segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Lixívia 22

Tabela Anti-Lixívia
Benfica .. 53 (-4) = 57
Corruptos. 55 (+6) = 49 (-1)
Sporting . 53 (+9) = 44

Mais uma jornada repleta de incompetência, coacção, falta de personalidade e outras coisas...!!!

Em Portimão, Xistra foi com a encomenda recheada... Porrada, muita porrada! Perdi a conta, aos Cartões perdoados aos jogadores da casa... e mesmo no final da partida, os 'emprestados' pelos Corruptos, saltaram do banco, para ainda aviar mais porrada!!! Sim, a lesão do Jonas foi 'acidental' mas é incrível como é que o Benfica não tem mais lesões traumáticas, depois de festivais de porrada com este!!! Comparar este tipo de jogos, com por exemplo a agressividade do Chaves esta semana com os Corruptos, é exemplar...!!!

Nas jogadas 'mais' decisiva, destaco:
- o Amarelo, alanjarado ao Tabata, na falta sobre o Grimaldo...
- no suposto penalty sobre o Fabrício, o avançado estava fora-de-jogo... Não houve 'passe' do Fejsa, no máximo houve um ressalto, portanto o fora-de-jogo devia ter sido assinalado!
- Penalty sobre o Rafa... o contacto é ligeiro, mas existe (na perna e na coxa)... idêntico ao lance sobre o Jonas na semana passada, com o Rio Ave. O facto do VAR não ter 'invertido' a decisão do árbitro até é compreensível, mas o Xistra só tinha que marcar penalty (e depois se fosse simulação, o VAR anulava...), pois este é um daqueles lances típicos de penalty...
- Inacreditável falta marcada ao Cervi, numa escorregadela do Fabricio, que daria contra-ataque perigoso ao Benfica! Este lance é um excelente exemplo para comprar os critérios nos jogos do Benfica e nos jogos dos Corruptos e Lagartos: basta recordar o 1.º golos dos Corruptos em Chaves; e o tal lance no polémico golo anulado ao Doumbia pelo VAR... Nos jogos do Benfica, este tipo de recuperações altas, são quase sempre assinaladas faltas... com os outros, é um deixa andar...!!!
- A falta que dá o golão do Cervi, também se transformou em 'caso': eu por acaso, acho que a 'Mão' na bola não é deliberada, portanto não deveria ser falta... Mas, como é que os 'expert's' que o ano passado, defenderam que o Pizzi fez penalty no Benfica - Sporting, defendem agora que o jogador do Portimonense não fez falta?!!! A diferença, é que esta foi fora da área... onde os árbitros 'marcam' mais facilmente, e o ano passado foi dentro da área!!! Mas o critério dos Anti's, depende se é a favor ou contra o Benfica!!!
- Karma!!! Foi o que aconteceu nos descontos prolongados do Xistra que deu 4 minutos, para ver se dava para o Portimonense empatar, e acabou por ser o Benfica a marcar, praticamente aos 95 !!!


Em Chaves, a 'confiança'  foi tanta que além do lesionado Danilo e Aboubakar os Corruptos ainda preteriram do Brahimi por opção!!! (além do Marcano e do Ricardo Pereira)!!!
Pessoalmente, acho que essa 'confiança' deveu-se à inacreditável nomeação do Soares Dias (e não a um potencial facilitismo do Chaves), que continua a ser nomeado para jogos dos Corruptos, apesar dos erros e omissões em catadupa!!!

Foram 3 os penalty's claros cometidos pelo Mini Pereira!!! Três... é óbvio se o árbitro tivesse 'coragem', e tivesse marcado os dois primeiros, com os respectivos Amarelos, o Mini já não faria o terceiro, porque já teria sido expulso... Mas como não foi, fez três...!!! Qual deles o mais evidente...
O 1.º com 0-0 no marcador, e os restantes ainda na 1.ª parte...!!!
Mais inacreditável ainda, foi o facto do Soares Dias nem sequer ter recorrido ao VAR... porquê?!!! Será que estava com medo, que o Mota assinalasse os penalty's evidentes?!!!
No 1.º golo dos Corruptos, a recuperação de bola do Otávio, parece 'legal', mas não é!!! Nas pernas é tudo correcto, não existe rasteira, mas existe empurrão com o braço...
Conclusão, os Corruptos deviam ter estado a perder por 2-0, e com 10 jogadores... Com a capacidade do Chaves de circular bola, nunca mais lá chegavam...
No 2.º tempo, o Domingos Duarte também podia ter levado o Vermelho directo numa falta sobre o Soares, mas nessa altura já deviam ter levado 3...
ADENDA: Esqueci-me de referir um lance duvidoso, entre o Reyes e o William: o contacto não me pareceu ser suficiente, para ser assinalado penalty.
Este é um daqueles jogos, onde um 0-4, podia perfeitamente ter sido 'ao contrário' caso as decisões do árbitro tivessem sido correctas! A perder e a jogar em inferioridade numérica, a marcha do marcador teria sido completamente diferente...


No Alvalixo, tivemos 'espectáculo'!!!
Vamos por partes: Sim, o VAR não devia ter anulado o golo, pois o protocolo assim não o permite. E poderia abrir um precedente perigoso...
Agora, a falta existiu... o golo do Sporting, nasce de uma falta não assinalada (uma de muitas) contra os Lagartos!!! Portanto, dizer que o Sporting foi prejudicado, é uma meia-verdade!!!
Nos restantes lances 'importantes' as decisões foram correctas:
- Tiago Silva tem o braço encostado ao corpo, não podia ser penalty...
- Flávio corta a bola com a cara (é a segunda vez que Luís Ferreira, 'pretende' marcar um penalty em Alvalade a favor do Sporting, após o defesa contrário cortar a bola com a cara, o ano passado foi no Sporting - Tondela, rectificado pelo fiscal-de-linha...)
- Gelson está em fora-de-jogo, golo bem anulado...
Agora, o resto da arbitragem foi má, muito má... Foram 8 os Amarelos para os visitantes, e 2 para os da casa... O melhor exemplo da vergonha, é uma jogada logo nos primeiros minutos:
- Canto para o Sporting, mal marcado, o Feirense tenta sair em contra-ataque, Bruno Fernandes sem pernas, faz obstrução para impedir o facto do Feirense ficar em superioridade numérica... E Luís Ferreira, 'inverte' a falta, e marca falta de Luís Machado, em posição frontal para a baliza do Feirense, criando um Livre Directo perigoso... que só não foi golo, porque o guarda-redes fez uma grande defesa!!!
Nos jogos do Benfica, para 'ganharmos' um Livre Frontal perigoso, é preciso quase 'matar' um jogador do Benfica, em Alvalade, até as faltas feitas pelos jogadores do Sporting, dão Livre perigoso a favor do Sporting!!!
ADENDA: No 2.º golo do Sporting, existe uma fala de Mathieu no início da jogada! Esta sim, devia ter sido 'assinalada' pelo VAR!


