quarta-feira, 18 de abril de 2018

Publicidade a casa de apostas online

"A Federação Inglesa de Futebol (FA) multou o Newcastle United em 7500 libras (8600), por fazer publicidade a uma casa de apostas online, na camisola da equipa de sub-18.
O Newcastle foi acusado de violar 'as normas de equipamentos e publicidade da FA', que impede que os 'equipamentos sub-18 possam ter publicidade de serviços, ou actividades relacionadas com álcool e apostas'.
O clube inglês assinou, em Maio de 2017, um contrato de três épocas com a empresa chinesa de apostas desportivas FUN88, por 9,1 milhões de libras (cerca de 10 milhões de euros).
No entanto, a questão da prática da infracção aos regulamentos da FA circunscreve-se ao facto de essa publicidade ser feita por menores de idade, apesar de pertencerem ao Newcastle. Por essa razão, esta empresa online de casinos, apostas de jogos, patrocina e patrocinou vários clubes da Premier League Inglesa.
De 2016 a 2017, patrocinou para as apostas nas zonas da Ásia e América Latina, o Tottenham F. C., sendo que já e 2014 a 2015 havia sido criado o microsite (Hotspur88).
Este grupo também já havia trabalhado em 2014 com a Lamborghini, apoiando a Fun88 Racing, que competiu na GT Asia Championship.
A Fun88 está licenciada no paraíso fiscal da ilha de Man e e certificada e auditada pela Gaming Associates, que é uma empresa australiana de auditoria a jogos online.
Obviamente que escolheu vários embaixadores da sua marca, tais como o futebolista Robbie Fowler e o basquetebolista da NBA Steve Nash.
Cabe referir novamente que uma empresa chinesa desloca-se para a Europa mas apenas através de um local informático, registando-se e tendo a sua sede no paraíso fiscal da ilha de Man e tudo é legal.
Não está em causa a necessidade de investimento estrangeiro na Europa - que não sabemos se efectivamente o é, pois os lucros de não tributação, mas está em causa antes o peso confiscatório dos impostos que incidem sobre o cidadão normal e comum, aquele que fica agarrado ao seu país europeu e que não pode ter uma empresa com sede na ilha de Man porque vai logo preso e o Fisco cai-lhe em cima como um 'cão raivoso'.
A ilha de Man faz parte da Inglaterra e talvez seja por isso que esta vai sair da União Europeia, podendo assim criar os paraísos que quiser.
É óbvio que, apesar de ainda estarmos todos na União Europeia, existem claramente dois pesos e duas medidas. Na verdade, o grande problema está que os residentes normais dos países europeus não têm possibilidade de sair das suas camisas de força fiscais, enquanto quem tem muito dinheiro e teve a sorte de nascer no outro lado do mundo, goza de prerrogativas enormes.
O problema é que o dinheiro é repatriado para a China, e Europa, nem vê-lo, a não ser talvez em quem lhes deu a concessão."

Pragal Colaço, in O Benfica

Enguia

"(...)
2. Ir para o jogo do título sem Jonas é como ir a caminho da igreja sem ter noiva para casar. Não explica que se morra solteiro, mas ajuda. No restante, a liderança do FC Porto é agora tão justa como era a do Benfica uma semana antes, e Rui Vitória e Sérgio Conceição são tão bons quanto eram uma semana antes.
3. Apesar dos erros que possa cometer, como qualquer outro treinador, continuo a achar que se Rui Vitória fosse campeão (ou for campeão), Vieira teria (ou terá) de lhe fazer um altar e acender uma velinha. Mas claro, para os profetas dos prognósticos no fim do jogo, as análises são fáceis. Tão fáceis como afirmar que quem ouve George Michael é gay.
4. É incrível a perda de protagonismo de Pizzi na equipa do Benfica, esta época. Sabemos que está em campo porque o seu nome consta na ficha, mas passamos o tempo todo a confirmar se já saiu.

5. Ver jogar Bruno Fernandes é uma espécie de pausa para kit kat neste tumultuoso e confuso futebol português, repleto de calimeros pintados de verde, azul e vermelho. Que craque!
6. «Só pessoas sem escrúpulos podem dizer que estou maluco», disse Bruno de Carvalho no domingo. «Pretender um pai que o filho zarolho tenha dois olhos de Vénus, não será isso uma verdadeira loucura?», escreveu Erasmo de Roterdão em 1509.

7. Apesar dos dias de descanso, as intervenções do presidente do Sporting continuam tão pertinentes como os penalties à Panenka do Guedes e tão profundas como as letras das músicas dos GNR. Agora não há Facebook, mas não faltam núcleos para visitar e momentos para falar. Além do WhatsApp.

P.S. - Já cansa ouvir Jorge Jesus dizer que o Sporting está cansado."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

Sabe quem é? De calções a caírem... - Fernando Chalana

"Ofereceu-se à CUF, não o quiseram - e no corta-mato foi campeão de Lisboa; Por ele, Coluna passou mau bocado.

1. Quando ainda andava na segunda classe, era sempre escolhido para jogar com os da quarta - e não era por a bola ser sua. Sim, nunca deixava de a levar para a escola - e ele contou-o: «Por causa da bola nunca apanhei reprimenda da professora, apanhei só quando levei um gato. Meti-o debaixo da carteira, às tantas começou a miar e lá vieram duas reguladas».

2. Por equipa chamada Serpa Pinto foi aos Jogos Juvenis do Barreiro. Não foi no futebol de 11, foi no salão, sem tabelas, no Campo de Santa Bárbara - e de lá saiu com o seu primeiro troféu: a Taça Joanina para o Melhor Marcador. O Sporting do Lavradio desafiou-o para lá, preferiu ir para o atletismo.

