quarta-feira, 28 de março de 2018

'The future of Bruno'

"1. Muito interessante aquele congresso organizado pelo Sporting, The Future os Bruno de Carvalho. E há que enaltecer o facto de, em alguns momentos, no intervalo das suas intervenções, o homenageado ter deixado que alguns dos convidados nacionais e internacionais pudessem também dizer algo.
2. Um dos problemas do Benfica continua a ser a falta de coerência comunicacional, Luís Filipe Vieira não pode ter um discurso à Céline Dion na gala das águias (ignorando os rivais), e, dias depois, falar à Eminem na visita à Ilha Terceira (com bicadas aos rivais). Ou prima pelo romantismo da diferença ou assume o rap da ordem.
3. Creio que todos estamos de acordo que Rafael Leão é um grande talento. E, da minha parte, também não tenho grandes dúvidas que, se Jesus continuar em Alvalade em 2018/19, este menino vai fazer uma grande temporada. No Chaves ou assim.
4. É evidente que os casos em que o nome do Benfica está envolvido cheiram a esturro, mas, seja qual for o desfecho de tudo isto (e aqui abstenho-me de tirar conclusões precipitadas, ao contrário de alguns que fazem na presunção de inocência uma nota de rodapé na inequívoca sentença de culpa), o mérito desportivo das águias não pode ser colocado em causa de forma leviano. Não é pelo facto de o concurso Miss Venezuela ter sido suspenso, por suspeitas de corrupção, que vamos afirmar que as últimas vencedoras eram todas desdentadas e cheias de celulite.
5. Ainda a gala do Benfica: fazer Paulo Gonçalves passar numa passadeira vermelha era, convenhamos, metáfora evitável.
6. No outro dia fui passear à Quinta do Pisão, em Cascais. Um gigante e agradável espaço natural onde, além de outras coisas, fazem criação de burros. Nem imaginem como me fez lembrar o futebol português. A diferença é que ali a maior parte dos burros não anda à solta."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

PS: Eu sei que não é fácil ser Benfiquista na redacção de um jornal desportivo em Portugal, mas sentir-se obrigado a dar 'bicadas' ao Benfica, todas as semanas, só para dar a ideia de imparcial fica mal... Até porque o Vieira na Terceira, se tivesse mesmo sido 'Eminem' teria tido um discurso muito diferente...!!!
E já agora o cheiro a esturro, deve ser do roubo de correspondência privada, e sua respectiva divulgação, provada e assumido, e que aparentemente, ninguém se interessa!!!

Gonçalo a cumprir o destino

"O físico de sprinter e o espírito de lutador sugerem apenas sensações explosivas e vertiginosas; os blocos de partida para as loucas correrias a que se propõe podem estar à direita ou à esquerda, mais atrás ou mais à frente – o primeiro instinto é vê-lo mais como atleta pronto a ir ao fundo de si mesmo do que propriamente como futebolista, até porque a estética não ajuda quando arranca, de cabeça baixa, com a bola nos pés, aparentemente indiferente ao que o rodeia. Gregorio Marañón (1887-1960), médico, escritor e filósofo espanhol, não pensava no pontapé na bola quando verbalizou um dos grandes problemas do futebol nas últimas décadas: "A velocidade, que é uma virtude, cria um vício, que é a pressa." É precisamente na contextualização desse raciocínio que Gonçalo Guedes sustenta armas futebolísticas extraordinárias que o têm transformado numa das grandes figuras da liga espanhola. Ao contrário de outros, não é preciso dizer-lhe que nem todas as iniciativas acabam em golo; que há vantagens em jogar com os outros e a velocidade pode ser inimiga da precisão.
Por consistência táctica, físico e talento, GG pode jogar nos dois flancos e iniciar a acção a partir de terrenos que o definem como extremo ou médio – está apto para o 4x3x3 e para o 4x4x2. Mas é tão abrangente e multifacetado que pode até evoluir na zona central, como ponta-de-lança puro ou como avançado mais recuado, estabelecendo ligação entre a equipa e o golo, à semelhança do que fez no Benfica durante os meses da época passada em que Jonas esteve lesionado. É um atacante de toda a frente ofensiva, por onde se move com visão e agressividade; que conquista pela entrega generosa mas só atinge o máximo quando toma decisões, a esmagadora maioria das quais contundentes. É um jogador para quem a travagem é tão importante quanto a aceleração; que não quer enganar, atropela; não lhe interessa chegar primeiro, mas chegar bem; parecendo simpático, não tem contemplações com os adversários.
Assumindo o perfil de constante detonador de armadilhas nos terrenos que pisa, GG assenta numa das principais armas dos jogadores de eleição: nunca tem urgência no que faz, mesmo quando dispara a 250 km/h, para galgar terreno e ultrapassar quem lhe surge ao caminho. Ao contrário de tantos outros, a velocidade supersónica de deslocamento, o frenesim dos gestos e os impulsos reveladores da obstinação que o comanda transportam a frieza necessária ao cumprimento da missão e a inteligência sem a qual o rasto de desgraça que para trás fica não teria consequências. No fim das loucas correrias, que deixam tudo fora do lugar, há sempre o momento das opções acertadas, reflectidas e até estudadas. Não é normal que um cavalo selvagem deslumbrante conclua com a serenidade de um monge budista, que olha, vê, analisa e resume tanto esforço a um passe milagroso que deixa o golo à distância de um simples toque ou que ele próprio assina, tantas vezes com desvios subtis e surpreendentes.
Antes de despertar para a regular exaltação de um futebol superior, que conquistou Valência e o campeonato espanhol, GG revelou a consistência emocional de um jovem precocemente maduro, que entendeu cada missão táctica que lhe foi concedida e nunca se diminuiu por lhe exigirem menos do que o talento criativo permitia oferecer. Picasso dizia que "a inspiração, quando chega, apanha-me sempre a trabalhar". A GG também nada lhe cai do céu: quando as musas acordam já ele está suado de tanto trabalhar para a causa como qualquer operário. Desde criança que ouve os elogios merecidos para a qualidade desde logo revelada. A sua grande vantagem foi saber interpretar cada passo da carreira até reunir condições para cumprir o destino de toda a vida: transformar-se num dos melhores jogadores portugueses.

