncia/ O mar mau do porvir dor e agonia./ Mas não desejo, amigos meus, morrer;/ Quero ser para pensar e sofrer.”
A morte aborrece-me. Não essa velha inqualificável, mazomba, de gadanha ao ombro e riso cariado. A morte: a morte mesmo de morrer. Não gosto da morte nem dos rituais da morte. Das cerimónias da morte e da tristezas tantas vezes artificiais do luto.
Arnaldo Jabor, o cronista brasileiro, perguntava-se: “Se até o Frank Sinatra já morreu, o que vai ser de mim?” Não sou como Soares dos Passos e não acredito no amor para lá da eternidade, campas lado a lado: “Porém mais tarde, quando foi volvido/ Das sepulturas o gelado pó/ Dois esqueletos, um ao outro unidos/ Foram achados num sepulcro só.” Só noivas sepulcrais têm direito a mortes de novela. Não sei se é possível fazer um embargo à morte, mas talvez alguém já tenha tentado. Aborrece-me de morte (é o termo certo) tudo o que é cerimónia funerária e só quero que acabem num instante no exacto momento em que percebo que duram para sempre.
Vendo bem, não quero mal à morte, apesar de saber que vai levar consigo todos os que amo e todos aqueles que ficam por ali na beirinha do verbo amar.
O meu mano Paulo Pimenta, cuja morte ainda me dói todos os dias desde que amanheço até que anoiteço, tinha um jeito especial e sorridente de chegar sempre tarde e foi até capaz de chegar atrasado ao próprio funeral. Admito que não tenho descaramento igual. E, se calhar, até já vou tarde... Terei, um dia, de viver com ela. Mas, querida, não esperes por mim se vires que não chego entretanto. Pelo menos hoje, para jantar..."

Uruguai: rombo na verticalidade

"O percurso limpo – com três triunfos e sem golos sofridos – no grupo mais acessível gera uma ideia de força acima do real valor do próximo rival da Selecção nacional. O que viria a ser robustecido pelo triunfo contundente ante a frágil Rússia (3-0), após as exibições soporíferas frente a Egito (1-0) e Arábia Saudita (1-0), onde ficou bem patente a abordagem excessivamente conservadora e um divórcio quase total com a bola. Algo que ajuda a explicar que os cinco tentos charruas tenham sido obtidos na sequência de lances de bola parada, claramente a sua principal força. O que obrigará a concentração superlativa lusa para evitar livres frontais, onde Suárez e Cavani assumem total protagonismo, e para obstar ao ataque à primeira – Godín e Giménez (ou Coates) – e à segunda bola – Suárez e Cavani – na sequência de livres laterais, pontapés de canto e lançamentos de linha lateral longos.
Habitualmente fiel a um 4x4x2 clássico, utilizado nas duas primeiras partidas e na maioria dos jogos da qualificação, Óscar Tabárez recorreu ao 4x3x1x2 diante da Rússia, o que poderá ser repetido amanhã. Isto porque ao desenhar um rombo (losango) no meio-campo, o maestro afiançou uma melhor ligação entre sectores, dando finalmente som a um meio-campo rejuvenescido por jogadores associativos e criativos, onde Bentancur assume um papel crucial. Contudo, sem abdicar dos traços fundamentais do ideário do seleccionador: a pressão incisiva, a ferocidade na marcação, e a verticalidade extrema. Algo previsível em ataque posicional, o que é convidativo a uma pressão média-alta/alta que conduza a erros, a selecção uruguaia, além da força extrema que patenteia no aproveitamento de lances de bola parada, sobressai pela incisividade evidenciada na exploração de ataques rápidos e contra-ataques, sempre direccionados a Suárez e Cavani, que visam a busca permanente das costas da defesa rival.
Fortíssimos na reacção à perda e capazes de condicionar a primeira fase de construção do adversário, os uruguaios ainda não viram o seu processo defensivo ser devidamente testado. Isto porque apresenta debilidades no momento de transição, que se agudizam quanto mais subida estiver a linha defensiva, já que são notórias as arduidades em velocidade e no controlo da profundidade. Além disso, a defesa de cruzamentos – em bola parada e em bola corrida –, apesar do tremendo jogo aéreo dos defesas-centrais, é falível, sobretudo se o oponente for sagaz a explorar acções de antecipação (primeira bola) e agressivo no ataque às segundas bolas."

