sexta-feira, 2 de março de 2018

Honra e compromisso

"Amanhã, todos na Luz a lembrar o que Cosme Damião, Félix Bermudes e outros fizeram há 114 anos. E ganhar ao Marítimo.

O Benfica teve em Paços de Ferreira um jogo complicado, que apenas merecia ter tido um vencedor. A única surpresa foram os golos tardarem tanto, tal a diferença existente entre as equipas. O Benfica não fez uma boa primeira parte mas foi sempre superior. Não censuro o Paços pelo anti-jogo, nem pela imaginativa forma de queimar tempo. Censuro a arbitragem pela passividade primeiro, cumplicidade depois e finalmente pela co-autoria de expedientes dilatórios de queima de tempo. O árbitro avisou quatro vezes o guarda-redes pacense para a demora na reposição do jogo (só na primeira parte) e acabou sem mostrar um amarelo ao protagonista. O árbitro retardou o jogo para ele próprio ir arranjar um tufo de relva. Nunca tinha visto! Interromper o jogo para mostrar doces atirados das bancadas ao quatro árbitro, foi uma doçura!
Depois de uma arbitragem permissiva com todas as delongas, tivemos o jogo parado do minuto 83 ao minuto 87, quatro minutos por razão nenhuma. No reatar da partida, golo do Benfica e 1-2. Fez-se justiça. Nada que retire valor à luta do Paços de Ferreira, que tem na manutenção o seu objectivo, mas o anti-jogo foi demais.
Jonas, mesmo longe do fulgor físico, mostra capacidade e inteligências raras. De maior destaque, a forma como se festejou o segundo golo na Mata Real, o banco saltou para os festejos num compromisso inegável de ambição. Ver Samaris a festejar como fez mostra que onde poderia haver azia, havia alegria. Ver Luisão a ser capitão no banco, quase tão interventivo com Rui Vitória, mostrou unidade, querer, e paixão neste compromisso de tentar vencer.
Na semana do 114.º aniversário, mostraram em Paços todo o significado do 'E Pluribus Unum'. Era decisivo ganhar, mas tanto como na obtenção do golo, houve alma e compromisso no festejo do golo.
Amanhã todos na Luz e lembrar o que Cosme Damião, Félix Bermudes e alguns outros, fizeram há 114 anos, mas também a ajudar a vencer o Marítimo, que já nos tirou pontos este ano. Responder a todos dentro de campo: aos insultos com uma aceleração de Cervi; ao ruído com um golo de Jonas.
Seria assim o argumento do dramaturgo Bermudes, ao gosto de Cosme Damião, para festejar mais um aniversário, a honrar a história."

Sílvio Cervan, in A Bola

Benfiquismo

"Neste fim-de-semana teremos um confronto entre dois clubes que lutam pelo título de destronação do Benfica do topo do futebol português, como se tal posicionamento se deva à circunstância do clube que, num determinado ano, conquista o Campeonato Nacional. Ganhando ou perdendo nesta temporada, o Benfica continuará no topo: Tem mais adeptos, mais dedicação dos seus adeptos, mais historial, melhores condições sob todos os pontos de vista e uma estratégia para o médio/longo prazo competitiva e consonante com a realidade do futebol português. O Benfica, desde que se reergueu na última década, não é gerido para ganhar ocasionalmente, mas sempre. E por isso é que, como dizia Artur Semedo, nunca perde, só às vezes não ganha.
Lutam também pelo título desportivo que, caso vençam, validará, do ponto de vista deles, uma estratégia comunicacional desprezível, repleta de acusações torpes e insinuações sórdidas, própria de gente frustrada, desesperada e inescrupulosa. E sobretudo, ignorante, pois desconhecem que, a cada acusação e insinuação, só nos estimulam o Benfiquismo.
É inegável que o Benfiquismo tem muita força. Quando os que nos representam em campo o fazem com Benfiquismo, como se viu em Paços de Ferreira - pareciam adeptos em campo - os desaires tornam-se quase impossíveis.
E é essa característica, talvez a chamada mística, juntamente com a qualidade que a nossa equipa tem vindo a apresentar nos últimos meses, que me deixa optimista quanto ao futebol imediato. Eles que lutem pelo título que conseguirem, que nós lutaremos pelo penta. Qualquer que seja o resultado no Dragão, estaremos mais próximos. Continuo a acreditar que seremos campeões!"

