segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Lixívia 24

Tabela Anti-Lixívia
Benfica ........ 59 (-4) = 63
Corruptos.... 64 (+9) = 55
Sporting .... 59 (+14) = 45


A ausência de qualquer acção/reacção à coacção e corrupção, que estão à vista de todos, por parte das autoridades desportivas e civis, está a transformar esta época, numa das temporadas mais 'falsas' de sempre do Tugão!!! Algo, que devido à vergonhosa história do Tugão, é extremamente difícil...!!!

Depois de ter contribuído para a eliminação do Benfica da Taça de Portugal deste ano, tivemos a estreia no Campeonato do Verdíssimo, e só um Benfica em superação conseguiu os três pontos!
Toda a arbitragem foi vergonhosa, o critério disciplinar, a complacência com o anti-jogo do Paços, e até o facto do próprio árbitro ter feito 'anti-jogo' com várias decisões absurdas! O melhor exemplo, foi o tempo efectivamente jogado nos últimos minutos. A partir dos 85 minutos, quando ainda estava 1-1, até aos 97 minutos, não se jogou mais de 2 minutos!!!
Penalty's:
- o 1.º que ficou por marcar, foi na cabeçada do Jonas ainda na 1.ª parte: claramente empurrado pelas costas. O defesa não só quis empurrar, não disputou a bola, nem a posição... e a bola mudou de direcção por causa do empurrão...
- 2.º penalty, foi na falta sobre o Cervi: o defesa tem o pé em cima da linha da área, portanto a falta é dentro da área. Inacreditável como o VAR não 'avisa' o árbitro!
(inacreditável como esta falta não deu Amarelo, e segundos depois, estava a mostrar Amarelo ao Pizi, por ter 'cortado' uma bola...)
- 3.º penalty, rasteira ao Rafa. O mais escandaloso de todos. As imagens são claras... A situação foi tão clara, que nem 'chamou' o VAR! Porque este o VAR não tinha desculpa...
(este é um dos pontos do protocolo que não está a ser respeitado: não é necessário ser o Árbitro a pedir a actuação do VAR; o VAR pode avisar o árbitro do erro... e mais uma vez, não o fez!)
- 4.ª penalty, corte com o braço, num cruzamento do Rafa. Aumento claro da volumetria... Mas desta vez, já parou o jogo pedindo a intervenção do VAR, porque como é de conhecimento, as situações de bola na mão, são por norma subjectivas, o que torna muito improvável o VAR mudar a decisão do campo...
(anti-jogo, promovido pelo árbitro)
- Houve outros lances duvidosos dentro da área do Paços: um empurrão do Quiño ao Rafa, que me pareceu falta, mas não é claro... além dos agarrões ao Rúben e ao Jardel em todas as 'bolas paradas' e foram pelo menos 12 Cantos!!!


Como escrevi na crónica do jogo de Paços, as minhas expectativas para o jogo dos Corruptos em Portimão, era muito baixa... e confirmou-se! Nem foi preciso recorrer ao apitadeiro!!!
Aquilo que as nas últimas semanas tem sido denunciado pelo César Boaventura...; Aquilo que ficou claro com a dispensa do Abner poucos dias depois de ter 'abrido as pernas' aos Corruptos na Amoreira (e não dispensaram mais jogadores, porque alguns dos outros, têm contrato com o Estoril, e não são emprestados...); todas as ligações entre o Portimonense e os Corruptos, com mais de 12 jogadores, com empresários e até o dono do Portimonense, deixava antever um dos jogos mais fáceis da época, tal como já tinha acontecido na 1.ª volta... onde até houve gastroenterites fulminantes antes do jogo!!!
Os Corruptos depois de terem levado 5 do Liverpool, com vários jogadores lesionados, tornaram-se 'imparáveis' com goleadas atrás de goleadas...! Tal como tem acontecido nas últimas épocas, na recta final do Campeonato, vamos ter o Benfica com autênticas batalhas campais, em todos os jogos, com resultados à justa, e os nossos adversários na luta pelo título, com jogos 'fáceis'!!! Aconteceu com o Braga em 2010... e tem acontecido sempre com os Lagartos ou os Corruptos nos anos do Tetra!!!
Recordo-me da goleada ao Guimarães o ano passado na última jornada, uma ao Nacional também na última jornada e um jogo com o Olhanense na Luz, que também acabou em goleada (com uma expulsão relativamente cedo), nos últimos 5 títulos do Benfica, nas últimas 10 jornadas (portanto 50 jogos) acho que goleámos 3 vezes, os nossos adversários é praticamente em todos os jogos!!!
Quem achar que isto é normal, não é bom da cabeça...!!!
Curiosamente a diferença este ano, é que na 'loucura' do ataque dos animais de propaganda ao Benfica, meteram ao barulho o tal César Boaventura, e pelos vistos o rapaz não gostou!!! Às vezes quando se opta pela política de 'terra queimada', acaba-se por provocar danos colaterais... e às vezes, os 'colaterais' respondem...!!!

Em relação ao jogo, além dos erros de posicioamento da defesa do Portimonense, no 1.º golo dos Corruptos, existe uma falta no início da jogada, não assinalada... e que o VAR devia ter visto!


Acabou à poucos minutos, o jogo no Alvalixo, com mais uma vitória nos descontos!!!
A falta de vergonha começou na nomeação:  mais uma vez, dois Lagartões nomeados Tiago Martins como árbitro (8 nomeação como árbitro ou VAR), e Xistra como VAR (sexta nomeação...)! São quase sempre os mesmos, se juntarmos o Hugo Miguel e o Godinho temos 50% da nomeações para jogos dos Lagartos em 24 jornadas!!!
E valeu a pena...!!!
Recordo que as equipas do Judas, têm a tendência de perder pontos nas vésperas dos jogos 'grandes'; além disso o Petit também tem a tendência para pontuar contra os Lagartos, portanto, estas nomeações pareceram uma 'ordem' directa do Babalu...!!!

O golo anulado ao Moreirense é um gozo: Tiago Martins foi o VAR no Benfica - Sporting, nesse jogo 'valeu tudo', perdi a conta há quantidade de vezes que os jogadores Lagartos jogaram a bola com os braços e o Tiago Martins nunca viu qualquer falta, na Luz...!!! Hoje, como árbitro, foi rever o lance à linha lateral, e teve a prova inequívoca que o jogador do Moreirense jogou a bola intencionalmente com o braço, e anulou o golo!!! Extraordinário... com uma câmara com o plano alargado!!!
Por exemplo, o lance do William com o Jiménez na Luz, é muito parecido com este... e na altura, foram muitos os que justificaram que a Mão na Bola, foi provocada pelo encosto do Jiménez, e hoje, o jogador do Moreirense foi empurrado?!!!
Poucos minutos antes do fim do jogo, perdoou um Vermelho directo ao Gelson... jogador que minutos depois marcou o golo da vitória dos Lagartos!
Amanhã vou rever mais alguns lances, se houver alguma coisa que me escapou, farei uma adenda...
ADENDA: Só agora vi o 2.º Amarelo ao Petrovic: absolutamente ridículo...

