terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Lixívia 23

Tabela Anti-Lixívia
Benfica .. 56 (-4) = 60
Corruptos. 58 (+6) = 52 (-1)
Sporting . 56 (+12) = 44

Vergonhoso, demasiado vergonhoso para ser incompetência...!!!
O que se passou ontem em Tondela devia deixar muito gente envergonhada, mas infelizmente, foi só mais um empurrãozinho... entre muitos outros!!! São 12 pontos oferecidos pelos apitadeiros aos Lagartos: 12 !!!

Como a minha paciência é cada vez menor, deixo aqui um resumo, muito resumido:
- A expulsão do Mathieu foi justa, foi burro levou dois amarelos quase de seguida, e pelo meio ainda podia ter levado outro...
- A partir daqui, foi 'visível' que o Capela iria fazer tudo para 'equilibrar' o jogo, mostrando Amarelo a 'todos' os jogadores do Tondela!!! Obrigando o Pepa a fazer substituições temendo 2.ºs Amarelos!!!
- Penalty sobreo Murillo, tanto o Piccini como o William fazem penalty... Impossível o VAR não ver!!!
- A 20 segundos do fim dos descontos, Vermelho directo perdoado ao William - nem falta marcou!!!! Ainda por cima, com lesão do jogador agredido, resolveu dar mais 5 minutos de desconto, em cima dos 4 que já tinha dado...!!!
- Falta que dá o golo, foi marcado ao contrário...!!!
- Na celebração do golo, o Coates tem que levar Amarelo... como todos os jogadores que tiram a camisola levam...! Seria o 5.º, os Lagartos ficaram sem os dois Centrais titulares para o próximo jogo... e se o William tivesse sido expulso, então...!!!

Na Luz, tivemos o Lagartão Tiago Martins, numa das patéticas arbitragens na Luz nos últimos tempos! E não foram os lances mais 'perigosos' que me preocuparam, foram todas as decisões, faltas, faltinhas, lançamentos laterais, cantos, fora-de-jogo... e ainda o critério disciplinar totalmente torto!!!
Como é que é possível o Boavista ter acabado o jogo em um único Amarelo?!!!
- O penalty sobre o Cervi foi bem assinalado... quem tiver dúvidas, basta ver a cara do defesa do Boavista, quando percebeu que fez 'merda'!!!
- Inacreditável como não recorreu ao VAR no corte com o braço do jogador do Baovista dentro da área!!!
- 'Milhares' de decisões erradas no resto do jogo...

No Dragay, o jogo resolveu-se cedo (hoje temos uma denúncia grave, sobre uma potencial 'compra' do Cássio por parte dos Corruptos... com o autor da denúncia a afirmar que foi aliciado a 'mentir', insinuando que queriam que ele implicasse o Benfica em esquemas de 'compra' de jogadores adversários!!!)
O jogo foi 'tranquilo', mesmo assim o Soares faz falta sobre o Tarantini, o Xistra marcou ao contrário, e esteve quase a expulsar o jogador que sofreu a falta...
Boa utilização do VAR no 5.º golo dos Corruptos!!!