Queiroz, o pequenino

"Portugal, e os portugueses em geral, cresceram muito nos últimos anos. Cresceram em atitude, em consciência, em sentido civilizacional, em postura, e têm mostrado ao mundo de forma clara a nossa raça, boa vontade e responsabilidade. Costumo apontar para a Expo 98 como o marco de mudança de atitude dos portugueses. Acho que foi nessa altura que ganhámos mais consciência das nossas capacidades, algum orgulho e uma determinação que aos poucos foi crescendo, sendo hoje uma característica inata nas gerações mais novas.
Depois da Expo 98 existem mais três marcos que considero importantes nesta reafirmação da grandeza do povo português: são eles o Euro 2004, a intervenção da troika entre 2011 e 2016 e, claro está, o Euro 2016.
As razões são simples: em 2004, mesmo não vencendo, Portugal deu uma lição à Europa de organização, de rigor e, sobretudo, de união. Não tenho memória de um país tão e todo unido em torno de um objectivo, e, claro, justiça seja feita ao homem que pediu para colocarmos as bandeiras nas janelas - Luiz Felipe Scolari.
Sofremos, vibrámos e, mesmo perdendo a final com uma Grécia orgulhosa, caímos de pé e mostrámos que mesmo na derrota fomos grandes.
Depois, a intervenção da troika, tempos duros e de desespero. Não virámos a cara à luta, mostrámos o que significam as palavras solidariedade, rigor e compromisso. Por todo o país assistimos a acções de solidariedade - nas juntas de freguesia, nas câmaras municipais, nas associações foram aos milhares os portugueses que se mobilizaram para ajudar os que mais necessitavam. Muitas famílias ficaram sem emprego e muitas empresas faliram mas, aos poucos, reergueram--se e Portugal saiu de uma das piores crises da sua história mais forte e, uma vez mais, de cabeça erguida.
Por fim, o Euro 2016, um país unido por um sonho alcançado num remate do jogador mais improvável. Com humildade, muito esforço e uma monstruosa capacidade de dedicação e compromisso, Portugal calou os mais críticos e fez justiça na história do futebol, onde há muito devia já ter conquistado um título europeu ou mundial.
Infelizmente, todas estas características e virtudes que os portugueses foram ganhando ao longo destes 20 anos não atingiram todos.
Há pelo menos um que não cresceu como todos nós, que ficou pequenino, que pensa que é gigante mas não passa de um pigmeu - o mister Carlos Queiroz.
Honestamente, nunca percebi porque se lhe dava tanta importância e se lhe atribuía tanto crédito mas, como não sou especialista em matéria futebolística, nunca me preocupei muito.
Queiroz mostrou o quão rasteiro é. Mostrou porque não foi capaz de mobilizar nada nem ninguém quando assumiu o cargo de seleccionador nacional. Mostrou o que de pior há no íntimo do ser humano e, sobretudo, envergonha todos os portugueses.
O que Queiroz fez no passado dia 25 de Junho não é ser bom profissional nem defender os interesses do país que representa. Mostrou rancor, ressabiamento e uma total falta de noção da realidade.
Já os nossos jogadores espelharam todas as características que ganhámos nos últimos anos e deram a melhor resposta possível - uma total indiferença pela triste figura que fez.
Senti-me envergonhado. Muito envergonhado com a atitude de Queiroz. Mostrou que é um homem amargurado com a vida e embrenhado em provar não se sabe bem o quê a um país (segundo palavras suas) que já se esqueceu dele. Que as últimas recordações que tem dele é de falta de liderança e de uma arrogância desmedida.
Queiroz é um homem pequenino e que me envergonha como português. Queiroz não é um homem contra uma nação! É um homem só e iludido pela sua arrogância. Esta nação é grande e já esqueceu que Queiroz existe. E não deixa de ser irónico ter sido Ricardo Quaresma a mandar Queiroz para casa."

Mundial, dia 16: Em defesa de William e Cédric, bons jogadores com má Imprensa

"O que é possível é complementar William com um João Moutinho menos castigado fisicamente (descansou no último jogo) e outros dois futebolistas que rendam, finalmente, o que valem: Bernardo Silva e João Mário. Se isso acontecer, a selecção terá outro nível

