sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

“Primeiros 100 milhões de euros da NOS serão para reduzir o Passivo”



"A renovação que hoje assinalamos da Casa do Benfica em Braga é bem o espelho do trabalho de modernização que, a todos os níveis, tem vindo a ser feito no nosso clube. E as novas Casas do Benfica são, talvez, o projecto que melhor concretiza o enorme esforço de fazer chegar a todos os nossos sócios, adeptos e simpatizantes o vasto conjunto de serviços que hoje o Benfica oferece. Mas as Casas, verdadeiras embaixadas do Clube, não se limitam a isso e cada vez mais se distinguem pelo conjunto de iniciativas sociais, culturais e desportivas que desenvolvem, como acontece aqui em Braga.
Por isso, é com naturalidade que, nas centenas de inaugurações e ampliações que temos feito por todo o país das Casas do Benfica, as mais diversas e representativas entidades locais têm feito questão de estar presentes e de se associarem a estes momentos, independentemente das questões clubísticas. O contrário é que se torna incompreensível e é uma cedência à cultura do fanatismo que leva ao triste exemplo de no último ano por seis vezes esta nossa Casa ter sido vandalizada. Esta cultura de ódio e guerra tem de acabar.
O Benfica é a maior instituição desportiva portuguesa. Temos um passado que nos orgulha, um presente bem representado pela hegemonia que conquistámos nos últimos anos no futebol português, e um futuro em que só nós temos programado desenvolver um vasto conjunto de novos projectos e infraestruturas.
Podemos falar do alargamento do Caixa Futebol Campus, no Seixal, o centro da já famosa, em termos mundiais, Escola de Futebol do Benfica – e que simboliza a nossa grande aposta estratégica, que é a Formação, e todas essas renovações efectuadas (refeitórios, cozinhas, balneários, quartos, campos,...) serão apresentadas no dia 31 de Julho. Mas também podemos falar do Centro de Alto Rendimento em Oeiras, da nova Escola Internacional – o Colégio Benfica (dia 28 de Fevereiro vamos entregar a proposta concreta no Ministério da Educação e queremos que a Escola esteja a funcionar no ano lectivo de 2019/20), da Casa do Jogador, do novo Hotel que vai nascer na Rua Jardim do Regedor, ou da nova Rádio Benfica, que em Maio/Junho estará no ar.
O Contrato com a NOS é para pagar a dívida do Benfica. Como sempre disse, nunca iria utilizar este dinheiro para a gestão corrente ou para comprar jogadores. Posso adiantar que o primeiro lance de cem milhões de euros será para pagar ao sistema financeiro português e abater já parte da dívida do Benfica.
Vim para resolver o problema do Benfica. Este é um projecto do Benfica e dos Benfiquistas. Esta promessa é para ser mantida e não vira com um resultado menos bom. Comigo não vira! A aposta na Formação do Benfica é para manter e não vai mudar. Na próxima época mais quatro jovens da Formação estarão no plantel principal do Benfica.
E foi perante este contexto que outros, vendo-se enredados numa crise financeira e desportiva sem precedentes, sem qualquer tipo de novos projectos e rumo, resolveram tudo apostar numa estratégia concertada de querer manchar o nosso trabalho e a reputação da nossa marca.
Posso afirmar e garantir que os benfiquistas, hoje como amanhã, poderão andar com a cabeça levantada. Repito, orgulho-me de estar aqui como presidente do Sport Lisboa e Benfica, de cabeça levantada. Pronto para – uma a uma – ir desmontar, nos locais próprios, que são a justiça e os tribunais, cada uma das suspeitas e acusações que nos fazem. Uma a uma sem qualquer tipo de tréguas. E, um a um, iremos responsabilizar todos aqueles que intencionalmente mentiram e difamaram de forma gratuita e criminosa.
A recente decisão do Tribunal da Relação do Porto, que faz cumprir a lei e proíbe o Futebol Clube do Porto de continuar a cometer o crime de divulgação de correspondência privada – vindo tarde, é certo – veio pôr fim à falta de vergonha de quem exibia o produto roubado e praticava o crime, gabando-se de estar acima da lei e a coberto de uma pretensa justiça. É como nos roubarem o carro e vermos todos os dias quem se passeava nele a dizer que nada tinha que ver com o assunto. Tenham vergonha!
Da nossa parte, cabeça levantada, sim! Porque não cometemos nenhuma ilegalidade, todas as nossas vitórias foram obtidas de forma limpa, e em nenhum momento irão encontrar qualquer tipo de prova que ponha em causa a transparência e o rigor com que sempre estivemos em todas as competições. Não é por encher a justiça de denúncias anónimas, de propagar notícias falsas e repetir muitas vezes mentiras que as coisas passam a ser verdadeiras. Uma mentira repetida muitas vezes não passa a ser verdade. Neste clube nunca houve árbitros convidados para nossa casa, nomeações combinadas, quinhentinhos, férias pagas, gravações comprometedoras, nada. Nos vouchers, todas as instituições nacionais e internacionais da justiça desportiva arquivaram o processo. Todas! Nos e-mails, o único crime que está provado é que existiu um roubo há mais de uma década de correspondência privada de uma instituição.
E aqui, a desilusão deverá ser muito grande. Porque, gabando-se de terem tido acesso a anos e anos de troca de correspondência interna de âmbito totalmente privado e, por isso, naturalmente feita numa linguagem mais informal – como acontece em todas as organizações –, mesmo assim manipulando e falsificando e-mails, nada ali pode ser apontado como prova de uma situação ilegal com causa e efeito. Mas será na justiça que tudo se esclarecerá.
Desde o início, por confiança e respeito pelo trabalho da magistratura e do segredo de justiça, que optámos por centrar nesse local a nossa defesa. No momento certo e no local próprio em pormenor. Talvez com custos na balança mediática. Mas optámos por não vir para a praça pública esmiuçar tudo, até porque muita mentira e deturpação se misturava, afectando terceiros, que têm direito à sua defesa com a necessária reserva.
Nestes mais de 18 anos em que tenho o orgulho de servir o Sport Lisboa e Benfica, nunca misturei a minha vida privada com as funções no clube. Nunca!
Nem ninguém poderá alguma vez apontar-me isso. Nunca ofereci qualquer cargo no clube a troco de qualquer situação da minha vida profissional ou pessoal. Muita mentira e deturpação tenho lido e ouvido sobre esse assunto. Algumas magoam bastante! Mas garanto-vos, quando sair do Benfica vou mais pobre, não vou mais rico! Mas essa é uma questão que esclarecerei noutro local, precisamente em nome da separação dos planos.
Não se preocupem por a Judiciária ter ido a minha casa, deve é começar a ir a outras casas… Eu sei que incomodo muita gente por ser presidente do Benfica. Ter a 4.ª classe, ser (com muito orgulho) do Bairro das Furnas, e ser presidente de um clube com esta grandeza. Esta cabeça sabe pensar e honrar os seus compromissos.
Servir o Benfica, em conjunto convosco, tem sido um privilégio. Se existe algo que sinta, é que toda esta 'campanha negra' ainda nos tornou mais fortes, resistentes e determinados. Tudo têm feito para evitar que o Benfica ganhe o Penta. Nesta semana, assistimos a decisões e episódios absurdos e lamentáveis a fazer lembrar outros tempos.
Mas tenham certa uma coisa. Denunciaremos todas as situações, não calaremos a nossa voz e continuaremos o nosso trabalho de consolidar e reforçar a liderança nacional e o prestígio internacional do Benfica.
Daqui, do Minho, saímos sempre com este apoio incondicional e vibrante. Saímos sempre com mais alma e força. Neste clube, respeitamos a diversidade e a liberdade de opiniões, somos um clube do povo e um espaço em que um valor maior todos os dias se afirma: o amor e o afecto ao Sport Lisboa e Benfica. Juntos seremos sempre mais fortes.
Nós queremos o Penta! É verdade que disseram que já não íamos lá, mas como costumo dizer: ‘Quando se sobe a Serra da Estrela, não se tem sempre a mesma pedalada’. Nós vamos ter a pedalada! Todos temos de estar juntos com a equipa, apoiá-la mesmo nos momentos difíceis, porque os jogadores estão prontos não para 90’, mas sim 180’. O nosso treinador está bem atento e em sintonia com a estratégia do Sport Lisboa e Benfica e todos temos de ter esta ambição: Queremos o Penta! Doa a quem doer."