Anexos:
Benfica
1.ª-Braga(c), V(3-1), Xistra (Verissímo), Prejudicados, (4-1), Sem influência no resultado
2.ª-Chaves(f), V(0-1), Sousa (Tiago Martins), Prejudicados, (0-3), Sem influência no resultado
3.ª-Belenenses(c), V(5-0), Rui Costa (Vasco Santos), Beneficiados, Sem influência no resultado
4.ª-Rio Ave(f), E(1-1), Hugo Miguel (Veríssimo), Prejudicados, Impossível contabilizar
5.ª-Portimonense(c), V(2-1), Gonçalo Martins (Veríssimo), Prejudicados, (4-0), Sem influência no resultado
6.ª-Boavista(f), D(2-1), Soares Dias (Esteves), Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
7.ª-Paços de Ferreira(c), V(2-0), Xistra (Hugo Miguel), Nada a assinalar
8.ª-Marítimo(f), E(1-1), Sousa (Godinho), Prejudicados, (1-2), (-2 pontos)
9.ª-Aves(f), V(1-3), Almeida (Vítor Ferreira), Beneficiados, Prejudicados, Sem influência no resultado
10.ª-Feirense(c), V(1-0), Godinho (Xistra), Prejudicados, (2-0), Sem influência no resultado
11.ª-Guimarães(f), V(1-3), Soares Dias (Malheiro), Prejudicados, (1-4), Sem influência no resultado
12.ª-Setúbal(c), V(6-0), Godinho (Pinheiro), Prejudicados, Beneficiados, (8-0), Sem influência no resultado
13.ª-Corruptos(f), E(0-0), Sousa (Hugo Miguel), Prejudicados, Beneficiados, Impossível contabilizar
14.ª-Estoril(c), V(3-1), Pinheiro (Manuel Oliveira), Beneficiados, Sem influência no resultado
15.ª-Tondela(f), V(1-5), Tiago Martins (Malheiro), Nada a assinalar
16.ª-Sporting(c) E(1-1), Hugo Miguel (Tiago Martins), Prejudicados, (5-0), (-2 pontos)
17.ª-Moreirense(f), V(0-2), Mota (Godinho), Nada a assinalar
18.ª-Braga(f), V(1-3), Soares Dias (Godinho), Prejudicados, (1-4), Sem influência no resultado
19.ª-Chaves(c), V(3-0), Esteves (Vasco Santos), Prejudicados, (5-0), Sem influência no resultado
20.ª-Belenenses(f), E(1-1), Paixão (Rui Oliveira), Nada a assinalar
21.ª-Rio Ave(c), V(5-1), Manuel Oliveira (Vítor Ferreira), Prejudicados, Sem influência no resultado
22.ª-Portimonense(f), V(1-3), Xistra (Rui Oliveira), Prejudicados, Beneficiados, Sem influência no resultado
23.ª-Boavista(c), V(4-0), Tiago Martins (Malheiro), Prejudicados, (5-0), Sem influência no resultado

Sporting
1.ª-Aves(f), V(0-2), Tiago Martins (Pinheiro), Nada a assinalar
2.ª-Setúbal(c), V(1-0), Paixão (Hugo Miguel), Beneficiados, (0-0), (+2 pontos)
3.ª-Guimarães(f), V(0-5), Hugo Miguel (Sousa), Nada a assinalar
4.ª-Estoril(c), V(2-1), Godinho (Tiago Martins), Beneficiados, Impossível contabilizar
5.ª-Feirense(f), V(2-3), Soares Dias (Tiago Martins), Nada a assinalar
6.ª-Tondela(c), V(2-0), Manuel Oliveira (Tiago Martins), Nada a assinalar
7.ª-Moreirense(f), E(1-1), Godinho (Pinheiro), Beneficiados, (2-0), (+1 ponto)
8.ª-Corruptos(c), E(0-0), Xistra (Hugo Miguel), Nada a assinalar
9.ª-Chaves(c), V(5-1), Rui Costa (Esteves), Beneficiados, Prejudicados (5-2), Sem influência no resultado
10.ª-Rio Ave(f), V(0-1), Sousa (Capela), Beneficiados, (0-0), (+2 pontos)
11.ª-Braga(c), E(2-2), Xistra (Rui Costa), Beneficiados, (1-4), (+1 ponto)
12.ª-Paços de Ferreira(f), V(1-2), Tiago Martins (Xistra), Beneficiados, (1-1), (+2 pontos)
13.ª-Belenenses(c), V(1-0), Almeida (Godinho), Nada a assinalar
14.ª-Boavista(f), V(1-3), Godinho (Vasco Santos), Nada a assinalar
15.ª-Portimonense(c), V(2-0), Capela (Xistra), Nada a assinalar
16.ª-Benfica(f), E(1-1), Hugo Miguel (Tiago Martins), Beneficiados, (5-0), (+ 1 ponto)
17ª-Marítimo(c), V(5-0), Xistra (Esteves), Nada a assinalar
18.ª-Aves(c), V(3-0), Pinheiro (Sousa), Beneficiados, (2-1), Impossível contabilizar
19.ª-Setúbal(f), E(1-1), Veríssimo (António Nobre), Beneficiados, Sem influência no resultado
20.ª-Guimarães(c), V(1-0), Godinho (Hugo Miguel), Nada a assinalar
21.ª-Estoril(f), D(2-0), Mota (Luís Ferreira), Nada a assinalar
22.ª-Feirense(c) V(2-0), Luís Ferreira (Manuel Oliveira), (1-0), Beneficiados, Sem influência no resultado
23.ª-Tondela(f), V(1-2), Capela (Esteves), Beneficiados, (2-1), (+3 pontos)

