quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Fut... sal e pimenta

"Pena que o FC Porto não tenha aderido ao futsal. O entusiasmo seria ainda maior na hoje segunda modalidade a seguir ao futebol.

Tempos gloriosos
Tempos gloriosos para o Portugal desportivo. Depois de quebrarmos o enguiço contra uma França que sempre nos cortava o sonho, sendo campeões europeus no seu próprio reduto, eis que no futsal finalmente derrotámos os espanhóis numa final europeia e num belíssimo país, como é a Eslovénia. Se a estes dois feitos, juntarmos, a  nível de selecções, as camadas mais jovens que têm alcançado excelentes classificações, a nossa presença nas Olimpíadas, a primeira vez que em futebol feminino se foi a uma fase final de um Europeu, as vitórias no futebol de praia e as expectativas para o Mundial da Rússia deste ano, constamos a excelência do trabalho institucional, organizativo, técnico e desportivo da Federação Portuguesa de Futebol. A que, evidentemente, não é alheia a boa conjugação, nas nossas selecções, entre individualidades e colectivos fortes.
Teremos, assim, ultrapassando o trauma idiossincrático do quase que sempre nos tem acompanhado no desporto. Teremos superado o tempo das vitórias morais que falsamente nos pretendiam consolar na desventura. Passámos a ser respeitados e considerados nas organizações europeias e mundiais e a ser temidos como adversários nas competições.
Só é lastimável que este tempo vitorioso e sustentado seja acompanhado, a nível interno, por uma necrose desportiva e uma patologia destrutiva. Por isso, não é surpreendente que a nível de selecções estejamos por cima e a nível do ranking das equipas estejamos no plano descendente e a cavar o fosso para as principais ligas (ainda que aqui haja outras razões poderosas e financeiras que muito explicam).
Nas horas e dias seguintes à vitória europeia no futsal o que continuámos a ver? Em progressão logarítmica, o efeito nocivo de alguns programas em alguns canais televisivos de notícias. É até confrangedor ver pessoas respeitáveis no meio de touradas de sangue onde só falta o bicho. Ali, com mais ou menos desrespeito ou fanfarronice, o que importa é excitar a discussão pela discussão, dar argumentos de ódio para ouvintes mais propensos à acefalia, repetir imagens de «enorme importância» vezes sem conta até se ficar nauseado. Os oráculos que se lêem debaixo de ecrãs, divididos aparvalhadamente em 3 ou 4 partes, são um pré-incitamento à violência. Propaga-se incontroladamente o mau exemplo, o rastilho do ódio, a acendalha lançada para cima do fogo tão artificial, quanto teatral. Pedagogia do bom exemplo é coisa rara, com direito, quando muito, a rodapés e fugidios momentos de ecrã.
Em suma, a vitória europeia esfuma-se a discussão doentia volta a instalar-se dominante.
Voltando ao futsal, a modalidade tem muito beneficiado pelo facto de o Sporting e o Benfica o  praticarem, como, aliás, o Sporting de Braga, o Belenenses e o Rio Ave. Pena que o FC Porto não o tenha feito, porque, creio, que o entusiasmo seria ainda maior na hoje segunda modalidade a seguir ao futebol.
Só um ponto me desconforta: a menor atenção que se vem dando ao hóquei em patins, apesar de ser agora mais televisionado. É um desporto no qual temos largas credenciais, é bonito de se ver jogar, e o campeonato entre os habituais três grandes a que acresce a Oliveirense e um campeão improvável há poucos anos (Valongo) é a melhor liga mundial de hóquei. E, no entanto, é relativamente mais secundarizado, mesmo até nos festejos políticos-mediáticos. Em 2016, voltámos, finalmente, a recuperar o título de campeão na Europa e o assunto quase passou despercebido.