Depois dos treinos oficiais, a corrida ao Mundial começa agora. Pelo caminho ficou a Alemanha, com o inevitável estrondo. De resto, todos os outros candidatos estão na grelha de partida, entre os quais Portugal, como era esperado.
O futebol português habituou-se a este nível porque tem jogadores de qualidade, um grande treinador, homem muito experiente e uma estrutura federativa com um perfil sem comparação com qualquer outra época. E é por isso, por estar(em) entre os melhores, que a pressão aumenta.
O percurso até agora pode resumir-se assim: a selecção de Portugal fez uma qualificação aceitável, num grupo difícil. Podia ter feito melhor, que seria ganhar o grupo e evitar aqueles momentos de angústia final contra o Irão, mas cumpriu o objectivo. E não se esqueça a sua principal qualidade, agora que começa a fase ‘a eliminar’: é uma equipa muito solidária, habituada a competir. Não é fácil, para qualquer adversário, derrotar a selecção nacional em 90 minutos – e a prova disso são os 17 jogos (7 vitórias, 10 empates) que leva sem perder em fases finais de grandes competições. Este é o maior contributo de Fernando Santos, o homem que dirigiu 15 destes 17 jogos (os outros dois foram com Paulo Bento, no Brasil’2014, depois da derrota com a Alemanha no jogo em que Pepe foi expulso).
Vamos agora, depois deste dia de descanso, sem jogos, encontrar uma equipa parecida com a nossa. O Uruguai não é só a dupla Suarez/Cavani. Foi a segunda classificada na qualificação da América do Sul. Só o Brasil fez melhor. Cavani, o ponta de lança do PSG, marcou dez golos, mais do que qualquer outro avançado.Trata-se de uma equipa muito combativa, segura, como demonstram os seus números até agora – três jogos, três vitórias, cinco golos marcados, nenhum sofrido.
Perante esta realidade, Portugal tem de mostrar o seu melhor jogo de equipa, que ainda não se viu neste Mundial. A partir de agora, a equipa precisa de mais do que golpes individuais de um jogador para seguir em frente. Não basta ter Ronaldo, ou poder contar com uma ‘trivela’ de génio de Quaresma. Precisa de consistência de jogo, aquela que se lhe viu no Europeu de França, há dois anos.
Para isto é essencial um bom rendimento dos homens do meio-campo, sendo que aí residem as maiores dúvidas na equipa.
Certo é que Fernando Santos não prescinde de William Carvalho. Aliás, não se percebe bem as desconfianças que se têm levantado em relação ao jogador. William é o que é, um futebolista cerebral, muito inteligente. Claro que o óptimo seria colocar a cabeça dele nos músculos de Pogba e ambos animados com a mobilidade e visão de Modric. Pois… Mas não é possível. O que é possível é complementar William com um João Moutinho menos castigado fisicamente (descansou no último jogo) e outros dois futebolistas que rendam, finalmente, o que valem: Bernardo Silva e João Mário. Se isso acontecer, a selecção terá outro nível.
Acredito que, desta vez, o companheiro de Cristiano Ronaldo seja Gonçalo Guedes, que tem a vantagem de ser mais móvel e está naquele ponto em que pode ‘explodir’ a qualquer momento. Guedes é um projecto de futebolista para, em plena maturidade, ficar ali algures entre Nani e Figo. 
Olhando para a defesa, podemos estar tranquilos depois destes três jogos iniciais.
Rui Patrício tem jogado com a segurança habitual. Foi brilhante com Marrocos.
Na defesa tem havido algumas críticas e um alvo especial, Cédric. Também não entendo a razão. Cédric é um bom jogador também com má imprensa. Impôs-se na selecção depois de alguns anos de jogadores sofríveis naquele lugar. Houve um hiato desde Bosingwa. E, de repente, temos muitos laterais-direitos com qualidade: Ricardo Pereira (FC Porto/Leicester), João Cancelo (Juventus), Nélson Semedo (Barcelona) e… Diogo Dalot (FC Porto/Manchester United), até Ricardo Esgaio (Sp. Braga). O futuro será de competição forte entre todos eles, mas só por clubite muito aguda se pode dizer que Cédric não tem categoria para estar onde está. É um jogador fiável, que ataca bem, homem de equipa, que não jogou bem contra a Espanha mas recuperou pronto nos dois jogos seguintes. Depois é preciso não esquecer uma regra muito clara de Fernando Santos: para se jogar na selecção tem de se jogar com alguma regularidade no respectivo clube. E Semedo, por exemplo, é suplente de um jogador (Sergi Roberto) que nem sequer foi convocado para a selecção de Espanha (Lopetegui preferiu Odriozola, da Real Sociedad para suplente de Carvajal).
Até Raphael Guerreiro, que teve uma temporada marcada por lesões, tem estado melhor do que seria lógico esperar. Sofreu com Marrocos, mas aquele Amrabat seria tremendo para qualquer defesa naquela tarde. E, mesmo assim, Guerreiro controlou-o, sendo apontado por muitos analistas internacionais como um dos seis melhores defesas-esquerdo do Mundial.
Se até Pepe e José Fonte não mostram em campo a idade que está inscrita nos respectivos bilhetes de identidade, creio que podemos estar relativamente optimistas para o jogo com o Uruguai. É 50/50. Aliás, nesta fase só há um encontro com um favorito enorme, o Bélgica-Japão. Todos os outros vão ser muito suados."