Anexos:
Benfica
1.ª-Braga(c), V(3-1), Xistra (Verissímo), Prejudicados, (4-1), Sem influência no resultado
2.ª-Chaves(f), V(0-1), Sousa (Tiago Martins), Prejudicados, (0-3), Sem influência no resultado
3.ª-Belenenses(c), V(5-0), Rui Costa (Vasco Santos), Beneficiados, Sem influência no resultado
4.ª-Rio Ave(f), E(1-1), Hugo Miguel (Veríssimo), Prejudicados, Impossível contabilizar
5.ª-Portimonense(c), V(2-1), Gonçalo Martins (Veríssimo), Prejudicados, (4-0), Sem influência no resultado
6.ª-Boavista(f), D(2-1), Soares Dias (Esteves), Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
7.ª-Paços de Ferreira(c), V(2-0), Xistra (Hugo Miguel), Nada a assinalar
8.ª-Marítimo(f), E(1-1), Sousa (Godinho), Prejudicados, (1-2), (-2 pontos)
9.ª-Aves(f), V(1-3), Almeida (Vítor Ferreira), Beneficiados, Prejudicados, Sem influência no resultado
10.ª-Feirense(c), V(1-0), Godinho (Xistra), Prejudicados, (2-0), Sem influência no resultado
11.ª-Guimarães(f), V(1-3), Soares Dias (Malheiro), Prejudicados, (1-4), Sem influência no resultado
12.ª-Setúbal(c), V(6-0), Godinho (Pinheiro), Prejudicados, Beneficiados, (8-0), Sem influência no resultado
13.ª-Corruptos(f), E(0-0), Sousa (Hugo Miguel), Prejudicados, Beneficiados, Impossível contabilizar
14.ª-Estoril(c), V(3-1), Pinheiro (Manuel Oliveira), Beneficiados, Sem influência no resultado
15.ª-Tondela(f), V(1-5), Tiago Martins (Malheiro), Nada a assinalar
16.ª-Sporting(c) E(1-1), Hugo Miguel (Tiago Martins), Prejudicados, (5-0), (-2 pontos)
17.ª-Moreirense(f), V(0-2), Mota (Godinho), Nada a assinalar
18.ª-Braga(f), V(1-3), Soares Dias (Godinho), Prejudicados, (1-4), Sem influência no resultado
19.ª-Chaves(c), V(3-0), Esteves (Vasco Santos), Prejudicados, (5-0), Sem influência no resultado
20.ª-Belenenses(f), E(1-1), Paixão (Rui Oliveira), Nada a assinalar
21.ª-Rio Ave(c), V(5-1), Manuel Oliveira (Vítor Ferreira), Prejudicados, Sem influência no resultado
22.ª-Portimonense(f), V(1-3), Xistra (Rui Oliveira), Prejudicados, Beneficiados, Sem influência no resultado

Sporting
1.ª-Aves(f), V(0-2), Tiago Martins (Pinheiro), Nada a assinalar
2.ª-Setúbal(c), V(1-0), Paixão (Hugo Miguel), Beneficiados, (0-0), (+2 pontos)
3.ª-Guimarães(f), V(0-5), Hugo Miguel (Sousa), Nada a assinalar
4.ª-Estoril(c), V(2-1), Godinho (Tiago Martins), Beneficiados, Impossível contabilizar
5.ª-Feirense(f), V(2-3), Soares Dias (Tiago Martins), Nada a assinalar
6.ª-Tondela(c), V(2-0), Manuel Oliveira (Tiago Martins), Nada a assinalar
7.ª-Moreirense(f), E(1-1), Godinho (Pinheiro), Beneficiados, (2-0), (+1 ponto)
8.ª-Corruptos(c), E(0-0), Xistra (Hugo Miguel), Nada a assinalar
9.ª-Chaves(c), V(5-1), Rui Costa (Esteves), Beneficiados, Prejudicados (5-2), Sem influência no resultado
10.ª-Rio Ave(f), V(0-1), Sousa (Capela), Beneficiados, (0-0), (+2 pontos)
11.ª-Braga(c), E(2-2), Xistra (Rui Costa), Beneficiados, (1-4), (+1 ponto)
12.ª-Paços de Ferreira(f), V(1-2), Tiago Martins (Xistra), Beneficiados, (1-1), (+2 pontos)
13.ª-Belenenses(c), V(1-0), Almeida (Godinho), Nada a assinalar
14.ª-Boavista(f), V(1-3), Godinho (Vasco Santos), Nada a assinalar
15.ª-Portimonense(c), V(2-0), Capela (Xistra), Nada a assinalar
16.ª-Benfica(f), E(1-1), Hugo Miguel (Tiago Martins), Beneficiados, (5-0), (+ 1 ponto)
17ª-Marítimo(c), V(5-0), Xistra (Esteves), Nada a assinalar
18.ª-Aves(c), V(3-0), Pinheiro (Sousa), Beneficiados, (2-1), Impossível contabilizar
19.ª-Setúbal(f), E(1-1), Veríssimo (António Nobre), Beneficiados, Sem influência no resultado
20.ª-Guimarães(c), V(1-0), Godinho (Hugo Miguel), Nada a assinalar
21.ª-Estoril(f), D(2-0), Mota (Luís Ferreira), Nada a assinalar
22.ª-Feirense(c) V(2-0), Luís Ferreira (Manuel Oliveira), (1-0), Beneficiados, Sem influência no resultado