Na frente tudo na mesma
Mais uma jornada, onde com maior ou menor facilidade, os sempiternos candidatos venceram. Começa a ser regra os jogos teoricamente mais complicados serem bem mais fáceis e, ao mesmo tempo, se perderem pontos em encontros encarados como acessíveis, com equipas do fundo do tabela. O Porto com o Moreirense e Aves e, até ao intervalo, com o Estoril, O Sporting com o Estoril, Vitória de Setúbal e o Moreirense. O Benfica empatou recentemente com o Belenenses (logo a seguir derrotado copiosamente com o Aves) e perdeu no Bessa (com um Boavista agora em melhor posição na tabela). Aquelas bolinhas tipo semáforo com que os jornais costumam classificar as jornadas que faltam estão a ser trocadas nas cores depois dos jogos efectuados.
Rui Vitória, sem se queixar, lá vai colmatando, com mais ou menos dificuldade, as lesões e ausências de jogadores fundamentais. Agora calhou a vez de Jonas que bem espero recupere depressa porque é absolutamente imprescindível para lutar pelo pentacampeonato, e do infeliz Salvio, de novo operado. Rafa - jogador que tem inegáveis qualidades - continua a desperdiçar oportunidades para se impor e justificar o elevado investimento que o clube fez. Tem de passar da fase prolongada do quase para uma presença completa no campo. Cervi, por sua vez, merece todos os encómios: velocidade, capacidade de desequilibrar, boa reacção defensiva, tudo apesar de ser fisicamente um peso-pluma Zivkovic tem mostrado que é a melhor solução para substituir Krovinovic.
Ainda dois apontamentos: o primeiro para registar a quantidade de golos aéreos que a defesa sofre. E, perante isto, a minha dúvida. Se, por um lado, a defesa ganha velocidade com os actuais titulares e joga mais perto da linha média, por outro Luisão (parabéns pelos 37 anos) assegura aspectos posicionais que não têm sido tão bem preenchidos agora. Difícil escolher, pelo menos para mim, mero treinador de teclado... O segundo ponto relaciona-se com a posição de guarda-redes. Nada tenho contra o jovem Bruno Varela que, neste contexto, deve continuar a ser o titular. Mas costuma dizer-se que as grandes equipas não basta um bom keeper, é preciso que seja excelente. E o Benfica teve ultimamente dois: Oblak e, sobretudo, Ederson. Guarda-redes que dão pontos e títulos. É que na maioria dos jogos, um guardião do SLB só faz duas ou três defesas em que qualquer falha pode ser decisiva. Bruno Varela é um excelente profissional tem evidenciado algumas lacunas sobretudo no jogo aéreo e em certas hesitações fora dos postes.

Contraluz
- VAR: Continua o seu caminho...
... que, apesar de todas as críticas, tem um balanço positivo. Já repôs a verdade desportiva em muitos momentos. Agora o que não pode acontecer é o sucedido no jogo Sporting - Feirense em que árbitros e VAR andaram literalmente aos papéis, quer dizer ao protocolo!
- Frase: «Formar em vez de naturalizar»...
... disse muito bem Fernando Gomes, presidente da FPF. A propósito, Rússia e Cazaquistão tinham uma mão-cheia de... brasileiros.
- Regresso: Manuel Cajuda...
... de novo a treinar em Portugal. Agora no Académico de Viseu. Estreou-se a jogar em casa do Benfica B e de que maneira, vencendo por 5-1! Está em boa posição para subir à divisão principal, 40 anos depois. Bem merece a cidade e o clube.
- (In)coerência: Dos especialistas na contabilidade de penalties...
... por marcar a favor da sua equipa. Para eles, qualquer sopro na área de rigor é logo considerado um erro crasso. Se foi ao contrário, bico calado, não se passa nada. Desde os dois penálties por assinalar no Dragão a favor do Belenenses (havia 0-0) até aos dos do Maxi Pereira em Chaves (havia 0-0).
- Lamento: A quase ausência dos Jogos Olímpicos de Inverno...
... nos meios de comunicação, à excepção da RTP 2 que faz um bom e bem comentado resumo diário. Bem sei que os desportos nele incluídos não fazem parte do nosso panorama de competições e que a nossa representação se limita a dois estrangeirados. Mas mesmo assim merece ser noticiado e acompanhado.
- Mentira: Cazaquistão
País asiático, joga na UEFA por ter uma pequeníssima parte europeia a oeste do rio Ural. Calhou ao Sporting ir à Ásia (Astana) para jogar na Europa. Em 2015/16 foi ao Benfica. Uma aldrabice geográfica..."

Bagão Félix, in A Bola

'Facebookiado'