O jogo passa a ser outro

"Terminaram os jogos da fase de grupos. Na sua generalidade, o Mundial fica marcado por um grande equilíbrio, com os principais favoritos a acusarem algum desgaste físico numa temporada que já vai longa. Surpreendentemente, o campeão está fora da competição: uma Alemanha irreconhecível foi a principal desilusão da prova. E selecções como Brasil, Argentina, Espanha ou Portugal, entre outras, sentiram mais dificuldades do que o previsto para garantirem a presença nos oitavos-de-final. 
A nossa Selecção passou por altos e baixos ao longo de 3 jogos e acabou por sofrer até ao último minuto, minuto esse em que, infelizmente, perdemos a liderança do grupo. A par dos espanhóis, tivemos a prova dentro de campo de que Irão (excelente prestação) e Marrocos (revelação que com outra sorte poderia ter ido mais longe) valiam bem mais do que muitos pensavam.
Para Portugal, o importante foi cumprir o primeiro objectivo: chegar aos ‘oitavos’. A partir daqui o ‘jogo’ passa a ser outro. As equipas vão apresentar-se mais afinadas, focadas apenas na eliminatória e tudo se resolverá em 90 ou 120 minutos. E sabemos como os portugueses têm mostrado maturidade e pragmatismo nesta fase de decisões.
Amanhã teremos pela frente o Uruguai, selecção que tem um percurso imaculado na prova, com 3 vitórias, 5 golos marcados e nenhum sofrido. Trata-se de um adversário que exige máxima cautela, comandado por um mestre do futebol mundial, o experiente Óscar Tabárez, um estudioso que valoriza a estabilidade defensiva, o controlo inteligente dos jogos e o forte aproveitamento das bolas paradas (os 5 golos surgiram assim). E além disso tem um ataque fortíssimo, imensa organização e jogadores essenciais para o trabalho operário. Os médios Matías Vecino, Rodrigo Bentacur e Lucas Torreira (grande jogo com a Rússia), todos a actuar no futebol italiano, e por isso habituados a um futebol táctico, vão dar luta ao meio-campo português. E pode estar aqui uma chave do jogo: neutralizar os homens que alimentam a dupla de ataque Suárez e Cavani.
Será uma eliminatória renhida, na qual Portugal terá de mostrar a sua melhor face para poder aspirar chegar aos quartos-de-final. A equipa portuguesa pode render mais e isso será vital para ultrapassar o próximo rival. Níveis de confiança e motivação no máximo, um jogo concentrado de todo o colectivo e um pouco de sabedoria e felicidade na hora de ter bola e gerir o jogo. São ingredientes que nos podem fazer seguir em frente."

A sorte que tivemos com o presidente Bruno de Carvalho!

"Não foram poucos os “letrados”, “educados” e “ricos” que aplaudiram Bruno de Carvalho contra os viscondes que o antecederam. Na política não é muito diferente.