Corruptos
1.ª-Estoril(c), V(4-0), Hugo Miguel (Luís Ferreira), Nada a assinalar
2.ª-Tondela(f), V(0-1), Veríssimo (Malheiro), Beneficiados, Impossível contabilizar
3.ª-Moreirense(c), V(3-0), Manuel Oliveira (Tiago Martins), Prejudicados, Beneficiados, Sem influência no resultado
4.ª-Braga(f), V(0-1), Xistra (Esteves), Beneficiados, Impossível contabilizar
5.ª-Chaves(c), V(3-0), Rui Oliveira (Hugo Miguel), Nada a assinalar
6.ª-Rio Ave(f), V(1-2), Sousa (Godinho), Nada a assinalar
7.ª-Portimonense(c), V(5-2), Luís Ferreira (Sousa), Nada a assinalar
8.ª-Sporting(f), E(0-0), Xistra (Hugo Miguel), Nada a assinalar
9.ª-Paços de Ferreira(c), V(6-1), Manuel Oliveira (Veríssimo), Beneficiados, (5-1), Sem influencia no resultado
10.ª-Boavista(f), V(0-3), Hugo Miguel (Tiago Martins), Nada a assinalar
11.ª-Belenenses(c), V(2-0), Veríssimo (Luís Ferreira), Beneficiados, (0-2), (+3 pontos)
12.ª-Aves(f), E(1-1), Rui Costa (Esteves), Nada a assinalar
13.ª-Benfica(c), E(1-1), Sousa (Hugo Miguel), Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
14.ª-Setúbal(f), V(0-5), Tiago Martins (Rui Oliveira), Beneficiados, (0-3), Impossível contabilizar
15.ª-Marítimo(c), V(3-1), Mota (António Nobre), Nada a assinalar
16.ª-Feirense(f), V(1-2), Veríssimo (Paixão), Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
17.ª-Guimarães(c), V(4-2), Soares Dias (António Nobre), Prejudicados, Beneficiados, (4-2), Impossível contabilizar
19.ª-Tondela(c), V(1-0), Godinho (Soares Dias), BeneficiadosPrejudicados, (2-0), Impossível contabilizar
20.ª-Moreirense(f), E(0-0), Luís Ferreira (Manuel Oliveira), Nada a assinalar
21.ª-Braga(c), V(3-1), Hugo Miguel (Almeida), Prejudicados, (4-1), Sem influência no resultado
22.ª-Chaves(f), V(0-4), Soares Dias (Mota), Beneficiados, Prejudicados, (3-0), (+3 pontos)
23.ª-Rio Ave(c), V(5-0), Xistra (Rui Oliveira), Nada a assinalar

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O Pezinho-de-Dança não era para brincadeiras!

"Sabe-se muito sobre a carreira de Guttmann como técnico. Sabem-se algumas coisas sobre a forma como seguiu a tradição de família e teve a sua própria escola de bailado, em Nova Iorque. Mas já não se sabe assim muito sobre a sua extraordinária carreira como jogador. Merece uma páginas.

Na semana passada falei de Béla Guttmann. Pois insisto: nesta semana falarei de Béla Guttmann.
Guttmann foi um homem providencial na história do Benfica, embora eu não goste muito de homens providenciais.
Houve entre ambos uma espécie de encontro cósmico: um treinador no auge das suas capacidades e um conjunto de jogadores de categoria única.
Resultado prático: duas Taças dos Campeões Europeus.
Que Béla Guttmann foi professor de dança, seguindo as pisadas dos pais, Ábrahám e Eszter, já quase toda a gente sabe. Ele próprio, numa fase em que jogou e viveu nos Estados Unidos, quando a crise económica quase destruiu a Bolsa Americana, sentiu necessidade de abrir a sua própria escola em Nova Iorque.
Aliás, segundo os registos oficiais, Béla tirou o seu curso de instrutor de dança aos 16 anos de idade. Há quem não duvide de que as suas aptidões para o bailado terão influenciado, e muito, a sua carreia posterior no futebol, fazendo dele um médio elegante e trato finíssimo da bola.
Era aqui que eu queria chegar: a carreira de jogador de Béla Guttmann não faz parte da maioria dos canhentos que tenho lido sobre esse desporto maravilhoso inventado pelos ingleses e que o mundo inteiro aprendeu a amar profundamente.
Vejamos, por exemplo: a sua carreira como centrocampista espalhou-se entre 1917 e 1933. Jogou primeiro na sua Hungria natal, no Torekvés e no MTK Budapeste - um clube extraordinário, Magyar Testgyakorlók Kore, o Círculo dos Activistas Húngaros, o tal que perdeu a final da Taça das Taças para o Sporting, em 1964; depois na sua pátria escolhida, a Áustria, no Hakoah Viena, onde pendurou as botas; o resto decorreu nos Estados Unidos: New York Giants, New York Hakoah, Hakoah All-Stars, New York Soccer Club.