3. Com pouco mais de um mês de treino, ganhou o Campeonato de Lisboa de crosse em Iniciados - e nos Nacionais, que Carlos Lopes ganhou nos seniores, foi quinto. Tinha 14 anos e, de um instante para o outro, mudou de ideias: não era atletismo que queria, era futebol - e não as duas coisas.

4. O pai e a mãe trabalhavam na CUF e foi no posto médico da CUF, ao lado do seu campo de futebol, que ele nasceu, a 10 de Fevereiro de 1959. Quando andava, pequenote, pelos jogos vadios do Lavradio, o sonho que tinha era ser jogador da CUF - como aqueles que via quando o padrinho o levava pela mão para o peão do seu estádio. Por isso, foi à CUF fazer teste para o futebol - e não o quiseram.

5. Não o quiseram, na CUF, tentou o Barreirense - que logo o levou ao Torneio Costa Azul. Dado não ter idade para isso, tiveram que o inscrever com BI falso, como se fosse mais velho. Foi espanto o que fez contra o Benfica - e ele contou-o: «Só quando houve a entrega dos prémios e me chamaram viram que tinha havido maningância».

6. Mário Coluna foi ao campo do Luso para se certificar de que tinha mesmo o génio de que lhe falaram - e ele contou-o: «Teve problemas para sair porque os sócios do Barreirense perceberam que estava lá por minha causa». Juca puxou-o para a equipa principal do Barreirense, então na I Divisão - e de jogo com o Oriental saiu igualmente deslumbrado Pavic que lá fora vê-lo a pedido de Coluna.

7. Juca quis pô-lo em Alvalade, o Sporting achou exorbitância pagar 800 contos pela carta de desobrigação dum juvenil - o Benfica não. A treino com a equipa principal o chamaram, quem o viu, no campo, com uns calções muito largos sempre a caírem-lhe, riu-se à gargalhada - e, no fim do treino, trataram de lhe dar contrato.

8. Do Benfica, o Barreirense não recebeu 800 contos - e abespinhou-se o pai: «Cá a nossa casa chegou um senhor a dizer que o vinha buscar para assinar pelo Benfica. Negociaram o meu filho sem que eu ou a mãe soubéssemos disse-lhe que isso era inadmissível. Vendo-me magoado, não pelo dinheiro mas pelo desrespeito por nós, quiseram dar-me 25 contos. O Barreirense apareceu com mais 20, depois de receber abusivamente os 750 - e eu disse-lhes que, felizmente, não precisava de esmolas, que ainda tinha braços para trabalhar e não aceitei coisa nenhuma...»

9. Ficou com um ordenado de 1500 escudos e passe pago. Mas não, não precisava de ir de barco para o treino, que o Manuel Bento passara por sua casa, prometendo ao pai que o levava e o trazia todos os dias na carrinha do peixe em que transportava à boleia outros jogadores da Margem Sul.

10. Pavic quis tê-lo na final da Taça de 1975 que perdeu para o Boavista, a FPF não deixou. Na época de 75/76 Wilson deu-lhe a estreia no campeonato. Ainda com 16 anos, levou-o para estágio em Sesimbra, a ideia era que defrontasse o Bayern para a Taça dos Campeões, a UEFA disse que só com mais de 17 anos é que podia, não jogou - e aumentaram-no para 4 contos.

11. Com Mortimore em vez de Wilson, falhou a abertura do campeonato 76/77 - o Benfica perdeu por 3-0 em Alvalade, na semana seguinte já foi titular, não mais deixou de o ser. A 17 de Novembro de 1976 estreou-se, pela mão de Pedroto, na selecção A, contra a Dinamarca - e, em A Bola, afiançou-o: «O meu futebol pode não ter a idade do meu BI, mas na ideia do meu BI não há aldrabice nenhuma». Tinha 17 anos, 7 meses e 1 um dia - o resto é o que se sabe: foi campeão em Portugal e em França, esteve em três finais europeias, foi estrela no Euro 84."

António Simões, in A Bola

Avarias

"Restam poucas dúvidas que o vídeo-árbitro veio para ficar e, mais do que isso, a sua tendência será alargá-lo a mais competições. Os benefícios estão à vista de todos os que olharem para o tema com seriedade, mas tem havido algumas pedras no caminho. Umas causadas pelas diferentes máquinas de propaganda do futebol português, outras causadas pelos próprios árbitros.
O VAR é muitas vezes apelidado de tecnologia, como se fosse uma máquina a arbitrar, mas o essencial mantém-se: são árbitros-humanos que continuam a tomar decisões, mesmo que vendo os lances através de televisão, de vários ângulos ou em câmara lenta. E tudo o que mete humanos ao barulho, já se sabe, pode perfeitamente correr mal.
No Belenenses-Sporting do último domingo, o árbitro João Capela fez uma actuação de vídeo-árbitro à... paineleiro. O protocolo do VAR, como foi amplamente divulgado no arranque da temporada, prevê intervenção em casos de "decisões claramente erradas" da equipa de arbitragem em campo. Ora, nenhum dos penáltis indicados a Bruno Paixão - um para cada lado - se enquadra no conceito. Mesmo que ambos tivessem sido bem assinalados - como, já agora, foi considerados pela generalidade da crítica especializada - não foi para este tipo de jogadas que se inventou o VAR. Porque se fosse para isto, haveria penáltis em praticamente todos os lances de canto ou livres laterais.
São dores de crescimento, naturais numa alteração tão radical ao jogo. A boa notícia é que se vai aprendendo a cada dia que passa."