Anexos:
Benfica
1.ª-Braga(c), V(3-1), Xistra (Verissímo), Prejudicados, (4-1), Sem influência no resultado
2.ª-Chaves(f), V(0-1), Sousa (Tiago Martins), Prejudicados, (0-3), Sem influência no resultado
3.ª-Belenenses(c), V(5-0), Rui Costa (Vasco Santos), Beneficiados, Sem influência no resultado
4.ª-Rio Ave(f), E(1-1), Hugo Miguel (Veríssimo), Prejudicados, Impossível contabilizar
5.ª-Portimonense(c), V(2-1), Gonçalo Martins (Veríssimo), Prejudicados, (4-0), Sem influência no resultado
6.ª-Boavista(f), D(2-1), Soares Dias (Esteves), Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
7.ª-Paços de Ferreira(c), V(2-0), Xistra (Hugo Miguel), Nada a assinalar
8.ª-Marítimo(f), E(1-1), Sousa (Godinho), Prejudicados, (1-2), (-2 pontos)
9.ª-Aves(f), V(1-3), Almeida (Vítor Ferreira), Beneficiados, Prejudicados, Sem influência no resultado
10.ª-Feirense(c), V(1-0), Godinho (Xistra), Prejudicados, (2-0), Sem influência no resultado
11.ª-Guimarães(f), V(1-3), Soares Dias (Malheiro), Prejudicados, (1-4), Sem influência no resultado
12.ª-Setúbal(c), V(6-0), Godinho (Pinheiro), Prejudicados, Beneficiados, (8-0), Sem influência no resultado
13.ª-Corruptos(f), E(0-0), Sousa (Hugo Miguel), Prejudicados, Beneficiados, Impossível contabilizar
14.ª-Estoril(c), V(3-1), Pinheiro (Manuel Oliveira), Beneficiados, Sem influência no resultado
15.ª-Tondela(f), V(1-5), Tiago Martins (Malheiro), Nada a assinalar
16.ª-Sporting(c) E(1-1), Hugo Miguel (Tiago Martins), Prejudicados, (5-0), (-2 pontos)
17.ª-Moreirense(f), V(0-2), Mota (Godinho), Nada a assinalar
18.ª-Braga(f), V(1-3), Soares Dias (Godinho), Prejudicados, (1-4), Sem influência no resultado
19.ª-Chaves(c), V(3-0), Esteves (Vasco Santos), Prejudicados, (5-0), Sem influência no resultado
20.ª-Belenenses(f), E(1-1), Paixão (Rui Oliveira), Nada a assinalar
21.ª-Rio Ave(c), V(5-1), Manuel Oliveira (Vítor Ferreira), Prejudicados, Sem influência no resultado
22.ª-Portimonense(f), V(1-3), Xistra (Rui Oliveira), Prejudicados, Beneficiados, Sem influência no resultado
23.ª-Boavista(c), V(4-0), Tiago Martins (Malheiro), Prejudicados, (5-0), Sem influência no resultado
24.ª-Paços de Ferreira(f), V(1-3), Veríssimo (Esteves), Prejudicados, (1-7), Sem influência no resultado

Sporting
1.ª-Aves(f), V(0-2), Tiago Martins (Pinheiro), Nada a assinalar
2.ª-Setúbal(c), V(1-0), Paixão (Hugo Miguel), Beneficiados, (0-0), (+2 pontos)
3.ª-Guimarães(f), V(0-5), Hugo Miguel (Sousa), Nada a assinalar
4.ª-Estoril(c), V(2-1), Godinho (Tiago Martins), Beneficiados, Impossível contabilizar
5.ª-Feirense(f), V(2-3), Soares Dias (Tiago Martins), Nada a assinalar
6.ª-Tondela(c), V(2-0), Manuel Oliveira (Tiago Martins), Nada a assinalar
7.ª-Moreirense(f), E(1-1), Godinho (Pinheiro), Beneficiados, (2-0), (+1 ponto)
8.ª-Corruptos(c), E(0-0), Xistra (Hugo Miguel), Nada a assinalar
9.ª-Chaves(c), V(5-1), Rui Costa (Esteves), Beneficiados, Prejudicados (5-2), Sem influência no resultado
10.ª-Rio Ave(f), V(0-1), Sousa (Capela), Beneficiados, (0-0), (+2 pontos)
11.ª-Braga(c), E(2-2), Xistra (Rui Costa), Beneficiados, (1-4), (+1 ponto)
12.ª-Paços de Ferreira(f), V(1-2), Tiago Martins (Xistra), Beneficiados, (1-1), (+2 pontos)
13.ª-Belenenses(c), V(1-0), Almeida (Godinho), Nada a assinalar
14.ª-Boavista(f), V(1-3), Godinho (Vasco Santos), Nada a assinalar
15.ª-Portimonense(c), V(2-0), Capela (Xistra), Nada a assinalar
16.ª-Benfica(f), E(1-1), Hugo Miguel (Tiago Martins), Beneficiados, (5-0), (+ 1 ponto)
17ª-Marítimo(c), V(5-0), Xistra (Esteves), Nada a assinalar
18.ª-Aves(c), V(3-0), Pinheiro (Sousa), Beneficiados, (2-1), Impossível contabilizar
19.ª-Setúbal(f), E(1-1), Veríssimo (António Nobre), Beneficiados, Sem influência no resultado
20.ª-Guimarães(c), V(1-0), Godinho (Hugo Miguel), Nada a assinalar
21.ª-Estoril(f), D(2-0), Mota (Luís Ferreira), Nada a assinalar
22.ª-Feirense(c) V(2-0), Luís Ferreira (Manuel Oliveira), (1-0), Beneficiados, Sem influência no resultado
23.ª-Tondela(f), V(1-2), Capela (Esteves), Beneficiados, (2-1), (+3 pontos)
24.ª-Moreirense(c), V(1-0) , Tiago Martins (Xistra), PrejudicadosBeneficiados, (0-0), (+2 pontos)