Corruptos
1.ª-Estoril(c), V(4-0), Hugo Miguel (Luís Ferreira), Nada a assinalar
2.ª-Tondela(f), V(0-1), Veríssimo (Malheiro), Beneficiados, Impossível contabilizar
3.ª-Moreirense(c), V(3-0), Manuel Oliveira (Tiago Martins), Prejudicados, Beneficiados, Sem influência no resultado
4.ª-Braga(f), V(0-1), Xistra (Esteves), Beneficiados, Impossível contabilizar
5.ª-Chaves(c), V(3-0), Rui Oliveira (Hugo Miguel), Nada a assinalar
6.ª-Rio Ave(f), V(1-2), Sousa (Godinho), Nada a assinalar
7.ª-Portimonense(c), V(5-2), Luís Ferreira (Sousa), Nada a assinalar
8.ª-Sporting(f), E(0-0), Xistra (Hugo Miguel), Nada a assinalar
9.ª-Paços de Ferreira(c), V(6-1), Manuel Oliveira (Veríssimo), Beneficiados, (5-1), Sem influencia no resultado
10.ª-Boavista(f), V(0-3), Hugo Miguel (Tiago Martins), Nada a assinalar
11.ª-Belenenses(c), V(2-0), Veríssimo (Luís Ferreira), Beneficiados, (0-2), (+3 pontos)
12.ª-Aves(f), E(1-1), Rui Costa (Esteves), Nada a assinalar
13.ª-Benfica(c), E(1-1), Sousa (Hugo Miguel), Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
14.ª-Setúbal(f), V(0-5), Tiago Martins (Rui Oliveira), Beneficiados, (0-3), Impossível contabilizar
15.ª-Marítimo(c), V(3-1), Mota (António Nobre), Nada a assinalar
16.ª-Feirense(f), V(1-2), Veríssimo (Paixão), Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
17.ª-Guimarães(c), V(4-2), Soares Dias (António Nobre), Prejudicados, Beneficiados, (4-2), Impossível contabilizar
19.ª-Tondela(c), V(1-0), Godinho (Soares Dias), BeneficiadosPrejudicados, (2-0), Impossível contabilizar
20.ª-Moreirense(f), E(0-0), Luís Ferreira (Manuel Oliveira), Nada a assinalar
21.ª-Braga(c), V(3-1), Hugo Miguel (Almeida), Prejudicados, (4-1), Sem influência no resultado
22.ª-Chaves(f), V(0-4), Soares Dias (Mota), Beneficiados, Prejudicados, (3-0), (+3 pontos)

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2016-2017
2015-2016

Belenenses: a quadratura do círculo

"Por um lado, o Belenenses está muito perto da linha de água; por outro, não há clube que resista de costas voltadas aos adeptos.

A classificação da I Liga portuguesa traduz a realidade dos desequilíbrios orçamentais vigentes. Os três primeiros vão garantindo, entre eles, uma competitividade assinalável quanto ao título de campeão, o quarto é o SC Braga, que manifesta uma disponibilidade financeira superior à dos que lhe estão abaixo e se quisermos ir à procura de nivelamento competitivo temos de tentar encontrá-la mais na luta pela permanência, que envolve uma dúzia de clubes, do que até na corrida pela UEFA. É verdade que, felizmente, a ditadura do dinheiro, no futebol, não explica tudo e é possível dentro de determinados parâmetros, que a competência tenha um papel decisivo nos desfechos. Mas quando, como sucede em Portugal, as diferenças de meios entre os três primeiros e os dez últimos são tão grandes, torna-se impossível a competição olhos nos olhos e a única via é a do expediente. Numa linguagem bélica, a maior parte dos clubes quando defronta os grandes ou opta por uma estratégia de guerrilha ou acaba por não conseguir aguentar a exigência de jogar de igual para igual. Porque, de facto, como diria Orwell, todos são iguais (porque disputam a mesma competição), mas uns são muito mais iguais que os outros (porque têm meios incomensuravelmente maiores). Enquanto não forem criadas condições para tornar as coisas mais justas e equitativas (ponham-se os olhos na Premier League), vamos assistindo a verdadeiros milagres tácticos de treinadores imaginativos, que se habituaram a fazer a melhor limonada do mundo com os limões que lhes disponibilizam.
Merece destaque, na última jornada, a goleada do Desportivo das Aves no Restelo, presenciada por poucos adeptos. Apanhada no fogo cruzado de uma guerra sem quartel (nem armistício à vista) entre o clube e a SAD, a equipa azul vai-se afundado na tabela, estando agora a dois pontos da linha de água. Perante a irredutibilidade dos opositores, uns mandatados pela AG para denunciar o protocolo com a SAD, os outros nada interessados em qualquer conversa, e com uma penhora sobre o Restelo a adensar o drama, só há razões para preocupação quanto ao futuro próximo do Belenenses. Uma coisa é certa: não há clube que resista sem a força e o apoio dos seus associados e essa é a quadratura do círculo que urge resolver.

Ás
Ricardinho
Considerado por cinco vezes melhor jogador do mundo de futsal, Ricardinho já tinha lugar guardado na história da modalidade. Mas não há dúvida que o título europeu, com Portugal, trouxe outro brilho a uma carreira para a eternidade, feita de talento e génio. Ricardinho, Cristiano Ronaldo, Madjer, Portugal abençoado...

Ás
Jorge Braz
O seleccionador nacional de futsal está de parabéns. O título europeu é uma linha brilhante num currículo de respeito e cabe-lhe o mérito de ter sabido enquadrar o talento ímpar de Ricardinho num colectivo que aceitou a liderança do mágico. O futsal é cada vez mais a segunda modalidade preferida pelos portugueses.

Ás
Fernando Gomes
Poder-se-ia até falar em toque de Midas, tal o número incrível de sucessos das várias selecções de Portugal desde que assumiu a presidência da FPF. Mas não há nada de alquimista em Fernando Gomes. Os êxitos baseiam-se em planificação rigorosa, trabalho aturado e muita competência. Quando assim é...

Do céu só cai a chuva. E é quando cai...
«O mundo está cheio de génios que nunca chegaram a sítio nenhum por falta de trabalho»
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República
Marcelo Rebelo de Sousa tem tido a possibilidade de homenagear desportistas portuguesas que escalaram picos nunca antes superados pelas cores nacionais. O presidente dos afectos, neste caso um verdadeiro talismã para Portugal, fez ontem, ao receber os campeões da Europa de futsal, a apologia do trabalho e da competência. Do céu, só cai a chuva. E é quando cai...

Portugal, Portugal, Portugal.
Reconfortante a sensação de déjà vu desta imagem. O melhor jogador do mundo, que não conseguiu terminar a final do campeonato da Europa por lesão, acabou por levantar o troféu de campeão, no meio de indescritível alegria. Um ano e meio depois de Paris, a história repetiu-se em Ljubljiana, numa onda ganhadora de Portugal. A pouco e pouco o fatalismo lusitano vai cedendo, dando lugar a uma geração que já não se satisfaz apenas pela presença nas finais e desafia a sorte, arriscando-se a ser feliz.

Inglaterra imparável. E a colher de pau?
A Inglaterra de Eddie Jones continua a mostrar que é a selecção de râguebi mais forte do hemisfério norte e no último sábado derrotou a fortíssima equipa de Gales (12-6), valendo esta «Fuga para a Vitória» na capa do 'Sunday Times'. Com a Inglaterra a apontar ao título, quem ficará com a colher de pau? França ou Itália?"