A insatisfação de Seferovic
Perdeu o lugar e, pior do que isso, tornou-se o 3º avançado da equipa
Seferovic não entende a opção de Rui Vitória. Como sempre acontece nestas circunstâncias, o suíço não se queixou para ouvir explicações mas para pressionar o treinador a mudar de opinião, tarefa normalmente condenada ao fracasso. Aliás, é evidente que as razões estão na mudança de sistema – e as táticas são um exclusivo do treinador. Perdeu uma boa ocasião para estar calado.

Bruno Fernandes com boa resposta
O médio leonino não foi engolido pelo desacerto da Selecção Nacional
Bruno Fernandes foi, de entre aqueles que não estão garantidos no Mundial, quem melhor se expressou com a Holanda. É bom que o tenha feito porque, em comparação com as restantes opções, é o único médio a desempenhar a função de apoio ao avançado. Face ao desastre colectivo com a Holanda, seria injusto que alguém fosse riscado por isso. Mas há disponibilidade para enaltecer quem se salvou.

A convocatória mais complicada
Se o Mundial fosse para a semana, Fernando Santos tinha muito que pensar
Abdiquemos de reflectir sobre 11 (3 guarda-redes e 8 defesas) dos 23. Dos 12 que sobram, 8 estarão garantidos (William, Danilo, Moutinho, Gelson, Bernardo Silva, Quaresma, André Silva e CR7), pelo que só faltam 4. A sair do seguinte grupo: João Mário, Adrien, André Gomes, Manuel Fernandes, Bruno Fernandes, Gonçalo Guedes, Rony Lopes, Nani… Irra! Quem disse que o cargo de seleccionador é fácil?"


PS: A sério, existe dúvidas sobre o Guedes... ou o Nani?!!! E o Rafa não conta?! Será que para ser opção para a Selecção, é preciso ser opção para o banco na sua equipa, estilo Adrien, João Mário, Nani...?!!!

E apesar da gritaria

"A Selecção de sub-21 está apenas a dever uma coisa a Portugal: um título europeu. Já houve gerações brilhantes - a de 2015, com craques como Raphaël Guerreiro, William, João Mário ou Bernardo Silva - é apenas um de muitos exemplos, mas a verdade é que perdemos as duas finais onde estivemos e ambas por clara infelicidade: a de 1994 no prolongamento, depois de dominar a Itália, e a tal de 2015 no desempate por penáltis, depois de 120 minutos 'em cima' da Suécia.
Olhamos para a equipa actual e a pergunta é: de onde sai tanto talento? O futebol português tem tido esta capacidade incrível de se regenerar e, nos últimos anos, não se pode falar de uma geração de ouro, como se fosse uma excepção na história. Da equipa actual de sub-21, que até começou mal esta qualificação para o Euro'2019, é fácil perspectivar meia dúzia de futebolistas a jogar consistemente ao mais alto nível muito em breve. Arrisco: Diogo Dalot, Ferro, João Félix e Rafael Leão estarão entre eles.
Tanto talento formado de forma tão repetida só mostra que por baixo da gritaria espessa de muitos dos seus dirigentes, seja em nome próprio ou das máquinas de propaganda, os clubes portugueses trabalham muito bem, conseguindo detectar e potenciar talento como poucos. Com uma população muito inferior à da maior parte das grandes potências, é notável que Portugal se consiga bater de igual para igual em todos os escalões. Pena é que, no meio de tanto barulho desnecessário, pouca gente repare nisso."


PS: Destacar 4 jogadores, desta selecção de sub-21, e não falar do João Carvalho, do Yuri e do Diogo Gonçalves... e depois 'enfiar' o Rafael Leão, que nestes dois jogos, deu o contributo de 'Zero', é mais um exemplo, da cobardia do politicamente correcto nojento...!!! Se o Krithinas tivesse evidenciado que esta selecção de sub-21, é praticamente uma equipa de Benfiquistas, provavelmente seria despedido no dia seguinte...!!!

Chega de ruído, regressa a Liga

"Depois de uma jornada de Selecções em que Portugal, nos AA e nos sub-21, mostrou uma incompatibilidade total com as primeiras partes (como os mais jovens a corrigirem, na metade complementar), regressa já a partir de amanhã (D. Aves - V. Setúbal) a Liga, que prosseguirá sem mais interrupções até à jornada 34. Depois de um interregno aproveitado para fazer subir o nível do ruído, a discussão passa agora para dentro das quatro linhas, as centrais de intoxicação vão ser obrigadas a dar algum espaço aos únicos artistas relevantes, jogadores e treinadores, e tudo será decidido na base do mérito (o VAR trouxe mais transparência ao futebol).
No entanto, seria ingenuidade a mais pensar que, até ao fim do campeonato e quando todos os jogos valem como finais, não vamos assistir a acções de terrorismo verbal, pressões mais ou menos encapotadas sobre os árbitros e a um indigna suspeição sobre os jogadores. Esta temporada de 2017/18, quiça por qualificar, por cá, menos um clube para a liga milionária, vai passar à história como o mais torpe e vil fora das quatro linhas de que há memória. Mas será que alguém retirará ensinamentos do cenário apocalíptico criado? Tenho dúvidas fundadas, há muitos anos, de que o futebol consiga autorregular-se a temporada em curso mais não fez do que aprofundá-las. Alguém, na chamada indústria doméstica do futebol, estará interessado em falar de coisas sérias? Por exemplo do valor irrisório das multas e do desrespeito pela disciplina caseira, em contraste com o temor reverencial da mão dura da UEFA? Ou da vigente regulação faz de conta das claques, que só existe para inglês ver?"