Capelada

"Assistimos a um autêntico 'roubo de capela'. O golo fora de horas, parecendo que o jogo só terminaria quando o Sporting marcasse, deveria constar nos compêndios das más arbitragens. A incompetência de Capela é gritante, a que se lhe junta a permeabilidade à pressão de outrem e a indisfarçavel ausência de critérios uniformes. Por exemplo, o que foi feito do rigor que o levou a expulsar Cardozo no Estádio da Luz por dar uma palmada no relvado, na celebração de Coates, ao despir a camisola sem que tenha sido admoestado com o segundo amarelo? E daquele que, em Olhão, resultou no único vermelho directo da carreira de Aimar?
O videoárbitro, com Capela, é manifestamente insuficiente. É também necessário o video-relógio e, sobretudo, o video-pudor. 'Capela é Capela' e pior insulto não lhe poderia dirigir.
Entretanto, no Twitter oficial do Sporting logo após a partida, foi manifestado regozijo pelo golo apontado 'aos 95 minutos'. Sim, 95, leu bem, e não aos 99, como todos, talvez excepto o inefável Capela, viram. Assim se entende o apelo de Bruno de Carvalho para que os sportinguistas apenas leiam, oiçam e vejam os meios de comunicação do seu clube. Eles, orgulhosamente sós, confortavelmente refastelados na fantasia de que a culpa dos seus insucessos é sempre do Benfica, julgam que se tornarão imunes à cruel realidade de que, do outro lado da 2.ª Circular, há um clube maior e melhor, cujos adeptos, ao contrário deles, agora calados que nem lagartos, não sentem a necessidade de se tornarem arautos da verdade desportiva somente quando lhes convém.

P.S. Parabéns à nossa equipa de atletismo! Já dizia Cosme Damião: '(...) no futuro a dedicação goleia o dinheiro'."

João Tomaz, in O Benfica

Quanto mais me bates

"Foi terrível o fim de semana passado para quem gosta - ou está autorizado - a ver televisão e a acompanhar notícias. Num claro exercício de 'vamos dar-lhes aquilo de que nós gostamos', os responsáveis pelo alinhamento dos canais portugueses de informação dedicaram horas, horas e mais horas de programação ao congresso de um partido político que (à luz dos resultados das últimas eleições autárquicas) representa cerca de 850 mil pessoas, menos de 10% da população residente em Portugal. Como se isso não fosse suficiente, nesse mesmo fim de semana realizou-se a assembleia-geral de uma agremiação desportiva que representará - na melhor das hipóteses - dois em cada dez portugueses. E o que foi que aconteceu? Horas e mais horas de informação inútil, de entrevistas estéreis, de 'encher chouriços' até à hora dos resultados finais dessa reunião de associados.
Da antiga FIL, em Lisboa, nada de novo ou de refrescante saiu. E os fotojornalistas acabaram impedidos de realizar o seu trabalho de forma agressiva. Nada de novo no seio daquele partido político. No pavilhão do Lumiar, o coisa ainda foi pior. Os mesmos que colocaram nas primeiras páginas e em horário nobre um adepto que chegou a presidente de um clube foram os que acabaram insultados e agredidos. À saída da assembleia, alguns associados instigados pelo discurso violento, infantil e psicologicamente perturbado de um miúdo mimado, resolveram mostrar o nível de que são feitos. Não só não ganham nada, como também preferem ser silenciados em nome do 'querido líder''.
E com tudo isto não se falou de futebol. É isso que lhes interessa, desviar as atenções para a pobreza franciscana das suas exibições e das suas contas bancárias. No Lumiar e na antiga FIL."