Corruptos
1.ª-Estoril(c), V(4-0), Hugo Miguel (Luís Ferreira), Nada a assinalar
2.ª-Tondela(f), V(0-1), Veríssimo (Malheiro), Beneficiados, Impossível contabilizar
3.ª-Moreirense(c), V(3-0), Manuel Oliveira (Tiago Martins), Prejudicados, Beneficiados, Sem influência no resultado
4.ª-Braga(f), V(0-1), Xistra (Esteves), Beneficiados, Impossível contabilizar
5.ª-Chaves(c), V(3-0), Rui Oliveira (Hugo Miguel), Nada a assinalar
6.ª-Rio Ave(f), V(1-2), Sousa (Godinho), Nada a assinalar
7.ª-Portimonense(c), V(5-2), Luís Ferreira (Sousa), Nada a assinalar
8.ª-Sporting(f), E(0-0), Xistra (Hugo Miguel), Nada a assinalar
9.ª-Paços de Ferreira(c), V(6-1), Manuel Oliveira (Veríssimo), Beneficiados, (5-1), Sem influencia no resultado
10.ª-Boavista(f), V(0-3), Hugo Miguel (Tiago Martins), Nada a assinalar
11.ª-Belenenses(c), V(2-0), Veríssimo (Luís Ferreira), Beneficiados, (0-2), (+3 pontos)
12.ª-Aves(f), E(1-1), Rui Costa (Esteves), Nada a assinalar
13.ª-Benfica(c), E(1-1), Sousa (Hugo Miguel), Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
14.ª-Setúbal(f), V(0-5), Tiago Martins (Rui Oliveira), Beneficiados, (0-3), Impossível contabilizar
15.ª-Marítimo(c), V(3-1), Mota (António Nobre), Nada a assinalar
16.ª-Feirense(f), V(1-2), Veríssimo (Paixão), Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
17.ª-Guimarães(c), V(4-2), Soares Dias (António Nobre), Prejudicados, Beneficiados, (4-2), Impossível contabilizar
19.ª-Tondela(c), V(1-0), Godinho (Soares Dias), BeneficiadosPrejudicados, (2-0), Impossível contabilizar
20.ª-Moreirense(f), E(0-0), Luís Ferreira (Manuel Oliveira), Nada a assinalar
21.ª-Braga(c), V(3-1), Hugo Miguel (Almeida), Prejudicados, (4-1), Sem influência no resultado
22.ª-Chaves(f), V(0-4), Soares Dias (Mota), Beneficiados, Prejudicados, (3-0), (+3 pontos)
23.ª-Rio Ave(c), V(5-0), Xistra (Rui Oliveira), Nada a assinalar
18.ª-Estoril(f), V(1-3), Vasco Santos (Luís Ferreira), Beneficiados, (1-0), (+3 pontos)
24.ª-Portimonense(f), V(1-5), Sousa (Hugo Miguel), Beneficiados, (1-4), Sem influência no resultado

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Orgulho em Fonseca e Carvalhal

"Não, não são todos bons os treinadores portugueses, que há uma elite que abriu de espanto os olhos do planeta da bola mas outros apenas enfileiram a marcha beneficiando da etiqueta "made in Portugal". Afirmo-o com a paz de consciência de quem sempre enfatizou essa qualidade do treinador português, mais sobretudo de um saber português, que tem bem menos pouco a ver com uma histórica e tantas vezes elogiada astúcia do técnico nacional do que com a pioneira revolução metodológica do início deste século, com base nas ideias originais de Vítor Frade e consumadas na periodização táctica. Foi isso que mudou o jogo do país que mudou o jogo. Separadas as águas, há que homenagear sempre essa elite que deve orgulhar-nos, que vem de Carlos Queiroz, o revolucionário mais injustamente menorizado, passa sempre por José Mourinho, que ele fez pelo treinador português não tem preço, e termina em Paulo Fonseca, que hoje, mais que um grande técnico por cá nascido, é mesmo, pela qualidade da proposta de jogo que apresenta no Shakhtar, um dos melhores treinadores mundiais. No topo da qualidade de jogo estarão Barcelona e City, servidos por jogadores que poucos outros emblemas poderiam ter, além de Real Madrid e Paris Saint-Germain com jogadores que mais ninguém consegue ter. No patamar seguinte, pela qualidade excepcional de processo que apresentam, coloquem sff o Nápoles e o Shakhtar, sendo que foram os ucranianos do português que seguiram em frente na Champions, precisamente adiante do Nápoles.
Partir-se da ideia de que Paulo Fonseca apenas deu sequência a anos sucessivos de vitórias dos laranjas de Donetsk, na herança do histórico Mircea Lucescu, não só é injusto como falso. É falso porque nos dois anos anteriores à chegada do português o Shakhtar nem sequer foi campeão, perdendo consecutivamente para o Dínamo de Kiev, e sobretudo é injusto porque o que este Shakhtar joga hoje - com nível de investimento (leia-se contratações) que é menor do que foi durante os anos de Lucescu - não tem qualquer comparação com o que produzia até à chegada dos portugueses (Fonseca e a sua equipa técnica). De um futebol desorganizado em que as vitórias resultavam da superior capacidade técnica dos seus craques brasileiros, passou-se a uma ideia de jogo que transformou cada um desses rebeldes talentosos numa peça feliz de um engrenagem de brilho intenso. Ver o que equipa fez em campo na semana passada diante da Roma, com e sem bola, foi impressionante. Sim, uma desatenção de Ismaily no lance do golo italiano pôs a eliminatória da Champions em risco mas o que se viu depois disso foi uma demonstração de competência rara, numa cavalgada ofensiva feita de ambição mas também paciência, construção a partir de trás, qualidade de circulação, alternância de corredores, jogo curto e longo, exterior e interior, e já agora - que muitos olham o jogo por esse prisma - numa disponibilidade física alheia ao facto de participar num campeonato menos competitivo e que até estava parado há uns meses. Um compêndio. Podia nem ter ganho o jogo mas tinha a vitória garantida, que um dos melhores futebóis da Europa leva indelével marca portuguesa.
Recém-chegado à Premier League, Carlos Carvalhal organizou inteligentemente o seu Swansea de trás para a frente. Um factor crítico na liga inglesa - em que tantas equipas apresentam debilidades defensivas mas em que todas apresentam avançados de categoria - é conseguir a segurança defensiva sobre a qual pode assentar a evolução da proposta de jogo. Carvalhal assim fez, com uma defesa a 5 que lhe permite superioridade atrás e um domínio do espaço aéreo, libertou os laterais como alas e pediu aos homens dos corredores ofensivos que percorressem as zonas interiores. Assim, procurou ter sempre gente em número suficiente atrás quando sem bola, e gente em número óptimo para fazer o que mais gosta quando com bola: um jogo gradualmente mais apoiado, com boa ligação entre os sectores, que explora a posse e circulação como forma de procurar o espaço entre os sectores do adversário, reclamando, a partir da segurança dos médios-centro, uma mobilidade forte de todos os homens da frente, incluindo o ponta de lança. Carvalhal percebeu também depressa que estava carente de qualidade no ataque e aproveitou Janeiro para acrescentar ao grupo André Ayew, talento indiscutível mas que se percebe estar ainda à procura do andamento que lhe permita ser mais que um pontual desequilibrador com bola. A dez jornadas do fim, este pode bem ser o momento de uma espécie de dilema, quanto ao ritmo da evolução do jogar dos galeses para momentos de maior risco em ataque organizado. Acredito todavia que não será a derrota de anteontem, no campo do Brighton, a fazer vacilar as convicções do português de Braga que tem apresentado uma comunicação singular, pensada, mas que essencialmente tem produzido no relvado trabalho de qualidade indiscutível. Uma ideia bem treinada fez despertar uma equipa moribunda, devolveu-lhe a identidade e, apesar da concorrência forte e das lesões inoportunas de Renato Sanches e Leroy Fer, promete um Maio de calor feliz nas terras frias de Gales."