Campeão dos golos tardios foi traído ao minuto 90

"O remate fulgurante de Herrera no último minuto do tempo regulamentar no clássico da Luz valeu, no imediato, o regresso do FC Porto à liderança do campeonato. Mas quando restam escassas quatro rondas para o termo da prova, o ‘tiro’ do médio pode vir a ser a chave do título. Assim os portistas não tropecem (percam, pois já há folga para um empate) mais nenhuma vez até ao fecho da competição ou beneficiem de escorregadelas alheias.
O último campeonato ganho pelo FC Porto, na temporada 2012/13, ficou marcado pelo golo tardio do brasileiro Kelvin que, aos 90’+2, decidiu o duelo com o Benfica no Dragão. Agora, a história pode ser parecida, apesar de o palco ter sido outro e do remate fulcral ter aparecido um pouco antes, ainda dentro do tempo regulamentar e não já na compensação. Curioso é perceber que o Benfica foi traído numa fase dos encontros em que costuma ser o principal ‘castigador’ dos adversários. Sim, os encarnados são o conjunto que mais marca no derradeiro quarto de hora (do minuto 76 até ao final dos jogos), somando 24 dos seus 75 golos nesse período. Estamos a falar de 32%, praticamente um terço do total.
Independentemente deste último quarto de hora ser o mais longo dos encontros – devido à compensação –, ninguém factura tanto como as águias. Sp. Braga (20) e Sporting (16) são as equipas que mais se aproximam e mesmo assim a uma distância considerável. O FC Porto, então, nem revela uma especial aptidão para esta fase. Tem apenas 14 golos, tantos como o Chaves e apenas mais um que o V. Setúbal. Os dragões, aliás, são a equipa com uma distribuição mais linear em toda a competição: 11 golos nos primeiro e terceiro quartos de hora; 12 nos quarto e quinto; 13 no segundo e os tais 14 no sexto. Mas, muito provavelmente, o remate vitorioso de Herrera, o 14.º do clube depois do minuto 75, pode ser o tal, o do título.

Sabia que...
- Cláudio Ramos, guarda-redes do Tondela, já defendeu três penáltis?
Ao todo, apenas foram parados pelos guardiões 12 castigos máximos (em 86), sendo que 25% deles tiveram Cláudio Ramos como protagonista.
- Yebda foi expulso pela terceira vez?
O médio do Belenenses juntou-se ao central Marcão do Rio Ave como os únicos jogadores da prova com três cartões vermelhos esta época.
- O Belenenses-Sporting não foi o primeiro jogo com três penáltis?
O Portimonense-Moreirense, na jornada 28, também teve três castigos máximos.
- Nas duas vezes que o Benfica ficou em branco, o Estoril não sofreu golos?
A curiosidade é que os encarnados possuem o melhor ataque da prova (75 golos) e os canarinhos a pior defesa (57). Ora, nos dois jogos (ambos contra o FC Porto) em que as águias não acertaram na rede, os estorilistas não sofreram do Portimonense. Acresce que o Estoril encaixou golos em 24 das 30 rondas!"

A crise do futebol espectáculo

"Só os “homens do Futebol” poderão “salvar” o Futebol do descrédito em que vive hoje, percebendo que a sua tutela não pode ser o Ministério da Educação, mas sim a Inspecção Geral dos Espectáculos 

1 – A crise, vivida em Portugal, no âmbito do futebol profissional, ou seja, dos trabalhadores do futebol, existe, porque certas “autoridades”, além de não terem qualquer formação nessa área, julgam que tutelando a “indústria do futebol”, se tornam pessoas importantes e com “poder”, fingindo que estão imunes à corrupção que, segundo especialistas, grassa nesse sector.
2 – A denominação do futebol profissional, por Desporto serve para confundir os espíritos de boa-fé, mas também serve para enganar todos aqueles que são néscios nestas matérias e ainda “os pobres de espírito”, ou seja, os ignorantes.
3 – O poder político constituído, após o 25 de Abril, nunca foi capaz de entender, até ao presente momento, qual a razão pela qual o “regime de Salazar”, deixava o futebol profissional, na tutela do Ministério da Educação, já que era a única entidade que podia dar alguma, aparente, credibilidade à ”lavagem aos cérebros” dos cidadãos, que por esse meio, ficavam alienados e alheados da política, como convinha ao “regime”.
4 – Se houvesse um Ministério da Educação que tivesse, no seu seio, pessoas com conhecimento profundo, do que é a “Educação, e para que serve, rapidamente concluiriam que o futebol profissional, ou melhor, que a “Indústria do Futebol”, terá que ser integrada na Direcção Geral, ou “Inspecção dos Espectáculos”, exactamente como a Tauromaquia, o Circo e outros.
5 – A melhor forma de proteger o Futebol Espectáculo é tirá-lo desta ambiguidade em que tem vivido, no pós-25 de Abril, até ao presente, que tem servido para a carreira política de muitos, que saltam da política para o Futebol e deste para cargos directivos, até no governo, no dito Ministério... do Futebol, leia-se Secretaria de Estado da Juventude e Desporto.
6 – É estranho que pessoas que têm dedicado toda a sua vida ao futebol profissional, consintam que as ditas forças governamentais, e, sobretudo, os políticos “paraquedistas” do futebol, se apropriem, politicamente, do Futebol Profissional e o instrumentalizem a seu favor, mas prejudicando, claramente, a Indústria e a sua Credibilidade.
7 – Desde o 25 de Abril até hoje, alguns políticos, ligados ao Futebol e a Câmaras Municipais, têm sido acusados de corrupção e têm tido vários problemas com a Justiça, o que prejudica a credibilidade dessa indústria, criando-lhe dificuldades e aumentando suspeitas acerca da chamada “verdade profissional”, e não desportiva, porque os profissionais da bola não são desportistas, mas podem ser profissionais honestos, que não alinham em certas “trapalhadas”, como alguns políticos, infelizmente, têm alinhado, dando azo, a que, algumas pessoas, generalizem, e julguem que é tudo igual...
8 – Conclusão
a) Não se pode esperar qualquer solução, vinda da parte de quem é responsável pela actual situação de descrédito, vivida pela Indústria do Futebol;
b) Não é possível, ao Ministério da Educação, ajudar a resolver uma situação que ele nem sequer entende;
c) Só os “homens do Futebol” poderão “salvar” o Futebol do descrédito em que vive hoje, percebendo que a sua tutela não pode ser o Ministério da Educação, mas sim a “Inspecção Geral dos Espectáculos”, com pessoas sem objectivos políticos nem ambições materialistas de riqueza, à custa de exploração dos Trabalhadores do Futebol;
d) Fora do poder político é mais fácil, o Futebol Profissional, seguir o seu caminho, mais livre e, sobretudo, com maior dignidade, que muitos ainda possuem."