José Manuel Delgado, in A Bola

Mais bola, menos palavras

"Estamos na fase mais intensa, carregada de dúvidas, dada a aproximação do trio da dianteira, e todos eles com muitas dificuldades para superar.

cansados do alarido descabelado que grassa por aí, os verdadeiros adeptos do futebol anseiam pelo retorno do campeonato que neste fim de semana Santa cumpre a jornada 28 ficando, depois de cumprida, com apenas mais seis para atingir o termo do calendário.
Estamos, por isso, na fase mais intensa, carregada de dúvidas, dada a aproximação do trio da dianteira, e todos eles com muitas dificuldades para superar. É também talvez por isso que alguns continuam a entreter-se com jogos florais que, nalguns casos, visam apenas desviar as atenções de aspetos verdadeiramente mais importantes.
E, se é também verdade que alguns desses protagonistas estão a encarregar-se da degradação do negócio, os jogadores transmitem-nos uma imagem completamente diversa.
E daí continuarmos todos a acreditar que verdadeiramente importante é aquilo que acontece dentro das quatro linhas do jogo, donde nos chegam as emoções que confirmam o futebol como o melhor e maior espectáculo do mundo.
Benfica, Sporting e FC Porto (jogam por esta ordem) têm, aparentemente escalas diferentes de dificuldades. Só que o futebol tem-nos dado lições em número suficiente para que não incorramos na ideia de que há vitórias antecipadas.
As deslocações dos dragões e leões, mais estes, correm riscos de grau elevado.
Os portistas costumam ser felizes no Restelo, mas nada permite supor que o cenário se repita.
Já os leões vão à capital do Minho em busca da consolidação do terceiro lugar, mas ali terão de contar seriamente com um adversário que espreita a possibilidade de lhe roubar o lugar na tabela. E uma vitória dos arsenalistas serão decididamente um passo importante nesse sentido.
No estádio da Luz, o Benfica abre as hostilidades da jornada sendo anfitrião de outra equipa minhota, o Vitória de Guimarães. E mesmo tratando-se de uma equipa que procura vencer sempre, o conjunto de Rui Vitória terá de fazer pela vida, sem ficar à espera que o resultado acontece sem pouco ou nada fazer para o construir.
Esta é, pois, uma jornada que nos pode trazer grandes novidades.
E, mesmo depois de uma esgotante (para alguns) ronda internacional, será uma boa prenda de Páscoa se tivermos todos a oportunidade de assistir a desafios de futebol de grande qualidade."

Equipas B versus Sub-23

"Depois de complexos estudos (!), a FPF lançou a ideia de um campeonato de Sub-23, idade tão flexível que até admite jogadores mais velhos.
Afinal tratar-se-á de uma extensão dos campeonatos de juniores, sem especial motivação competitiva, apenas para manter em actividade jogadores que ainda não justificaram transição para outros patamares, no próprio clube ou noutros.
Provavelmente será outro projecto falhado, como aconteceu há uns 15/20 anos, primeiro com os "clubes satélites" e depois com a 1.ª versão das equipas B que, competindo na antiga 2.ª Divisão B (3.º escalão nacional), não permitiram a desejada evolução dos jovens chamados, acabaram por descer de divisão e desaparecerem.
A actual versão, inicialmente com 6 equipas B, foi diferente: integradas na 2.ª Liga, o desafio tornou-se motivador para os jovens, "obrigou-os" a progredir e fê-los saltar rapidamente para o patamar superior; e as próprias equipas foram competitivas, apenas com duas despromoções em 6 anos (uma com imediato regresso) e até um campeão improvável, o FC Porto B, na época 2015/16.
Por isso, não se entende o aparente entusiasmo com que alguns clubes estão a encarar o abandono das suas equipas B, depois de o próprio presidente da Liga, Pedro Proença, ter revelado que "o futebol português não pode abdicar de mais de 275 milhões de euros da transferência de jogadores das equipas B desde 2012. No início de 2017/18 foram transaccionados mais de 132 milhões só com futebolistas que actuaram nas equipas B." (Record, 23-03-2018).
A título de exemplo, os convocados para os jogos da selecção com o Egipto e a Holanda que passaram pelas equipas B: André Gomes, André Silva, Bernardo Silva, Gelson Martins, Gonçalo Guedes, João Cancelo, João Mário, Ruben Dias…
Mas, apesar do que fica dito, temos de reconhecer que nem tudo será mau no projecto do Campeonato dos Sub-23; haverá é que o rodear de outros aliciantes, incluindo uma ligação directa com as equipas B. Passamos a explicar.
A 2.ª Liga será disputada por 18 equipas, devendo fixar-se o número de equipas B em 4. Mantém-se o sistema actual, com 2 subidas à I Liga e 4 descidas: 3 para o campeonato de Portugal e a equipa B pior classificada, independentemente da posição na tabela, para o campeonato Sub-23, cujo vencedor ascende à 2.ª Liga.
Este sistema não impede os clubes de terem equipa B e equipa Sub-23; e irá permitir a outros emblemas da I Liga (Belenenses, Boavista, Setúbal, Marítimo, Rio Ave, etc.) virem a competir na 2.ª Liga com equipas B, alterando a rigidez da escolha inicial, que sempre foi objecto de crítica."

