quarta-feira, 9 de maio de 2018

Treze notas e um batom entre parântesis

"Desde 2009/10, já tivemos 8 épocas concluídas: nelas o Benfica foi 1.º em 5 vezes e 2.º em 3 ocasiões; já o Sporting não foi nem vice-campeão.

1. Nos dias que precederam o dérbi lisboeta, quem cá tivesse aterrado e lê-se e ouvisse tantas doutas análises, ficaria convencido que seria uma partida assaz desequilibrada, tal os encomios relativos ao Sporting e as críticas dirigidas ao Benfica. As dúvidas residiam, tão-só, na magnitude do desnível do resultado, e em saber se o presidente leonino ia ver o jogo no banco ou fora dele.

2. Havia tanta euforia para os lados de Alvalade, que tive de ir confirmar se o tetracampeão era o SCP ou o meu remediado Benfica. Depois, percebi que apenas estavam a usufruir antecipadamente do, ainda não assegurado, segundo lugar. Mas, entende-se porquê: desde 2009/10, já tivemos 8 épocas concluídas: nelas o Benfica foi 1.º e 5 vezes e 2.º em 3 ocasiões; já o Sporting não foi nem campeão, nem vice-campeão. Por outras palavras, o Benfica nunca abaixo do 2.º lugar, o Sporting nunca acima do 3.º posto.

3. O dérbi foi um bom jogo. Disputado, com seriedade e profissionalismo, pelas duas equipas. O empate sem golos serviu melhor as conveniências dos leões que, assim, só dependem de si próprios na difícil deslocação ao Funchal. Mas, a haver um vencedor teria sido o Benfica. Excelente primeira parte, duas bolas no poste, personalidade no campo. Bruno Varela teve uma noite descansada e Rui Patrício mostrou, uma vez mais, por que é considerado um dos melhores guarda-redes da actualidade. Para o segundo lugar ainda em disputa, teria bastado empatar (!) com o Tondela. Mas aí, Rui Vitória resolveu pensar que eram favas contadas. Bastaria apenas ter jogado Jardel ou Fejsa. É que, como sempre dizem os treinadores, o jogo mais importante é o seguinte. Neste caso, não terá sido...

4. Em Alvalade, porém, Rui Vitória esteve bem. Do modo como explanou o jogo e nas declarações que prestou. Um homem não é de ferro e há momentos em que é preciso levantar a voz, contra os embustes que se propalam a uma velocidade cibernética. É claro que em Rui Vitória é defeito o que em Conceição é virtuosismo e em Jesus é feitio.

5. A transmissão televisiva deste jogo esteve no seu melhor. O mago Lobo, que de tudo sabe no ofício do que chama «futebol puro», manteve-nos entretidos com a lógica comentarista de dois pesos, duas medidas. Um 5 na escala de 0 a 10 é medíocre se for para um jogador ou movimento do Benfica e é excelente se executado por um leão ou portista. Já o entrevistador da flash interview, tinha ferrada e pergunta que a todos fez com inusitado orgulho: «Foi o Porto um justo campeão?», no contexto da entrevista supostamente sobre o jogo acabado de disputar. Bem (não) lhe respondeu Rafa Silva e bem aproveitaram o jogador e treinador do SCP para mandar para o irmão Dragão beijinhos, abraços e abreijos.

6. Foi imprudente a nomeação do VAR para este jogo. Refiro-me a Hugo Miguel, que havia arbitrado o dérbi na Luz. Neste primeiro jogo, acabou por ser obrigado a marcar a quarta infracção merecedora de penálti ao cair do pano, de tão evidente que foi, mas, no resto, ignorou olimpicamente o VAR. Por isso, nomear para VAR do segundo jogo este árbitro, também agente do fornecedor das camisolas do SCP, a Macron - empresa indirectamente interessada na questão da Champions - foi um acto indigente. Tudo numa boa, o VAR foi muito bem acolitado pelo árbitro de campo, Carlos Xistra, que dispensou quase sempre a sua função. Ou seja, VAR por VAR mais vale não VARAR.