Não ligo a futebol. É a primeira declaração de (des)interesse a fazer. Quando assim é, e no caso de uma mulher, herdamos o clube do pai. Fica-nos bem. A segunda declaração de interesse é que este artigo não é sobre futebol ou gestões desportivas, vitórias ou derrotas no campeonato. Na verdade, não quero saber. Este artigo é sobre política, governos e governados.
Poucos dias antes da eleição de Bruno de Carvalho – uma vez mais para ter assunto ao jantar com o meu pai – dei-me ao trabalho de ouvir a entrevista, porventura a última, do presidente sportinguista antes de uma reeleição esmagadora com quase 90% dos votos. Indiferente que sou ao Sporting ou adversários, ouvi o político. Um lunático carregado em ombros por uma multidão de adeptos frustrados com as derrotas de um clube. Um homem obcecado consigo próprio que pensava carregar aos ombros o peso da Humanidade. Um salvador. Mal-educado, agressivo. Compulsivo. Um ditador. “A partir de hoje eu sou o presidente de todos os sportinguistas e isso é o mais importante”. Bruno de Carvalho, dixit. Eu represento a vontade de todos. Eu tenho todos em mim.
Agora a política. O descontentamento das massas é terreno fértil para o populismo e para os líderes populistas que encerram em si a tentação da ditadura. Portugal é um país sortudo porque lidou com o problema numa esfera pouco relevante que é o futebol. A Alemanha lidou com Hitler. Agora que as lutas se fazem pela economia e não pelas armas, a Grécia provou do pior do populismo com um governo que primeiro faliu o país para depois se resignar e reconstruí-lo em democracia europeia. Os EUA elegeram Trump. Espanha levou a governo movimentos nacionalistas musculados. Itália, os partidos de extrema-esquerda e direita.
Há reflexões a fazer sobre o que cega as multidões, sem distinção de grau literário ou nível de rendimento. Não foram poucos os “letrados”, “educados” e “ricos” que aplaudiram Bruno de Carvalho contra os viscondes que o antecederam. Em política, um Bloco de Esquerda chegou ao Governo, ainda que por via do apoio parlamentar, porque uma fatia relevante da sociedade se quis zangar com os “viscondes” e resolveu votar em protesto.
Hoje temos um Governo refém dos sindicatos por causa desse voto de protesto. Um país que não cresce porque governa em minoria se as políticas forem orientadas para as empresas e não para aumentos inconsequentes de rendimento à custa de endividamento. Um país de défice artificial (à custa de retenções de impostos e manutenção de austeridade) mas de dívida descontrolada. Eis o preço a pagar por eleições que acontecem contra o status quo a todo o custo e não numa perspectiva de construção. Sem olhar aos protagonistas ou simplesmente sendo vulneráveis a frases eloquentes e galvanizadoras que têm tanto de canto de sereia como de absoluto vazio de realidade.
Por isso, obrigada Bruno de Carvalho. Obrigada por, à custa de uma coisa pouco importante como é o futebol, ter dado uma lição de política aos portugueses, porque a de José Sócrates aprendemo-la tarde demais: pior do que viscondes, pior do que o “antes”, é a cegueira do povo que se encanta com nada porque estava desencantado com tudo."

Por detrás do Mundial

"Segundo um estudo do IPAM, o impacto económico de uma vitória de Portugal traria um retorno de cerca de 700 milhões. São muitos os sectores da economia que beneficiam quando Portugal marca e ganha.

Este Mundial de Futebol tem sido muito atípico, uma verdadeira caixinha de surpresas. Selecções como o Brasil ou Argentina– favoritas à partida – têm enfrentado grandes dificuldades nos seus jogos e a utilização do vídeo-árbitro (VAR) pela primeira vez numa competição desta natureza tem corrigido erros com forte influência nos resultados, contribuindo, contudo, para a afirmação da verdade desportiva.
Para Portugal, mais focado nos resultados e menos nas exibições, este Mundial está a corresponder aos objectivos definidos na medida em que, com uma vitória e dois empates, está garantida a passagem para a etapa seguinte. Esperemos que os oitavos de final nos devolvam uma selecção mais equilibrada e eficaz, que nos assegure uma vitória em cada jogo, pois só isso nos pode interessar agora.
Um dos nossos maiores trunfos é, sem dúvida, Cristiano Ronaldo, em grande nesta competição e responsável por quatro golos em três jogos da selecção, considerado já um dos melhores jogadores deste Mundial. E quanto valerão os craques como Cristiano Ronaldo?
O Observatório do Futebol (CIES) fez as contas tendo por base o valor estimado de transferência dos 23 convocados para a competição e concluiu que Portugal ocupa o 8º lugar no ranking das selecções mais valiosas (liderado pela França) com 725 milhões de euros e muito à custa do seu número 7, que, sozinho, tem um valor estimado em 103 milhões de euros.
Convém frisar que estes são números calculados antes do início do Mundial. No final, como será? Uns valerão mais, outros menos, tudo depende dos resultados dos jogos e da qualidade das selecções e de cada um dos jogadores. Para já, é de registar a qualificação para os oitavos de final de equipas de menos valor como a Suécia ou a Croácia e a exclusão de outras mais fortes como a Alemanha ou a Polónia.
A FIFA vai distribuir cerca de 344 milhões de euros em prémios (+12% do que em 2014), reservando 30 milhões para o vencedor. Segundo um estudo do IPAM, o impacto económico de uma vitória de Portugal traria um retorno de cerca de 700 milhões, o que a somar ao prémio da FIFA e à valorização dos passes dos jogadores, poderia chegar aos mais de mil milhões de euros. Este impacto equivale a um gasto de cerca de 65 euros por cada português ao longo de 50 dias (35% gastos em casa, 15% restauração, 22% publicidade, 6% apostas online etc.). São muitos os sectores da economia que beneficiam quando Portugal marca e ganha.
Vamos, portanto, lutar pela vitória e pela excelência de Portugal, e já agora por um impacto de mil milhões na nossa economia… venham daí!"