A seleção e os portugueses em depressão

"Os portugueses adoram entrar em depressão com o futebol e os dois jogos que a selecção nacional fez esta semana na Suíça, contra Egipto e Holanda, deram-lhes um pretexto ideal para o fazerem. Sim, foi quase tudo muito mau. Mas sim, também foram jogos particulares, que – mais ainda nesta fase – servem para que se tirem ilações. Não acerca do real valor de uma equipa, que o passado está cheio de casos de equipas miseráveis na preparação e depois ganhadoras na competição, mas acerca do que ela deve e não deve fazer. E a esse respeito a passagem por Zurique e Genebra foi rica.
O jogo com a Holanda, então, foi um tesouro, porque mostrou muitas verdades ao seleccionador. Portugal teve muita posse, mas zero intensidade, pouca ou nenhuma presença na área e falhas comprometedoras atrás. Conclusões? À frente de todas a de que o plano com Ronaldo como referência única do ataque só pode servir em noites nas quais a equipa nacional não tenha de fazer as despesas do jogo, em que possa apostar mais nos momentos de transição ofensiva, com adversários que saiam mais da toca do que fez esta Holanda. Porque apostar mais no momento de ataque organizado e depois verificar que não há ninguém na área – porque Ronaldo rende mais em mobilidade e porque não lhe juntou um primeiro avançado que ao mesmo tempo ocupe o espaço e o liberte – equivale a um tiro no pé futebolístico.
Depois, há a questão do meio-campo. Se houve boa notícia para os adeptos portugueses após a vitória no Europeu foi a do aumento das opções para o meio-campo. Sucede que elas esta época estão a minguar, porque André Gomes, Adrien Silva e João Mário têm feito uma época muito abaixo das suas reais possibilidades. Contra a Holanda, ainda por cima, Santos optou por colocar um André Gomes sem ritmo nem bastão de comando – notou-se bem a diferença quando entrou João Moutinho – a manobrar na sala de máquinas, remetendo Manuel Fernandes para a esquerda, naquela posição que pressupõe ser ao mesmo tempo ala e terceiro médio-centro e que costuma ser ocupada por… André Gomes. Ora se Portugal jogou com Ronaldo a fazer de André Silva, Bruno Fernandes a fazer de Ronaldo, Manuel Fernandes a fazer de André Gomes (ou João Mário) e André Gomes a fazer de William, é normal que as coisas tenham saído mal e que tenha perdido largo.
Resta a questão Quaresma. Antes destes dois jogos, eu próprio estava convencido de que Gelson e Quaresma eram um pleonasmo – se o titular da posição de extremo-direito vai ser Bernardo Silva, que sentido faria gastar duas vagas na lista de selecionados com dois jogadores que iam lutar pelo papel de revulsivo, de agitador para jogos que estejam a correr mal? Hoje estou convicto de que têm de ir os dois ao Mundial. Porque, além da “química” especial que tem com Ronaldo, que se viu na forma como os dois ganharam o jogo com o Egito, Quaresma é a melhor solução para momentos de desespero. E porque, como se viu no jogo com a Holanda, em que foi titular, lhe falta constância, ritmo e continuidade para ser uma primeira solução para questões que venham a colocar-se a esta equipa.
Sei que os leitores gostam sempre mais de personalizar as coisas – e prometo que em breve aqui voltarei a avaliar a evolução das possibilidades de todos os jogadores virem a fazer parte da lista final. Mas neste momento os principais sinais são colectivos. São sinais de falta de segurança atrás – Pepe faz mesmo muita falta e resta saber se Rúben Dias não terá marcado pontos, mesmo lesionado em casa – e de falta de rotinas no meio e à frente. Esta última questão, ainda assim, é menos preocupante, porque William dá à equipa mais qualidade na construção, porque André Gomes e João Mário vão melhorar, quanto mais não seja no estágio final, e porque o jogo interior que faltou contra o Egipto pode também ser fornecido pela inclusão de Bruno Fernandes, jogador cuja entrada na lista final pode ser favorecida por ele dar à equipa o que mais ninguém dá ao nível da finalização de meia-distância ou do último passe. Já aquilo que se viu atrás terá a ver com falta de trabalho de conjunto, mas também com características individuais e com a perda de qualidades que a idade traz aos atletas de alta competição."

O ‘particular’ Portugal-Espanha

"A Espanha de Lopetegui possui no meio do campo uma quase inacreditável riqueza; Fernando Santos, nas mesmas posições, conta, por enquanto, com muitas incógnitas, problemas e, até, desaparecimentos em combate