O futebol não pode ser um território sem lei

"O mundo do futebol português vive momentos lamentáveis e que se agravarão com o aproximar do final do campeonato nacional.

O mundo do futebol português vive momentos lamentáveis e que se agravarão com o aproximar do final do campeonato nacional. Se, dentro das quatro linhas - melhor ou pior, as coisas vão andando, com mais ou menos polémicas com o VAR, o árbitro do sofá -, os jogadores se esforçam por fazer o melhor que sabem, já nos bastidores e nas ruas de acesso aos estádios muito do que se passa é assustador.
Mas vamos por partes: em Inglaterra passavam-se cenas deploráveis entre os esperadores que afastavam as famílias dos encontros, deixando espaço para os famosos hooligans, que espalhavam o terror. Foi preciso acontecerem algumas tragédias para o governo britânico tomar medidas drásticas - depois de terem sido afastados das competições europeias - a fim de que tudo voltasse ao desejado: bancadas cheias, com crianças ao colo dos pais e avós.
Seria, pois, normal que as autoridades portuguesas copiassem o que de bom foi feito e colocassem os arruaceiros dos três principais clubes, e não só, na ordem. É certo que não vestem indumentárias que os identifiquem com os respectivos clubes, mas os rapazes vestidos de preto que atemorizam quem se desloca aos estádios só serão controlados quando forem tomadas medidas concretas. Ou será preciso ocorrer alguma tragédia com vítimas mortais?
Se a violência física pode ser controlada com a prisão diária dessa rapaziada - basta obrigá-los a estarem numa esquadra no período do jogo da sua equipa -, já os dirigentes incendiários e os aprendizes do ofício também necessitam de multas violentas para não instigarem ao ódio e à violência os seus adeptos. Se Bruno de Carvalho e o seu guarda-costas falante são hoje os rostos mais visíveis do veneno desportivo, a verdade é que há muitos outros que os imitam. No FC Porto e no Benfica também os há, só que estão a ser muito mais inteligentes na concretização dos seus objectivos. Deixam o fogo-de--vista para os lados de Alvalade, outrora um clube de elites."

Mourinho e Beckham, dois modelos de ego-marketing

"Um desafio inesperado, mas que muitos estarão prontos a acolher e farão tudo para manter vivo. Opõe José Mourinho a David Beckham e foi marcado de improviso na quarta-feira à noite, após o jogo da primeira mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, disputado no Estádio Sánchez Pizjuán, entre o Sevilha FC e o Manchester United. O jogo acabara 0-0 e a conduta excessivamente prudente dos Red Devils originara muitas críticas. Incluindo aquela de Beckham, que no United vestira a mítica camisola número 7 e a braçadeira de capitão. Por isso se sentiu autorizado a criticar uma exibição “que não foi à Manchester United”, isto é, indigna de uma equipa que pertence à elite do futebol mundial e que em nenhuma circunstância deveria esquecer o seu nível. Nem mesmo quando vai jogar a um estádio tão difícil como o do Sevilha FC.
A reacção de José Mourinho às palavras de David Beckham era tão inevitável como óbvia. Havia, antes de mais, que defender as escolhas de posicionamento e de jogo, que ainda assim deram um bom resultado e permitirão ao Manchester United jogar em boa posição a qualificação no seu próprio estádio. Depois, havia que defender o seu estilo de jogo, que nunca agradou aos estetas mas permitiu a todas as equipas treinadas pelo técnico de Setúbal atingir resultados de altíssimo nível. E, por fim, havia que enfrentar um duelo dialético entre personagens de topo na arena mediática do futebol global.
Acho que este último é o aspecto mais interessante da história. Centrar a história na avareza do jogo expresso por uma equipa de José Mourinho é perder tempo. Já se sabe há muito que quem se diverte com estas exibições são apenas os adeptos da equipa treinada pelo português – e só que ela tiver bons resultados. De resto, a parte mais agradável do espectáculo proposto por José Mourinho é sempre a que se passa fora de campo, a zona em que lhe podemos chamar, com razão, Special One. Mas é precisamente neste plano que se descobre a maior semelhança entre ele e David Beckham. 
O ex-número 7 do Manchester United foi certamente um futebolista de enorme talento e extraordinário profissionalismo, mas é também verdade que a sua fama foi sempre muito superior ao que mostrou em campo. E nesta minha avaliação não há qualquer avaliação negativa. Mais: tal como escrevi, num livro sobre desporto e pós-modernidade que estará nas livrarias nas próximas semanas, penso que no desporto de hoje a capacidade de produzir imagens e comunicar são talentos fundamentais. Nesta mutação cultural, que vê os atletas tornarem-se celebridades e construírem grande parte da sua fama fora do campo de jogo – quando no período que se concluiu nos anos 80, a fama dos atletas dependia quase exclusivamente da sua capacidade de conseguir sucesso dentro do campo – David Beckham foi um dos principais protagonistas. Demonstra-o o facto de, apesar de já ter deixado de jogar há cinco anos, não tenha ainda visto minimamente afectada a sua fama.
Em comparação com o inglês, Mourinho é menos projectado para a dimensão da pura imagem. Continua a ser um homem do futebol e vive-o com um espírito dramático que Beckham nunca teve, nem sequer na fase mais intensa da sua carreira. E todavia também Mourinho apresenta uma notável dimensão comunicativa e publicitária. A sua personagem, mas também o seu perfil profissional de treinador, baseia-se numa capacidade dialética e numa aura mediática que já fazem parte da sua bagagem laboral. E é isso que, no plano do debate, o impede de ceder a um golpe do adversário. Qualquer que seja esse adversário. Mais ainda se ele for um personagem do calibre de David Beckham, que mal abre a boca convoca os reflectores da cena global.
Em ambas as frentes disparam as exigências do ego-marketing. Não se trata sequer do confronto entre dois machos-alfa, que só se resolve com a vitória de um sobre o outro. Em casos deste género, o que conta é não ceder ao opositor, nunca dar a impressão de se ser submisso. O equilíbrio de forças pode até ser a solução mais desejada, caso se consiga transformar tudo numa emoção para o público. Mas é claro que estamos a falar de puro espectáculo. O futebol é outra coisa."