"1. Se um sportingado é um sportinguista com azia, então Bruno de Carvalho é um facebookiado, ou seja, um facebookiano com azia, inclusive (que ironia!) em relação ao próprio Facebook, já que ficámos a saber nos últimos dias, pelo próprio, que a rede social já lhe apagou alguns posts. Assim sendo, na próxima AG do Facebbok será assim: ou Bruno de Carvalho (com mais de 75 por cento) ou Mark Zuckerberg.
2. A vitória de Portugal no europeu de futsal é mais um contributo do pontapé na bola (seja ele numa praia, num pavilhão ou num relvado...), para a autoestima de um povo que precisa de sentir-se orgulhoso para ser mais confiante. Um triunfo assim, há que «bebê-lo como um vinho que dá força para o caminho quando a força faltar», como cantam Miguel Gameiro e Mariza (que voz tão portuguesa!).
3. Depois de ver Madonna a assistir a um jogo de futebol no campo do Águias de Camarate, só me falta ver Bono a jogar à sueca no campeonato internacional inter-jardins.
4. Se a Liga portuguesa acabasse agora, o desfecho seria justíssimo. Porque o FC Porto tem sido, até aqui (veremos no futuro), a melhor a mais regular equipa, assim como a mais prejudicada (entre os grandes) pelas arbitragens. E tem havido engenho na elaboração (tanto no verão como em Janeiro) e gestão jogo a jogo do plantel, sempre num cenário de enormes limitações financeiras. Grande mérito de Sérgio Conceição, acima de tudo.
5. Juro que não percebi aquela nota oficial no site do Benfica, dias depois de fechar o mercado. «Na reunião do plenário dos órgãos sociais foi realçada a determinação de prosseguir a prática de firme aposta na capacidade competitiva do clube, incluindo, o futebol com o objectivo da conquista do histórico penta». A sério?
6. O director de comunicação do Sporting veio falar em «exercício de honestidade intelectual» do Conselho de Arbitragem ao assumir o erro do VAR em Alvalade, frente ao Feirense. Sempre é melhor do que exercícios recorrentes de hipocrisia intelectual."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

PS: Extraordinária conclusão do Gonçalo no ponto 4!!! Isto na semana, em que Soares Dias 'ganhou' o jogo em Chaves!!! Esta necessidade estúpida de Benfiquistas, dizerem este tipo de coisas parvas, só por se 'passarem' por independentes, é algo que devia ser estudado psiquiatras e sociólogos!!!

Derrota...

Sporting 33 - 29 Benfica
(17-12)


Não me canso de recordar que os Lagartos têm um orçamento completamente disparatado nas modalidades, especialmente no Andebol, onde gastam mais, do que os Corruptos, o Benfica e o ABC, todos juntos!!!!!

Hoje, até começamos bem, mas acabámos por desperdiçar demasiados golos na 1.ª parte... O Benfica, só fazendo um jogo 'perfeito' terá hipóteses de derrotar os Lagartos! O jogo foi nivelado por baixo, os Lagartos acabaram por ser os menos maus...!!!
Três notas: o Figueira, esta época, ainda não fez um jogo 'inspirado'... como ele pode! Mau jogo do Grilo...! O João Silva tem feito os seus melhores jogos, com os adversários mais complicados, é bom sinal...

Suspeito que vamos acabar por lutar com os Corruptos pelo 2.º lugar...

Derrota em Itália

Ravenna 3 - 1 Benfica
22-25, 25-22, 25-23, 25-20

Foi pena, faltou um Set para sairmos de Itália com 'esperança'! E a frustração ainda é maior, porque os três Set's perdidos foram equilibrados... Mais uma vez não se notou a diferença brutal de orçamentos...
É óbvio que 'matematicamente' temos um jogo por disputar, mas vai ser muito complicado na Luz... temos que ganhar por 3-0 ou 3-1 e depois vencer o Golden Set!!!

Empates 'desapareceram' nas últimas duas jornadas

"Os regulamentos do futebol em Portugal não mudaram mas, atendendo ao que se passou nas duas últimas rondas do campeonato, até parece. Dito por outras palavras, esta é uma modalidade em que continuam a existir três desfechos possíveis, embora recentemente tenham ‘desaparecido’ os empates. Confuso? A verdade é que nas duas derradeiras jornadas da Liga não se registou uma só igualdade, contrariando aquilo que é habitual. Esta temporada, após a disputa de 22 rondas, já são quatro as que não tiveram empates (a 6 e a 10 foram as primeiras). Percentualmente não é muito significativo (18,18%), mas tendo como base aquilo que se verificou na última década, esta é já uma das épocas com mais jornadas sem igualdades. Com mais, aliás, apenas a de 2013/14, quando aconteceram cinco. Tendo em conta que ainda falta realizar 12 rondas, não seria surpresa que esta marca fosse igualada ou até superada.
Futebolisticamente, claro, não se pode dizer que à ausência de empates corresponda uma melhoria da qualidade do jogo. Ainda assim, sem igualdades já se sabe que as partidas têm golos e isso, por si só, é positivo. De resto, em algumas paragens – como os Estados Unidos – tudo o que seja jogo em que exista vencedor e vencido... é bom sinal. Os empates, em determinadas culturas, não são aceites com o mínimo agrado.
Regressemos a Portugal: o Sp. Braga é a equipa que mais contribui para a diminuição dos empates, pois só tem um esta época (em Alvalade, na jornada 11, e com o 2-2 final a surgir nos descontos). No polo contrário, curiosamente, estão os dois últimos colocados. O V. Setúbal, ‘lanterna-vermelha’, soma nove igualdades, enquanto o Moreirense (penúltimo) conta sete.