Pés artísticos!
Dizem os seus biógrafos que Guttmann atingiu o seu auge como jogador no Hakoah Viena.

Explique-se desde já que, tal como o nome indica, o Hakoah (traduzido liberalmente como o poder ou a força) era um clube fundado por sionistas austríacos representando um arauto da atitude judaica de afirmação e de rejeição de assimilação pela comunidade gentia.
Um dos seus fundadores, Robert Stricker, afirmava orgulhoso: 'Um povo que se habitua a ser insultado está perdido'.
O Hakoah foi campeão austríaco em 1925. Era o primeiro campeonato inteiramente profissionalizado da Europa, Inglaterra à parte como está bem de ver.
A sua excelência técnica foi rapidamente popularizada: Béla era um jogador de classe incomum.
E o Hakoah tornou-se uma espécie de Globe Trotter: deslocava-se por todo o mundo, somando triunfos expressivos, exibindo um futebol alegre e sedutoramente técnico. Onde quer que jogasse, multidões de judeus surgiam para o incentivar a aplaudir. Era um clube que ultrapassava fronteiras. Era um clube universal, tal com o povo que representava.
Foi o primeiro a vencer uma equipa inglesa no seu próprio terreno: 5-0 no campo do West Ham.
Foi a Praga bater o Slávia, impondo-lhe a primeira derrota caseira em dez anos.
Percorreu os Estados Unidos numa digressão que atraiu aos estádios um total de 250 mil pessoas.
Quinze anos mais tarde, 37 dos membros do Hakoah Viena seriam assasinados pelos nazis, incluindo 7 jogadores.
O clube foi dissolvido e o registo dos seus feitos soterrado sob o manto negro do racismo.
Béla Guttmann vinha do MTK Budapeste: é preciso dizer que o MTK era a equipa dos judeus da Hungria, tal com o Ferencváros era a equipa dos germânicos. Tinha absorvido os ensinamentos de um treinador chamado Jimmy Hogan, que implantou na Europa central o estilo escocês, ou seja, avançando com a bola pelo terreno trocando-a o mais possível entre os jogadores.
David  Bolchover, no seu livro recentemente publicado entre nós, sublinhava a notícia de um jornal vienense: 'É escusado sublinhar que, com Guttmann, o Hakoah acaba de garantir os serviços de um jogador de primeira categoria!'
Tinha sido, durante quatro anos, o esteio da sua anterior equipa. Os seus passes eram tão certeiros, que os seus companheiros recebiam a bola exactamente no local onde a esperavam. Era um profissional de mão-cheia, cuidadoso no aspecto físico e disponível para auxiliar os seus defesas sobre o relvado. Podia ser relativamente baixo, mas tinha um temperamento corajoso e cerrava os dentes até ao último apito do árbitro. Ficou famoso um encontro entre o Hakoah e o First Viena no campeonato de 1926. Uma cena de pancadaria alastrou por entre os jogadores de ambas as equipas. Guttmann com uma das estrelas austríacas da época, Leopod Hofffmann. No final do jogo foi à procura do seu adversário e agrediu-o sem piedade. 'O homem de Viena ficou tão maltratado com o murro que levou na cara, que sangrava da boca e do nariz', surgiu a letra de imprensa.´
Bolchover recorda que Guttmann foi suspenso por vários jogos. E replicou: 'Ele estava a criticar a minha religião, e eu cuspi-lhe na cara'.
O Pezinho-de-Dança não era para brincadeiras.
Merecerá que eu volte aqui para falar dele pelo menos mais uma vez.
Para já, o ponto definitivo no fim da frase corta-me a prosa."

Afonso de Melo, in O Benfica

O cimentar de uma paixão

"Nos primeiros anos da década de 50, várias foram as campanhas pró-estádio.