7. Um pormenor delicioso da arbitragem aconteceu na última jogada. Num livre, a bola é lançada por Douglas para a área de Rui Patrício. Este vai para fora da sua protegida pequena área, segura a bola e, depois, larga-a sem que qualquer jogador do Benfica lhe tivesse tocado. A bola ficou em poder do ataque encarnado em posição privilegiada para poder marcar o golo (Jiménez até meteu, com classe, a bola na baliza, mas o jogo estava parado). E o que fez o clarividente Xistra? Assinalou falta contra o Benfica! Nas arbitragens, costumo distinguir duas situações: a mais comum e natural, que é a do erro de não se ter visto uma infracção. A mais estranha que é a de ver o que ninguém viu e, por imaginação, alucinação ou vontade, assinalar-se uma infracção. Neste caso, o leitor escolha...

8. Noutro plano, o árbitro falhou também e, sinceramente o digo, favorecendo o Benfica. Rúben Dias não merecia ter saído incólume de cartões (tal e qual Bruno Fernandes). Este jovem jogador encarnado pode ter à sua frente uma carreira auspiciosa. É forte, tem bom sentido posicional e não adorna desnecessariamente os seus movimentos. Porém tem de aprender a refrear o seu ímpeto que, não raro, excede o que as leis do jogo determinam. Via facebook, pois claro, o senhor Jota, alegadamente inadimplente funcionário, aproveitou para insinuar que «há uma selvagem à solta no futebol português». Para além da costumeira linguagem de destilar ódio, não sei se também tinha em mente um tal de Felipe que joga no seu patrão-clube.

9. Entretanto, saiu mais um sumaríssimo com sumo a um jogador do SLB. Neste caso, a Rùben Dias. Compreendo a decisão, se ela tivesse sido sempre uma lógica de tratar por igual, o que semelhante é. Não me lembro deste procedimento com qualquer jogador dos rivais, embora me lembre do sumaríssimo a Samaris na Taça da Liga, por uma minharia. Porque não usar semelhante bitola e não decidir o mesmo procedimento depois de Bruno Fernandes ter ceifado Cervi? Eu sei, vão-me dizer que ele apanhou apenas amarelo, logo não poderia haver caso sumário, mas a equidade de tratamento, no fim de contas, fica manchada e o infractor pode jogar no domingo. Ah, e que dizer da agressão de Felipe a Jonas no Dragão nos primeiros minutos, para a qual nem houve cartão, e muito menos sumaríssimo? E; já agora, lembram-se da agressão com cotovelada de um estorilista ao Jiménez na grande-área. Cadê o sumaríssmo? Onde está a homogeneidade de critério? Uma vergonha!

10. Aqui, neste jornal em que livremente escrevo, não posso deixar de anotar, com estupefacção, a capa - sim a capa - da passada sexta-feira, véspera do dérbi. Em parangonas, lá estava escarrapachado: «Convite das Arábias: Rui Vitória tem proposta para ir treinar o Al Hilal», retirado de uma notícia em árabe de uma famosa e impoluta publicação chamada 'Akhbaar 24'!!! Ainda na primeira página, embora menos exuberante, «Posso ser um presidente adepto», frase atribuída ao potestativo candidato Rui Gomes da Silva. Mas vai haver eleições logo a seguir ao dérbi?

11. Coentrão dá sempre espectáculo. Sportinguista ainda na barriga da mãe, como se confessou, tem todo o direito de ser e ninguém leva a mal. Mas, para além de fiteiro até dizer chega, é de uma ingratidão obscena. É só isso que o bom senso lhe imporia quando defronta o seu antigo clube, o Benfica. Afinal, onde estaria o rapaz se o Benfica (e o então também seu treinador Jorge Jesus, diga-se em abono da verdade) não o tivesse reabilitado depois de uma dolorosa experiência no estrangeiro e lhe abrisse as portas e a carteira um milionário contrato com o Real Madrid?