Sabia que...
» O Sporting estabeleceu um novo máximo de remates? Os leões visaram a baliza do Feirense 29 vezes, superando as 27 do FC Porto na jornada 3 (com o Moreirense). A melhor marca leonina estava em 17 (com o V. Setúbal). O Sporting-Feirense, acrescente-se, passa a ser o jogo com mais remates (36), ultrapassando os 35 do Sp. Braga-FC Porto (ronda 4) e do Tondela-Boavista (11).
» O Estoril só fez 5 faltas em Moreira de Cónegos? Até agora, o registo mais baixo da prova pertencia ao Rio Ave (seis em Tondela, na ronda 13). Esta foi a segunda jornada com 6 penáltis? Antes, na 20.ª, já havia sido assinalada meia dúzia de penáltis. Nessa altura foram desperdiçados dois, agora apenas um.
» Esta ronda foi a que teve mais cartões? Os árbitros exibiram 57 (54 amarelos e 3 vermelhos). O máximo até aqui estava em 54 (e 50 amarelos) na jornada 4."

Aquela carpete em que somos campeões da Europa

"Os jogos vejo-os no sofá. As finais, na carpete.
Em casa, vivo os momentos decisivos quase a mergulhar pelo ecrã de televisão adentro.
Fiz escola e ao meu lado, qual imitador, tenho o meu melhor amigo.
Aos oito dias de vida, já ele via o seu primeiro jogo: meia-final do Euro 2012, perdida frente à Espanha nos penáltis – pontapés de penálti, como dizem os árbitros-comentadores, desempate por pontapés da marca da grande penalidade, como dizem os ainda mais puristas.
A mudança havia sido recente, pelo que ainda nem carpete tinha em frente ao televisor. Perdia-a de pé, com ele ao colo.
Foi já sobre ela sentados, quase a mergulhar pelo ecrã da televisão adentro, que a 10 de Julho de 2016 vimos as traças de Saint-Denis pousarem na cara de Ronaldo, como que querendo secar-lhe as lágrimas. Aguentámos até ao prolongamento. Até que uns dez segundos antes de Eder chutar para a glória, a mãe, lá de dentro, ouviu um golo ecoar na rua e gritou um golo que ouvimos na sala.
Maldita dessincronia. Bendito momento.
Campeões da Europa de futebol. Em França. Sobre a França. Até espreitámos na varanda para ver o fogo-de-artifício, antes da minha ordem para ele se deitar.
Sábado à noite, lá estávamos nós, viemos a correr para casa para ver o Portugal-Espanha e com os minutos a passarem já nós nos afundávamos naquela espécie de tapete voador que nos eleva à condição de campeões.
O argumento, improvável, repetia-se, o que o tornava ainda mais inverosímil: o nosso melhor jogador lesiona-se, mas os restantes, decididos a fazer história, ganham no prolongamento o Campeonato da Europa à selecção favorita.
Desta vez, com a mãe na sala, nem dessincronia houve quando o Bruno Coelho fez de Eder chutou para a glória a 55 segundos do fim.
Sábado, 10 de Fevereiro, 22 horas de Portugal continental: um livre directo acaba no fundo da baliza espanhola. Nós a vibrarmos com futsal, como se fosse futebol.
«O Ronaldo lesionou-se e nós fomos campeões. E agora o Ricardinho lesionou-se e somos campeões outra vez», constatou ele.
Sábado, 10 de Fevereiro, o Gui foi deitar-se mais tarde. Dormiu como um campeão, com mais um título europeu no bolso do pijama."

O homem que sabia demais...

"Um livro novo sobre Béla Guttmann traz-nos a memória do judeu que conquistou a Europa e levou o Benfica ao topo do mundo. E que disse, após a sua segunda saída da Luz: 'Estes olhos, caro senhor, que há anos não conhecem lágrimas, vertem-nas há várias noites. Se alguma vez tiver um grande amor, nunca se atreva a voltar'.