23 nomes para o Mundial russo

"Da costa do Oceano Atlântico até perto dos Montes Urais. Desta vez, os limites geográficos do continente europeu explicam a viagem que 23 jogadores esperam fazer em Junho, em direcção ao Campeonato do Mundo da Rússia. Fernando Santos diz que apenas Cristiano Ronaldo tem lugar garantido, mas a cerca de um mês do anúncio dos escolhidos, as dúvidas já são muito poucas. E há vários jogadores indiscutíveis.
Na baliza não sobram dúvidas, porque José Sá perdeu um possível lugar no torneio russo quando Iker Casillas regressou à baliza do FC Porto. Bruno Varela, titular do Benfica, é a opção mais forte caso surja uma baixa de última hora.
Rui Patrício foi o melhor guarda-redes do Campeonato da Europa, onde assinou algumas das melhores exibições da carreira. É titular da equipa nacional há quase oito anos e um nome absolutamente incontornável para Fernando Santos.
Anthony Lopes vai avançar para a segunda fase final da carreira, numa altura de plena afirmação no Lyon. O guardião nascido em França teria qualidade para discutir a titularidade da baliza do finalista vencido do Euro 2016, mas na Selecção de Portugal ficará mais alguns anos na sombra de Rui Patrício. No entanto, Anthony Lopes é uma garantia de qualidade caso surja algum tipo de impedimento do guarda-redes titular.
Beto falhou o Euro 2016 devido a lesão, mas saiu a tempo do banco do Sporting e é agora o titular crónico dos turcos do Göztepe. O regresso às escolhas de Fernando Santos foi natural e Beto, aos 35 anos, deverá fazer mais uma fase final de uma grande competição. A estreia foi em 2010, no Campeonato do Mundo da África do Sul.
A defesa tem várias opções para as laterais, mas é no centro que moram algumas dúvidas e outras tantas angústias. Apesar de tudo, o aparecimento de Rúben Dias trouxe uma nova e interessante opção ao engenheiro do Euro.
Cédric Soares faz da regularidade marca de água, tanto no clube (o Southampton, nesta última época) como na equipa nacional. Para além disso, foi um dos melhores jogadores portugueses na Taça das Confederações. O outro lateral direito escolhido por Fernando Santos deverá ser Nélson Semedo, apesar da utilização irregular no Barcelona.
Raphaël Guerreiro será o titular do lado esquerdo da defesa, onde exibe uma capacidade ofensiva que poderá ser um trunfo importante para Portugal em vários momentos. Precisa de se afastar as lesões, que lhe têm roubado muito espaço competitivo. Mário Rui chegou apenas em Março às escolhas do seleccionador nacional, mas aproveitou de forma brilhante a ausência de Fábio Coentrão e poderá vir a reclamar um lugar nos 23 convocados.
Pepe e mais três. Assim começa a lista de centrais, porque o defesa do Besiktas é, provavelmente, o segundo jogador mais influente da Selecção Nacional da última década. Como é muito provável que Fernando Santos não deixe cair aqueles que o acompanharam no Euro, Bruno Alves e José Fonte também devem ouvir o nome na convocatória, no próximo mês. No entanto, nem um nem outro estão a ter temporadas exuberantes. Bruno Alves tem tido um percurso abaixo do esperado nos escoceses do Glasgow Rangers e José Fonte está no campeonato chinês (no Dalian Yifang, orientado por Bernd Schuster), num degrau competitivo muito inferior àquele que vai encontrar se estiver entre os convocados para o Mundial. Ganha por isso força a candidatura de Rúben Dias à titularidade, a quem apenas uma inoportuna lesão roubou a possibilidade de fazer a estreia num dos últimos registos da equipa nacional, frente ao Egipto e à Holanda.
No meio-campo as escolhas são várias e de qualidade, mas a lesão de Danilo Pereira (que poderia ser também opção para o lugar de defesa central) é um revés importante para Fernando Santos. William Carvalho, João Moutinho e João Mário são indiscutíveis e a lesão de Danilo abre a porta a Adrien Silva, que poderia ter o lugar em risco, apesar de estar agora a jogar de forma mais regular no Leicester. E o antigo capitão do Sporting até é uma opção fiável para o lugar de médio defensivo. Manuel Fernandes está a agarrar bem a segunda oportunidade para ser feliz na Selecção, surgida devido ao percurso brilhante no Lokomotiv de Moscovo. Por último, Fernando Santos não irá deixar de fora a exuberância de Bruno Fernandes, um dos maiores talentos da Liga Portuguesa e do Sporting.
Os lugares do ataque oferecem ainda menores dúvidas: Bernardo Silva é, actualmente, o segundo melhor jogador português, Gelson Martins e Ricardo Quaresma podem ajudar a desbloquear qualquer encontro e Gonçalo Guedes ganhou merecido espaço, devido a uma temporada de altíssimo nível, no Valencia (e pode ser a melhor opção caso seja necessário substituir André Silva). Na frente está uma dupla sem discussão e com muitos golos: André Silva e Cristiano Ronaldo, um dos mais extraordinários jogadores da história do futebol. O capitão da Selecção Nacional vai somar, na Rússia, a nona grande competição ao serviço de Portugal (contando com a Taça das Confederações do ano passado).
De fora desta possível lista de Fernando Santos ficam os laterais Ricardo Pereira, João Cancelo, Kévin Rodrigues, Fábio Coentrão e Antunes, os centrais Luís Neto e Rolando, o lesionado Danilo Pereira, Rúben Neves (apesar da grande temporada ao serviço do Wolverhampton), Renato Sanches (afastado da equipa nacional há mais de um ano), André Gomes (mesmo fazendo parte do núcleo duro de escolhas, vive um carrossel desportivo e até emocional no Barcelona), Pizzi, Rony Lopes (que está claramente a bater à porta da Selecção, graças à grande temporada no Mónaco), Bruma e Rafa.
Nani, um dos nomes maiores da equipa portuguesa, perdeu espaço de manobra na Taça das Confederações e não deverá regressar à Rússia para jogar o Mundial.
Éder, o herói da luva branca, cravou o nome nas memórias da final do Euro, mas dificilmente fará parte do futuro imediato de Portugal. Até porque a história quase nunca se repete.