A 11 de Fevereiro de 1954, o jornal O Benfica anunciou uma nova iniciativa da Comissão Central do Parque de Jogos para a construção do Estádio da Luz: a 'Campanha do Cimento'. Contou com a generosidade dos benfiquistas conseguindo nos primeiros instantes angariar '20 toneladas daquele produto'. O entusiasmo era enorme, todos queriam ajudar.
Na edição de 1 de Julho de 1954, O Benfica divulgou que os funcionários da fábrica de Luís Xavier tinham contribuído para a 'Campanha do Cimento'. O futebolista, que alinhou de 'águia ao peito' entre 1931 e 1939, com o final da carreira enveredou pela confecção, abrindo, juntamente com um sócio, uma fábrica de camisas, a Reivax Lda. A fábrica contava com oito funcionários, todos benfiquistas, que não resistiram ao apelo.
Dada a generosidade e o facto de haver em comum o amor pelo Benfica, os jornalistas resolveram entrevistá-los e perceber como tinha surgido a ideia. O mote foi dado pela engomadeira, Clotilde Paquete, que se dizia uma fervorosa adepta benfiquista. Como todos os amores, tinha os seus altos e baixos, era sócia, todavia admitia: 'Estive um tempo 'amuada' com o futebol; por isso me atrasei na quotização. Mas vou pôr-me em dia, que 'isto' já passou'. A sua ideia foi aceite por unanimidade dos trabalhadores da Reivax Lda. e decidiram 'dar um dia de trabalho para comprar cimento'.
Os repórteres aproveitaram para aferir se realmente eram todos apoiantes do Clube. Uma das costureiras, Piedade Franco, respondeu de forma bastante convicta: 'Ora, essa! Se o senhor visse como eu 'sofro' agarrada à telefonia', mas os mais resultados não chegavam para lhe tirar o apetite: 'Lá isso, não! Fico aborrecida... mas paciência (...). O que interessa, por agora, é dar ao nosso clube o estádio de que ele precisa'. Era esse o grande objectivo tanto dos funcionários como dos seus familiares, como afirmou Maria Emília de Oliveira: 'O meu noivo (...) recebeu com alvoroço esta ideia e encorajou-me logo a que contribuísse'. A atitude deixou Luís Xavier radiante, confessando, à sua maneira, que estava num 'alegrão doido'.
O sentimento foi transversal a todos os adeptos benfiquistas, que colaboraram nesta e noutras campanhas a favor do Clube, sempre com enorme adesão. Para tal, em muito contribuiu o jornal O Benfica como meio de divulgação e reforçando o entusiasmo a cada edição.
Saiba mais sobre o periódico na exposição Jornal O Benfica - 75 anos de Missão, no Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

É hora de Bernardo Silva acreditar que é maior do que pensa

"Se De Bruyne, Sané e Agüero são os miúdos arrogantes que querem sempre ter a bola, Silva, Sterling e Gundogan apresentam-se como os seus amigos, melhores-amigos à vez, verdadeiros braços direitos que os seguem para todo o lado. Hell, yeah!
A correr junto à linha, para trás e para a frente e de braço no ar, Bernardo Silva é o puto que fica todo contente por, desta vez, o terem chamado para jogar. Junto ao passeio de uma rua qualquer, espera que um dos chefes do bando acredite que ele pode fazer a diferença, enquanto não passam os carros dos vizinhos. Bate as palmas, pede a bola. Vá lá, dude!
Juntos, os outros acreditam que é entre eles, que o círculo é fechado, que para pertencer à irmandade é preciso um ritual de iniciação, uma tatuagem ou uma loucura qualquer, que lhes prove, sem sombra de dúvida, do que é feito. Se a bola vai, mais cedo do que tarde volta, porque não basta estar lá para jogar, não basta colar-se a bola ao pé esquerdo como ao de poucos, não basta tudo parecer simples. Não basta cada toque ter uma centelha de classe.
Os que vêem, das janelas, acham que nunca conseguirá integrar-se, nunca terá ordens para desafiar três ou quatro de uma só vez, aos ésses, até ao golo. Os das varandas, mais velhos, esticados nas cadeiras de pano, alternam entre o sim e o não com a cabeça de cima a baixo, de lado a lado. A bola que vai e não vem, o puto a preencher os espaços, sem conseguir juntar-se. Um corpo ainda estranho. 
Os de Manchester acham tanto para tão pouco, que 50 milhões não são para rapazes que ainda querem aprender, que ficam felizes com a bola nos pés, que tantas notas pagam mais do que a aura de fora-de-série. É o valor de tabela para super-heróis.
Falta a Bernardo deixar de ser o puto a quem só convidam de vez em quando, franzir o sobrolho, cerrar os dentes, apertar os punhos, desafiar a sua própria arrogância. Que parta de vez para a baliza e ponha, finalmente, em causa todas as regras da república Omega Phi Beta. Ou Sigma Alfa-coiso.
Não decorei, só sei que tem três letras do alfabeto grego. Ajuda?
Um Messizinho. Ao Messizinho falta-lhe um pouco da personalidade de Léo, que já nada tem de fazer para ver a bola vir ter consigo. Ainda que a tenha de pedir, e provavelmente terá de fazê-lo durante muitos anos ainda, que fique com ela, sinta o seu peso, e a devolva à baliza. Assuma a sua quota no sucesso de um colosso.
O talento é maior do que a peça do puzzle onde querem que encaixe.
Guardiola sabe. Ele, Pep, sabe. Aquele futebol, o acariciado por aquela canhota, é o seu, o do toque e o do preenchimento dos espaços, o da inteligência e da velocidade de pensamento. E não é preciso que mais ninguém o perceba.
És maior do que pensas, Bernardo!"