Maradona, meu ídolo!

"Diego Armando Maradona, cidadão argentino, de 57 anos, continua a ser até aos dias de hoje o melhor futebolista que vi jogar. Ok, há Cristiano Ronaldo, a quem junto Messi e Neymar, mas em tempo de Mundial as primeiras imagens de outros Mundiais fazem sempre a primeira paragem no México’86, onde o Pelusa levou a Argentina ao título – e por isso olho sempre para o seu selecionado, Sampaoli à parte, com muito carinho – e depois no EUA’94, primeiro Campeonato do Mundo do meu orgulho, onde também vivi a primeira desilusão: tinha apostado comigo próprio que chegaria à fala com o craque, mas aquele controlo antidoping deixou-me com uma lágrima ao canto do olho.
Sim, ainda hoje aceito que seria muito difícil arrancar-lhe uma palavrinha em exclusivo, mas tinha de tentar. Apesar de tudo, Maradona continua a ser um ídolo para mim, embora as imagens que nos têm chegado da Rússia ofuscam completamente aquele foi um futebolista fenomenal. "O que não teria sido eu como jogador se não me tenho metido na droga", disse Diego a Emir Kusturika, realizador do filme da sua vida. Pelo que se vai vendo e ouvindo… Portugal joga a continuidade no Mundial amanhã frente ao Uruguai. Pelo que se tem visto, recuso-me a considerar o campeão da Europa favorito. A não ser que aconteça uma mudança radical na forma de jogar. Por muito que me digam o contrário está-se sempre mais perto da vitória quando se joga melhor. Mas, pronto, o que desejo é ver Portugal vencer e que Fernando Santos continue tranquilinho em Kratovo, no domingo.
E por achar que o seleccionado está longe de jogar aquilo que a qualidade dos seus jogadores justifica, antes que seja tarde, deixo aqui uma palavra de muito apreço a Bernardo Silva. Para mim tem sido ele o mais prejudicado com o futebol rudimentar que a equipa tem produzido. No dia em que o jogo luso for de ataque, ele estará na primeira linha.
Um bom exemplo para Portugal chegou da Alemanha. Mesmo possuindo um naipe de futebolistas de eleição ficou provado que nomes e títulos não ganham jogos. É preciso dar tudo a todos os níveis e, por vezes, deixar que os futebolistas se libertem de todas as amarras que os treinadores lhes colocam."

Atletas estrangeiros

"1. Atletas estrangeiros em Portugal: entrada e permanência?
À semelhança de outros países da UE, Portugal transpôs Directivas Europeias, aprovando a Lei 23/2007 (alterada pela Lei 102/2017) dito regime jurídico de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território nacional. O atleta estrangeiro deve antecipar a sua entrada e estadia, obtendo junto das entidades competentes o visto adequado para o exercício da sua actividade profissional. No caso do futebol, à semelhança de outras Federações, a inscrição de um jogador na FPF exige a sua legal permanência no país. A FPF tem vindo a trabalhar em conjunto com o Sindicato e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, no combate à entrada e permanência ilegal de jogadores em Portugal. Verdade é que muitos jogadores chegam com visto não adequado.

2. Qual o regime para jogadores profissionais?
A Lei 23/2007 possibilitava uma legalização pela manifestação de interesse, desde que se verificassem os requisitos previstos no art.88.º da dita Lei, uma vez que, jogadores entravam em Portugal com um visto de curta duração (dito de turismo). Por razões de interesse público, o Legislador alargou os fundamentos do regime excepcional do art. 123.º, n.º1-c) dessa Lei, facilitando o procedimento. As alterações introduzidas visam reduzir a permanência ilegal de jogadores estrangeiros, evitar expulsões e proteger os seus direitos e garantias no decorrer da prática das suas actividades profissionais. A afluência de atletas estrangeiros em Portugal tem vindo a aumentar. O sistema, infelizmente, não se demonstra suficientemente rápido na análise e deferimento de emissão dos títulos de residência, dificultando a vida profissional dos jogadores e, consequentemente, a sua vida pessoal. Sistema que pode ser melhorado, inspirando-se, por exemplo, no francês, mais célere e específico com obtenção da "carte de compétence et talents", que prevê a concessão do título a estrangeiros que tenham habilidades e talentos, contribuindo para o desenvolvimento económico desse país."