A semana das selecções mostrou uma Espanha de novo com inúmeras soluções, como no período dourado de Aragonés e Del Bosque, de 2008 a 2012 – o dos dois títulos europeus e um mundial. Lopetegui tem Isco, Asensio, Koke, Thiago Alcantara, Iniesta, uma riqueza ímpar no centro do campo. É um luxo surpreendente aplicar 6-1 à Argentina. Mesmo com Messi ausente, não é para todos. E os espanhóis, que no Mundial estarão no mesmo grupo de Portugal, não contaram com David Silva e Busquets, dispõem de Saúl e Parejo no banco, dispensam Mata e quase nem se lembram já de Cazorla, prematuramente afastado da alta competição pelas graves e sucessivas lesões.
É exactamente o contrário de Portugal, equipa na qual Fernando Santos tem três meses de incógnitas pela frente. E essas, ao contrário do que acontece com Espanha, estão quase todas no meio-campo. 
Quando faltam, ao mesmo tempo, William e Danilo, a selecção perde a bússola. Comparando com o Europeu de França, a equipa ainda não tem em Moutinho, mas sobretudo em Adrien e João Mário, os mesmos jogadores influentes dessa competição inesquecível. Estão fora de forma. Precisam de jogar mais nas suas equipas. Chegarão três meses?
O caso de André Gomes até aqui parece um mistério do domínio do sobrenatural. E, assim, Manuel Fernandes e Bruno Fernandes, sobretudo este, parecem sérios candidatos a vagas, principalmente porque já não há Renato Santos (outro desaparecido em combate) e Rafa (que ainda será hipótese?). Certo, apenas, é que o novo Nani se chama Gelson e Quaresma continua igual a Quaresma, melhor a agitar do que a utilizar de início. A peça-chave é Bernardo Silva. A selecção precisa do talento por ele demonstrado no Mónaco de Leonardo e no City de Guardiola. Essa aparição é cada vez mais urgente.
Ainda há tempo é certo, mas as dúvidas nesta zona são muitas. E, na defesa, faltando Pepe, dando folga a Patrício, dois dos baluartes do título europeu, a equipa perde estabilidade. Há muita coisa a correr mal aos jogadores, e por via disso à equipa.
No que respeita ao jogo com a Holanda, existe, no entanto, uma lição positiva a tirar: quando acabou a experiência daquele meio-campo lento, quase de futebol de salão, num tic-tac sem resquícios de dinâmica, e de jogadores fora do sítio deles, as coisas melhoraram. Na segunda parte, mesmo com dez, depois do lance em que Cancelo voltou a mostrar falta de maturidade, Portugal recuperou, foi melhor e poderia ter marcado duas ou três vezes, sobretudo porque jogou com os médios nas suas melhores posições e teve avançados: Guedes e André Silva, na companhia de Ronaldo; depois também Gelson, melhor que Quaresma. Não se ganha a jogar para o lado, como Fernando Santos bem sabe.
Os jogos com Egipto e Holanda recordam-nos de que estamos melhor do que no tempo de Moutinho-Veloso-Meireles, mas longe da época dourada de Rui Costa, Figo, Deco, até Maniche. Se nesta zona do campo as notícias não forem boas nos próximos tempos, haverá aqui um problema grave, porque Ronaldo, sendo fantástico a marcar golos, já não tem a participação criativa e a influência de antigamente.
Voltando ao Espanha-Portugal: Fernando Santos conta na frente com Ronaldo, André Silva e Gonçalo Guedes. É muito grave para a equipa a ‘perda’ de Nani, agora suplente da Lazio, emprestado pelo Valência, onde terá iniciado o ocaso de uma brilhante carreira, terceiro jogador em internacionalizações por Portugal, com 112 presenças, apenas batido por Figo (127) e Ronaldo. Do outro lado, Lopetegui possui Rodrigo (que marcou no empate com a Alemanha), Diego Costa, Yago Aspas. Pode mesmo dispensar Morata e outros grandes marcadores de golos espalhados pela Europa. 
Em todas as dimensões, a manta é mais curta do lado português e convém ter consciência disso, a começar pela imprensa desportiva nacional que todos os dias descobre génios e foras-de-série onde apenas há bons jogadores e projectos interessantes.
O percurso da selecção no próximo Mundial, tal como em França-2016, tem de ser delimitado pelo realismo. Não há alternativa, se a equipa quiser optar a um bom resultado, a uma dinâmica solidária e ao jogo colectivo, complementado com a recuperação dos jogadores por enquanto em sub-rendimento.
Outras notas:
– Os jogos destes dias evidenciaram, ainda, que o campeão mundial de futebol dificilmente deixará de sair do lote habitual: Alemanha, Brasil, Espanha e França, os principais candidatos;
– Depois desses quatro países não se descarte nunca a Argentina, a qual, apesar de Sampaoli ter um enorme campo de recrutamento, se assemelha muito ao conjunto de Fernando Santos: tem uma equipa envelhecida em algumas posições (como a de Mascherano), demasiado dependente de Messi, que precisa de todos os seus melhores e na melhor forma. Restam a Bélgica e, apesar de tudo, Portugal. Tudo o que seja fora disto, seria surpresa, com o devido respeito a Inglaterra e Uruguai, duas selecções de países que já ganharam o título;
– O Brasil, sem Neymar, venceu a Alemanha. Os actuais campeões do mundo jogaram sem vários titulares mas este Brasil já tem treinador. Tite não tem nada a ver com o folclórico Scolari. Faz, como se vê, uma enorme diferença."


PS: Mais uma daquelas analises, onde se fala de um Adrien e de um João Mário, que não jogam nos seus clubes, e nem sequer se fala do Pizzi!!!

É o individuo a medida de todas as coisas?