José Manuel Delgado, in A Bola

Partidas de Carnaval

"O FC Porto passou com limpeza em Chaves, o Sporting teve de sofrer mas ganhou pelo que na frente continua tudo na mesma. Na mesma, mas com mais uma jornada ‘arquivada’, como costuma dizer Rui Vitória, o que obviamente deixa o dragão mais animado e os rivais a suspirarem por um seu deslize. Até final, ainda há muitos pontos em discussão (36, para ser rigoroso) e todos os clássicos da 2.ª volta por disputar.
Em tempo de Carnaval, o VAR pregou algumas partidas. Em Chaves, penáltis passaram sem castigo (de acordo com a análise dos árbitros Record). Em Alvalade, o erro foi mais grave, uma vez que não teve a ver com a interpretação da jogada, mas sim com a violação do protocolo. O árbitro, Luís Ferreira, foi o menos culpado, uma vez que foi alertado para uma falta que já não devia produzir efeitos no lance. Se o Sporting não tivesse ganho, estava instalada a confusão.
No Bessa, um lance no limite da área do Boavista em que o VAR não validou a decisão de Nuno Almeida em marcar um penálti, leva-nos a outra questão em situações em que as imagens não dão certezas absolutas, como foi o caso (para nós, mas pelos vistos não para o VAR): não deverá o árbitro seguir a decisão que tomou inicialmente em função do que viu no terreno?"

Duarte Gomes lamenta jornada infeliz para a arbitragem (mas recorda que a tecnologia é útil e veio para ficar)

"Não foi uma jornada feliz, no que diz respeito a decisões das equipas de arbitragem. Apesar de muitas das incidências só ficarem esclarecidas após visualização das imagens – o que obviamente atenua e muito a primeira análise de quem está no terreno de jogo -, a verdade é que a existência da vídeo-tecnologia pressupõe maior acerto em situações que aos olhos de quem vê as imagens parecem claras e evidentes.
Os jogos dos chamados grandes, por serem os que seduzem o maior número de apoiantes e que arrastam maior mediatismo, estão sempre sob os holofotes de todos os que anseiam ver a vitória das suas equipas (ou eventual derrota justificada por erros dos árbitros).
Em Portimão, houve dois momentos de jogo que aqui queremos recordar. O primeiro, de análise bem interessante, à passagem dos 57` e logo com duas situações consecutivas: queda de Fabrício na área encarnada e a seguir queda de Rafa na área oposta. 
Em ambas, árbitro e VAR nada assinalaram.
Vamos à primeira: Fabrício estava em posição de fora de jogo, tocou na bola e só depois foi carregado por Jardel. Ou seja, tomou parte ativa no jogo antes da falta. É certo que o último toque na bola foi de Fejsa, mas foi apenas isso. Um toque. Não se tratou de uma bola passada para trás de forma deliberada e consciente. O médio meteu o pé na disputa a dois e o contacto no esférico foi de ressalto, fortuito/inevitável para a sua intromissão na jogada.
Agora um esclarecimento importante: suponhamos que Fejsa tinha, de facto, jogado a bola para trás de forma intencional. Nesse caso, não haveria fora de jogo e estaríamos agora a discutir qual a falta técnica que deveria ter sido assinalada.
A esse propósito, fica a explicação: a única infracção continuada que se pune no fim da acção é o agarrão persistente, em lances de fora para dentro da área.
Ou seja, se neste caso a infracção de Jardel tivesse sido “agarrar”, o lance teria que ser punido com pontapé de penálti para o Portimonense.
Mas como se pode constatar nas imagens, a infracção que central brasileiro cometeu foi empurrão ou carga nas costas e não agarrão. E o que a lei diz é que estas são punidas de acordo com o princípio geral: no início da acção (ali com pontapé livre directo, fora da área). 
Fim de esclarecimento.
Voltemos à realidade. Houve mesmo fora de jogo de Fabrício e o único erro foi do árbitro assistente, que não sinalizou a posição irregular do jogador algarvio.
Na sequência do lance, Rafa caiu na área do Portimonense sem que Filipe Macedo tivesse cometido qualquer infracção. A queda foi natural e a decisão de Carlos Xistra foi acertada.
O outro momento do jogo ocorreu mais tarde, aquando da marcação da falta que deu origem ao golo de Cervi. Este lance sim, deixou muitas dúvidas.
É inegável que a bola bateu na mão esquerda de Galeno, como também é inegável que o cabeceamento de André Almeida foi na queima, a bola totalmente inesperada e o defesa dos algarvios estava em plena movimentação defensiva. São as tais situações em que a dúvida fica no ar e isso justifica que se aceite a decisão do árbitro, mas – à distância – fica a sensação que a melhor opção teria sido a não marcação da falta.
Em Chaves, o jogo não correu da melhor forma para um dos mais competentes árbitros portugueses. Logo no arranque, Maxi Pereira cometeu penálti sobre Djavan - braço esquerdo do defesa uruguaio impediu a progressão do avançado flaviense - e um pouco mais tarde (aos 21`), o mesmo jogador disputou a bola com Davidson em lance cuja legalidade e local da infração (dentro ou fora da área) deixaram algumas dúvidas. É justo que tomemos como boa a decisão de Artur Soares Dias.
Ainda antes do fim da primeira parte, novo lance entre Maxi e Davidson: o lateral azul e branco disputou (e tocou) a bola mas arriscou e parece ter tocado também no calcanhar do avançado brasileiro. Nas imagens ficou a ideia que a ação causou o derrube do jogador do Chaves e que isso justificaria o pontapé de penálti. Árbitro e VAR (ambos sem certezas) tiveram leitura distinta.
Nota, por último, para carga não assinalada de Domingos Duarte sobre Soares. O defesa flaviense, na passada, tocou no pé do avançado do FC Porto, derrubando-o. O avançado ainda aguentou a queda (caíu pouco depois), o que de modo algum anula a infração. O lance, que ocorreu ainda fora da área do D. Chaves, cortou clara possibilidade de golo dos azuis e brancos (Soares, descaído na esquerda do seu ataque, estava isolado e ia em direcção à baliza adversária): devia ter sido punido com pontapé livre directo e cartão vermelho para D.Duarte. O lance era de leitura difícil em campo mas o VAR podia ter colaborado.
Quanto ao jogo de ontem entre Sporting e Feirense, pode dizer-se que Alvalade foi palco de uma partida recheada de incidências, cujo esclarecimento aqui se impõe.
Bruno Fernandes carregou Tiago Silva e isso foi evidente. O problema é que essa infracção, que não foi assinalada no momento adequado, ocorreu antes da posse de bola do Feirense.
E, na prática, o que significa isso? Significa que a revisão do golo de Doumbia devia ter ocorrido até ao momento em que o Sporting recuperou a bola em último lugar e não até ao anterior, da infracção do médio leonino. Esteve mal o VAR em sugerir a Luís Ferreira que revisse o lance (induziu-o em erro) e esteve também mal o próprio árbitro ao não se aperceber, face à imagem que viu, que a falta acontecera numa fase de jogo que já não pressuponha vídeo-revisão. Daí resultam duas leituras: que provavelmente não haveria golo (mal) anulado se a infracção inicial fosse assinalada; e que a jogada do golo em si foi, efectivamente, mal invalidada.
Depois, penálti por assinalar por mão de Tiago Silva na sua área. O jogador do Feirense até tinha o braço direito colado ao corpo, mas fez todo o movimento – ostensivo e deliberado - para cortar a trajectória da bola de forma ilegal. O lance era de análise complicadíssima em campo, mas face ao desenho da jogada, de leitura facilitada para o VAR.
Houve outros dois lances passíveis de análise: o do penálti que Luís Ferreira assinalou e que depois, por boa indicação de Manuel Oliveira, acabou por rectificar (a bola bateu apenas e só na cara de Flávio Ramos e não no braço) e o lance que deu origem ao segundo golo do Sporting, da autoria de Montero.
Sobre este a imagem que vimos não foi suficientemente clara para justificar a intervenção do VAR, mas ficou a ideia que, na fase inicial da jogada, Mathieu poderá ter ganho posse de bola praticando jogo perigoso activo (no caso, pé em riste) sobre Karamanos. Se foi esse o caso, o golo teria que ser invalidado e o jogo recomeçado com pontapé livre favorável ao Feirense. Sem certezas, é justo conceder ao árbitro o benefício da dúvida.
Em Braga, Jorge Sousa teve jogo com decisões difíceis, dando a sensação – pelas imagens que vimos – que poderá ter-se equivocado nos dois lances da área.
Jornada difícil… para mais tarde recordar.
Este é um caminho longo e difícil, mas que ninguém duvide: a tecnologia é útil e veio para ficar."