Ricardo Santos, in O Benfica

Estratégia infalível

"Ufa, bendita a hora em que o Coates desfez o empate em Tondela! Por momentos temi o pior. Não compreendo a revolta de tantos benfiquistas pela tardia vitória do Sporting. No meu caso, saiu-me um peso de cima quando vi o defesa uruguaio a empurrar a bola para o fundo das redes. A verdade é que se o Coates não tivesse marcado aquele golo, provavelmente a esta hora o jogo ainda estaria a decorrer - e os pobres jogadores do Sporting a desperdiçarem forças de que tanto vão precisar no jogo do Dragão que se avizinha. Assim vão bem mais fresquinhos.
Depois de Mathieu ter simplesmente, imagine-se, levado a mão à cara de um adversário, houve alguns comentadores estupefactos pela 'facilidade com que se expulsam os jogadores do Sporting'. Não podia estar mais de acordo: é tão fácil, que esta época foi apenas a primeira.
João Capela, que interrompeu a partida a 20 segundos do fim após William Carvalho ter obrigado um jogador do Tondela a regressar de muletas para casa, compensou a carícia do capitão leonino com mais três minutos de compensação. Onde grande parte dos adeptos descortinaram motivo para polémica, eu vislumbrei de imediato uma formidável oportunidade. Passo a explicar. Quando o Benfica chegar à etapa final de um jogo empatado ou a perder, basta o Jardel cair no chão durante cinco minutos. Nesta equação, como já percebemos, 20 segundos correspondem a três minutos. Portanto, se a matemática não me falha, cinco minutos correspondem a 45. Se ainda assim não chegarmos à vantagem, repete-se o plano e ganha-se de novo mais tempo extra. Façam chegar esta crónica a Rui Vitória e nunca mais perdemos um jogo no campeonato."

Pedro Soares, in O Benfica

E o burro é ele?

"Se, enquanto benfiquista, o actual presidente do Sporting me transmite as melhores recordações (quatro títulos em quatro anos), já como amante do desporto acho perturbador que criatura tão rasteira se vá mantendo à frente dos destinos de um dos maiores clubes portugueses.
Com a preocupação infantil de ser o centro das atenções, o individuo vai passando todas as linhas vermelhas e verdes no que toca à respeitabilidade, continuando a expelir chamas em seu redor, a começar pelo próprio clube que lidera. Sócios, ex-dirigentes, árbitros, FPF, Liga, rivais, UEFA, FIFA, empresários, comentadores e jornalistas. Ninguém escapa, numa política de terra queimada, em que vale tudo para manter o poder interno e o protagonismo mediático.
Se é chocante ver o Sporting de Peyroteo, Hilário, Moniz Pereira, Carlos Lopes, e tantos nomes eternos, entregue a um sujeito como este, mais estranho é que o mesmo seja reeleito já depois de mostrar repetidamente quem é, e como se comporta.
No passado também muitos benfiquistas foram enganados. Mas apenas uma vez. Se em Alvalade continuam a escolher alguém que envergonha a história do Sporting, então é porque o problema está para além de uma mera patologia individual. Será a cultura do clube? O pé a resvalar para o chinelo?
Por nós podem continuar assim, pois nem as toneladas de dinheiro despejadas sobre as equipas daquelas bandas apagam os fogos ateados pelo seu presidente. E já agora era interessante que a comunicação social respondesse ao boicote na mesma moeda, e também ela ignorasse tudo o que diz e faz o presidente do Sporting. O ar ficaria mais puro."

Luís Fialho, in O Benfica

Mais um título

"As semanas vão passando e os títulos vão chegando ao nosso fabuloso Museu. O Atletismo do Sport Lisboa e Benfica volta a merecer destaque. A professora Ana Oliveira prometeu e cumpriu - a reconquista do Campeonato Nacional de Pista Coberta, em masculinos.
E assim foi. No passado fim de semana, em Pombal, mais uma prestação estrondosa dos nossos atletas e mais uma prova de excelência dos nossos treinadores. Fixe bem estes 14 atletas: Emanuel Rolim, Frederico Curvelo, Ícaro Miranda, João Coelho, João Fonseca, Mauro Pereira, Miguel Carvalho, Pedro Pablo Pichardo, Raidel Acea, Ricardo dos Santos, Samuel Barata, Tiago Pereira, Tsanko Arnaudov e Victor Korst. Releia-os e fixe-os bem.
E fixe também estes 8 nomes: Ana Oliveira, João Abrantes, João Ganço, Pedro Pinto, Rui Moita, Rui Silva, Susana Silva e Victor Zabumba. São os competentes treinadores que pensaram e prepararam este título ao detalhe. Não esquecer esta dupla - Diogo Cunha (fisioterapeuta) e João Gaspar (massagista). Tal como a dupla de psicólogos - Isabel Soares e Sérgio Dias. E, já agora, fixe mais estes quatro nomes do staff: Ana Morais, Isabel Oliveira, José Rosa e Maria João Lopes. Ou seja, 30 grandes profissionais que provaram, mais uma vez, uma das nossas máximas - juntos somos mais fortes. Destaque especial para o recorde nacional de Tsanko Arnaudov (21,27m) e da nossa fantástica equipa de estafeta dos 4x400 metros: Mauro Pereira, João Coelho, Raidel Acea e Ricardo dos Santos. A marca de 3m12s54 é notável.
Uma palavra ainda para Pedro Pablo Pichardo, que venceu o triplo salto com uns claros 17,19m."