O bacilo do controlo de jogo

"Vi com atenção de analista e agrado de adepto o Juventus-Tottenham da semana passada, um verdadeiro jogo de Champions em que ambas as equipas mostraram ambição. Ambas e em todo o jogo? Isso já não. A partir de determinado momento, já com dois golos de vantagem, a Juventus cedeu à síndroma italiana do controlo com linhas mais baixas, pensando mais em explorar os desequilíbrios que o adversário autorizasse na hora de assumir o esforço de recuperação do resultado. Consequência: a Juve pressionante dos primeiros minutos, a impedir a construção de jogo dos Spurs logo à saída da área inglesa, deu lugar a uma Signora retraída, agrupada entre a sua área e a linha do meio campo (o bloco baixo, por definição). Claro que num ou outro contra-ataque poderia ter marcado e quase sentenciado o jogo, desperdiçou até um penalti no final do primeiro tempo, mas podendo o episódico mexer com o estrutural verdadeiramente nunca o altera por si só. A equipa italiana tinha entregado a iniciativa a um rival forte, recheado de jogadores capazes de decidir um jogo e que tinham passado a estar mais vezes perto da zona de finalização. Daí aos golos foi uma questão de acerto entre um bom passe interior e uma desmarcação de sucesso.
Um dia depois em Madrid, também o PSG esteve na frente e se deixou ultrapassar no resultado. Ponto comum: com um resultado positivo, empate fora a meio da segunda parte, Unay Emery deixou-se igualmente contaminar pelo bacilo do controlo e vai de trocar o goleador Cavani - igualmente um ponto de apoio fundamental para as arrancadas de Neymar ou Mbappé - pelo lateral Meunier. Dani Alves subia uns metros no campo e a equipa tentava fechar caminhos, com duas linhas defensivas de quatro homens, na ideia de estar mais protegida perante o adivinhável assalto final do Madrid, tão comum em Chamartín. Não saberemos o que teria sucedido sem essa mexida mas não há dúvidas sobre o que aconteceu com ela: o Real teve o ascendente que nunca conseguira até então, o PSG experimentou muito mais dificuldades para ter bola no meio campo contrário e os avançados da casa passaram a viver como gostam, mais junto da baliza contrária. E há um que bem conhecemos que nunca falha nessa zona e nesses momentos: Cristiano Ronaldo, um feiticeiro do golo como raramente o mundo viu.
No Dragão, na goleada sofrida pelo Porto, a história foi diversa, já que a equipa portuguesa nunca esteve em vantagem, mesmo se podia tê-lo conseguido no lance de Otávio, ainda no primeiro quarto de hora. No entanto, o Porto veio a falhar em duas dimensões relevantes, sendo uma mais comum que a outra na equipa portista. Ao contrário do hábito de ser pressionante sobre a construção do rival contrário, optou desta vez por um bloco médio-baixo que impedisse a exploração do espaço nas constas da defesa. Na linha de objectividade que é sua imagem de marca com bola, muitas vezes traduzida em lançamentos longos para aproveitar a potência e velocidade dos atacantes, fez desse tipo de lances a forma privilegiada de chegar à área inglesa. Com esta insistência acabou por perder a bola demasiado depressa e com o recuo estratégico (associado a grandes preocupações individuais no momento defensivo) esteve quase sempre longe da zona de ataque, sujeitando-se a perdas de bola em zonas comprometedoras que Salah, Mané e companhia aproveitaram sem clemência. Claro que a diferença de qualidade individual também explica o resultado, como explica a goleada de sentido inverso entretanto conseguida diante do Rio Ave, mas não foi só na concretização da estratégia que o Porto foi diferente, foi na intenção também, e aí começou a perder num caso e a ganhar no outro. A estratégia, o plano para cada jogo é fundamental para o sucesso e não há treinador competente - como são Aleggri, Emery e Conceição - que não deva tentar uma abordagem específica perante um novo e distinto desafio. Mais que perceber o óbvio - que umas vezes corre melhor que outras - anoto o que me parece cada vez mais evidente quando no opositor se acumulam talentos capazes de constituir onzes e sobretudo ataques de sonho: deixá-los estar mais tempo perto da nossa área é colocarmo-nos mais longe da felicidade."