O meu pé esquerdo

"Roubo, roubo no melhor sentido, como se rouba agora nas redes sociais, roubo o título do filme que me fez fã de Daniel Day-Lewis, fã para sempre, neste elogio do esquerdino, o jogador com pé dominante menos comum, espécie de transgressor natural, concretamente no ainda mais justo elogio o lateral esquerdo, parente pobre da genealogia dos canhotos, família alargada liderada por génios argentinos de palmo e meio, Maradona e Messi, Messi e Maradona, no futuro haveremos de citá-los sempre assim, aos dois a par, hoje contudo primazia aos deuses menores da casta, aos que andam abaixo e acima no campo, que sabem da prioridade que é anular o extremo contrário, por regra o mais rápido e criativo opositor, mas a quem se exige que não fique pelo cumprimento dessa missão, que também vá em frente, ataque e desequilibre, pois o metro quadrado está mais caro no jogo – a evolução no tempo mexeu com o espaço – e tem de ser quem vem de trás a desatar o nó, tantas vezes.
Coisas da modernidade, dirão, laterais modernos, mas são assim chamados há pelo menos quarenta anos, o Gordillo já era um lateral moderno, no Bétis e no Madrid, a percorrer vezes sem conta aquele eixo junto à cal da esquerda, peito em riste e meias em baixo, já não há laterais de meias em baixo, como o Briegel também, outro peitudo, mesmo se o Briegel não era bem um esquerdino, nem o Demianenko do melhor Dínamo de Kiev, como também não foram Camanho ou Lahm, e hoje o dia é para dedicar aos laterais mas esquerdinos, canhotos de verdade como Maldini e Roberto Carlos, os melhores que a minha geração viu: Maldini, belo como Cabrini antes dele (porque são sempre mais bonitos os italianos?), o melhor de todos a defender, e Roberto Carlos, explosivo como Marcelo depois dele (porque são sempre mais talentosos os brasileiros?), o melhor de todos a atacar, sempre as duas coisas, defender e atacar. E alinho de memória Stuart Pearce, dos penaltis de desempate, um falhado em lágrimas e outro convertido aos gritos, Lizarazu, sangue basco na melhor França de sempre, Henrik Andersen, sinal de ataque raro numa Dinamarca feita campeã da Europa a defender, mais Sergi Barjuán, quando a Espanha ainda era feita de fúria e não ganhava, e ainda Jarni, croata, que só não é o melhor nascido em décadas nos Balcãs porque houve Mihajlovic, lateral também mas mais que um lateral, o melhor pé esquerdo que o mundo já viu a bater livres diretos (não, nem Maradona).
Não é lugar de grande fartura de talentos, sequer no mundo, mas de repente três dos maiores craques da Liga cá do rectângulo andam por ali, acima e abaixo, a dar corda ao pé esquerdo, cada um ao seu estilo: Coentrão como um Tom Sawyer, rebeldia e coragem apuradas no mar das Caxinas, regressou para novas aventuras numa sequência de correrias que cansam quem vê e infernizam quem se lhe opõe, todo coração, mais que razão, sorrisos recorrentes, de novo homem feliz mesmo se com lágrimas na hora da vitória frustrada; Alex Telles é Errol Flynn, arco e flecha, arco perfeito saído das botas com alvo definido e curta margem de erro, poucos são tão fortes naquele drible curto que precede a largada da seta rumo a área, adivinha-se o que vai fazer mas não dá para prever quando nem travar-lhe a marcha; Grimaldo como um músico de jazz, um Glenn Miller, desses que sabem tudo sobre notas e harmonias mas que só se realizam quando fogem à partitura, no caso dele quando não avança sempre por fora em apoio ao extremo, que é o mais comum na função, e improvisa por dentro, altera os compassos previstos e carrega com ele a orquestra. É certo que por cá houve Branco e Schwarz, Nuno Valente e Rui Jorge, Álvaro Pereira ou Siqueira, mas arrisco dizer que nunca os três grandes terão tido, ao mesmo tempo, gente de tanta qualidade na função. O campeonato deste ano pode bem ser decidido à esquerda."