P.S. - Depois do campeonato, hoje há clássico na Taça de Portugal. Ambos os jogos em Lisboa, ambos com o FC Porto num dos lados do relvado. Sérgio Conceição conseguiu colocar os azuis e brancos no caminho das decisões nas duas principais provas portuguesas e parte em vantagem para Alvalade, da mesma forma que saiu da Luz a pisar o caminho do título, depois de uma segunda parte em que levou a sério a ambição de vitória na casa do rival encarnado.
Seja qual for o desfecho da temporada portista, os méritos do treinador do FC Porto são indesmentíveis e partem (para além da qualidade e das questões táticas) de uma vontade quase inquebrantável que Sérgio Conceição conseguiu colocar como santo e senha do balneário portista. 
Descontados alguns erros estratégicos (prontamente assumidos e corrigidos pelo técnico) e um ou outro excesso de linguagem, Sérgio Conceição está a fazer uma época acima de qualquer suspeita a todos os níveis, conseguindo coser as ambições azuis e brancas com as limitações próprias do actual contexto orçamental do provável novo campeão nacional.
Hoje, em Alvalade, a competência do treinador portista volta a ser desafiada, mas já não está dependente de um jogo, de um resultado ou mesmo do triunfo numa competição."

Sporting: coisas que têm ser ditas

"1. O presidente da Mesa da Assembleia Geral (PMAG)
O PMAG anunciou, urbi et orbi, que o presidente da direcção (PD) não tinha condições para continuar à frente dos destinos do clube e que enquanto ele lá permanecesse não haveria paz.
Quero crer que quem ocupa uma tão elevada posição no clube não profere, seguramente, tão graves afirmações de ânimo leve.
O PD respondeu ao PMAG da forma que sabemos, ou seja, com um ácido ataque pessoal, que foi até Vila Nova de Poiares. A partir daí, o PMAG guardou de Conrado o prudente silêncio. Atitude que me custa a perceber, porquanto se o Sporting corre grave perigo institucional que o PMAG assinala, só lhe resta extrair as óbvias conclusões, ou seja convocar uma assembleia geral, para destituir o PD, nos termos estatutários; pode fazê-lo, por sua exclusiva iniciativa, nos termos da alínea a) do nº 1 do artº 51º dos estatutos.
Com uma agravante, é que esta inércia do PMAG pode muito bem interpretar-se , como receio de ser, ele próprio, destituído, ou seja ir buscar lã e sair tosquiado.
2. O presidente da direcção (PD)
Concedo que o PD, nas suas próprias palavras, sendo também pai e filho (?), não é robô nem é parvo. Só que também é bom que não se convença que os outros são parvos. Digo isto porque, por mais pretextos a que recorra para não se cruzar com a equipa de futebol profissional, é evidente que existe um absoluto mal-estar (é o menos que se pode dizer) entre ambos.
Compreendo a táctica do PD, que é o de fazer-se de morto e de vítima (quando fala), à espera que a tormenta passe e alguns resultados ajudem. Esta postura poderá ajudá-lo a ultrapassar o síndroma dos lenços brancos e da indignação dos adeptos, e, no essencial, a manter-se no lugar de que tanto gosta. Não resolve , porém, a questão relacional com a equipa.
Como o Sporting não é o Olympiacos, em que o presidente é dono do clube e corre com os jogadores e treinadores, a seu capricho, para se restabelecer a normalidade, o PD, que não é dono do clube, terá necessariamente, no mínimo, de se retratar e pedir desculpas pelos actos irreflectidos que praticou. E a questão que se coloca é esta: será ele capaz?
No entretanto, reina a paz podre, o equilíbrio instável, que mina a dignidade institucional do clube e faz dele notícia, pelas piores razões, por esse Mundo fora.
3. Um PD em burn out; um PMAG e um PD de candeias às avessas; um PD que se incompatibilizou com a equipa principal de futebol, a SAD a propor o adiamento do reembolso de um empréstimo obrigacionista, que é sempre um péssimo sinal para o mercado.
Sinais preocupantes de uma profunda crise. Não será altura de os sócios se pronunciarem?"