Pedro Guerra, in O Benfica

O frio de Lisboa

"Lisboa é uma cidade a que chamamos mediterrânica, mas o mar que a toca é o Atlântico, e os lisboetas sabem bem que a nortada se chama assim porque traz o frio do Norte e a humidade do oceano. Mas a tudo isso já se habituaram, até porque o clima é bom, e todo o mundo sabe disso. Para quem vive na rua, a perspectiva é bem diferente, e esse clima bondoso às vezes castiga, dói nos ossos, engelha as mãos, enregela os pés e arrefece o fundo das almas. Esse é um frio que Lisboa também tem e que não passa só com o agassalho. É um frio que acentua a solidão, a indiferença, a pobreza e a fraca saúde física e mental de tantas e tantas pessoas. Claro que a amizade também existe nas ruas e é muita, mas nunca basta a quem está privado de quase tudo o que é próprio da condição humana, incluindo, nas mais das vezes, a própria família...
Há uma altura na noite em que a cidade aquieta o ruído, e os sons ecoam pelas ruas a condizer como frio.
É nessa altura que um saco-cama aquele o corpo, e um sorriso acalenta o espírito, bem acompanhado por um abraço de um jogador do Benfica, dado com a paixão e a energia dos campeões, a todos de igual forma, mesmo para quem não é do nosso clube.
Obrigado, Plantel!"

Jorge Miranda, in O Benfica

O futebol português está uma Síria

"O fim de semana passado, em termos de ambiente que os nossos rivais mais próximos escolheram para se sustentar, foi ainda mais delirante do que era hábito; prolongou-se para segunda-feira (esparramado-se mesmo, muito para além da hora, com a espúria decisão de cúmplices vestidos de preto); e, tendo acrescentado, sem pudor, a todos as misérias do costume, outras ainda mais extraordinárias, viria a refundar num conjunto de alucinações que não encontramos nem nas tiradas da Bílbia, nem nos cadernos da FIFA, nem mesmo em qualquer programa de governo...
Grande fim de semana! Valeu tudo para tirar do sério até o mais empedernido dos algozes do futebol luso que tantos tratos de polé tem levado nos últimos meses, coitado. Coitado do futebol, claro! Porque quem regula nas instâncias do futebol já não regula nada. E quem dirige, na tutela institucional, assiste com passividade doentia sem saber gerir e nem sequer quem (nem como) deva orientar.
Para não ficar atrás das impunidades de Contumil no lamaçal lá de cima, aqui em baixo, o pequeno clube do Campo Grande entrou, definitivamente, na roda livre do paroxismo. Eles, juntos, quiseram e já fizeram do futebol português uma irrespirável Síria, um território sem lei. Com eles imersos em desfiladeiros do desespero desportivo, deixou de haver quaisquer limites nos campos do senso comum, do fair play, ou na legislação e do bom gosto.
Contra isso, do nosso lado, é crucial manter o rumo, de cabeça fria e com nervos de aço. Juntos no apoio às nossas equipas, com a humildade de que sempre se foi construindo a enorme grandeza do Benfica. E perante isso, com uma simétrica perfídia, parece que juízes, árbitros, federativos, reguladores, procuradores e polícias, gestores, secretários e ministros (e até os mais altos magistrados da nação...), todos continuam a preferir ir assobiando para o lado. Mas até quando?"

José Nuno Martins, in O Benfica

O homem e a máquina

"A chegada de meios tecnológicos à arbitragem do futebol representou um passo no caminho certo, de olhos postos no futuro. Embora ainda seja necessário acertar algumas agulhas, nomeadamente no que respeita a software certificado pela FIFA para as linhas do fora-de-jogo e ao audio em directo das comunicações entre o árbitro principal e os vários assistentes, incluindo o videoárbitro (VAR), a verdade é que existem hoje mais instrumentos para julgar bem e não subverter a verdade desportiva. Porém, o que se tem verificado é que o problema não está na tecnologia mas sim em quem a maneja, não está na máquina, está no homem.
A responsabilidade individual dos árbitros aumentou exponencialmente com a chegada do VAR. Aqueles argumentos, a que não havia como não ser sensível, da dificuldade de decidir numa fracção de segundo, da velocidade do lance ser superior ao olho humano, ou da colocação que não permitia aferir a jogada, foram chutados para canto, deixando o árbitro confrontado com circunstâncias, até então escamoteáveis: a sua própria incompetência, a sua instabilidade para interpretar as leis, a sua falta de coragem para tomar a decisão correcta nos momentos mais sensíveis. A chegada da tecnologia acabou com uma série de álibis que serviram de airbag aos árbitros no momento do desastre.
Provavelmente a conclusão que devemos tirar, após 23 jornadas de Liga com VAR, é que há árbitros neste nosso quadro de elite sem condições para estar ao mais alto nível.
Em muitos casos, aquilo que já se desconfiava ficou agora clarinho como água para toda a gente..."

José Manuel Delgado, in A Bola

Triste, muito triste

"Vários associados eram coagidos, ameaçados e silenciados caso pretendessem tomar a palavra. Tudo com o beneplácito da MAG.