Os recasados de Alvalade

"Por estes dias, como benfiquista, preocupam-me mais leituras de sentença em tribunal do que boicotes de leitura em assembleia geral dos outros. Quando soube daquelas excomunhões anticelulose (sportinguistas, nada de jornais em papel!) e anticatódicas (nem tevês!), pensei que era só o Sporting a dar-se conta da avalancha da era digital. Ontem, porém, vi o director de comunicação do clube - Nuno Saraiva, eu fazia-te o adeus amigo do costume, mas podes olhar para mim? - a aumentar a amplitude das proibições. Estas estendem-se também à rádio e às plataformas digitais.
No Sporting entraram em vigor os quatro macacos sábios: um tapa os ouvidos aos relatos, outro, os olhos à transmissão televisiva, o terceiro tapa o nariz à tinta impressa e o último entrapa as falanges contra a tentação de frequentar a internet...
Sou liberal, cada um faz o que quer entre os seus. Mas também sou egoísta e assustei-me por poder ser privado da escrita de Rogério Casanova no Expresso. Ele é um fanático sportinguista que de tão bem escrever me dá gozo até nas derrotas benfiquistas. Porque o meu temor era: se os sportinguistas não podem ler jornais, também não podem escrever neles, certo? E não me tranquilizava que o anátema do Bruno de Carvalho fosse contra "jornais desportivos". Como horas depois se confirmou, isto de proibir é como as cerejas... Corri ao Twitter do Casanova a saber se ele suspendia a sua escrita no Expresso mas o meu ídolo nada dizia. Ele próprio estava a digerir a notícia de que um sportinguista também não podia fazer links dos textos dos jornais. Apesar de abalado, ele disse que ia escrever no Twitter, "sem os ler", sobre os textos dos famigerados jornais. Então, a minha esperança renasceu: talvez ele continue a escrever os seus textos no Expresso, mesmo sem os ler - ainda assim serão bem acima da média.
E depois desta esperança acabo esta crónica com uma certa lascívia: vai ser excitante imaginar os sportinguistas como os recasados do cardeal. A comprar A Bola, mas a não a ler; a espreitar pelo canto do olho o Pedro Guerra, mas a não o ouvir. O pecado é tão enredado e tentador..."

​Faça-se justiça e depressa

"O que se passou no domingo em Guimarães fica como uma das maiores manchas desta temporada desportiva.

Não sabemos se a justiça vai atuar e a que velocidade. Mas é necessário que o faça também para preservar vandalismos futuros que, a acontecer, só prejudicarão o futebol em vários dos seus domínios.
O que se passou no domingo em Guimarães antes do jogo entre o Vitória e o Sporting de Braga, fica como uma das maiores manchas desta temporada desportiva.
Várias dezenas de energúmenos, escapando à caixa de segurança na qual se integravam os adeptos da equipa arsenalista, acercaram-se à vontade do estádio do Fundador para ali atacarem adeptos e famílias vimaranenses com os instintos mais selvagens já vistos em Portugal.
Actuando de forma célere a Polícia conseguido travar os desmandos identificando e prendendo 52 dos prevaricadores, sem, no entanto, ter conseguido evitar que da refrega resultassem seis feridos. 
Perfeitamente caracterizado e identificado o incidente, esperam-se agora resultados.
Aos arruaceiros, supostamente pertencentes a um grupo designado por “casual´s” não podem continuar a ser-lhes permitido o livre acesso aos estádios, antes devem ser castigados e vigiados para que não volte a haver ameaças à segurança nos estádios.
O futebol já está actualmente num patamar pouco recomendável e, porque estamos a onze jornadas do termo do campeonato, são necessárias medidas urgentes que assegurem tranquilidade à volta daquilo que falta jogar.
As autoridades policiais e judiciais têm a palavra.
Por isso, desejamos que não fiquem no silêncio."

O pior cego é o que só vê a bola

"A indústria do futebol é especial. Tem uma legião de adeptos incondicionais, marcas fortes, alimenta-se de emoções, é afectiva, e os resultados que importam não são os financeiros, mas sim os obtidos nos fins-de-semana de jogos. Além disso é uma indústria maniqueísta.