Linguagem de guerra está a mais

"Se na Grécia Antiga existisse futebol, certamente os gregos proclamariam um período de paz durante o Campeonato do Mundo, tal como faziam durante os Jogos Olímpicos, mas, presentemente, tão importantes competições desportivas não são motivo sequer para afastar a retórica militar do desporto-rei.
A derrota da Alemanha frente à Coreia do Sul foi alvo de comentários nas redes sociais que fazem novamente lembrar os períodos mais trágicos da Segunda Guerra Mundial. Eis alguns dos comentários portugueses: "Desde Estalinegrado que a Alemanha não sofria uma derrota tão pesada na Rússia", "Isto de ficar surpreendido por a Alemanha sair derrotada da Rússia só mostra que não aprendemos nada com a História".
Na Rússia, felizmente, este tipo de comentário não foi frequente, mas surgiu nalguns meios de informação. O jornal regional ‘Brianskie Novosti’ escreve: "A derrota da Alemanha no campeonato da Rússia deu azo a brincadeiras. Alguns adeptos assinalaram que os alemães não conseguiram novamente chegar a Moscovo, até ao jogo da final", acrescentando que "outros prestaram a atenção de que seria simbolismo completo se o jogo se realizasse em Volgogrado".
Volvogrado é o actual nome de Estalinegrado, onde as tropas hitlerianas sofreram uma das mais pesadas derrotas no confronto contra o Exército Vermelho entre Julho de 1942 e 2 de Fevereiro de 1943. A comparação com a Batalha de Moscovo, em que os alemães foram travados às portas da capital soviética no inverno de 1941-1942, está também presente num comentário de um adepto inglês: "A Alemanha não conseguiu chegar a Moscovo nem sequer no verão".
Talvez esteja a ser demasiado rigoroso e moralista, mas continuo a defender que não acho piada nenhuma à comparação entre qualquer competição desportiva e a guerra.
Daí também não ter ficado indiferente à ‘marcha militar’ com o título "Assalto ao Kremlin" e cuja letra fala da intenção da "conquista de Moscovo". Considero que se trata de uma opção claramente infeliz da RDP, pois o assalto ao Kremlin não dá direito ao ‘caneco’. Se ainda fosse "assalto" ao ‘Luzhniki’ ou ao ‘Mordóvia Arena’…
Prefiro, sem dúvida, o humor do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao responder à pergunta de Donald Trump "se Cristiano Ronaldo se candidataria a presidente contra si". "Ele não venceria", retorquiu o dono de Belém ao da Casa Branca e rematou certeiramente: "Portugal não são os Estados Unidos". Se a nossa selecção jogar com a mesma convicção no sábado e Ronaldo estiver tão afinado como a língua do nosso Presidente, deixará o Uruguai pelo caminho e, quem sabe, venha a defrontar a Rússia na final, mas sem "assaltos"."

Noutro mundo

"Bruno de Carvalho ainda é notícia. Num ‘post’ no Facebook, fez ‘mea culpa’ e pediu clemência para poder ir a eleições. A memória dos homens muitas vezes é curta. O presidente destituído não se coibiu de exigir a instauração de processos a ex-dirigentes e perseguir sócios ao ponto, entre outras coisas, dos serviços do clube impedirem um associado de votar na madrugada do dia da assembleia... De acordo com a nota de culpa – a que BdC não respondeu –, o ex-presidente violou ‘ene’ artigos dos estatutos, actos que são agravados pela condição de membro de um órgão social. Mais: apresentou-se na última AG, potenciando um clima de agressividade intolerável contra a Mesa da AG, chegando até a votar, direito que lhe estava vedado. Duvido que tenha perdão. E muito menos que o mereça. Há quem viva neste mundo...
Nenhuma selecção africana conseguiu a qualificação para os oitavos do Mundial – há quatro anos passaram Nigéria e Argélia. O Japão superou o Senegal, graças à disciplina – um critério que aplicado aos nipónicos faz todo o sentido – e repete assim a proeza de 2010 onde então teve a companhia na Coreia do Sul na fase a eliminar. Impressionante é o registo da Europa: 10 selecções nos oitavos tal como há 12 anos. E convém notar que entre elas desta vez não está a Alemanha, campeã do mundo…"