12. «Exemplar» o que se ouve sempre em momentos de alegria dos rivais do Benfica. No caso do agora campeão nacional, ou do que se escutou em Alvalade. Os cânticos, os cartazes e as palavras não são um hino aos seus clubes, antes constituem formas soezes e prenhes de impropérios contra o Benfica. É caso para se dizer, como na política, «assim se vê a força do esseebebê». Por que não fizeram um hino anti-benfiquista para os dois aliados unidos cantarem nos Aliados? E o que dizer da inqualificável atitude de G. Paciência e Sérgio Oliveira nos festejos (anti Benfica), quais garotos ultra rascas? E quão vergonhoso foi o comportamento de alguns energúmenos do meu clube cantando sobre uma morte!

13. Uma das minhas netas, 15 anos de idade, benfiquista de alma e coração, foi a Alvalade com uma das suas melhores amigas, sportinguista de coração e alma. À entrada, embora sem qualquer sinal exterior de adepta encarnada, revistaram-na e encontraram uma perigosíssima arma de destruição maciça: um batom para o cieiro. Com um demoníaco pormenor: o invólucro era vermelho. Vai daí, um zelota dos bons usos e atirou-o para o lixo, assim garantindo a ordem pública e impedindo uma jovem tranquila e educada de provocar desacatos como contundente objecto. Uns minutos depois, mal se iniciou o jogo, elas assistiram já sentadas ao fogo de artifício com que as claques leoninas deram as boas-vindas. O tal zelota ainda deverá estar a pensar como tendo ele evitado uma catástrofe com o batom da minha neta foi impotente (ele e os colegas) para impedirem adultos de levar quilos de bombinhas de Entrudo. Um perigoso batom é um batom perigoso, mesmo que seja para o cieiro. Assim vai o nosso futebol. Apanha-se uma mosquinha para se fingir que se controlam os elefantes. E depois queixam-se..."

Bagão Félix, in A Bola

Quando os penáltis são uma verdadeira raridade

"Falta apenas uma jornada para encerrar a temporada 2017/18. Significa isso que cada um dos 18 clubes participantes já realizou 33 jogos. Como seria de esperar, o que não faltam são dados estatísticos inesperados mas, convenhamos, alguns são mais improváveis do que outros. Destacamos dois que estão directamente relacionados com os penáltis, questão que semanalmente alimenta as polémicas dos adeptos de todos os emblemas. Fique então a saber que um clube (Marítimo) está prestes a fechar a época sem beneficiar de um só castigo máximo, enquanto outro (FC Porto) se apresta para concluir o campeonato sem ser sancionado com nenhum.
Feitas as contas – e mesmo sem contabilizar os períodos de compensação –, cada equipa já disputou 2.970 minutos, o que equivale a mais de 49 horas. Sim, cada emblema tem ligeiramente mais de dois dias inteiros de futebol na competição. Perceber que os madeirenses não conquistaram nenhum penálti em todo esse tempo ou que os novos campeões nacionais não cometeram um único é algo que, à primeira vista, poucos admitiriam como possível. Mas é exactamente isso que os dados demonstram.
Os insulares já vão em 50 encontros consecutivos na principal divisão sem um penálti a favor (o último surgiu na 17.ª jornada da época passada, na vitória caseira diante do P. Ferreira por 3-1), enquanto os portistas somam 38 desafios sem cometer faltas dentro da respectiva grande área (desde a ronda 29 da temporada passada, aquando do empate 1-1 em Braga).
A situação do Marítimo é particularmente curiosa porque, ao mesmo tempo que não conta com um só penálti a favor, a formação liderada por Daniel Ramos soma nove contra. É mesmo o conjunto mais castigado, depois de nesta ronda ter visto serem assinalados dois na goleada (1-4) sofrida em Chaves. 
Não é nada comum, em Portugal ou em qualquer outra liga de topo, encontrar clubes que fecham uma época sem penáltis a favor ou contra. Entre nós, há que recuar até à temporada 2008/09 para deparar com uma equipa (Naval ) que passou toda a época sem ver os juízes sancioná-la com penáltis. Quanto a um campeonato sem beneficiar de castigos máximos é preciso ir ainda mais atrás, até à temporada 2006/07, quando tal sucedeu a Marítimo, Aves e V. Setúbal.