O grande paradigma

"A revista Sábado, de 8 de Fevereiro de 2018, apresenta aos leitores uma reportagem, num ginásio, na zona industrial de Ashton, nos arredores de Manchester. “À entrada, uma roulotte, velhos cavalos de ginástica e uma espada, espetada numa pedra, à espera do Rei Artur. Parece um acampamento nómada”, mas é ali, no Elite Lab, que Mick Clegg, “um treinador especializado em desenvolvimento de força e de velocidade” trabalha, visando o surgimento de novos CR7, ou seja, de novos Cristianos Ronaldos. O interior do ginásio de Mick Clegg “está apetrechado com algumas das máquinas que ajudaram o madeirense a conquistar cinco Bolas de Ouro. Numa dessas máquinas um atleta tenta tocar em todas as luzes vermelhas, que piscam furiosamente num quadro preto, enquanto outro procura memorizar visualmente quatro bolas que se movimentam, misturadas com outras seis, num painel virtual”. Mick Clegg explica o trabalho das máquinas: “O futebolista tem de estar atento à bola, ao movimento dos colegas, à investida dos defesas, aos sons do público. Isso exige muito do cérebro. Estas máquinas ajudam-no a desenvolver a rapidez cerebral”. Os quatro filhos de Mick Clegg, com os métodos do pai, surpreenderam toda a gente que os via, tanto nas aulas de educação física, como na prática desportiva. Chegaram mesmo a “internacionais”, em várias modalidades, o que levou o Manchester United a premiar o arrojo e a competência de Mick Clegg, convidando-o a ingressar, como professor, na sua academia. “O seu programa de desenvolvimento de força era inovador: incluía exercícios de boxe, um chamariz para o médio e capitão Roy Keane, famoso pelo estilo combativo, que apareceu para conhecer o treinador de quem se falava”. Mas não foi só o Roy Keane, outros jogadores dele se aproximaram, curiosos de conhecerem os seus métodos e “em 2000 fui chamado para a equipa principal” sublinhou o Clegg.
David Beckam, Rio Ferdinand, Ruud van Nistelrooy, Paul Scholes, Ryan Giggs ficaram gratos ao professor Clegg… até que o Cristiano Ronaldo o visitou. E, como quem detém um segredo ou recata uma confidência, disse, por fim, a MIick Clegg: “Quero ser mais rápido e mais resistente do que Ryan Giggs”. E, com a sageza aliciante de um especialista, Clegg relatou, em pormenor, o treino específico do CR7 e os resultados espantosos a que o português chegou, atingindo mesmo os níveis físicos do Ryan Giggs, E, a coroar um treino intenso e tecnicamente rigoroso, recorda o professor Clegg: “Tinha uma autoconfiança notável. Enquanto a maioria dos jovens deixava de fazer uma finta quando Roy Keane lhes lançava um berro, ou o público os evolução totalmente controlada. Aliás, ele chegou a confessar-me que o United era uma passagem”. Ronaldo foi para o Real Madrid, em 2009. Dois anos depois, o maestro do ginásio de Old Trafford também abandonou o clube, desiludido pela falta de abertura para com os seus novos métodos. Desde então vive obcecado com a ideia de encontrar um novo Cristiano Ronaldo”. E, ardente de um sonho, com olhos de iluminado, ainda confessa que recebe visitas secretas de jogadores do Manchester City e do Manchester United, “que sentem que os clubes não lhes disponibilizam o treino de que precisam”. E Mick Clegg declara: “Encontrar o novo Cristiano Ronaldo requer uma conjugação de factores – bênção genética, jogar num clube grande e muita dedicação ao treino”. E pacientemente antevê o Futuro: “Se eu comecei a trabalhar com o Cristiano, quando ele tinha 18 anos e ele se tornou um portento físico, imaginem como podem ficar os miúdos que aqui chegam com 6 anos”.
Na conjugação de factores, que o professor Mick Clegg refere, à tríade “benção genética, jogar num clube grande e muita dedicação ao treino”, permito-me acrescentar: “o conhecimento do paradigma onde o treino e o jogo se fundamentam”. Ora, este paradigma só pode ser o de uma ciência hermenêutico-humana. No jornal A Bola, de 10 de Fevereiro de 2018, o dia do Espanha-Portugal, jogo onde se disputou o primeiro lugar do Europeu de Futsal – neste número do jornal A Bola, solicitou-se a antigos jogadores internacionais desta modalidade o que encontravam de relevante, na seleção portuguesa, finalista e portanto possível vencedora do Europeu de Futsal. Para Majó, Zé Maria, Zezito, Gonçalo Alves, Pedro Costa, Cardinal, a resposta foi unânime: o espírito de grupo, a coesão a raça, o querer, uma alegria contagiante durante o jogo e o orgulho de poderem representar o seu País. Ricardinho, o melhor jogador do mundo de futsal, não escondeu o que lhe saía da alma e referiu, acima de tudo, o ”carácter”, isto é, a vontade imensa da vitória… pelos onze milhões de portugueses e porque, durante a fase final do Europeu, Portugal foi a melhor equipa. Pedro Cary, respeitando embora o futsal da nossa vizinha Espanha, que já venceu esta competição por sete vezes, afirmou, convicto, que a vontade da equipa nacional portuguesa iria transcender todos os obstáculos. O treinador Jorge Braz relembrou Orlando Duarte que, frequentemente, repete que “do Passado vivem os museus” e, embora o poderio da selecção espanhola, Portugal “queria” vencer, fosse qual fosse o adversário. Será de recordar, neste momento que, desde 1990, a UEFA começou a organizar o Europeu de Futsal. E apenas quatro países se sagraram campeões: a Espanha (por sete vezes), a Itália (duas vezes), a Rússia e Portugal (por uma vez).
Com todo o respeito pela competência de Mick Clegg, como especialista que é no “desenvolvimento da força e da velocidade”, é a complexidade humana que deve preparar-se, para que os campeões consigam desempenhos que permaneçam estampados em eternidade. E, na complexidade, a biologia é fundamental, o espírito é essencial. Quando chegaram a Lisboa, os novos campeões europeus de futsal foram recebidos, no Palácio de Belém, pelo Presidente da República, Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, acompanhado pelo Dr. Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, pelo Doutor Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação e do Desporto e pelo secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Dr. João Paulo Rebelo. E, nos discursos proferidos, desde o Ricardinho, o capitão do time vencedor, e do Dr. Fernando Gomes, presidente da FPF (sempre calmo e aprumado e de uma impecável delicadeza), passando pelo Dr. Ferro Rodrigues, com a sua confessa admiração por tudo o que merece ser admirado e pelo Doutor Tiago Brandão Rodrigues (o desportista, o cientista, o pedagogo que questiona e se questiona) até ao Presidente da República (culto e generoso e, por isso, de pensamento animante e contagiante) – em todos, o paradigma, o grande paradigma dos mais espectaculares desempenhos, no desporto, é o “fenómeno humano”, no movimento intencional da transcendência. E portanto onde a inteligibilidade e a explicação de um jogo de futebol ou de futsal se encontra menos na natureza do que na cultura. Aceito, com naturalidade, que os fenómenos culturais apresentem mais fragilidades científicas, mas unicamente à sombra das ciências naturais, ditas exactas, jamais poderemos compreender um campeão, em toda a sua complexidade. A alta competição desportiva é mais um drama que outra coisa qualquer, o que lhe confere significação e sentido é a sua relação com determinados valores. Não há neutralidade axiológica, num jogo de futebol. A motricidade humana só pode entender-se como “conduta humana”. E onde o que se faz é mais determinado por valores do que por um fisiologismo que ainda não descobriu que o fisiológico é uma das partes (embora fundamental) de um todo…"

António Figueiredo responde e diz que estranho foi o Estoril-Sporting

"António Figueiredo respondeu a Carlos Xavier e voltou a justificar a mudança do Estoril-Benfica para o Algarve.