Mundial, dia 15: Colômbia segue sem James e África volta a desiludir

"O Bélgica-Inglaterra seria um grande duelo em quaisquer outras circunstâncias. Mas com as duas equipas com seis pontos, empatadas também em todos os critérios, foi um bocejo. A verdade é que nenhuma das duas fazia questão em ganhar o Grupo F e ir para o lado já chamado de "quadro da morte"

O jogo do dia foi o Senegal-Colômbia. No final, com um centro milimétrico de Quintero e uma entrada de cabeça de Yerry Mina, central suplente do Barcelona, cumpriu-se a lógica: passa a Colômbia (1-0), melhor equipa, para o lado ‘mais fácil’ do quadro. Essa é a boa notícia. A má é que James Rodrigues está com problemas físicos, musculares, na perna direita e saiu cedo, em lágrimas. Já havia perdido o primeiro jogo, com o Japão, e pode não estar em condições de fazer o resto do Mundial. Ver-se-á. Se de confirmar, será uma baixa importante, a Colômbia perderia o seu grande criativo. E o jogo dos oitavos-de-final é com a Inglaterra.
No outro jogo do Grupo H, a Polónia fez questão de honra de mostrar porque era, à partida, uma das candidatas à qualificação – e ganhou (1-0). O Japão viveu alguns minutos de angústia mas teve direito a uma ‘dádiva’ especial do regulamento: primeira equipa de sempre a qualificar-se disciplinarmente num Mundial. Apenas quatro cartões amarelos contra seis do Senegal. Em todos os outros três primeiros critérios as equipas terminaram empatadas. É melhor do que sorteio, que seria a opção seguinte. E nenhuma outra selecção mereceria mais estas circunstâncias que a representante de um futebol escorreito, ético, como o do Japão.
O Bélgica-Inglaterra seria um grande duelo em quaisquer outras circunstâncias. Mas com as duas equipas com seis pontos, empatadas também em todos os critérios, foi um bocejo. A verdade é que nenhuma das duas fazia questão em ganhar o Grupo F e ir para o lado já chamado de “quadro da morte”. Por isso, jogaram as reservas. Nem Kane nem Lukaku; nem Lingard nem Eden Hazard (jogou o irmão…); nem Henderson nem De Bruyne; e por aí fora”. O ‘deslize’ acabou por ser cometido por Adnan Januzaj, futebolista da Real Sociedad, também nascido no Kosovo, como Xhaka e Shaqiri, da equipa suíça. A jogada saiu-lhe bem e o seu pé esquerdo pedia aquele remate em arco que saiu imaculado. Nada a fazer. A Inglaterra agradeceu e não fez grande coisa para inverter o resultado (1-0). Foi assim. Ponto. Fica a Bélgica no lado pior mas com o bónus de começar com o Japão. Só depois virá o Brasil (ou México).
Destaque, neste jogo, para Eric Dyer, jogador formado no Sporting, que voltou a ser ‘capitão’, o que já acontecera pelo menos uma vez na fase eliminatória de apuramento para esta fase final na Rússia. No jogo de cumprir calendário entre Panamá e Tunísia começaram a ganhar os homens das Caraíbas, mas a Tunísia, melhor equipa, deu a volta ao resultado (1-2).
No balanço desta primeira fase tem de se apontar o falhando das equipas africanas. Nenhuma passou aos oitavos-de-final, no quais estarão dez equipas da Europa, cinco da América (4 do Sul e uma da CONCACAF) e uma da Ásia.
O futebol africano não cumpriu as promessas do tempo dos Camarões de Roger Milla, a que se juntou depois Omam-Biyik. Milla já está com 66 anos e nenhuma equipa africana consegue dar o passo em frente. Perdeu-se, aliás, a autenticidade que encantava. A europeização dos melhores jogadores acabou com a pintura “naif” nos relvados e o que se seguiu não foi particularmente brilhante nem continuou uma trajectória ascendente.
Neste Mundial, as melhores equipas africanas até foram, do ponto de vista qualitativo, as do Magrebe, com Marrocos à cabeça, e Egipto. São equipas mais trabalhadas do ponto de vista táctico e de disciplina competitiva. A África negra teve o Senegal e Nigéria, que até fizeram mais pontos que Marrocos, mas evidenciaram as lacunas de sempre: e sem rigor, nestes torneios, não se vai longe. Portanto, mais quatro anos de espera por um milagre que vai tardar, apesar do talento e do grande campo de recrutamento."