Soa a filme de Hitchock, com Leslie Banks e Edna Best, e não fica muito longe do estilo inconfundível de suspense.
Falo de Béla Guttmann.
Ou, melhor, falo de um livro sobre Béla Guttmann recentemente editado em Portugal. Chama-se De Sobrevivente do Holocausto a Glória do Benfica. O autor é David Bolchover, autor e comentarista, colaborador do The Times, de Londres, figura frequentemente presente na BBC.
O livro lê-se de uma penada, como é hábito dizê-lo.
Começo pelo pior. Erros terríveis! Erros terríveis, como diria o Conselheiro Gama Torres do divino Eça.
Falando da meia-final da Taça do Campeões entre o Tottenham e o Benfica: 'O jovem guarda-redes Jimmy Greaves, recém-contratado e futura lenda do futebol inglês que faria a sua estreia naquela meia-final' (???????)
Só pode ser distracção da grossa ou asneira grotesca transformar Greaves num guarda-redes, ele que foi um dos grandes avançados da história do futebol mundial. Já para não acrescentar que o bom do Jummy já tinha passado pelo Chelsea e pelo AC Milan antes de se transformar no primeiro jogador do mundo a custar cem mil libras.
Bem como descrever os golos de Coluna 'com o seu pé direito, menos hábil' (menos hábil, o pé direito de Coluna????) e outras distracções do género que metem a habitual confusão daquela jornada final do campeonato com  Benfica - CUF e Torreense - FC Porto, trocando a verdade dos factos - quem jogou longos minutos contra apenas nove adversários foi o FC Porto em Torres Vedras e não o Benfica na Luz.
Agora que sublinhei duas ou três coisas que diminuem a qualidade global da obra, sublinho igualmente o profundo conhecimento que o autor revela sobre a importância dos judeus no desenvolvimento do futebol mundial no período entre as duas Grandes Guerras e que se seguiu a 1945.
Guttmann era, como sabem, judeu. Foi um jogador de enorme qualidade no Hakoah de Viena (Hakoah significa força ou poder) que espalhou por todo o mundo, somando êxitos sucessivos e os aplausos dos adeptos judeus onde quer que jogassem.

O Holocausto
um período da vida de Béla Guttmann (nascido Guttman, mas foi-lhe acrescentado o segundo n no final para ganhar um toque germânico) que perdido em mistério. Sabe-se que toda a sua família foi dizimada pelos nazis, mas o filho de Ábrahám Guttman, que viria a fundar juntamente com a sua mulher, Eszter, uma escola de dança em Budapeste, na qual o Béla se formou como professor, sobreviveu à devastação do seu país e ao Holocausto. Durante anos terá vivido num sótão sujo dos arredores da capital húngara, fugindo à deportação, à humilhação dos trabalhos forçados e, muito provavelmente, à morte.
Isso ajudou a formar a sua personalidade como treinador: 'Agressivo, polémico, desbocado, desconfiado, itinerante, iconoclasta, impulsivo...', escreve Bolchover. 'Gutmann era o típico forasteiro, consciente de que nunca seria bem aceite pelo sistema, mas indiferente ao juízo que faziam dele. O seu caminho, traçava-o ele custasse o que custasse...'
Gutmann ficará como muito poucos marcado a ferro e fogo na história do Benfica.
Veio para a Luz em 1959, após ter sido campeão no FC Porto, e ficou até 1962 - o seu período mais longo num só clube. Raramente ficava mais do que uma época. Ganhou duas Taças dos Campeões, destruiu o mito de invencibilidade do Real Madrid, transformou o futebol de um pequenino país de um cantinho ocidental da Europa, saiu zangado, voltou rico, em 1965, voltou a sair zangado, morreu praticamente na ruína por via de todos os seus confrontos insistentes e de um vício incontrolável pelo jogo.
Apesar daqueles pequenos erros (arrepiantes para quem gosta de futebol e aos quais se somam mais uma meia dúzia do mesmo género), o livro de David Bolchover vale a pena. Tem referências históricas impressionantes e é uma investigação profunda levada a cabo sobre o treinador que levou o Benfica ao topo do mundo.
'Béla Gutmann foi o judeu que conquistou a Europa!'
E, sobre a sua segunda saída do Benfica, ecoam as palavras do próprio Guttmann. 'Estes olhos, caro senhor, que há anos não conhecem lágrimas vertem-nas há várias noites. Se alguma vez tiver um grande amor, nunca se atreva a voltar'.
Só que Guttmann, na verdade, não precisava de voltar ao Benfica. Fez sempre parte dele desde o primeiro dia em que entrou na Luz."

Afonso de Melo, in O Benfica