Sabia que...
O Belenenses já tinha tido um jogo com dois penáltis a favor? Antes da recepção ao Portimonense, os azuis beneficiaram de dois penáltis contra o Sporting, também no Restelo. Chaves e Portimonense são as outras equipas com dois encontros com um par de penáltis a favor.
No Estoril-V. Setúbal ambas as formações estabeleceram dois registos invulgares? Os canarinhos, pela primeira vez na temporada, não conquistaram um único canto, ao passo que os sadinos atingiram pela primeira vez os dez. Até à data, a formação de José Couceiro não ultrapassara os 8 cantos (duas vezes).
O recorde de remates do Marítimo não serviu para nada? Em Chaves, os madeirense visaram 16 vezes a baliza flaviense, mas esse máximo na época não impediu que a equipa fosse goleada (1-4). Acrescente-se que o Marítimo é o conjunto com menos ‘disparos’ na temporada (269). O ranking da especialidade é liderado pelo FC Porto (536), com Benfica (524) e Sp. Braga (433) nas posições imediatas."

O futebol no casino financeiro

"Em Portugal, o futebol ocupa um espaço que o torna praticamente intocável. Parece ser “too big to fail”. Mas esta sensação dura até ao dia em que deixar de durar.

Nos últimos dias, ao ler notícias sobre os VMOC do Sporting, lembrei-me logo do magnífico “Traders, Guns and Money” de Satyajit Das (2006) – até hoje, o melhor que li sobre o mundo de siglas e acrónimos financeiros da primeira década deste século. Ora, os VMOC são “valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis” e, no caso daqueles que têm andado na berlinda, tratam-se de valores obrigatoriamente convertíveis em acções.
A ideia original até foi boa. Emitidos originalmente em 2011, configuravam uma espécie de obrigação em forma de valor mobiliário, convertível em acções ao final de cinco anos (em 2016), e que pagava um juro anual de 3%. Constituindo um instrumento obrigatoriamente convertível em acções os VMOC iam a capital, como “quase-capital”, reforçando deste modo a autonomia financeira da instituição. Em teoria, a ideia funcionava bem. Mas, a avaliar pelas notícias recentes, alguma coisa parece ter funcionado mal. O quê exactamente?
Primeiro, falhou a avaliação do tipo de instrumento em causa. No prospecto original de emissão dos VMOC, que está disponível na internet, no capítulo “Motivos” era claramente salientado que a oferta se inseria num processo de recapitalização e reestruturação financeira. Que o propósito era o de retirar a sociedade da situação (de insuficiência de capitais) abrangida pelo artigo 35º do código das sociedades comerciais. A emissão previa, assim, um conjunto de situações que poderiam espoletar a conversão antecipada dos VMOC. Além disso, era também explicitado o tipo de produto associado à conversão dos VMOC: uma conversão em acções do tipo B, atenta a estrutura dual de acções existente na SAD (sendo as A’s, com alguns direitos especiais, detidas apenas pelo próprio clube). 
Em suma, a emissão assumia um perfil de risco que, em bom rigor, deveria ter levado os investidores a exigir uma remuneração típica de capital próprio, e não uma remuneração típica de capital alheio como acabou por suceder. Para além de uma baixa remuneração, em 2016 o instrumento foi reestruturado: a data de conversão foi alongada para 2026 e, mais importante ainda, foram introduzidas restrições ao pagamento dos juros.
Segundo, falhou também a própria evolução dos VMOC enquanto instrumento financeiro. Comparem-se as características das várias emissões. Assim, a primeira emissão em 2011, no montante de 55 milhões de euros e convertível em 2016, foi realizada mediante oferta pública e por contrapartida de entrada em dinheiro. Já a segunda emissão, feita em 2014, no montante de 80 milhões de euros e convertível em 2026, foi realizada por subscrição particular e através de realização em espécie, isto é, pela conversão de dívida bancária em VMOC (cujo juro passou também a depender da existência de resultados distribuíveis). A fonte aqui utilizada é o último relatório e contas semestral da Sporting SAD disponível publicamente (pp. 35-36). Foi, portanto, naquele segundo momento que os bancos “ficaram” com acções da SAD que, ao que consta, constituem já imparidades aprovisionadas. Surge então, conhecida esta semana, a aquisição dos VMOC detidos pelos bancos, ao valor de 30% do nominal, por parte do clube e de uma sociedade relacionada. Xeque mate.
Terceiro, falhou o racional económico do negócio futebol. Uma breve análise económica e financeira às contas dos três grandes revela um historial de resultados acumulados negativos, de falências técnicas disfarçadas através de manigâncias contabilísticas, de endividamento como se não houvesse amanhã. Na realidade, devo confessar que é surpreendente que os clubes ainda estejam de portas abertas, apesar de, como a estória dos VMOC parece evidenciar, a dívida bancária das SAD ser hoje um problema tão grande ou até maior para os bancos do que propriamente para os clubes.
Os clubes portugueses estão hoje mais preocupados com outras prioridades, nomeadamente com as suas actividades de ”trading” de jogadores. Neste sentido, o resultado operacional que realmente interessa não é a relação entre as receitas de bilheteira, direitos televisivos e sponsorização face às despesas com os plantéis e afins. O resultado operacional que verdadeiramente interessa é aquele que decorre das transferências dos jogadores e das transacções dos passes; é aqui que está o verdadeiro resultado corrente dos clubes portugueses. Sem essa capacidade de valorizar os atletas, que depois determina as outras receitas ditas correntes, e a situação financeira seria ainda mais dramática.
Em Portugal, o futebol ocupa um espaço que o torna praticamente intocável. Parece ser “too big to fail”. Mas esta sensação dura até ao dia em que deixar de durar. Assim, a saída da banca do mundo do futebol, que hoje é um sector indesejado entre as entidades bancárias, pode ser o prenúncio de uma mudança estrutural.
No curto prazo, os clubes até poderão vir a ter uma ou outra vitória de Pirro, como esta do Sporting. Mas a médio prazo, poderão vir a lidar com uma crise de liquidez. Por um lado, uma eventual crise acentuará a faceta em que os clubes portugueses são, de facto, bons, isto é, a valorizar os jogadores. 
Por outro lado, aqueles que não conseguirem valorizar os jogadores, cairão que nem gigantes de barro e, pelo caminho, alguns tentarão mesmo a fuga para a frente. Tratando-se de um negócio “sui generis”, a melhor forma de fazer arrebitar as cotações das acções das SAD, e os modelos de avaliação utilizados por investidores profissionais, que cada vez mais serão necessários, residirá no crescimento das receitas (e em menor grau dos lucros).
Será também a estratégia de maior risco e tenderá a atrair, sobretudo, investidores disponíveis para alto risco que, por sua vez, exigirão alta rentabilidade. No fim, se a via preferencial (que é a empresarial) não resultar, haverá sempre a via do mecenato. Não façamos disso um drama. Boa sorte. (...)."