De um lado estão os bons, a equipa que se apoia, do outro os maus, que tanto podem ser os oponentes de circunstância como os ódios cultivados diligentemente ao longo de décadas.
Portanto, o primeiro equívoco é tentar ler o futebol fora das quatro linhas pela cartilha das boas práticas empresariais, porque na realidade nada encaixa. Para os adeptos, as finanças dos respectivos clubes são minudências quando comparadas com o objectivo máximo, o de conquistar a glória desportiva.
Tudo isto é normal. O problema de fundo está no facto de os líderes do futebol terem optado por vestir o equipamento de adeptos, esquecendo-se de que os lugares que ocupam apresentam outras exigências de natureza ética e empresarial. E agem assim porque entendem que só desta forma garantem os seus lugares.
Os apelos do presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, para que os adeptos do clube não comprem jornais nem vejam televisão, à excepção da Sporting TV, inscrevem-se neste território da emocionalidade. Não há qualquer lógica empresarial ou sentido estratégico no pedido de Bruno de Carvalho, excepto o de tentar injectar o ódio como combustível para o reforço da coesão clubística. 
Numa indústria normal, ainda para mais tratando-se de empresa cotada, o presidente do Sporting estaria a braços com um grave problema reputacional que se agravaria pelo embaraço causado junto dos patrocinadores, sendo que o seu futuro enquanto líder estaria cheio de pontos de interrogação. E isto só não acontece porque é de futebol que estamos a falar.
O problema de fundo destas atitudes é que se ancoram numa lógica de curto prazo e perpetuam um modelo já em desuso nos outros países. As condições de financiamento dos clubes alteraram-se substantivamente, a liga europeia será em breve uma realidade e as equipas portuguesas arriscam-se a ser cada vez mais subalternas, cavando a sua sepultura periférica, por força da sua incapacidade em criar valor.
Os adeptos vivem e alimentam-se da emoção. Os líderes desportivos têm a obrigação de criar uma narrativa diferente, preocupando-se com a sustentabilidade do modelo de negócio e a sua credibilização. É para eles (que não fazem o que devem) que serve esta frase intemporal do romancista e cronista brasileiro, Nelson Rodrigues: "Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola.""

Jornalismo, sim, mas só se tiver juizinho...

"A Liberdade de Imprensa não é opcional num regime que vive de equilíbrios sensíveis como o nosso e a sua defesa intransigente cabe a todos.

Dois episódios muito recentes deram-nos a ver, com enorme clareza, a fragilidade do exercício do Jornalismo em Portugal e a forma como actores com responsabilidade pública o entendem.
O episódio 1 aconteceu na sexta-feira, no congresso do PSD. Uma equipa de assessoria demasiado zelosa e um grupo de seguranças privados às suas ordens quase conseguiram impedir os fotojornalistas de fazer ‘a foto da noite’ (o cumprimento de passagem de testemunho entre Passos Coelho e Rui Rio). E porquê? Ninguém sabe. Só porque sim, imagina-se. Só porque quem organiza este tipo de eventos há muito se habitou em Portugal a organizar também o tempo, o lugar e o modo de actuação dos jornalistas. Este impedimento ao exercício da Liberdade de Imprensa, de tão vulgarizado que está (mais ainda do que as violações do segredo de Justiça), já quase se normalizou e contou durante muitos anos com um silêncio cúmplice da própria profissão. Mas trata-se de um crime e parece assentar num pressuposto grave - o de que o Jornalismo não é nem pode ser muito mais do que o espaço de informação benigna sobre pessoas e/ou organizações.
O episódio 2 aconteceu durante a Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal. Ali foi dito, de forma clara e directa, pelo presidente do clube, que os sócios devem deixar de ler jornais e deixar de ver televisão, a menos que essa televisão se chame ‘Sporting TV’. Neste caso não estamos na presença de um crime mas estamos, isso sim, perante uma visão muito semelhante sobre o que é o Jornalismo, o que faz, para quem e em nome do quê. Percebe-se, também aqui, que há um total desrespeito pela ideia de que as democracias só fazem sentido num clima permanente de vigilância de poderes, de censura de comportamentos e de abertura à dissensão e de que, na maior parte delas, é através do Jornalismo que essas imagens e vozes alternativas se projectam. O apetite de quem tem poder pelo controle dos média não é nenhuma novidade. Mas o que é novo - e se torna mais banal a cada dia que passa - é um posicionamento despudorado de alguns dirigentes (políticos ou outros) que parecem ter descoberto as vantagens de viver num universo sem limites, sem regras nem fronteiras (sem muros, para usar uma expressão tão querida ao exemplo mais significativo desta estirpe).
A Liberdade de Imprensa não é opcional num regime que vive de equilíbrios sensíveis como o nosso e a sua defesa intransigente cabe a todos. Todos os dias. Porque pouco mais nos separa das neblinas densas da Propaganda e da Demagogia."