O páthos Olímpico

"O poeta Herberto Helder (1930-2015) lembrava que os gregos antigos não escreviam necrológios. Quando alguém morria perguntavam apenas: “Tinha paixão”? Para eles, tudo devia estar provido de paixão e tudo aquilo que não estivesse era censurável. A palavra grega páthos significa paixão, sentimento, emoção, um estado de alma que, na Grécia antiga, se traduzia na luta competitiva em busca da vitória cujo sentido transcendental da disputa atribuía ao desportista sentimentos para além de uma dimensão exclusivamente terrena.
Por isso, quando cultivavam o gosto pela luta, os gregos antigos desenvolviam o talento e a vocação através da competição. Ao fazerem-no, tornaram-se pedagogos tremendamente eficazes. Porque, conforme referiu Nietzsche n’ “A Competição em Homero”, a competição, enquanto ethos (costume, hábito), desencadeia o indivíduo ao mesmo tempo que o reprime e disciplina, segundo o jogo sagrado entre o logos (lógica) das leis eternas da vida e os ditames da moda e da cultura. Assim, no mundo grego, era impossível separar a palavra agôn da tríade jogo, festa e sagrado. Porque, na defesa da “nobreza de espírito”, o sentimento que devia resultar da disputa entre dois rivais valorosos não era o ódio ou a vingança, mas o respeito, porque um antagonista de brio proporcionava ao outro a possibilidade de se conhecer a fim de, continuamente, renovar as suas forças vitais em busca da excelência.
O páthos grego, na sua paixão competitiva, tinha expressão fundamental nos Jogos que se realizavam em diversos locais da Grécia antiga, dos quais o mais famoso era, sem dúvida, Olímpia. Ao tempo, os gregos viajavam longas distâncias para participarem nos grandes festivais de destrezas, de lutas, de corridas, de récitas, de música e de dança que eram os Jogos Olímpicos (JO) realizados em honra de Zeus, o rei dos deuses mas, também, para consultarem os oráculos e ouvirem as previsões das musas, cassandras e pitonisas, a fim de ultrapassarem as dúvidas e anseios das suas vidas de modo a organizarem o futuro que lhes fosse mais conveniente.
Os Jogos eram o ponto nevrálgico da vida grega que, numa perfeita euritmia de compromissos, de emoções e de sentimentos, entre o homem, a natureza e a sociedade, tinham por base o ethos, quer dizer, a ética de uma cultura de competição que não se restringia só ao desporto. Se a música, a dança ou a declamação eram geridas pela deusa da alegria, do prazer e do divertimento, de seu nome Paidia, o logos dos exercícios e do treino que preparavam o corpo e o espírito para a luta competitiva, que decorria sob o comando de Ares o deus da guerra, podia ir até à violência selvagem cantada por Homero quando Aquiles, na loucura de uma vingança descontrolada, maltratou o cadáver de Heitor, arrastando-o com o seu carro de guerra à volta das muralhas da cidade de Troia, depois de o ter vencido num combate de morte. Como refere Nietzsche: “… o ser humano, nas suas mais elevadas e mais nobres energias, é inteiramente natureza e transporta consigo o inquietante duplo carácter daquelas”.
Contudo, continuava o filósofo, “as suas capacidades terríveis e consideradas desumanas talvez sejam até o solo fértil donde exclusivamente pode brotar tudo o que seja humanidade, sob a forma de sentimentos, acções e obras”. Porém, para que tal aconteça é necessário que o indivíduo esteja provido de páthos, isto é, de sentimentos de superior elevação que o projectem para além da mediocridade do atávico usufruto de ridículas mordomias terrenas, quer dizer, do mal de húbris daqueles que, pelo poder autocrático que usufruem, se julgam na presença dos deuses do Olimpo.
Para Coubertin, o desporto devia ser uma paixão. Para ele, o homem moderno, na sua paixão pelo desporto, devia “ver longe, falar franco e agir firme”, quer dizer, afirmar a distância da sua nobreza perante os outros. Era o “páthos da nobreza e da distância” de uma elevada “estirpe senhorial” que devia ser a condição, isto é, o ethos, de qualquer atleta, bem como de qualquer treinador ou dirigente. Georges Rioux afirma mesmo que as numerosas publicações de Coubertin revelam o logos da sua enorme paixão que chegava até ao “fundo do coração”. Para ele, uma vez que tinham sido instituídas restrições à incorporação militar abaixo de um certo limite de idade, os adolescentes, na sua conquista da vida, tinham a oportunidade de, pelo desporto, se compararem aos homens e, deste modo, encontrarem “um espaço de aventura e de paixão enquanto alimento racional da imaginação”. 
Porque, se a cultura do tempo proclamava um novo quadro de valores, Coubertin, tendo como meio a educação desportiva, sugeria um super-atleta capaz de enfrentar os desafios colocados pela nova sociedade. Tratava-se de instituir um novo paradigma para as actividades físicas de carácter recreativo que, do ponto de vista ideológico, se deviam organizar numa nova lógica (logos) de valores centrada na universalização de uma competição desportiva estandardizada à escala mundial e aberta à participação de todos os atletas, independentemente da sua nacionalidade, fé religiosa, condição económica ou grupo social. E, na lógica do Princípio do Ostracismo, Coubertin defendia que para que a competição se pudesse desenvolver à escala máxima ela devia ser regulamentada. E até propôs um Juramento Olímpico que os atletas, a fim de participarem nos JO, deviam honrar.