Estava longe, mas mesmo muito longe de imaginar que a má-fé, a iniquidade e a desfaçatez pudessem atingir tão elevada expressão como aconteceu na Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal do passado dia 17 de Fevereiro. Depois de uma explicação inicial em que considerou finda a anterior reunião magna de 3 de Fevereiro (esquecendo a suspensão que, publicamente, havia proclamado), Jaime Marta Soares deu início à sua magnífica prestação de Comendador (em tudo lembrando o personagem de que nos falava Adriano Correia de Oliveira), quando se lhe exigia apenas que assumisse o papel de Presidente da Mesa da Assembleia Geral, ou seja, com imparcialidade e equidistância. Mas não. Com a aquiescência dos restantes membros da mesa da AG, o Senhor Comendador (como tal, assinou a convocatória da AG), não contente, logo descobriu 10 sócios espontâneos que, na primeira fila da plateia cuidadosamente organizada, se prontificaram a comprovar, com inocência e candura, que nada existia nas urnas, o que, aliás, nenhum mortal havia, até então, suscitado. Edificante tal exercício de transparência e isenção. Iniciados os trabalhos, ao Senhor Presidente do Conselho Directivo foi concedida oportunidade para o habitual monólogo através do qual, lançando mão do varapau linguístico a que nos habituou, zurziu, a torto e a direito, alguns associados, recorrendo, para tanto, à mentira e à torpe insinuação. Impávido e sereno, Sua Excelência, o Senhor Comendador a tudo assistia sem reparos ou observações quanto aos impropérios produzidos, os quais, no seu alto magistério, correspondiam às mais elementares formas de liberdade de expressão e de opinião. Finda a intervenção, Jaime Marta Soares, com sapiência e apurado sentido de oportunidade e com a prestimosa ajuda dos insignes juristas que o acompanharam, logo dispensou a ordem de trabalho por si subscrita, autorizando a votação em bloco dos 3 pontos elencados, sem qualquer discussão sobre os mesmos. Era obra! Ao mesmo tempo, vários associados eram coagidos, ameaçados e silenciados caso pretendessem tomar a palavra. Tudo com o beneplácito da Mesa da Assembleia Geral. Para o final estava guardada a intervenção tonitruante e feérica do Senhor Presidente do Conselho Directivo. Empolgado e deslumbrado pelo exaltante momento, logo incendiou o ambiente através do decretamento de fatwas sobre a comunicação social, o que nem o mais radical dos ayatollahs ousaria. Perante a intervenção das forças policiais para evitar agressões a jornalistas e a alguns associados, o Senhor Comendador, de um modo paternal, limitava-se a declarar que não tinha conhecimento de nada. Mao Tsé Tung e Enver Hoxha, entretanto, sorriam."

Abrantes Mendes, in A Bola

Tempo extra e outros extras

"Já referi por mais do que uma vez, portanto repito a ideia. O tempo de jogo não devia ser um poder discricionário do árbitro, podendo este adicionar tempo extra no final de cada uma das partes consoante o que entende ser essa compensação. Os momentos finais de um jogo são, em muitos casos, vividos debaixo de grande pressão. Não é fácil para ninguém. Em situações idênticas os critérios podem ser diferentes. Por exemplo, normalmente por cada substituição contabiliza-se 30 segundos mas há substituições bem mais demoradas. A assistência a lesões têm tempos diferentes. Quando se chega ao final, e o resultado não é do agrado de uma das equipas, a pressão para que o tempo extra seja maior é uma evidência, isto são factos. Acontece com todas as equipas, com mais destaque, claro, para as mais mediáticas. Os outros são acusados de queimar tempo, os mais poderosos fazem o mesmo com maior protecção. Não é difícil encontrar uma solução. Basta observar outras modalidades.
No futebol, a solução pode passar por alterar a Lei 7, e o tempo de jogo tomar-se tempo útil de jogo, contabilizado pelo quarto árbitro e visionado no marcador do estádio. Pode discutir-se a duração, mas talvez o melhor seja 35 minutos por cada parte. Poderia ainda aumentar-se o número de substituições, permitindo sempre a do guarda-redes. E permitir substituições temporárias.
Não faz sentido que um jogador substituído não possa voltar ao jogo. São alterações muito fáceis de implementar; ajudariam a credibilizar o jogo, retirariam um problema aos árbitros e reduziriam o conflito, uma vez que seria possível recuperar o estado emocionável de um jogador retirando-o temporariamente do jogo. Podíamos ir mais longe, nomeadamente com questões disciplinares, como as suspensões temporárias, mas não me parece que seja o momento. Para protecção dos árbitros e do próprio jogo, altere-se por a Lei 7."

José Couceiro, in A Bola

Um grande Bruno

"(...)
Abstenho-me de classificar o exercício de análise do bom vs. mau jornalismo que a Sporting TV realizou ontem com a presença do presidente do clube e do ex-editor chefe de Record, o qual desempenhou essas funções, atribuídas por esta direcção, desde Setembro de 2014 até ao último dia em que esteve no jornal, que foi há três semanas. Não posso, no entanto, esconder um turbilhão de sentimentos que vai da indignação à tristeza, da repulsa ao desprezo, perante o torpe ataque que foi dirigido a Record. A direcção reserva, pois, o direito de poder reagir nos locais próprios às ofensas e calúnias que ali foram lançadas."