António Figueiredo, antigo presidente do Estoril Praia, voltou a reiterar a necessidade do clube ter jogado no Algarve devido aos problemas financeiros atravessados pelo clube na altura e contra-atacou: "estranho foi o jogo contra o Sporting" no qual o Estoril promoveu alterações na defesa que considerou "estranhas". António Figueiredo vincou ainda que o recinto algarvio não foi sequer a primeira escolha da administração do clube, relembrando também que não foi apenas contra o Benfica, dos primeiros classificados do campeonato dessa temporada, que o Estoril perdeu pontos. As declarações, feitas ao Bancada, surgem na sequência das acusações feitas ontem por Carlos Xavier relativas ao encontro entre o Estoril Praia e o Benfica disputado no Estádio do Algarve em 2005. 
“Parece que o anormal não sabia que os jogadores estavam com vários meses de salários em atraso. Parece que o anormal não sabe que eu falei com a equipa toda antes de irmos para lá. A decisão não foi minha, foi uma decisão do conselho de administração, não foi uma decisão individual. Parece que o anormal não sabe que isso permitiu pagar os salários. Parece que o anormal não sabe que se tentou jogar no Estádio Nacional e se estava a mudar a relva. Parece que o anormal não sabe que o Estádio do Restelo estava impedido pois estava cedido para os jogos da cidade e não pôde ser emprestado. Parece que o anormal não sabe que se tentou montar uma bancada provisória no sítio onde está agora aquela bancada, mas que razões de segurança não o permitiam”, contra-atacou o antigo presidente do Estoril Praia.
António Figueiredo explicou-nos ainda pormenores relativos à mudança do encontro para o Estádio do Algarve, reafirmando a decisão colectiva que foi tomada. “Foi pedida opinião ao treinador, aos jogadores… Sabe o que é os capitães de equipa me disseram? Disseram-me que para eles até jogavam no Estádio da Luz. Queriam era receber o dinheiro”. “O Estoril quando passou à primeira, tinha acabado o dinheiro. E assim que garantimos a subida, o Sr. Joaquim Oliveira adiantou metade do valor das transmissões televisivas do ano seguinte. Eu fico na primeira divisão e, entretanto, o Veiga vai para o Benfica. Vendeu acções a um grupo inglês que nunca entrou com dinheiro. O Damásio saiu. Fiquei eu, mais o Manuel Alves, mais o Laranjo, e ficámos agarrados com aquilo e com dinheiro para metade da época. Depois deu o que deu. Se não fosse aquele jogo tínhamos acabado a época recheados de dívidas. Se calhar no outro ano a seguir nem na segunda divisão competíamos”, acrescentou.
António Figueiredo reforçou ainda a ideia de que o jogo do Algarve foi uma bóia de salvação para o Estoril Praia: “Foi por milagre, já quando nos preparávamos para declarar falência, que eu lá convenci o João Lagos a entrar naquele negócio. Onde até perdeu um dinheirão, mas permitiu que o João Lagos tivesse negociado com a Traffic e o Estoril esteja agora onde está. Quando chegámos ao Estoril o clube estava na segunda divisão B e perto de descer. A prioridade era não descer da II B. Era só o que me faltava”.
O antigo líder do clube estorilista atacou ainda Carlos Xavier devido a decisões técnicas que apelidou de “muito estranhas” quando o Estoril recebeu o Sporting nessa temporada: “Eu nunca disse isto, mas digo-o agora. Tendo uma equipa técnica que ainda hoje eu estimo e de quem sou amigo, tendo o director desportivo do Sporting, o treinador do Sporting, adjuntos do Sporting, estranho muito que quando nós recebemos o Sporting tenhamos mudado a defesa toda e o Estoril tenha perdido em casa com o Sporting por 4-1. As maiores goleadas que o Estoril teve nesse ano foram contra o Sporting. Bastava ter empatado esse jogo. A defesa foi toda modificada, mudaram o capitão e o Sporting que estava a atravessar uma fase difícil conseguiu ir ali buscar três pontos o que endireitou as coisas por algum tempo”. “Não foram capazes de ganhar ao Sporting e no Algarve, onde o Estoril se bateu praticamente de igual para igual, onde o Benfica se viu aflito para ganhar o jogo com um golinho do Mantorras já a acabar, onde o Estoril vendeu a alma em campo e onde teve um jogador expulso por culpa do banco, que parecia uma gaiola de malucas, tudo a excitar os jogadores…”, acrescentou. 
António Figueiredo assegurou mesmo que em mais nenhum encontro da liga nessa temporada o Estoril teve as mesmas condições de trabalho: “O jogo do Estoril foi aquele, não por parte do Estoril, que o prémio de jogo era igual ao do Sporting e FC Porto, e soube isto por eles, onde houve mais um prémio suplementar de mil e tal contos dado por um fulano qualquer que dava para que o Estoril roubasse pontos ao Benfica”. “O Litos foi uma semana antes para o Algarve preparar o jogo. Tiveram uma semana no Algarve. Tudo isso foi possível porque conseguimos encher o estádio. Porque o tempo estava bom e porque o Benfica tem essa dinâmica de levar muita gente atrás e nós facturamos 600 mil euros. Se é a isso que ele se refere, então sim, o jogo foi vendido. Mas era imprevisível. Quando a administração tomou essa decisão não sabíamos se íamos fazer muito dinheiro. Claro que mais do que se jogássemos no Estoril faríamos sempre”, acrescentou.
Por fim, António Figueiredo assegurou que o caso irá ser entregue às autoridades e será decidido na justiça. “A minha reacção só pode ser através da justiça. Isto realmente ultrapassou tudo. Ao fim deste tempo todo, esse cavalheiro que foi trabalhar para o Estoril por esmola e a pedido do Mário Jorge, por esmola, ainda tem a desfaçatez de dizer aquilo que disse… devem estar a pagar-lhe com certeza…”. “É ridículo. Eu já entreguei isto à polícia. Já mandei isto para o meu advogado. Eu realmente tenho de calar este anormal. Este individuo tem sido de uma insensatez… Veja só se o Litos mais alguma vez foi buscar este cavalheiro para o ajudar. Isto demonstra que, mesmo sendo amigos, mostra o desempenho que este indivíduo teve por lá. A maior parte das vezes nem sequer aparecia. Ao fim destes anos todos, porque lhe arranjaram também uma esmola no Sporting, veio ressuscitar uma coisa com tanto tempo que eu já expliquei tanta vez. Dei-lhe emprego por esmola, por piedade e por pedido dos amigos dele”, disse ainda.
“Se fizéssemos antes como fez o Salgueiros e cobrássemos 40 contos por bilhete era outro escândalo na mesma. Seríamos presos por ter cão e por não ter”, concluiu António Figueiredo ao Bancada."