Por isso, o pathos olímpico não se tratava de uma “paixão sensorial” em busca das regalias da vida como hoje vemos por aí. Como Coubertin teve a oportunidade de expor no Congresso de Psicologia Desportiva realizado em 1913 na cidade de Lausana, tratava-se de uma paixão existencial que, como todas as paixões deste tipo, embora pudesse criar problemas maiores, os benefícios ultrapassavam, em muito, as eventuais desvantagens. Nestes termos, preconizava uma “sã paixão”, como expôs numa mensagem que dirigiu à juventude americana, com o objectivo de a motivar para o aperfeiçoamento pessoal e social pela prática desportiva.
O páthos, para os gregos antigos, significava, também, amor à verdade. Neste sentido, para Coubertin, o Olimpismo moderno, antes de tudo, devia exprimir amor à verdade competitiva que, quer em termos pessoais, quer em termos sociais, teria, sempre, de ser justa, nobre e leal. Quer dizer, o Olimpismo moderno devia ser muito mais do que um sistema de valores. Devia ser “um estado de ânimo” surgido do duplo culto do esforço e da euritmia”. Só assim, o páthos Olímpico, paradoxalmente, podia aparecer associado a duas características fundamentais da condição humana, o gosto pelo excesso e o gosto pela moderação que, para Coubertin, embora contraditórios, estavam “na base de toda virilidade completa”. Tratava-se, de uma abordagem apolíneo-dionisíaca do fenómeno desportivo que ele, muito possivelmente, foi buscar a Nietzsche para quem a dialéctica entre Apolo e Dionísio era uma das questões centrais do seu pensamento, uma vez que a existência de cada uma daquelas divindades dependia da existência da outra. Nesta conformidade, em Coubertin, o dionisíaco gosto pelo excesso do atleta capaz de realizar feitos extraordinários dependia do apolíneo gosto pela moderação eurítmica do rigor do treino desportivo conducente à conquista de resultados e de recordes.
Assim, ainda hoje, o páthos olímpico requer um sentimento de ligação afectiva a um humanismo universal num contexto pluricultural baseado nos princípios, há muito, expressos na Carta Olímpica pelo que não se compadece nem pela redução do Olimpismo à contabilidade das medalhas olímpicas, nem pelo “dress code” das mordomias dos presidentes dos Comités Olímpicos Nacionais (CONs). Desde logo porque significa a nobreza de uma elevada ascendência no sentido da busca da superação pessoal, numa ética de autenticidade, ao serviço do social.
Por coincidência ou por projeção do passado na atualidade olímpica, Coubertin atribuiu ao atleta a imagem do super-atleta tal como Nietzsche já o havia feito na representação que fez do homem na imagem do super-homem. Cada um deles, tanto o super-atleta quanto o super-homem, em busca da superação e da transcendência. Hoje, o “atleta limpo”, o “treinador limpo” e o “dirigente limpo”, tal como na Grécia antiga em que tudo aquilo que não pressagiasse páthos era objecto de crítica, são expressões que decorrem da Agenda 2020 do Comité Olímpico Internacional (COI) que se propõe erradicar do mundo do desporto a utilização de meios fraudulentos a fim de conseguir a vitória tanto nos terrenos de jogo quanto fora deles como está a acontecer com a corrupção do carácter que tomou conta dos dirigentes de alguns CONs por esse mundo fora. Sempre que tal acontece, os propósitos que decorrem dos princípios e dos valores olímpicos não passam de frases feitas sem qualquer sentido para além da, cada vez mais habitual, “conversa fiada” que, tanto no domínio da acção dos governos quanto do associativismo desportivo, tomou conta do discurso dos dirigentes.
Quando tal acontece, o Olimpismo, em vez de promover uma força emocional vinda do interior de cada um, representa a mais completa frieza que caracteriza a falta de páthos de uma burocracia institucionalizada no poder desportivo, público e privado que, pelo oportunismo dos interesses pessoais, tem vindo a corromper a generalização da prática desportiva e os próprios JO transformando os CONs em simples comités de alta competição ao serviço dos regimes políticos. 
Todavia, para Coubertin, os JO deviam ser um evento espiritual com o objectivo primordial de transformar os princípios, os valores, as normas, os procedimentos e os rituais olímpicos, numa certa religiosidade a fim de colocar o praticante desportivo numa situação de superação pessoal e social em busca da excelência a que os gregos antigos chamavam de areté.
Quando, hoje, por esse mundo fora, vemos os dirigentes olímpicos: serem apanhados pela corrupção; viverem obcecados pelas mordomias dos lugares que ocupam; estarem mais interessados nas luzes da ribalta e no culto de personalidade do que nas verdadeiras questões do desenvolvimento, temos de concluir que estamos perante gente: Sem ethos porque são incapazes de, no respeito pelo passado, promover um projecto partilhado promotor de futuro. Sem logos porque estão a promover um sistema desportivo ausente de valores, de cultura e de projecto. Sem pathos porque não têm paixão, emoções e sentimentos para além daqueles que o circo romano em que estão a transformar o desporto lhes pode proporcionar.
Os gregos antigos, quando alguém morria, perguntavam apenas: “Tinha paixão”?"