Nem de rabo sentado o VAR é competente

"Fui, sou e serei um defensor do VAR. Mas defendo ainda mais a formação, para que se possa melhorar a qualidade da arbitragem. Porque instituiu-se o VAR a mata-cavalos e a inaptidão verificada no terreno prolonga-se agora no estúdio. Em campo, um árbitro incompetente levou o jogo de Tondela até ao minuto 99 e alterou a verdade desportiva. Com o rabo sentado e até com o aquecimento ligado, um VAR incompetente validou, mal, o primeiro golo do FC Porto no Estoril – teriam acontecido os outros se esse não contasse? – e validou, mal de novo, o golo da vitória do Belenenses sobre o Feirense, com isso alterando também a verdade desportiva. Não foram lances claros? Pois não, mas se o VAR não os avalia bem, qual é a mais valia que traz ao futebol?
Ao cabo de muita roupa suja lavada no tanque da varanda para gáudio dos vizinhos, Luís Filipe Vieira e Jorge Jesus encerraram os processos judiciais em que se acusavam mutuamente – sim, era o Benfica, eu sei – apresentando como justificação a vontade de "preservação da imagem dos protagonistas". E foram precisos anos para que as pessoas tão inteligentes que os rodeiam chegassem à conclusão que se tratava, e volto a citar, de uma "escalada geradora de mais danos do que benefícios"? Como me disse um dia um advogado amigo: "Deus proteja os litigantes compulsivos e os paranóicos das indemnizações, que é com eles que eu sustento a família".
Terminados os Jogos Olímpicos de inverno, deles destaco duas proezas. Desde logo, as cinco (!) medalhas da fundista norueguesa Marit Bjørgen, que elevou para 15 o seu total e ultrapassou o anterior recordista de medalhas, o compatriota do biatlo, Ole EInar Bjørndalen. A seguir, precisamente, o regresso aos grandes resultados da ora mulher de Bjørndalen, a bielorrussa Darya Domracheva, que superou a quebra de forma provocada pela doença e pela maternidade. Ao ganhar o ouro com um brilhante último percurso na estafeta – mais a medalha de prata na "mass start" – Domracheva reassumiu a condição de melhor biatleta do Planeta. Mais dois momentos altos do desporto no meu vasto currículo de espectador!
Sereia não sou, mas sei que semana após semana faltará sempre um tema nesta crónica. Infelizmente já dei – pouco, é certo, e mesmo assim demasiado – para o peditório daquela guerra estúpida de que só resultam vencidos. Manter-me-ei, por isso, fiel ao pensamento de Kafka: "As sereias possuem uma arma ainda mais terrível do que o seu canto: o seu silêncio".
Na semana que findou, completei 15 anos consecutivos de escrita no Record, mais de dez como seu director. Havia colaborado também durante alguns meses com o jornal, mesmo no início do século, pelo que estarei já entre aqueles que por mais tempo aqui produziram prosa. Fica assim próxima a altura em que o virtuoso silêncio a que me referi atrás será total, com a devida autorização do director-geral editorial da Cofina e do director de Record. Porque por muito duro que isso seja, o povo tem razão: a vida são dois dias."

Leiam jornais e vejam televisão: só têm a ganhar

"«Não comprem jornais, não vejam canais portugueses com excepção da Sporting TV e que os comentadores do Sporting saiam dos programas.»
Não vejam, não escutem, não saibam. Ignorem, virem costas, abandonem a guerra. Bruno de Carvalho apelou ao boicote geral à comunicação social e, naturalmente, as reacções não se fizeram esperar. Apoio em massa sportinguista, crítica generalizada dos visados, ridicularização dos rivais. 
Por incrível que pareça, entendo todos, embora uns mais do que outros.
Não me parece, por exemplo, que seja um pedido mais anedótico do que o protagonizado por Luís Filipe Vieira quando, há uns anos, pediu aos benfiquistas para não assistirem aos jogos fora de casa. Acho, até, que as mesmas declarações teriam menos eco se ditas por um presidente de outro clube, mas é assim porque Bruno de Carvalho contribui muito para isso. A importância que dá a questões menores no seio do clube, o estilo popular e bastantes exageros comunicativos tornam-no um «alvo» fácil. Basta lembrar a quantidade de figuras que eu, admito, nem sabia que existiam, a que se deu ao trabalho de responder na abertura da Assembleia-Geral.
De igual modo, se as intenções de Bruno de Carvalho tiveram um apoio de quase 90 por cento, não me espanta que grande parte desse número continue por trás do seu líder quando chega um pedido deste género. Mesmo que, sublinhe-se, me pareça que a maioria faça pouca intenção de cumprir religiosamente o acordo, até a avaliar pelos comentadores que continuam confortavelmente sentados. 
Ora, a parte que mais me interessa é, naturalmente, a dos visados. O estado do jornalismo e um suposto tratamento diferenciado dado ao Sporting. Um pouco à semelhança do que acontece com os árbitros, todos dizem que é tudo para os outros.
Parece-me, porém, que as pessoas estão mais interessadas em discutir jornalistas do que jornalismo. E, muitas vezes, colando o rótulo de jornalista a qualquer pessoa que fale na televisão. Há uma falta de noção gritante do que é o trabalho no terreno, ideias pré-concebidas que não fazem qualquer sentido e, claro, maus exemplos. Tropeço neles quase todos os dias, como, provavelmente, também pode haver quem os aponte no meu trabalho.
Mas não é um exclusivo do jornalismo. Quando vai a uma loja de roupa vê o que gosta, o que não gosta e escolhe o melhor. Ou será melhor andar nu porque três ou quatro pares de calças da montra estão claramente fora de moda?
Uma coisa é óbvia: os canais oficiais dos clubes não são solução. E isto é transversal a todos: não me parece que alguém possa ficar devidamente informado sobre tudo o que diz respeito à realidade do seu clube apenas através dos meios oficiais. E não é por falta de profissionais de qualidade: há bastantes, em todos os canais. É, isso sim, porque há temas que não interessa informar.
É da condição humana a predilecção por boas notícias em detrimento das más, excepto, claro, se nada tiver a ver connosco. É a tal atracção pelo acidente alheio que condiciona o trânsito na estrada. Mas isto não deve levar a que se persista numa realidade paralela, com arco-íris, borboletas e dias de sol uns atrás dos outros. Há chuva, há nuvens, há tropeções. Há, enfim, o dia-a-dia.
Os jornalistas têm clube? Claro. Digo até que é desejável que tenham, pois significa que o fenómeno desportivo não lhes passa ao lado e não caíram de para-quedas na profissão. Por outras palavras: gostam do que fazem. Quem não gostaria de trabalhar naquilo que gosta?
Perguntam-me, muitas vezes, se não acho que tudo se resolvia se os jornalistas assumissem o clube. Digo sempre que não. Nada mudaria na forma como se faria o trabalho, mudaria tudo na forma como ele é encarado. Há que haver distância e rigor num mundo onde impera a emoção.
Lamento, mas não concordo com Bruno de Carvalho. Leiam muitos jornais, vejam muita televisão, ouçam rádio, consultem blogues, pesquisem na internet. Resumindo: informem-se. Se não servir para mais nada, irão perceber que, se é tudo é assim tão igual, há uns mais iguais do que outros."