A (in)definição do e no Desporto

"O desporto Português vive em permanente estado de crise que se tornou mais visível pela divulgação pública das incipientes taxas de “alfabetização” e consequente participação desportiva da população. Os dados são assustadores de tão desoladores. Os habitantes dos países do Sul da Europa são genericamente os menos activos, apesar de a Bulgária ser o país que apresenta o número mais alto de sedentarismo (78%), seguido de Malta (75%) e de Portugal (64%), tendência que tem vindo a piorar geracionalmente (dados do Euro barómetro).
Há causas mais ou menos evidentes, mas cuja análise se justifica para ensaiar soluções. Desde logo, a inconsistência conceptual com evidentes consequências para a forma de sistematização e operacionalização de práticas e para o modo de organização do desporto por parte das instituições desportivas.
A deriva “motricista” do desporto, com responsabilidade acrescida das instituições de ensino superior e do sistema científico e tecnológico nacional, a que se seguiram outras derivas como a subalternização do desporto, desvirtuando-o na sua essência, remetendo-o a uma função meramente instrumental e higienista, teve consequências objetivas no modo de pensar, agir e organizar socialmente o desporto.
Actualmente assistimos a mais uma deriva “concetualista” e “corporativista” com a tentativa institucionalizada da “biologização” do exercício físico e do desporto, com a proposta de criação de uma nova classe profissional: “fisiologistas do exercício”, alargando para além dos existentes o leque dos profissionais responsáveis pela orientação e condução de actividades físicas e Desportivas (título profissional de treinador/a de desporto; título profissional de técnico de exercício físico).
Para os mais incautos, convém relembrar que Portugal subscreve na íntegra a carta Europeia na qual é explicitamente assumida a definição de “desporto” que, só por si, seria suficiente para reformular o anacronismo terminológico da nossa Lei n.º 5/2007 de 16 Janeiro (Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto), com a referência inusitada e extemporânea a conceitos difusos como os propostos no artigo 2º (Princípios da universalidade e da igualdade), onde se assume o direito à actividade física (AF) como um direito inalienável.
Mas, será que é possível impedir alguém, contra a sua vontade, de se movimentar: andar, correr, ou mexer um dedo?
Confundir AF, qualquer movimento corporal produzido que resulta em gasto energético, com exercício físico é um erro conceptual com implicações sociais relevantes, que muitos conscientemente assumem.
O exercício físico é a AF recomendada, com o objectivo melhorar a aptidão (mas suas várias componentes) sob determinadas normas orientadoras. Caminhar, saltar, nadar, andar de bicicleta, subir escadas, (AF) com uma determinada duração (exemplo:1 hora) a um determinado ritmo (exemplo: constante) é exercício! Todas as formas de movimento que pressupõem orientações para a sua execução é exercício!
Este é o “nosso” capital imaterial: o exercício físico e o desporto. A generalidade das manifestações físicas recomendadas, pressupõem competências motoras que existem já enquadradas prévia e devidamente num determinado desporto.
O problema é que as organizações desportivas, cuja massa crítica são os técnicos formados nestas derivas, foram incapazes de integrar e reclamar para si a centralidade do exercício, subjugando-se à ideia de que a AF estruturada é independente do exercício e do desporto, descurando o essencial: A AF desestruturada pode ser, a maior parte das vezes é, pior para o ser humano do que benéfica para a saúde.