João Tomaz, in O Benfica

Vergonha alheia

"Final da primeira parte em Paços de Ferreira. O Tetra-campeão perde por um. O Estádio lotado, num sábado de uma noite gelada no Norte de Portugal - quase nove mil pessoas. A imensa maioria benfiquista, o vermelho a dominar as bancadas. O SL Benfica só tinha mostrado fez minutos de vontade de conquistar os três pontos. 'Como dar a volta a isto?' era a questão no pensamento dos adeptos. Mentes retorcidas já pensavam que seria a segunda derrota do campeonato. Comentários ao intervalo punham em causa um ou outro jogador. E até as opções do treinador. A montanha-russa esquizofrénica de sentimentos estava a querer voltar. Mas não. Poderia ter sido o adeus à luta pelo Penta, mas não.
Com uma segunda parte igual ao que nos têm vindo a habituar nas últimas semanas, os onze jogadores de vermelho - mais os heróis vindos do banco - mostraram do que são feitos. Demonstraram o que ninguém pode duvidar: querem ser campeões, vão lutar para ser campeões, vão ser campeões. Jogo a jogo, de fato-macaco vestido ou de fato de gala aprumado para os momentos artísticos. Pressionaram, obrigaram a jogar mal, ganharam duelos, tentaram tabelinhas, aberturas para as alas, combinações umas atrás das outras, remataram, viram os defesas contrários - e o guarda-redes - a dar tudo o que tinham. E marcaram. Um, dois, três golos que nos deixam como estávamos: na luta a dez jornadas do final, com o sonho de uma conquista inédita e histórica cada vez mais vivo.
E sabem o melhor de tudo?
É que não passou pela cabeça de ninguém encenar uma invasão de campo, para adiar o jogo que, ao intervalo, estava perdido. Um orgulho imenso."

Ricardo Santos, in O Benfica

Olha um fogu... ah, não, é o Rafa

"O que sucedeu em Paços de Ferreira foi Benfica em estado puro: lutar até à exaustão para poder sorrir no final. Estive presente no Estádio Capital do Móvel e posso testemunhar que quem lá se encontrava assistiu a um autêntico milagre. Não me refiro à vitória - essa foi perfeitamente natural, apesar de tardia. Falo de outro fenómeno. Com o segundo golo do Jonas, levantaram-se os benfiquistas e levantou-se também o Assis. A Bíblia Sagrada revela algumas proezas fascinantes operadas por Jesus Cristo, contudo nenhuma deles se compara a esta façanha de Jonas. Imagino que seja complicado fazer levantar um paralítico de uma cadeira de rodas, mas mais complexo ainda era fazer levantar o número 20 do Paços de Ferreira do chão, e Jonas conseguiu - o Pistolas tem jeito para a bola, porém parece estar ainda mais vocacionado para a medicina.
Rafa, que foi contratado pela sua velocidade estonteante, apurada habilidade técnica e potencial elevado, está a demonstrar que é dotado de uma velocidade estonteante, apurada habilidade técnica e potencial elevado. Há coisas do caneco.Se for titular frente ao Marítimo, será apenas a segunda vez que Rafa atinge quatro titularidades consecutivas na Liga. Naturalmente, a sequência de jogos está a permitir-lhe começar a carburar. Usain Bolt é considerado o maior velocista de todos os tempos, mas apenas porque Rafa optou pelo futebol ao invés do atletismo. O Hennessey Venom F5 é o carro mais rápido do mundo, mas apenas porque Rafa não conta - estranhamente - como veículo o motor. Se os cientistas da luz seria substituída pela velocidade do Rafa."