"É de Protágoras (século V, a.C.), o mais célebre de todos os sofistas, a frase que os séculos subsequentes têm repetido: “o homem é a medida de todas as coisas”. Aliás, o relativismo céptico dos sofistas introduziu a liberdade e a tolerância, no exercício do espírito crítico. E, por isso, a História os saúda, como factor de progresso, como activos promotores de criatividade e excelência. Recordo, neste momento, o diálogo O Sofista. Platão exagera quando os aponta, unicamente, como mercenários da ilusão e do discurso mistificador.
No entanto, ao pôr a discussão, o discernimento intelectual à procura imparável da verdade e do bem e não ao serviço do ter e do poder, Sócrates é um nosso contemporâneo, principalmente para nós os que, diante da triunfante invasão do niilismo axiológico neoliberal, defendemos a existência de valores que, para nós, se apresentam como irrecusáveis. Há muito tempo já, Marx adiantou que a função da filosofia era transformar o mundo e não pensá-lo tão-só. Mas não esqueço o que Heidegger escreveu, a este propósito: o pensamento age, quando pensa. De facto, o pensar, na sua radicalidade, está sempre próximo da acção, dado que provém do real e a ele regressa. É na “experiência vivida” (sirvo-me de palavras de Merleau-Ponty) que o real verdadeiramente se conhece. Porque tentei criar uma tese que se afirma contra todos os dualismos (corpo-alma, razão-emoção, homem-mulher, senhor-servo, natureza-cultura, etc.) - sou em crer também que há uma “solidariedade primordial” entre o pensamento e a acção.
Do que venho de escrever se infere que, no campo político, a mais lógica posição de um pensamento actual é a defesa da igualdade de oportunidades, para todos os cidadãos, e a concomitante luta contra a desigualdade económico-social. Aumentou exponencialmente a riqueza de muitos e a pauperização da esmagadora maioria das populações. A tanto conduziram as políticas de Margareth Tatcher (1979-1990) e de Ronald Reagan (1981-1989) e… doutros mais! Hoje, não restam dúvidas que os modelos neoliberais falharam (e falham) rotundamente, no que à solidariedade diz respeito, sem políticas estatais de redistribuição. Faço minhas as palavras de Vladimir Safatle, professor do departamento de filosofia da Universidade de São Paulo: “O problema da desigualdade só pode ser realmente minorado por meio da institucionalização de políticas que encontram no Estado o seu agente” (A esquerda que não teme dizer seu nome, Três Estrelas, S. Paulo, 2012, p. 23). Os nossos últimos governos aceitaram, com maior ou menor aparato, a ideologia neoliberal, onde tudo se torna mercadoria, e a própria institucionalização de políticas contra a desigualdade cheirava ao mofo da “caridadezinha” capitalista. Também as filosofias da solidariedade, de Apel, Rawls, Ricoeur, Lévinas, Dussel, Derrida, Rorty e Van Paris, enveredando embora pelo trilho de um pensamento paciente, ainda não encontraram a política que lhes permita concretizar as suas normas morais. Entretanto a desigualdade cresce, a violência alastra e há gente que ainda não viu...
A ponto chegaram as coisas que várias questões se levantam: será que não vivemos num Estado ilegal? Se as desigualdades sociais e económicas se acentuam; se há mais guerra do que no tempo da “guerra fria”; se as máquinas partidárias de muitos partidos europeus funcionam, unicamente, no interesse do grande capital e no aumento do património da minoria possidente; se a economia institucionalizada só obtém bons desempenhos à custa do desemprego, da precariedade, da exclusão; se a Lei não parece igual para todos – não estão as políticas dominantes, feridas de ilegalidade? Jacques Derrida, no livro Força de lei (Martins Fontes, S. Paulo, 2007, p. 62) assinala que o Direito reproduz e reflete os interesses económicos e políticos das forças dominantes da sociedade. E não se referia ele a Portugal. Logo nos primeiros cem dias depois de eleito, como escreve o José Manuel Pureza, no DN, de 24 de Agosto último, “Hollande só desiludiu quem sobre ele criou ilusões (…). A suposta solidez do sonho hollandista dissolveu-se rapidamente no ar com as expulsões das comunidades ciganas e a resposta sem substância à ameaça de 8000 despedimentos pela Peugeot-Citroen e de 5000 pela Air France e pela Alcatel”. Enfim, como zelador da social-democracia em voga na Europa, Hollande não foi tão radical como o Dr. Passos Coelho, mas nunca o ouviremos, em inflamado discurso, contra as injustiças do capital...
Eu sei que há pessoas que, lidos os primeiros parágrafos deste artigo, logo dirão que estou a ser exagerado ou catastrofista. Demais, acrescentarão, convictos, que as anomalias que nos cercam não passam do anúncio da Quarta Revolução Industrial. Mas quem é que nos diz, reponto eu, que não estamos mais próximos da barbárie do que de uma civilização fundada sobre a liberdade, a igualdade e a fraternidade? “Sem me meter, aqui, por uma longa digressão pelo pensamento de Tocqueville, gostaria de recordar que este grande pensador do princípio da democracia insiste nos venenos que a democracia desenvolve nela mesma e contra ela mesma. Penso nomeadamente na análise de uma grande lucidez em que Tocqueville nos mostra o homem democrático a absorver-se na fruição da sua liberdade individual, deixando crescer um poder político, que se ocupa de todos os problemas comuns, longe da atenção dos cidadãos” (Maria Helena da Rocha Pereira, in José Eduardo Franco e Hermínio Rico, coord., Padre Manuel Antunes: Interfaces da Cultura Europeia, Campo das Letras, Porto, 2012, p. 41). O mais despudorado individualismo, no mais arrogante integrismo economicista; a indiferença perante a necessidade incontornável da salvação/emancipação da humanidade; a descrença na Ressurreição, ou seja, a descrença no que há de divino em cada um de nós, que nos permite a transcendência e portanto a certeza de que não há, para o ser humano, determinismo na História – são visíveis nas democracias liberais que nos governam.
Por seu turno, o desporto, na Escola e fora dela, tem os seus ídolos: atletas de grandes qualidades físicas e técnicas, alguns deles pagos com milhões, muitos milhões, de euros, mas que se mostram incapazes de trilhar uma senda de inquieta demanda da inteligibilidade do que fazem. Há um detestável grupo de dirigentes (não são todos, eu sei), nos “três grandes” do futebol nacional, incapazes de ter a peito o respeito devido aos clubes adversários, principalmente os que podem tirar-lhes o título de “campeão”. E ainda têm a seu favor a taramela laudatória de certos plumitivos que, por um vencimento chorudo no fim do mês, passam o tempo todo, ora a proclamar as excelências de quem lhes paga, ora a sujar de lama a cara uns dos ouros e a um tal ponto que é difícil imaginar que isto possa acontecer. A história do desporto sugere que as diversas modalidades se criaram como representações de batalhas simuladas, nas quais se erguem sempre opositores, adversários, reais ou simbólicos, que importa superar, vencer. A espectacularidade desportiva fomenta, portanto, um espírito belicista e, sob o império de alguns dirigentes e de certa Comunicação Social, de carácter mesmo fascizante. Não conheço nada de mais alienante, no tempo que nos foi dado viver, do que um certo desporto de altíssima competição que, por aí, se consome, onde são múltiplos e repetidos os escândalos financeiros, onde o “doping” e a violência parecem inevitáveis, onde o desporto tem uma função, sobre as mais: legitimar as taras do neoliberalismo triunfante.
É verdade – o desporto de altíssima competição contribui inevitavelmente à legitimação e estabilização do que há de injusto, na nossa sociedade, pelo seu individualismo sem freios; porque não se cansa de turibular os “Cristianos” e os “Messis”, enquanto um número significativo de futebolistas aufere vencimentos que mal chegam para os gastos habituais de uma família; porque canaliza o pensamento e a energia populares, em direcção a problemas que nada têm de essenciais (relembro, em Portugal, nalguns casos, a estúpida, porque exagerada, rivalidade Sporting-Benfica, ou Porto-Benfica). Já o escrevi inúmeras vezes: se hoje fosse vivo, Karl Marx diria, sem receio que...“o futebol é o ópio do povo”. Não devemos, no entanto, esconder que o aumento e a proliferação de formas desportivas competitivas não violentas representam, indiscutivelmente, um importante processo civilizador. Mas, porque pertenço a uma geração que hasteou a bandeira de um aguerrido inconformismo, em defesa de certos valores, não vejo esses valores respeitados por muita gente de relevo, no futebol português. E gente que merece o aplauso pasmado da esmagadora maioria dos sócios, designadamente os mais jovens e nómadas e rebeldes, rendidos a todos os demónios do mais inflamado caprichismo, o que pode significar que um futebol, de fortes características pedagógicas, continuará a ter, no futuro, rijos opositores.
O individualismo não é a medida de todas as coisas! Mas ele é um dos mitos da sociedade capitalista, ao lado de uma competitividade que não olha aos meios para conquistar os fins e de uma hierarquia que ajuda a que se mantenha a estrutura jerarquizada da sociedade, com os dualismos habituais corpo-alma e senhor-servo. As desigualdades parecem também eternas, no futebol que reproduz e multiplica um determinado tipo de sociedade. Enfim, a presença de determinadas pessoas num certo futebol não acontece, por acaso. Não há jogos, há pessoas que jogam. E portanto o futebol será o que as pessoas forem…"