Futebol: Raiz e Utopia

"A revista “Raiz e Utopia – crítica e alternativas para uma civilização diferente”, iniciativa de José António Saraiva e de muitos dos maiores vultos da cultura nacional (editada entre 1977 a 1981) foi um dos marcos muito importantes para a mudança das mentalidades e para o crescimento civilizacional. Por isso, a memória, a inovação, a criatividade que se deve à Raiz e Utopia.
Sempre estabeleci ligação entre a revista e o futebol como expressão de viver a vida em comunidade. 
Hoje, o tempo é também de fracturas, de diferenças, de originalidade, de tecnologia e de capacidade de superação de equipas perante adversários que jogam nos extremos (seja de violência, de ignorância, de injustiça e de corrupção e prepotência) e de equipas que continuam a revelar a coragem da frontalidade, a capacidade de inclusão, a inteligência de pensar sem se resignar perante qualquer obstáculo. Liberdade como táctica vencedora, diversidade como estratégia e genialidade como drible invencível.
O futebol será sempre um espaço privilegiado para procurar entender, observar e talvez concluir sobre o estado do país e das mentalidades, como laboratório único onde as emoções, sentimentos, padrões culturais e arte se manifestam com as suas virtudes e contradições.
Mas também um património de amizade, de memórias, um universo paralelo que faz mover as galáxias.
Os sonhos nascem das jogadas conseguidas ou imaginadas naquele rectângulo especial onde tudo acontece, por talentos que vivem para sempre.
O envolvimento social, as marcas de cada época, as ideologias, a violência, as lideranças (por vezes ridículas) que não param de mistificar e de utilizar o futebol para objectivos e finalidades que lhes são adversos, são dificuldades acrescidas que os adeptos (amantes do futebol) vão conseguindo derrotar mantendo a simplicidade aparente de um jogo, de uma utopia de criança.
E quando a bola inicia o movimento tudo pode acontecer, inclusive vencer.
Raiz, o que temos; Utopia, o que tentaremos alcançar porque não impossível mas somente ainda não atingida.
Pensar futebol, o que temos e o que poderemos ter, o desafio que nunca nos abandona e sempre nos desafia: desportista nunca desiste e vive para superar obstáculos. O futebol atravessa uma fase única mas determinante. Há adversários cada vez mais poderosos. Sente-se uma mentalidade de oportunismo financeiro à escala global sem equacionar riscos e consequências – só curto prazo.
As contínuas mudanças de regras e competições revelam a ânsia de domínios que se pretendem impor, essencialmente para enriquecimentos instantâneos, por mais estranhos que possam parecer, bem como um aproveitamento da globalização que mais se assemelha a uma ficção monocromática. 
Eles andam por aí e têm “olhos e ouvidos” em todos os lugares. Dizem que há quem se venda!
Que há quem traia valores que sempre defendeu!
Inventam-se currículos, criam-se mitos e estruturam-se empórios com gabinetes de especialistas do usufruto alheio. Há mesmo quem se especializa na mentira, na adulteração de imagens, na criação de cenários de polémica e de ódios, e lança, com o ar mais cândido, falsidades que certamente lhes trazem benfeitorias desde que encomendadas por quem “pode”… até que deixe de o poder.
Num jogo de futebol, numa discussão política no Parlamento, na análise de um acontecimento ou decisão governativa, não temos todos o dever de primeiro reflectir no assunto, de pensar como nos for possível e de trocarmos ideias para um esclarecimento útil?
Pensar, porém, é exercício que alguns procuram impedir (Orwell demonstra-o de forma clara) talvez por ser um dos momentos mais sublimes do existir.
Criam-se cenários contraditórios, incendeiam-se ânimos, disfarçam-se estratégias e incompetências e há quem se apodere do alheio sistematicamente, quem destrua a confiança, quem crie divisões para assim continuar a alimentar, com subserviências inconcebíveis, desprestigiantes e intoleráveis, os vícios de alguns usurpadores (por vezes, as mesmas famílias há décadas sucessivas) que nunca tiveram a arte e o engenho de dominar uma bola, de a conduzir e de lhe aplicar um remate certeiro ao ângulo da baliza por mais imaginária que for.
Como gladiadores romanos, findo o prazo da capacidade física, da utilidade no espectáculo, abandonam-se memórias e pessoas ao esquecimento e à miséria.
Raiz e utopia. Futebol.
De facto, temos um futebol com jogadores brilhantes, treinadores competentes e selecções vencedoras.
E os planos de desenvolvimento, os projectos de futuro? Isso é outro universo.
Para jogar ou treinar é indispensável possuir um conjunto de “habilitações” específicas.
Mesmo os adeptos dominam memórias, episódios e patrimónios que enriquecem aplausos e que são indispensáveis para apoiar as suas equipas. Eles são essenciais ao jogo e dão-lhe a dimensão, a utopia única.
De alguns dirigentes é que não se pode dizer o mesmo. O movimento associativo é e será sempre uma manifestação de vitalidade e autonomia da cidadania.