Pedro Soares, in O Benfica

Auto-Estrada do Sul

" 'Até metia dó ver o Estoril em campo', disse o treinador Ivo Vieira após a segunda parte do jogo com o FC Porto, na qual os portistas marcaram três golos em apenas 14 minutos, perante um sector defensivo canarinho completamente desastrado.
Quem tinha esperanças de ver o nosso rival perder pontos naquela ocasião, depressa percebeu que tal não era possível. Enquanto no relvado os jogadores da equipa da casa pareciam ter ingerido uma caixa de tranquilizantes, lá em cima, na cabine do video-árbitro, havia quem estivesse mesmo a dormir, ou a fingir. 'Fica um sentimento de vergonha', afirmou o médio Ewerton, e 'não fomos a equipa que costumamos ser', foram as palavras do técnico Vítor Oliveira, após o Portimonense - FC Porto dias depois, jogo em que a retaguarda dos algarvios evidenciou fragilidades totalmente escondidas nas jornadas anteriores, designadamente na partida com o Benfica. Se Sérgio Conceição dizia, antes da deslocação ao Algarve, que aquele seria um dos jogos mais difíceis até final do campeonato, nas redes sociais e na blogosfera jurava-se que seria um dos mais fáceis. Tendo terminado 1-5, percebe-se bem quem estava a ser mais perspicaz. Enquanto o FC Porto vai passeando com tranquilidade perante adversários desinspirados, o Benfica é recebido invariavelmente de faca nos dentes - como aconteceu em Paços de Ferreira, onde arrancou uma vitória a ferros, frente a uma equipa que se socorreu de todos os meios para nos subtrair pontos.
É o futebol português no seu pior. Resta-nos manter a fibra, e acreditar que, mesmo contra todos, no fim se fará justiça.
Rumo ao Penta!"

Luís Fialho, in O Benfica

114 anos...

"114 anos de verdade, 114 anos de luta, 114 de sangue, 114 anos de suor, 114 de anos lágrimas, 114 anos de amor, 114 anos de fé, 114 anos de idoneidade, 114 anos de reputação, 114 anos de fair play, 114 anos de credibilidade, 114 anos de ânimos fortes, 114 anos de energia, 114 anos de coragem, 114 anos de decência, 114 anos de abnegação, 114 anos de responsabilidade, 114 anos de dedicação, 114 anos de serviço público, 114 anos de resistência, 114 anos de trabalho, 114 anos de acção, 114 anos de sacrifício, 114 anos de inovação, 114 anos de inconformismo, 114 anos de vitórias, 114 anos de batalhas, 114 anos de génio, 114 anos de gratidão, 114 anos de humildade, 114 anos de inteligência, 114 anos de visão, 114 anos de coração, 114 anos de ambição, 114 anos de ecletismo, 114 anos de compromisso, 114 anos de solidariedade, 114 anos de sucesso, 114 anos de motivação, 114 anos de orgulho, 114 anos de esperança, 114 anos de respeito, 114 anos de força, 114 anos de generosidade, 114 anos de títulos, 114 anos de humanismo, 114 anos de rebeldia, 114 anos de liberdade, 114 anos de elevação, 114 anos de seriedade, 114 anos de transparência, 114 anos de atitude, 114 anos de optimismo, 114 anos de integridade, 114 anos de luz, 114 anos de cortesia, 114 anos de educação, 114 anos de respeito, 114 anos de formação, 114 anos de independência, 114 anos de autonomia, 114 anos de liderança, 114 anos de raça, 114 anos de audácia, 114 anos de amizade, 114 anos de glória e 114 anos de Mística!"