B ou não B, eis a questão

"Uma das especialidades nacionais mais populares é a destruição de valor. Pega-se no que está a funcionar e trata-se de mudar tudo. A proposta de criação de um campeonato de sub-23, e, acima de tudo, o desinvestimento nas equipas B que daí decorre, é disto exemplo.
Verdade que não vem mal ao mundo se for criada mais uma competição de formação. Só que também não se vislumbra nenhuma vantagem e o exemplo inglês que é bastas vezes referido não só não tem paralelismos em Portugal, como está longe de estar demonstrado que o campeonato sub-23 seja a explicação para o sucesso recente das selecções jovens inglesas.
Pior mesmo é a criação desta competição pressupor, de facto, o definhamento das equipas B. Ou seja, em nome da criação de uma competição de mérito incerto promove-se o fim de uma história de sucesso com alcance estratégico para o futebol português, do ponto de visto financeiro e desportivo. 
Vale a pena recordar os números: o presidente da Liga valorou em 375 milhões de euros a receita das vendas de jogadores que desde 2012 actuaram em equipas B e o rol de atletas que vingaram por força das suas passagens por estas formações é notável. Uns afirmaram-se nas equipas A e noutras equipas da 1.ª Liga, outros passaram das B para uma carreira internacional de sucesso (infelizmente, o Benfica lidera neste item, com os tristes casos de Cancelo, Hélder Costa e, acima de tudo, Bernardo Silva). Mais, de acordo com dados do analista de futebol português, Jan Hagen, nove dos 23 campeões europeus jogaram em equipas B; o mesmo sendo verdade para 20 dos seleccionados do último Mundial de sub-20. Sintomaticamente, a Selecção sub-21, depois de ter falhado três vezes consecutivas a qualificação para o Euro, esteve invencível de Outubro de 2011 a Junho de 2017.
A explicação parece simples: a 2.ª Liga expõe os jovens talentos a desafios exigentes, bem distintos daqueles que teriam se continuassem o percurso competitivo apenas com jogadores da mesma idade. É, aliás, isso que tem permitido a muitos jogadores saltarem etapas na formação, ganhando maturidade e ficando mais preparados para vingar nas equipas principais.
O caso do Benfica – que é o que mais interessa – é exemplar. A combinação da exposição mediática a que foram sujeitos os jogadores da formação (com os jogos da B a serem transmitidos pela BTV) com os desafios competitivos da 2.ª Liga tornaram possível a afirmação de Nélson Semedo, Guedes, Lindelöf e Rúben Dias, para ficarmos só pelo último ano. De tal forma que esta aposta se tornou o eixo central do modelo de negócio do clube (centenas de milhões de euros de receitas), com óptimos resultados desportivos.
Que outros clubes ponderem pôr fim às suas equipas B, num contexto de restrição aos empréstimos, é um erro colossal; que a Federação aposte nos sub-23 em lugar de promover a entrada de várias equipas B nos escalões competitivos adequados à realidade de cada clube é um equívoco estratégico; que o Benfica pondere sequer pôr fim ao projecto da equipa B é inexplicável."

Factos e números

"Os números permitem continuar um trabalho firme para preparar os melhores para a função.