Pontas-de-lança portugueses

"Até à entrada em cena no Mundial’2018, Portugal terá pelo menos 3 jogos particulares. Será o tempo de começar a afinar as escolhas e fazer os últimos testes para verificar quem parte em vantagem para ser seleccionado. Uma das posições que mais gera curiosidade é a de ponta-de-lança e este é um olhar sobre as principais soluções que Fernando Santos tem à disposição.
Em décadas recentes, a falta de opções de qualidade para a chamada ‘posição 9’ era uma das principais dores de cabeça dos seleccionadores. Talvez por uma questão ‘cultural’, em que se deu privilégio a jogadores mais móveis e rápidos, nem sempre se apostou no ponta-de-lança tradicional: com características técnicas e físicas para jogar dentro da área. Mas isso parece ter mudado e, ao nível da formação, dos clubes e das próprias selecções jovens, começaram a surgir pontas -de-lança com novas valências, alargando as opções para a função. E se Cristiano Ronaldo é a máquina goleadora que todos conhecemos, que outros jogadores lhe poderão fazer companhia na frente de ataque?
André Silva parece a opção mais provável, tendo sido aposta do seleccionador na fase de qualificação. O jovem formado pelo FC Porto não tem tido vida fácil na primeira época ao serviço do AC Milan. Ainda não apontou golos na liga italiana e foi apenas titular por 5 vezes. E com a troca de treinador na equipa, acabou por ter menos minutos de jogo. Por seu lado, aproveitou as oportunidades para jogar e marcar na Liga Europa, onde é o goleador da equipa com 8 golos.
O herói da final do Euro’2016, Éder, é outra solução a ter em conta, pelas suas diferentes características e o que representa para o grupo. Emprestado pelo Lille aos russos do Lokomotiv Moscovo, conta 3 golos em 16 jogos, sendo que não tem vindo a ser titular. Por seu lado, Nélson Oliveira está a ter uma utilização mais regular ao serviço dos ingleses do Norwich, com 8 golos marcados em 30 partidas, estando a 4 tentos de igualar o melhor registo na carreira.
A boa época realizada ao serviço do V. Setúbal, com 11 golos e 25 jogos, contribuindo para a chegada da equipa sadina à final da Taça da Liga, também levou Gonçalo Paciência a ser chamado à Selecção e a regressar ao FC Porto. A concorrência forte no Dragão reduz o espaço para o jovem avançado, mas será também um elemento a considerar.
Orlando Sá reencontrou-se com os golos na Bélgica. Depois de uma época em que facturou por 17 vezes ao serviço do Standard Liége, o ponta-de-lança português já leva 12 golos esta temporada e vive a melhor fase da carreira, situação que o coloca no radar dos seleccionáveis. Outro goleador em campeonatos menos mediáticos é Hugo Vieira, que depois de brilhar na Sérvia com 29 golos em 51 partidas, apontou 18 golos em 38 jogos pelo Yokohama Marinos do Japão. 
Embora não sejam pontas-de-lança de raiz, lá por fora podemos encontrar 2 jogadores portugueses que podem encaixar bem num sistema de 2 avançados, que por acaso, até alinham na mesma equipa: Diogo Jota e Ivan Cavaleiro. O primeiro já tinha confirmado o seu valor em Portugal e está agora a mostrar qualidade no Wolverhampton com 13 golos. O segundo, depois de passar por Deportivo e Monaco, ganhou agora espaço competitivo e já fez o gosto ao pé por 8 vezes.
Olhando para as equipas portuguesas, o avançado Paulinho, do Braga, com 11 golos apontados, tem vindo a registar uma boa evolução e Guedes, do Rio Ave, está a fazer a sua melhor época aos 30 anos, com 10 tentos. É certo que uns terão mais chances de chegar à Selecção do que outros. Mas Fernando Santos acaba por ter aqui uma base de recrutamento interessante.

O craque -- Chuva de golos
Com 7 golos apontados nas últimas 5 partidas disputadas, o avançado Tiquinho Soares é o homem do momento. De regresso ao nível de exibições que o vimos fazer na época passada, o brasileiro do FC Porto aproveitou da melhor forma a oportunidade dada pelo seu treinador, a tal "porta entreaberta" após um caso em que o avançado não se comportou da forma mais correta no jogo da Taça da Liga frente ao Sporting. A continuar assim, pode ser uma peça muito importante para os dragões no último terço do campeonato.

A jogada -- Mudanças no futebol
O presidente da FIFA, Gianni Infantino, parece apostado em promover algumas mudanças no futebol mundial. O fim da janela de transferências em Janeiro, o fecho do mercado após o arranque dos campeonatos, a limitação dos empréstimos de jogadores, o aumento dos pagamentos em transferências a clubes (e federações) formadores, um maior controlo sobre as comissões pagas a agentes e a imposição de um tecto salarial a todos os clubes são algumas das propostas que estarão em cima da mesa durante as próximas semanas. Medidas interessantes (e pertinentes) que merecem, pelo menos, serem debatidas por todos.

A dúvida -- Que futuro para Rúben?
Num ano em que até se poderia tornar uma opção regular da Selecção Nacional e quem sabe até marcar no próximo Mundial, Rúben Semedo jogou apenas uma partida nos últimos 5 meses. E têm sido mais as notícias extrafutebol, com o suposto envolvimento do jogador em práticas criminosas, que estão a marcar o seu primeiro ano no Villarreal, o que lhe valeu um processo disciplinar do clube para averiguar os factos. Certo é que estes casos acabam por manchar a carreira do defesa central de 23 anos. Conseguirá dar a volta a este mau momento?"

Em defesa dos jornalistas

"Nunca pensei opinar sobre Bruno de Carvalho. No entanto, as atitudes do presidente do Sporting e de um minúsculo grupo de fanáticos leoninos em relação aos media nos últimos dias levam-me a escrever sobre um tema que me preocupa há muito tempo. Existe um grande e crescente défice de consideração pelos jornalistas em Portugal. Em larga parte, não tem fundamentação e cria uma situação contraproducente para a sociedade portuguesa.