Pedro Guerra, in O Benfica

Hat-trick: Treinar, Jogar e Vencer

"Treinar, jogar, vencer... Três palavras plenas de significado no futebol e no nosso imaginário colectivo. Foi este o nome que escolhemos para o novo projecto educativo da Fundação, que agora se iniciou com os alunos da Aprendizagem e do Ensino da Escola Gustave Eiffel, com quem temos um protocolo de colaboração que está a dar os melhores frutos para a escola, para o clube, para os alunos e para o país.
Os jovens alunos da escola foram seleccionados pelo seu potencial e têm connosco o melhor dos contratos: Treinar na Luz, jogar na Luz, vencer na Luz... Claro que é na escola e na importância da educação de cada um destes jovens que o projecto assume o seu principal valor: Treinar para a vida. Jogar na vida. Vencer na vida!
Por isso é um orgulho para todos nós poder participar numa etapa tão importante da vida como é a adolescência e ajudar a transformá-la no sucesso que cada um destes jovens merece.
Hat-trick é um termo bem conhecido do futebol. Que seja também uma inspiração para estes jovens que todas as semanas treinam valores, atitudes e vontades no sintético da Luz para jogar e vencer os desafios da sua vida académica e profissional.
Bom futuro!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Da impunidade à Justiça

"Numa qualquer sociedade democrática evoluída, em pleno século XXI, mais grave do que a profanação e, mesmo, o roubo do correio e dos arquivos de dados, recursos e matérias que compõem a estrutura identitária e a dinâmica de actividade de anos e anos de uma pessoa ou de muitas juntas numa instituição, seria, depois, facultar tudo isso ao olhar de terceiros. Ter empreendido e executado os dois gravíssimos crimes de modo ponderado e deliberado, sem respeitar qualquer recato ou o mais leve registo de comedimento e, bem pelo contrário, ter escolhido a via da mais rematada transmissão pública e massiva, através de diversos meios de comunicação, ainda seria pior.
Mais do que isso, pareceria impensável que a cegueira e o desespero clubista, ou fosse lá o que fosse, tivessem levado entidades e gente já com algum presumível nível de representação e, até, de responsabilidade social a arriscar não apenas na ilícita exposição pública de tantas quantidades de produto roubado e mais, a executar deliberadamente um roteiro calendarizado e programado de publicação sistemática desse 'material', ao longo de semanas e de meses.
Desde cedo observadores independentes assinalavam que - perante a insurgência do Benfica - os autores da bravata só persistiriam no seu criminoso guião se estivessem mergulhados numa irresponsabilidade patológica, ou se tivessem pressentido que alguma impunidade lhes haveria de chegar, como aconteceu, oferecida por um tal Cabanelas - juiz apaniguado gabando-se da devoção à 'causa' deles, que não hesitaria fazer tábua rasa de uma justa aplicação da Lei portuguesa, nem do bom senso, para ditar para os autos da pobre 'justiça-à-moda-do-Bolhão', a mais absurda das negas...
Mais grave, porém, é que, para além da criminosa exposição dos gigabytes de correspondências e arquivos privados que haviam sido roubados, os desonestos funcionários do Futebol Porto se permitissem manipulá-los a seu bel-prazer, sem ética nem pudor. Era vê-los, semana a semana, como bácoros de riso alarve, a chafurdar cascas na pocilga, muito convencidos de que defecariam rosas, enquanto estabeleciam os seus juízos apriorísticos; ''sentenças' bufas, ao arrepio de qualquer princípio do contraditório, exclusivamente ditadas por preconceitos e pressupostos que não reflectiam senão as suas práticas tradicionais e os scripts que haviam experimentado largamente ao longo de trinta anos de estórias sórdidas que ilicitamente lhes tinham garantido uma 'hegemonia' desportiva, afinal 'comprada em supermercado'.
O recente acórdão, unânime, dos três juízes da Relação do Porto, para já, veio restabelecer Justiça onde, acima dela, chegara a imperar a parcialidade clubística de um isolado julgador de turno: a infâmia dos chicos-espertos, impunemente tolerada durante demasiado tempo, foi imediatamente suspensa. E, se de facto o mundo não estiver ao contrário, depois de ouvir o Presidente Luís Filipe Vieira em Braga, mais confiadamente acredito que está a chegar a hora em que 'volta à terra o que é da terra e volta ao ar o que é do ar'."