Porém, há tendências unanimistas de poder, há estratégias para subir velozmente degraus hierárquicos, há ambições desmedidas que não têm raiz que as suporte.
A falta de rumo, de visão, de missão, mesmo com vitórias de conjuntura, trará sempre consequências prejudiciais.
Analisar os fluxos monetários, as enormes equipas de assessores, a interminável compra e venda de jogadores de qualidade discutível, as constantes alterações para fortalecer o futebol-negócio acima de tudo, as permanentes mudanças nas regras e nas competições, a utilização de novas tecnologias com desvios inqualificáveis, a colocação de “exércitos adversários e guardas pretorianas” em todos os cantos, a valorização da violência e do sectarismo para impedir que o pensamento funcione livremente, são alguns dos resultados de quem não conhece, não gosta nem sabe jogar ou ver futebol. O contraditório nunca pode estar fora-de-jogo.
Vestígios de raiz:
- Dirigentes e assembleias gerais polémicas não ajudam a fortalecer a imagem do futebol.
- Centrar a paixão do jogo nos jogadores e treinadores.
- Segurança nos estádios para adeptos.
- Menos polémicas desviantes.
- Tempo útil de jogo na Liga I: muito reduzido – como optimizar?
- Muitas simulações exageradas ou falsas, sem sanção – o crime compensa!
- Muita contestação de jogadores junto de árbitros numa proximidade física exagerada.
- Árbitros com necessidade de melhor formação e avaliação mais exigente.
- Pouca intensidade e reduzido ritmo competitivo.
- Modelo e dimensão da Liga.
- Contratações sem critério: exagero de novas contratações nas janelas de transferências.
- Instabilidade permanente das lideranças das equipas.
- Arbitragens de fraco nível e muito permissivas, com perda de tempo.
- Decisões de CD da FPF sem a coerência necessária.
- Distanciamento da FPF e da Liga às realidades concretas do nosso futebol, a todos os níveis.
- Da arbitragem de Manuel Mota – 100% (Estoril x SCP) à arbitragem do SCP X Feirense: um descalabro total do VAR – como é possível?
- Regime de empréstimos e limite de planteis.
- Dívida, como procurar resolver um problema terrivelmente asfixiante?
- Desperdício de tempo e de recursos com minudências e protagonismos estéreis.
- Venda de jovens jogadores/talentos para o estrangeiro, muito precocemente (por vezes prejudicando a sua evolução).
Vestígios de utopia:
- Obrigatório pensar e conhecer os sinais do tempo.
- Indispensável agir para encontrar soluções para superar dificuldades: pensar futebol sempre.
- Criar planos de apoio a clubes com metas definidas (em função de critérios de fair play e qualidade de formação de jogadores).
- Liga II + Campeonato Nacional sub-23, o que vem aí?
- Estratégia para atracção de mais público local a apoiar – segurança garantida.
- Plano nacional para optimizar a formação de jovens jogadores.
- Formação contínua de treinadores, gratuita (particularmente para treinadores de competições não profissionais) e com âmbito nacional.
- Criar condições de formação de excelência para árbitros e condições de protecção e autonomia.
- Atitude dos dirigentes em defesa do futebol com regras precisas que limitem “habilidades” destrutivas.
- Falta de apoios para desenvolver o futebol em geral e não se limitar a apoiar sócios de classe da FPF com reforços sistemáticos de verbas, que parecem prémios de fidelidade e de silêncio.
- Economicamente, a FPF é um fantástico case study – falta maior transparência também nos critérios de distribuição de verbas e planos para potenciar a qualidade do nosso futebol.
- Títulos europeus são momentos importantes que alcançam dimensão futura quando se repercutem no desenvolvimento do sistema desportivo e na qualificação de dirigentes – se assim não for só serão mais uma data no calendário, embora sempre importante.
- Vencer é importante, mas estar sempre no grupo dos que podem vencer muitas vezes é muito mais importante.
- Para estar no desporto é indispensável trabalhar para encontrar soluções para os desafios que se colocam e manter uma cultura de valorização do que é nosso.
A imparável evolução tecnológica, os avanços da investigação científica, a possibilidade de criação de superatletas em laboratório, de interferir no ADN, a decisão de escolha de modalidade por critérios científicos, a capacidade em reduzir lesões por processos de manipulação científica, os novos jogos virtuais, podem ser possibilidades importantes, mas em jogos e actividades novas.
O futebol, património da Humanidade, evolui naturalmente (equipamentos mais leves e seguros) mas será sempre o jogo sedutor em que atletas dominam uma bola, com paixão, driblam com eficácia, libertam emoções em passes certeiros e potenciam sentimentos em golos únicos e inesquecíveis. Defender o futebol, como jogo onde os tempos se fundem e a humanidade se reencontra, é raiz que procurarei alimentar sempre com cuidado e desvelo.
Quanto aos novos jogos, que tenham o seu percurso, que cresçam e mantenham condições de inclusão e de sociabilidade…
Mas futebol é outro mundo: é outra dimensão! É sempre uma utopia a perseguir."