Claro, há muitos jornalistas que trabalham em função de agendas, privadas ou políticas, e que acabam por ser manipulados para manipularem a informação. Por esses não faço defesa. Antes pelo contrário. Mas formam uma minoria, pois a grande maioria dos que conheço não tem esse tipo de distorção, quer apenas produzir informação nova, útil e de forma mais isenta possível.
O problema é que nem sempre esses profissionais conseguem atingir os objectivos. Os jornalistas vivem uma época infernal, na qual o modelo de negócio tradicional praticado pelos órgãos de comunicação deixou de ser rentável, em que as receitas derivadas da publicidade e das vendas aos leitores afundam, num mundo de informação (verdadeira ou falsa) grátis na internet.
Como consequência, os jornalistas são forçados a produzir cada vez mais, para um número crescente de plataformas e com cada vez menos recursos. Há pouco tempo e investimento para a investigação, para a especialização, com o foco a passar para a ‘chapa 7, o ‘encher chouriços’ e a ‘clínica geral’, na gíria da classe, a que a rapidez e a busca por clicks e audiências obriga.
Claro que isto resulta numa cultura mais tablóide e de rebanho, com todos os órgãos a correrem atrás uns dos outros numa corrida circular que provavelmente ninguém irá vencer. Mas a culpa não pode ser atribuída só aos jornalistas.
Os gestores dos media passaram a olhar para os repórteres como custos de produção e não como investimento central. Um dos efeitos foi o êxodo para outras funções, com a assessoria de imprensa como destino favorito. Outro foi o novo domínio da precariedade. Não é exclusivo do sector, mas é transversal. Das grandes agências internacionais aos jornais regionais, há falsos recibos verdes, contratos desnecessariamente curtos, salários muito abaixo do que a responsabilidade e o esforço das funções merecem.
O resultado é a fragilização da classe, deixando os jornalistas com cada vez menos armas para questionar os poderosos e dar voz aos que não têm poder. Deixa a classe à mercê do poder de um presidente de um clube de futebol, de um CEO que reage mal a uma pergunta inconveniente, de um político que convoca um evento a que chama conferência de imprensa, mas sem direito a perguntas. 
Pelo meio há tropas a combater – agências de comunicação que exigem espaço e tempo dedicado para passarem a informação que é do interesse dos clientes, seguranças que tratam os jornalistas quase como intrusos em eventos supostamente públicos, advogados que tentam obstruir a investigação ou depois castigá-la.
Estou a defender a classe profissional que integro? Sim. Estranho seria não o fazer, numa altura em que os que ficam têm mesmo de sentir o gosto pela missão para enfrentar a precariedade e as pressões.
Além disso, o objectivo é também defender o respeito em nome dos jovens que vejo a entrar na profissão. Conscientes de que vão ter carreiras esforçadas, mal pagas e inconstantes, continuam a demonstrar vontade de aprender e de servir os leitores."

Ruben Semedo, porque a vida não é uma linha recta

"Rúben Semedo já não é um miúdo que pode portar-se mal, ouvir uns ralhetes e amuar. Já não pode faltar aos deveres. Fugir aos impostos. Beber uma garrafa de gin por dia.
É um homem que já chegou àquela fase da vida em que tem de ser um homem.
O que ele fez foi grave, muito grave, demasiado grave. Vai ter de pagar pelo que fez e, presumivelmente, vai pagar mesmo. Porque a justiça encarregar-se-á de lhe apresentar a factura.
Para já vai ficar preso, provavelmente muito tempo, e vai com isso comprometer uma carreira de jogador de futebol, e uma vida de conforto que podia vir a ter: um conforto raro e muito improvável para alguém que nasceu muito longe de um berço de ouro (ou de prata, ou até de bronze).
É justo que assim seja, o que alegadamente ele fez foi de facto de uma violência feroz.
Mas o que aconteceu com o jogador em Espanha não é só uma lição para o futuro de outros miúdos: é um alerta para os clubes, e para a própria sociedade.
Rúben Semedo cresceu no meio de grande agressividade, até familiar. Havia, e provavelmente continua a haver, no núcleo mais próximo histórias de criminalidade e violência. O pai foi preso quando ele tinha apenas cinco anos e ele passou quase uma década sem o ver.
A mãe separou-se e teve durante algum tempo de trabalhar para sozinha alimentar uma família de três pessoas: ela, o filho e uma filha. Mais tarde voltou a juntar-se e teve mais dois filhos. A história da mãe de Rúben é a história de muitas mães dos bairros desfavorecidos: uma senhora dedicada ao trabalho e a sustentar a família. Tinha de sair de casa cedo, voltar tarde, deixar os filhos entregues às companhias e ao problemático bairro de Casal de Mira, na Amadora.
Rúben Semedo era portanto um jovem de risco.
A verdade é que enquanto esteve no Sporting esteve relativamente controlado. Não deixou de ser envolvido numa ou noutra polémica, mas nada de muito grave.
Quem lidou com ele, de resto, sempre se referiu ao jogador como um jovem simpático e tranquilo. Duro dentro de campo, às vezes até agressivo, mas tranquilo fora dele. Um jovem que apadrinhava torneios e que respondia sempre positivamente quando era chamado a conviver com crianças do Futebol Benfica, o popular clube lisboeta.
Eu próprio tive oportunidade de o entrevistar duas vezes, e de falar com ele em mais um par de ocasiões, e sempre me pareceu alguém cordial e sossegado. Tinha sido pai e dizia que a prioridade era estar com a filha bebé: dedicar-se ao futebol e ser uma boa influência para ela.
A mudança para Espanha, no entanto, coincidiu mais ou menos com a separação da namorada, mãe da filha dele. Rúben Semedo ficou novamente sozinho, ou quase: em Espanha tinha a companhia de dois amigos de infância, do bairro onde cresceu.
Em cerca de meio ano, em Espanha, envolveu-se em três casos de polícia, com episódios de enorme violência, armas de fogo, assaltos, enfim.
Nessa altura voltou a tornar-se, portanto, um jovem de risco.
Curiosamente não é o primeiro a passar por isto. Basta lembrar, por exemplo, o caso de Miguel: enquanto jogou no Benfica esteve sempre controlado, quando se mudou para o Valencia passou por episódios de violência, também com armas de fogo e companhias poucos recomendáveis.
Por que é que isto acontece?
É difícil ter certezas, mas podemos imaginar que se trata de jovens a quem falta uma estrutura de apoio sólida e madura. Rúben, por exemplo, cresceu no seio de uma família desestruturada. Nestes casos as amizades de infância são muitas vezes encaradas como família: como uma irmandade que faz parte dos próprios jovens, que é preciso defender, apoiar e adoptar.
O problema é que estas amizades nem sempre são benéficas: são jovens com percursos e objectivos de vida diferentes.
É aqui que a sociedade e os próprios clubes falham.
Sobre a sociedade não é preciso dizer nada: os guetos a que condenam estes jovens, cheios de más influências e vícios, é um tema demasiado explorado para merecer mais de duas linhas.
Já a situação dos clubes é diferente. No caso de Rúben Semedo, o Villarreal fez um investimento altíssimo na contracção. Entregou ao jogador um ordenado estratosférico, uma boa casa, um bom carro, e esperou que o dinheiro fizesse todo o trabalho que ele devia fazer.
É típico deste nosso mundo: achar que as pessoas se movem a cifrões.
Não movem. Ou pelo menos nem sempre movem. Porque o dinheiro não é tudo na vida. Há, por exemplo, valores de fidelidade. Amizades. Códigos de fraternidade. No caso de Rúben, amizades que o arrastaram para uma vida de pouco profissionalismo e até, alegadamente, criminalidade.
Enquanto esteve no Sporting, lá está, enquanto esteve próximo de pessoas que o conheciam desde criança, o central conseguiu manter-se na linha. Em Espanha não terá tido o mesmo apoio, o mesmo acompanhamento, a mesma paciência. Um pouco como aconteceu com Miguel.
Não quer com isto defender-se Rúben Semedo. Pelo contrário, não tem desculpa, deve pagar pelo que alegadamente fez e espero que, se for o caso, seja castigado exemplarmente. Não merece nenhum elogio: elogios merecem jovens como Carlos Mané ou Gelson, que vieram de meios semelhantes ao do central e souberam crescer e amadurecer. Souberam ser homenzinhos.
Mas Rúben Semedo não é o único culpado.
Os clubes não podem pagar fortunas e lavar as mãos - como a sociedade não deve soltar este riso de escárnio -, sem se preocuparem em conhecer o ser humano por detrás do jogador. Os riscos, as ameaças e as agonias deles.
Nesta altura toda a gente usa o mesmo argumento: foi um rapaz que teve tudo e deitou tudo fora. Mas claramente Rúben Semedo não tinha tudo.
Porque as nossas vidas não são todas iguais."