A chave de uma derrota

"O Porto deste ano é superior ao Benfica, mas, resultado à parte, essa superioridade não se viu na Luz no domingo. Num jogo em que as equipas procuraram mais anular-se mutuamente do que dominar o jogo, o que fez, de facto, a diferença foi um remate improvável, mas, também, um aspeto surpreendente e erros costumeiros.
A surpresa esteve na quebra física do Benfica. Tendo em conta que, dos três grandes, é a equipa que menos jogos tem, é difícil compreender como é que, no último clássico, foi a primeira a acusar o desgaste físico. Tanto mais que essa quebra contribuiu em importante medida para o ascendente tático do Porto na segunda parte. Por isso mesmo, contra a opinião de muitos, a única substituição que Rui Vitória operou que fez sentido no contexto do jogo, foi a entrada de Samaris. O Benfica – até para preservar o empate – precisava, mesmo, de reforçar o meio campo.
O que me leva ao erro habitual. Pela enésima vez, o treinador do Benfica lançou uma equipa com uma estratégia adequada (por isso mesmo, o Benfica foi superior, mesmo que pouco contundente, na primeira metade), para, depois, ao longo dos 90 minutos, não ser capaz de se adaptar às mudanças da partida e, muito menos, às alterações tácticas que Sérgio Conceição introduziu ao intervalo.
Na segunda parte, o Porto pressionou mais alto (mas pressionou pouco) e Otávio e Brahimi (e já não apenas este) juntaram-se mais a Herrera e Sérgio Oliveira. Foi o suficiente para o Benfica deixar de conseguir construir desde trás. Mais, sem Jonas em campo e Pizzi ausente (o bragantino foi, uma vez mais, uma sombra do jogador decisivo da temporada passada), o jogo interior do Benfica não existiu, as jogadas associativas entre alas e laterais não entravam, pelo que restavam os piques de Rafa para pôr o Porto em sentido. Mas numa daquelas substituições que, à imagem do que acontece no basquetebol, parecem fazer parte de uma rotação planeada, Vitória tirou do jogo o elemento mais acutilante do Benfica – enquanto Conceição ia dando sinais (tímidos) de que queria vencer. O Porto acabou por ter a sorte do jogo, mas, de certa forma, os fundamentos da vitória estavam a emergir e assentaram na combinação de declínio físico com passividade e equívocos tácticos.
Como sempre acontece hoje em dia, terminado o jogo no estádio, este prosseguiu nas televisões. É também em domingos como este que se percebe melhor as causas para a atmosfera degradada em torno do futebol. Depois de um jogo futebolisticamente vulgar, mas muito emotivo e tacitamente interessante, os canais de televisão escalpelizavam ad nauseam a arbitragem. Fica, assim, uma vez mais, confirmado que esta obsessão nacional de tudo explicar a partir dos erros dos árbitros (que os houve), não tem nem nos treinadores, nem nos jogadores, nem sequer nos dirigentes, os seus principais responsáveis, nasce, sim, nos canais de informação e na dinâmica das audiências. Insisto num desejo: que os benfiquistas saibam resistir a este tipo de justificações para os falhanços em campo."

À sombra pacífica das mimosas...

"Se Barros foi do tempo do futebol barbudo e hirsuto, José Pedro era da época dos bons rapazinhos sacrificados...

De repente morre-nos o Barros e eu fico com vontade de exclamar como o Nelson Rodrigues ao saber da morte de Guimarães Rosa: «Morreu como, se estava vivo?».
Vivo e esquecido. Nem sequer muito recordado após a morte.
Barros era uma figura. Todo ele anos-70. Tão anos-70 que podia entrar em campo com um casaco de veludo cotelê e umas calças de ganga à boca de sino (Lee de preferência) em vez de calções que ninguém ia estranhar. E depois era daqueles que entre dar e levar jogava em toda a parte, na direita, na esquerda, no meio, geralmente como defesa mas também como centro campista se a isso era obrigado.
Fazia parte do tempo, essa ubiquidade. O meu bom amigo Minervino Pietra era assim. Pau para toda a obra. Até a ponta-de-lança o vi jogar contra uns dinamarqueses sem jeito de uma equipa chamada BK.
Barros trazia consigo aquela barba de revolucionário cubano. Entrava na Luz como se tivesse acabado de chegar de Vallegrande, na Bolívia, depois de beber um chá mate com o Che. Havia um nunca mais acabar de barbas nesse Benfica. E de bigodes. E de cabelos afro ou desgrenhados. Pareciam todos naturais de La Higuera.
Havia a barba infantil do Chalana, ainda tão miúdo que não o deixavam ir sozinho ao cinema para ver um filme da Brigitte Bardot. E a imponência guedelhuda do Moinhos, um pé de vento. Os bigodes sintomáticos de Artur Jorge e de Toni. A pilosidade arrumada de Humberto Coelho a capitão.
Sobre o tema poder-se-iam escrever livros inteiros, mas hoje vinha preparado para falar do avançado com nome de carpinteiro que nasceu lá pela brancura alentejana de Mora no idos de 1932 e não há nenhuma razão para que falte ao combinado comigo mesmo.
José Pedro pode ser nome de carpinteiro, de açougueiro, de electricista e até de roqueiro, mas ninguém desconfia que seja nome para esconder um jogador de futebol, dos bons. Foi tão bom que chegou à selecção nacional quando jogava no Lusitano de Évora nessa era em que ninguém que jogasse no Lusitano de Évora ia à selecção.
Não se pode dizer que o Alentejo tenha sido um alfobre de grandes jogadores do futebol português, mas houve alguns que atravessaram com a serenidade própria dos que dormem sestas à sombra dos carvalhos e das mimosas o risco branco da sua dimensão simplesmente regional. Patalino, por exemplo. O enorme Patalino que chegou a ser émulo de Peyroteo e teve um convite para jogar no Real Madrid. Recusou. Não gostava de viver longe do seu Alentejo e eu, que vivo no Alentejo, naquela Alcácer onde eram verdes os cavalos encarnados, tal como cantava o meu querido Carlos Mendes, percebo-o cada vez melhor, embora não ao ponto de dizer não ao Real.
Mas Patalino era um explosivo. Uma espécie de bomba relógio preparada para destruir grandes áreas adversárias nos momentos devidamente programados. José Pedro Biléu era um predador completamente diferente.
Quando veio lá do Luso Morense para o Lusitano talvez não acreditasse muito em si próprio. Foi fustigado pelas ventanias de dois acidentes que lhe poderiam ter sido fatais, mas tinha uma idiossincrasia natural das planícies, ao longo das quais o futuro e o passado são horizontes visíveis. Um dia disse: «Espero não voltar a cruzar-me com o diabo na minha vida. Já sofri bastante».
José Pedro era do tempo do futebol sem barbas, muito anos antes de Barros, o guedelhudo que parecia um soldado da Sierra Maestra. Era de um tempo em que os jornais exaltavam os bons rapazinhos trabalhadores sacrificados que se tornavam felizes com uma bola nos pés e sob os urros da multidão. A Crónica Desportiva n.º 24, que o chamou para a capa, não falhava no apodo: «A história de um rapazinho alentejano chamado José Pedro».
Não tinha nome de avançado. Mas tinha um jeito especial para aplainar a bola como se o couro fosse madeira..."