António-Pedro Vasconcelos: um discurso sobre a liberdade

" “Com a idade de 15 ou 16 anos, experimentei uma sensação de estranheza quando, ouvindo o relato do que se discutia, no Tribunal de Nuremberga, escutei os advogados de acusação e de defesa dando maior realce aos aspectos jurídicos dos crimes horrendos do nazismo do que aos seus aspectos psicológicos, sociológicos, éticos, políticos, ou seja, aos seus aspectos mais fundamente humanos”. Este é um texto de Jurgen Habermas (ainda felizmente vivo, com 88 anos de idade) que assim continua: “Como foi possível que numa cultura que integrou Hegel e Marx, dois autores onde o tema da realização concreta da liberdade adquire tamanha importância, tenham nascido o Hitler e os nazis? Como foi possível que os alemães não se tenham levantado, como onda gigante, contra esta monstruosa patologia social?”. E, a partir daquele momento, Habermas concluiu que a Razão, a Liberdade, a Justiça não poderiam estudar-se, unicamente, como questões teóricas, porque eram principalmente questões social e politicamente práticas. No seu livro Conhecimento e Interesse, Habermas distingue três interesses cognitivos: o técnico, o prático e o emancipatório: “O acesso às ciências analítico-empíricas incorpora um interesse cognitivo técnico; o acesso às ciências hermenêutico-históricas incorpora um interesse prático; e o acesso às ciências criticamente orientadas incorpora um interesse cognitivo emancipatório”. São demasiado evidentes, em Habermas, os significados de “técnico”, nas ciências analítico-empíricas, e de “prático”, nas ciências histórico-hermenêuticas (para muitos, ciências sociais e humanas). Mas… as ciências críticas? São aquelas que não dispensam a autorreflexão, como a psicanálise, em Freud, e o materialismo, em Marx, visando um objectivo emancipatório – autorreflexão que pretende libertar o sujeito do jugo dos poderes hipostasiados. E que portanto pretende ser reflexão, mediação, transformação.
Venho de ler dois livros do cineasta (e ainda escritor e intelectual e conhecido benfiquista) António-Pedro de Vasconcelos, O Futuro da Ficção e Um cineasta condenado a ser livre. Neles e no diálogo de amigos que vamos mantendo, assoma sempre o itinerário pensante do António-Pedro, não como os que memorizam, com unção e reverência, o saber alheio, para o repetir acriticamente, mas como os que fazem do saber alheio um interlocutor indispensável na demanda das questões que se procuram. É um homem de esquerda, salientando portanto o papel inapagável de Karl Marx, na história da humanidade, principalmente o seu humanismo - um humanismo real e não só um humanismo retórico, filantropicamente encomiástico, caridoso nas palavras, indiferente nas ações. Poderemos citar, a propósito, um dos grandes marxólogos do nosso tempo, José Barata-Moura: “O humanismo de Marx não é a celebração oratória de uma humanidade idealizada, para pequenos efeitos burgueses de gestão compensatória das abençoada ordem capitalista de exploração; do mesmo passo que também o seu comunismo não representa qualquer incarnação apoteótica de verdade eternas de recorte moralista, nem qualquer triunfo utópico de devaneios profético-organizativos, congeminados até ao pormenor por exuberantes e bem intencionados melhoradores do mundo” (Materialismo e Subjectividade, Avante, Lisboa, 1997, pp. 151/152). Também, em António-Pedro Vasconcelos não se descobrem, nas suas palavras, “verdades eternas”, porque o seu humanismo significa devolver ao homem todo e a todos os homens o que ao homem pertence, a sua humanidade, lutando sempre contra as condições adversas que a dialética da história lhe apresente.
Palavras sábias estas que o António-Pedro faz suas: porque é um ser humano e ainda porque é um artista e, como tal, um homem constitutivamente livre e libertador. É ele a dizê-lo, com uma nitidez que não admite dúvidas: “Para mim, a liberdade é um valor inalienável e é o valor supremo. É a base da relação que tenho comigo e com os outros, com o mundo e com o futuro. Em última análise, eu sou responsável por aquilo que me acontece. E isso, para mim, afastou o problema de Deus, mesmo que eu pense, como o Orson Welles, que nós temos de acreditar em qualquer coisa de superior” (António-Pedro Vasconcelos: um cineasta condenado a ser livre, diálogo com José Jorge Letria, Guerra & Paz, Lisboa, 2016, pp. 61/62). Num livro admirável, uma síntese magistral da história da arte, na cultura ocidental, António-Pedro manifesta-se radicalmente livre. Radicalmente? Sim, porque ser radical (e relembro Marx, como o António-Pedro o faz tantas vezes): “ser radical é tomar as coisas pela raiz”. Só que, “para o homem, a raiz é o próprio homem”, ou seja, o horizonte, onde o homem se projecta, é autenticamente humano. Desde os geniais artistas florentinos até a Holywood a história da arte pode resumir-se numa “longa luta em que os grandes criadores se batem pelo reconhecimento do seu estatuto e procuram libertar-se da autoridade dos Papas, dos mecenas e dos poderosos. Miguel Ângelo, enfrentando a autoridade de Júlio II, ao pintar, como quis, O Juízo Final; Ticiano, a quem Carlos V, o homem mais poderoso do Universo, apanhou do chão o pincel que ele deixara cair, impondo-se naturalmente pelo reconhecimento do seu génio”. E continua, avocando outros nomes, outros artistas: “Griffith, que inventou o cinema, com O Nascimento de uma Nação, reclamava para a 7º arte a mesma liberdade que tiveram os autores da Bíblia e Shakespeare (António-Pedro Vasconcelos, O Futuro da Ficção, Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa, 2012, p. 52). No cineasta António-Pedro Vasconcelos, é a liberdade que melhor assume o espaço ontológico do humano, do verdadeiro humanismo. Sem liberdade, a humanidade não acontece…
Os meus almoços quinzenais com o António-Pedro extravasam facilmente dos planos do cinema ou do desporto, em direcção a outras incursões teóricas, sem desconhecermos, tanto ele como eu, que a práxis, enquanto acção política, concita um maior interesse. É conhecida a sentença de Marx: “O indivíduo é o conjunto das relações sociais”. Um cristão-católico, Saint-Exupéry, diz quase o mesmo: “O homem não é mais do que um nó de relações, são as relações o que mais conta, para o homem”. Gramsci afirmou, sem titubear: “O homem é um processo, é precisamente o processo dos seus actos”. De facto, cada um de nós é aquilo que faz. E eu quero fazer-me, fazendo bons amigos. O que é um “bom amigo”? Para mim, é o que tem sede de uma sólida amizade. Há duas semanas, o Doutor José Tolentino Mendonça, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, foi convidado, pelo Papa Francisco, a pregar-lhe um retiro espiritual. E começou assim a primeira das suas prédicas, todas elas com a presença do Papa, que é um leitor fiel dos livros do Padre José Tolentino Mendonça: “Há muita sede, no coração dos homens”. E disse ainda: “É urgente redescobrir a bem-aventurança da sede. A pior coisa para um crente é estar saciado de Deus. Pelo contrário, felizes os que têm fome e sede de Deus”. A propósito, aconselho a leitura do último livro, de José Tolentino Mendonça, O Pequeno Caminho Das Grandes Perguntas. Nele, encontrei o seguinte: “A teologia da ternura tem sido uma das grandes insistências do Papa Francisco” (p. 113). O meu Amigo António-Pedro Vasconcelos insiste… que não tem fé. E acrescenta, com um rasgo rápido, perspicaz e dramático: “Mas a gente só sabe quem foi, depois de morto”. Mas, tendo ou não tendo fé em Deus, António-Pedro Vasconcelos, o intelectual, o cineasta, o benfiquista, o incansável peregrino do Bom e do Belo, no espaço oceânico da vida, é de uma ternura donde ressalta uma permanente afirmação da dignidade humana e uma indignada recusa de tudo o que possa ser redutor dela.
Por isso, acima do mais, somos amigos…"

Juniores - 2.ª jornada - Fase Final

Corruptos 1 - 2 Benfica


Mesmo com várias ausência por lesão e castigo, fomos e somos muito superiores! O resultado pecou por escasso... Tudo isto com uma arbitragem surreal!!!
Com estes jogadores, podemos recuperar o título nacional, com algumas jornadas de antecedência... Cuidado com o Braga, parece ter uma equipa forte...

A partir de agora é a sério !!!

Benfica 3 - 0 Clube K
25-12, 25-13, 25-8

Fim da fase regular, com uma vitória normal... Agora, vamos para as decisões da época: a Meia-final será decidida com o Sp. Espinho.