SL Benfica congratula-se com a decisão unânime do Tribunal da Relação do Porto

"O Sport Lisboa e Benfica e a Sport Lisboa e Benfica SAD congratulam-se com a decisão proferida pelo Tribunal da Relação do Porto que deu provimento ao recurso por estas apresentado e que condenou o Futebol Clube do Porto, a Futebol Clube do Porto SAD, a Futebol Clube do Porto Media, SA, a Sociedade Avenida dos Aliados, SA e Francisco José Marques a:
(a) absterem-se de aceder por qualquer meio, no todo ou em parte, directa ou indirectamente, a correspondência (ou suposta correspondência) privada do SL Benfica e da SL Benfica SAD, nomeadamente a relacionada com quaisquer e-mails que surjam identificados com o domínio @slbenfica.pt;
(b) absterem-se de publicar ou divulgar por qualquer meio, no todo ou em parte, directa ou indirectamente, a correspondência (ou suposta correspondência) privada do SL Benfica e da SL Benfica SAD, ou de todos e quaisquer e-mails que surjam identificados com o seu domínio;
(c) absterem-se de dar acesso, por qualquer meio, no todo ou em parte, directa ou indirectamente, a correspondência (ou suposta correspondência) privada ou qualquer tipo de comunicações e documentos privados e/ou confidenciais da do SL Benfica e da SL Benfica SAD, e ainda de relatar e transmitir o seu conteúdo por qualquer forma ou meio a terceiros.
A esta condenação acresce a fixação de uma sanção pecuniária compulsória referente a cada uma das medidas decretadas no valor de Eur. 200.000 (duzentos mil euros) com vista a assegurar o seu cumprimento tempestivo e integral.
Esta decisão tomada por unanimidade pelos Juízes-Desembargadores revoga, assim, a absurda decisão da primeira instância, e vem de encontro à posição sempre defendida pelo Sport Lisboa e Benfica, condenando de forma inequívoca a conduta ilícita, reiterada e manifesta do FC Porto, das entidades e do sujeito acima referidos, ainda que decorridos dez meses da sua prática, com inexoráveis gravosas e lesivas consequências ao bom nome e reputação do Sport Lisboa e Benfica, que a seu tempo e no local próprio serão julgadas.
Aguarda o SL Benfica que este Acórdão proferido por um Tribunal Superior clarifique, de uma vez por todas, a gravidade de todos os comportamentos que têm, concertada ou isoladamente, devassado a a sua correspondência, tentando colocar em causa o seu bom nome e reputação, bem como o bom nome e reputação dos titulares dos órgãos sociais, dos seus quadros, profissionais e dos milhões de seus sócios e adeptos.
O Sport Lisboa e Benfica reitera a sua determinação em perseguir todos os que pratiquem condutas idênticas às ora sancionadas, estando absolutamente convicto que a Justiça, embora tardando, não falhará em todos os seus níveis."