José Nuno Martins, in A Bola

A mulher de César de visita ao Estoril

"O jornal A Bola deu ontem à estampa a existência de uma denúncia anónima, apresentada junto da Procuradoria-Geral da República (PGR), a propósito da segunda parte do jogo entre o Estoril e o FC Porto. Ao longo do dia de ontem, vários meios de comunicação confirmaram junto da PGR aquilo que A Bola acautelara de antemão: havia uma queixa, que seria avaliada pelas entidades de investigação competentes.
Os termos da queixa, que envolviam várias pessoas e um montante que teria sido depositado, não foram objecto de avaliação de A Bola, porque neste caso, como em todos os outros que nasceram de denúncias semelhantes, há um caminho a percorrer, por entidades que reputamos de credíveis, sérias e idóneas.
Ao fim da noite de ontem, porém, o FC Porto veio reconhecer que pagara ao Estoril Praia, uma semana antes da segunda parte do jogo em apreço, um montante na ordem dos 780 mil euros, que estaria em divida há quatro meses, e que teria a ver com a negociação de Carlos Eduardo e Licá.
A investigação à denúncia anónima irá, por certo prosseguir e consoante o entendimento das autoridades fará caminho ou será arquivada. Porém, desde já, constata-se que houve uma movimentação de verbas entre os clubes uma semana antes de um jogo importante, o que revela, no mínimo dos mínimos, uma imprudência assinalável.
Haverá quem diga que quem não deve não teme, outros preferirão afirmar que, como a mulher de César, não basta ser, é também preciso parecer. A missão dos jornais, no meio de tudo isto, é informar. Foi isso que A Bola agora como sempre, fez."

José Manuel Delgado, in A Bola

O clássico e o Estoril

"O FC Porto dispõe esta noite de uma oportunidade soberana para dar um golpe de autoridade nesta Liga. Por várias razões: porque atravessa uma fase de enorme confiança, porque joga perante os seus adeptos e porque uma eventual vitória deixará o Sporting a 8 pontos de distância (e, portanto, fora de combate). Há méritos inquestionáveis de Sérgio Conceição na construção deste FC Porto, que foi capaz de recuperar uma certa identidade que parecia perdida. Havia também a ideia inicial de que o plantel não teria soluções suficientes – em quantidade – para a longa caminhada. Está provado que não era verdade. A equipa tem tido baixas de peso (Alex Telles, Danilo ou Aboubakar) e ninguém se lembra, sequer, dos ausentes. Se sair vitorioso do clássico, o FC Porto terá apenas o Benfica como sombra até ao final do campeonato. E, mesmo assim, uma sombra que surge ao longe.
O FC Porto confirmou no Porto Canal que foi mesmo feita uma transferência bancária para a conta do Estoril no passado dia 14 de Fevereiro. Dizia respeito a uma dívida relativa ao jogador Carlos Eduardo. As coincidências podem existir, com certeza, mas há dois factos inegáveis nesta história. Facto 1: a transferência foi feita no intervalo do jogo. Facto 2: a transferência foi feita no intervalo de um jogo que o FC Porto estava a perder. As coisas são o que são.