Numa altura em que a esmagadora maioria dos campeonatos caminha para as grandes decisões, outras foram já tornadas a pensar no futuro do futebol profissional. Em breve, a videotecnologia deixará de ser um projecto meramente laboratorial para tornar-se numa realidade inequívoca do desporto-rei. O Mundial da Rússia do próximo verão será o primeiro palco a sério do ensaio agora tornado realidade.
Depois de dois anos de testes exaustivos, que ocorreram nos quatro cantos do mundo, as conclusões a que chegou o IFAB (International Board) foram avassaladoras: os erros graves diminuíram drasticamente, as intervenções foram mais rápidas do que se temia e o protocolo actual é mais do que suficiente. Por enquanto. Discuta-se ou não a justiça pontual da afirmação - sempre mais política que genuína -, não deixa de ser claro para qualquer pessoa razoável que o VAR, se bem oleado e trabalhado, é um ferramenta de excelência, capaz de apoiar os árbitros e de trazer mais verdade ao jogo. Fiquem com algumas das conclusões da Universidade de Leuven, na Bélgica, responsável por supervisionar ao detalhe e com rigor, todo o projecto (nos seus testes on-line, em pura competição):
1. Ao todo, o VAR foi testado em mais de vinte competições e/ou federações nacionais;
2. Nesse universo, foram escrutinados 972 jogos de futebol;
3. Quase 60% dos lances apreciados foram relativos a pontapés de penálti ou golos (ou seja, dois dos quatro previstos no protocolo);
4. Média inferior a cinco lances verificados por partida (atenção: verificados não significa corrigidos);
5. Tempo médio de cada revisão: cerca de vinte segundos;
6. Eficácia inicial da decisão do árbitro (em campo), confirmada depois pela revisão: 93%;
7. Quase 70% dos 972 jogos sob avaliação não tiveram qualquer decisão revista/alterada;
8. Verificou-se a existência de apenas um erro grosseiro, claro e evidente em cada três jogos escrutinados;
9. Eficácia de decisões acertadas, em cada partida (com recurso ao videoárbitro) foi de... 98.8%;
10. Em 9% dos jogos o VAR teve impacto directo no restabelecimento da verdade desportiva. Ou seja, cerca de 90 partidas viram reposta justiça em situações que passaram despercebidas ou foram mal avaliadas a olho nu;
11. As decisões revistas em campo (pelo árbitro, junto aos écrans) fazem com que o jogo esteja interrompido o dobro do tempo (face às revistas apenas pelo VAR). A tomada de decisão em consultar as imagens e a posterior deslocação ao local são responsáveis por essa perda adicional de tempo;
12. O tempo real (seguido) perdido através do recurso ao VAR é de cerca de 55 segundos. Muito inferior ao que se perde, em média, com substituições, exame de lesões, transporte de lesionados para fora do terreno de jogo, perdas de tempo nas reposições, etc.
Estes são factos. Não são opiniões. São factos concretos. Estamos de acordo que este é apenas o início de uma longa caminhada. Estamos de acordo que o maior obstáculo ao bom uso da tecnologia será sempre a capacidade do homem (árbitro/var) a utilizar adequadamente. Mas os números são animadores e permitem continuar um trabalho firme e sério no sentido de seleccionar e preparar os melhores para a função. é desafiante mas o futebol merece... e os árbitros também."

Duarte Gomes, in A Bola

Na Rússia com VAR

"Os ensaios que algumas selecções nacionais realizaram nos últimos dias foram também aproveitados pela FIFA para preparar os árbitros que potencialmente poderão desempenhar as funções de VAR no próximo Mundial da Rússia.
Foi assim nos dois jogos particulares que Portugal realizou - primeiro contra o Egipto e depois com a Holanda - e em muitos outros disputados nos quatro cantos do planeta.
A aprovação definitiva da vídeo-tecnologia ocorreu no passado dia 3 de Março, após reunião anual do International Board.
Passados dois anos de testes realizados em mais de vinte competições e associações nacionais, o IFAB chegou à conclusão que o apoio daquela ferramenta tornou o futebol num jogo mais justo e verdadeiro.
Para isso contribuiu (e muito) o relatório final entregue pela Universidade KU Leuven (da Bélgica), responsável pelo rigoroso acompanhamento dos quase mil jogos testados ao longo daquele período. 
Com base nos dados divulgados, a FIFA - ilustre representante do Board e defensora acérrima do sistema - decidiu, por unanimidade, utilizar o Videoárbitro no próximo Campeonato do Mundo. A reunião, que decorreu poucos dias depois em Bogotá, apenas validou o que todos já sabíamos: que o próximo Mundial teria VAR.
De entre os muitos "Árbitros VAR" pré-designados para essa competição, estão dois nomes portugueses: Artur Soares Dias (Porto) e Tiago Martins (Lisboa).
A expectativa é grande e espera-se que ambos ou pelo menos um dos dois possa representar a nossa arbitragem naquela que é a maior competição mundial disputada por selecções nacionais.
No jogo que Portugal disputou com a selecção africana, pode dizer-se que o VAR obteve nota (quase) máxima.
Aí e em duas situações distintas, a vídeo-intervenção corrigiu dois erros claros e evidentes, que foram mal analisados em campo pela equipa de arbitragem: primeiro um golo de Rolando, validado como legal e depois corrigido por fora de jogo (que efectivamente existiu) e depois o tento de Ronaldo (inicialmente anulado por fora de jogo que o videoárbitro detectou - e bem - não ter ocorrido).
Em ambos os casos foram ratificados dois lapsos graves, dando justiça ao jogo e à verdade desportiva.
Essa correcção confirma uma das grandes conclusões que a universidade belga já tinha chegado: a de que quase 60% dos lances revistos referem-se a situações de golo ou lances de penálti. As restantes situações previstas do protocolo - cartões vermelhos directos ou troca de identidade disciplinar - ocorrem em menor número.
Já agora e a título de curiosidade, acrescente-se que quase 70% dos 972 jogos escrutinados não tiveram decisões iniciais revertidas. Houve "verificações automáticas" (obrigatórias, por exemplo, após cada golo, expulsão ou pontapé de penálti assinalado) mas sem que destas resultasse alteração da decisão inicial.
Outro dado curioso é o de se ter concluído que apenas 9% dos jogos (menos de 90 partidas) terminaram com influência directa do VAR. Em todos os outros, prevaleceu a decisão que os árbitros tomaram em campo.
A vídeo-tecnologia veio para ficar e isso é indesmentível. Aquilo que hoje é uma série compreensível de pontos de interrogação, será, daqui a uns anos, algo comum, normal e assimilado por todos.
A UEFA ainda mantém naturais resistências à sua utilização e percebe-se porquê: não está em causa a fiabilidade do sistema ou a sua importância para a prossecução da verdade desportiva, mas a gestão prática dessa ferramenta. O organismo que tutela o futebol europeu organiza muitos milhares de jogos por época, de várias competições e em vários países, o que tornaria a sua aplicabilidade no terreno um verdadeiro pesadelo logístico, operacional... e financeiro."