Todas estas derivas e indefinições conceptuais afastaram as preocupações do problema essencial: compreender o que é preciso para motivar as pessoas para a prática de exercício físico e desporto enquadrando, nesta equação, as organizações desportivas (OD’s) e a necessidade de se adequarem às preocupações crescentes das novas gerações, modernizando-se, para revitalizar e massificar a prática do desportiva.
E é aqui que entra a novel responsabilidade das OD’s: modernizarem-se e ao fazê-lo, reclamarem para si o que lhes pertence, agregando e potenciando as virtualidades do desporto enquanto fenómeno social, num processo de enquadramento de todo o tipo de praticantes com prática sistemática (formal ou menos formal). Isto pressupõe outros modelos para a afiliação dos praticantes e simpatizantes, acompanhando os avanços tecnológicos e compaginando, numa equação de difícil solução, o rigor das práticas com a efemeridade dos “produtos/serviços” que se consomem hoje em dia.
A prática desportiva convencional deixou de ser atractiva. Desenvolveu-se a concepção, errada sob todos os prismas, que basta experimentar para aprender, tudo isto num clima sociocultural identificado com um quadro de valores de uma constante relativização da lógica do trabalho/lazer, onde o esforço, a superação e o rigor são sublevados, num período de pós-utopias e num meio de crescente individualismo, de extrema competição e de profundas alterações na noção de obrigatoriedade, disciplina e autoridade.
A alteração necessária e consequente modernização desportiva só se consegue atendendo às transformações sociais e coordenando as diferentes estruturas em rede (clubes, associações, federações, organizações desportivas de cúpula) num projecto comum recuperando um “novo” desporto, alargado, com novas práticas e meios de organização, investindo e valorizando os praticantes, as referências de excelência, (estrelas), popularizando os eventos/torneios de massas e a prática (in)formal devidamente estruturada.
As OD’s devem, ainda, perspectivar a passagem de modelos tradicionais de desporto visando única e exclusivamente o rendimento para modelos pluridimensionais que integre a formação, a competição, o rendimento, a recreação e o lazer, assim como a passagem de focos direccionados para focos multidirecionais que integre a escola, o clube, o ginásio, o sector privado, público, entre outros.
Mas, acima de tudo, a modernização do desporto deve-se fazer pela reforma do desporto infantojuvenil, porque muitos jovens já não se revêm no modelo organizativo e competitivo actual e porque é na infância e na juventude que se criam os hábitos de prática que subsistem.
Importa, por isso, que se crie uma plataforma de reflexão transversal, entre o movimento associativo, que se dedique à reforma da prática desportiva infantojuvenil e que possa, entre outros, promover:
1. As condições necessárias para a promoção e desenvolvimento do desporto infantojuvenil com o objectivo de aumentar a prática desportiva nos escalões de formação;
2. A melhoria da qualidade das condições de prática através da adopção de projectos, onde o sistema desportivo e o sistema Educativo estabeleçam parcerias;
3. A criação de um observatório sobre o desporto infantojuvenil, onde terão assento, para além das organizações desportivas (clubes, associações, federações, COP e CPP), o IPDJ e a SEJD, as Autarquias, a Direcção Geral da Educação e a coordenação nacional do Desporto Escolar, as instituições do sistema científico e tecnológico nacional e instituições ensino superior, o sistema nacional de saúde, as associações de classe, na análise e implementação e controlo de projectos de acordo com as características da pratica desportiva para este escalão etário, e o estudo da alteração dos regulamentos de actividade de cada modalidade ou agrupamento de modalidades.
Isto é: urge um plano nacional para a promoção do desporto infantojuvenil em Portugal."