Anda tudo com medo do futebol

"Tempos estranhos estes em que somos comandados por trauliteiros e incendiários que viram no fanatismo e na paixão clubística um escape para os seus insucessos. Profissionais de segunda e terceira categoria que nunca foram reconhecidos em lado nenhum, insolventes e desprezados pelas grandes empresas perceberam agora que a cartilha do populismo e da guerrilha, e à conta do amor que as pessoas têm pelos seus emblemas, mete uns contra os outros num país já de si pequeno, e vão ganhando protagonismo à nossa conta.
Chamam-lhes directores de comunicação, mas mais não são que uma espécie de ministros da propaganda tal e qual nos tempos do Hitler. Mas não estão sós: os comentadores que fazem as delícias das televisões, também. Faz-me lembrar a velha história do Elefante Branco: ninguém lá ia, mas estava sempre cheio. Também ninguém vê estes programas, mas todas as televisões os transmitem em horário nobre só porque lhes apetece. Ainda se os comentadores fossem entendidos em futebol, que nos elucidassem acerca de questões tácticas, físicas ou estratégicas, eu entendia. Agora assim? Nenhum daqueles personagens tem coisa alguma para nos ensinar que nós não saibamos já. Não acrescentam nada. Só estimulam o ódio, a violência e o fanatismo de mentes pequenas e sombrias - o estímulo perfeito para gangues organizados. São braços armados dos clubes. Mas parece que, por cá, isso sempre foi costume. Como dizia o célebre “Estebes” eternizado por Herman José:
“No intervalo, solteiros contra casados, fandangos, chulas e fados/ Para aprenderem como é/ Durante o jogo, qualquer caso lá surgido/ Só pode ser resolvido à cabeçada e ao pontapé.”
O que acho no mínimo estranho é a classe da comunicação - nomeadamente os directores e donos de agências em Portugal - ainda não terem vindo a terreiro dissociarem--se deste tipo de postura. Felizmente é uma área em que estamos muito bem servidos, com excelentes profissionais do ramo e boas agências. Esta associação a este tipo de peões de brega dos clubes é não só muito negativa para a classe como banaliza e diminui quem com ela ganhou sucesso, mas que agora não tem coragem para assumir uma posição perante aquilo a que estamos a assistir. Têm todos medo do que os adeptos dos clubes possam fazer, dos clientes que podem perder e do chamado impacto que uma crítica no mundo da bola pode ter no seu mealheiro e na sua imagem. Mais vale não dizer nada e fugir ao problema. Há de acalmar... ou não.
Este é apenas um exemplo do pânico e da falta de tomates generalizados na sociedade portuguesa, a começar, logicamente, pelos políticos. Morrem adeptos, pancada de meia-noite, acusações, críticas, incentivo à violência e... nada. Ninguém faz nada. Todos com medo de perder votos, de ganharem um sem-número de inimigos, de ficarem queimados. Mas então são eleitos para quê? Para tomar decisões fáceis? Assim também eu. Quando é para ir contra poderes instituídos, está quieto. Como diziam os Gato Fedorento, “isso não que isso magoa”. 
Assumam-se, saiam da toca e façam alguma coisa. Esta guerra já enjoa. Já chega de dar palco a energúmenos. Comecem a assumir posições e a mostrar que muito tem de ser alterado. O rei vai nu e ninguém quer dizer. Já chega. Estamos fartos destas personagens. Queremos é festejar golos e vitórias. Bem sei que esses ganham a vida assim mas, para nós, o futebol é só um desporto. E é por lá que deve continuar."

Educação desportiva

"Ponto prévio: os adeptos têm o direito de se manifestar em função do rendimento da equipa ou do atleta. Mas esse direito tem limites na forma de expressão. Não podem ser permitidos actos violentos, verbais ou físicos. De parte a parte. O respeito que se exige tem que ser mútuo,dos competidores para o público e deste para os competidores.
Em muitos momentos, principalmente quando as expectativas são defraudadas,a primeira reacção é de assobiar a equipa ou o atleta durante a competição. A maioria até pode ficar em silêncio, mas as manifestações de protesto fazem-se sentir de forma muito audível. A criação de um ambiente adverso influência o rendimento individual e colectivo. Torna o momento mais difícil de ser ultrapassado, influência o equilibro emocional necessário para se inverter a situação. Mas estas situações não dão direito a nenhum agente desportivo de se manifestar em plena competição contra os espectadores. Por vezes acontece, por mais racionais que possamos ser, mas temos que estar treinados para evitar esse confronto. Esse treino deve ser estendido aos adeptos. A causa é comum, ausência de educação e treino desportivo. Não é pela via, repressiva que se altera estar situação, bem pelo contrário. O desporto entre nós ganhou contornos perigosos, que têm de ser combatidos pela educação e com a prática desportiva. A maioria nunca fez desporto e muito menos competiu. Aqui está o maior problema.
Compreendo que não é fácil ver a sua equipa ou atleta preferido em sub-rendimento, a cometer erros, a falhar aquilo que para quem está a ver parece mais simples, mas é bem mais complicado para quem está em competição sentir que num momento em que erra e falha e que parece fácil, é trucidado por aqueles que seriam um dos primeiros suportes para ultrapassar o momento negativo. O que se ganha com isso? Nada! Só os adversários tiram proveito. O apoio dos adeptos é, pois, decisivo para o sucesso."

José Couceiro, in A Bola