Basta

A Direcção do Benfica, tem várias opções: no mínimo dos mínimos tem que exigir a demissão do Conselho de Disciplina e da Comissão de Instrutores da Liga (simples extensões dos departamentos jurídicos dos Dragartos!); na minha opinião deveria exigir a demissão de todos os órgãos do futebol português: FPF e da Liga... todos; e ainda existem mais do que indícios para pedir a impugnação da Liga...
Se os critérios de arbitragem são subjectivos, se os critérios da nomeação dos árbitros são subjectivos, as decisões da justiça desportiva deveriam ser objectivas, e facilmente se demonstra a forma parcial como agiram toda época... (para não meter os 'outros' ao barulho, basta recordar a cotovelada do Ailton ao Jiménez na Amoreira... facilmente se faz uma 'colectânea' com todos os lances que deveriam e não tiveram sumaríssimo nestas duas épocas, com este CD e com esta CI da Liga).
A 'cobertura' - pura cumplicidade -, como a Direcção da Liga e da FPF, que 'nada fizeram'... na minha opinião, é suficiente para exigir a demissão de todos, e cortar todas as relações com todas estas entidades...
'Meter' recursos no TAD, na resolve... dar entrevistas depois dos factos, nada resolve...

Global Notícias, Cofina, Imprensa, Media Capital, RTP Desporto não podem ter qualquer 'acesso' ou relacionamento com o Benfica, nenhum... Além das conferências de imprensa onde somos obrigados a abrir as 'portas', não devem ter acesso a mais nada... mesmo A Bola, com esta nova redacção, repleta de Anti's devia ficar à porta... 

Se a Direcção do Benfica, acha que basta 'comprar' ou 'formar' jogadores para ganhar Campeonatos, nunca mais ganharemos o 37...