Jorge Braz, obviamente!

"O seleccionador conseguiu demonstrar que a cair cairia sempre para Portugal.

lá vamos ao episódio Ricardinho, Éder, Fernando Santos e o golo de Portugal quando jogava sem a sua maior estrela durante o prolongamento frente a Espanha.
No título deste artigo poderiam e deveriam estar outras pessoas como o resto do staff de Jorge Braz e uma pessoa que sempre acreditou piamente no Futsal enquanto aposta, de seu nome Pedro Dias. 
Vamos à quadra! O que esta Selecção conseguiu com Jorge Braz no comando foi um enorme feito, muito difícil, especialmente se considerarmos o contexto da modalidade em Portugal e em especial o dos dois grandes, com vários craques estrangeiros a empurrarem os portugueses para posições mediáticas inferiores.
Jorge Braz levou provavelmente para a Eslovénia a Selecção com menos individualidades dos últimos anos.
Esta Selecção teve quatro estrelas maiores:
1. Ricardinho - palavras para quê?;
2. todo o grupo de jogadores, que se tornou muito compacto, unido, uma verdadeira família, sempre a vibrar com o sucesso uns dos outros (e sabemos que isso nem sempre acontece mesmo no seio das melhores equipas);
3. a equipa técnica, com Jorge Braz à cabeça, e nunca esquecendo os membros na sombra que fazem um trabalho fantástico e muitas vezes desconhecido;
4. a estrutura de apoio, na imagem do Pedro Dias, que de alguma forma está para a federação como Braz para a equipa técnica.
O grande candidato era a Espanha, e esta até poderá ter sido uma das selecções espanholas menos fortes dos últimos anos. No entanto, isso nada retira em mérito a Portugal. Aliás, até dá outro valor à conquista lusa, que foi perceber que era uma oportunidade de ouro para vencer e trazer precisamente o ouro para casa.
A Selecção, sem um guarda-de-redes tão indiscutível como João Benedito no passado recente, ou sem o pivot de referência dos últimos anos Cardinal, levou para a Eslovénia jogadores de Sp. Braga, Belenenses e Leões de Porto Salvo. Não está em causa o nome de qualquer destes emblemas, mas até há pouco tempo, a equipa nacional era composta exclusivamente por atletas de Benfica e Sporting, e eventualmente algum outro que estivesse no estrangeiro.
O discurso de Jorge Braz foi muito semelhante ao de Fernando Santos.
A confiança, a crença. Não direi que a selecção de Futsal tinha todos os portugueses a torcer por ela, não por estarem do contra, mas porque a modalidade ainda não é conhecida por todos, mas Jorge Braz conseguiu demonstrar perante quem a seguia esta convicção de que a cair, cairia sempre para Portugal. O carteiro bate sempre duas vezes, dizem por aí. Ontem, bateu também na nossa memória, quando Ricardinho se lesiona e sai. Percebemos então que seria algo do mesmo género: a cair, cairia sempre para nós.
Por fim, deixar aqui um apontamento: há uns meses, dois amigos recomendaram-me um livro sobre um tema à volta do «antifrágil», ou seja, coisas que ficam mais fortes quanto algo de mal lhes acontece. Não são coisas nem frágeis nem tão fortes que sejam imunes ao que lhes acontece, mas sim antifrágeis: quando algo de negativo lhes acontece, conseguem perceber o que alterar para ficarem mais fortes. Mais uma vez, o termo parece assentar que nem uma luva a esta Selecção de Jorge Braz e restante equipa técnica.
Parabéns a todos! O País agradece, o Futsal agradece! Demonstrámos que um País de dez milhões consegue produzir campeões numa modalidade que ainda não é totalmente abrangente a nível mundial ou europeu, mas é sim praticada ao mais alto nível. Desejamos, obviamente, que seja cada vez mais jogada, estendendo-se a um nível planetário."

A história repete-se

"É sempre possível fazer o que nunca foi feito. Ou por outras palavras: tudo pode ser considerado impossível, mas só até acontecer. Primeiro foi a Selecção Nacional de Futebol a conseguir o milagre de vencer, de forma inédita, o Campeonato da Europa. Ontem coube a outra representação da Federação Portuguesa de Futebol – agora o Futsal – a escrever nova página de ouro.
Já sabíamos que a história pode mesmo repetir-se. O que ninguém imaginava é que poderia repetir-se de forma tão perfeita. Portugal venceu este Euro de Futsal exactamente da mesma forma que a Selecção de Futebol tinha vencido o Euro’2016: ambas as vitórias chegaram no prolongamento, ambas aconteceram no dia 10 e ambas aconteceram em finais onde os seus melhores jogadores (Ronaldo e Ricardinho) se lesionaram. Não ficam por aqui as coincidências: os craques que tiveram de abandonar a luta são ambos capitães de equipa e, se quisermos ir mais longe, jogam em clubes de Madrid: um no Real Madrid, o outro no Inter Movistar.
E o que pensar, então, quando recordamos aquilo que o próprio Ricardinho afirmou a Record a 20 de Janeiro? "Se me disserem que me lesiono, como o Cristiano Ronaldo, mas que Portugal vence o Europeu, não me importarei nada que isso aconteça." Parabéns! E as melhoras."

VAR de Mota!

"1 - A arbitragem de Manuel Mota no Estoril-Sporting foi um exemplo daquilo que deve ser a correcta utilização do videoárbitro. Cinco estrelas para o árbitro da Associação de Futebol de Braga e para Luís Ferreira, que foi o videoárbitro desse jogo. Manuel Mota demonstrou, com esta belíssima actuação, que, afinal, não é assim tão complicado tirar o melhor partido da ajuda que o videoárbitro pode dar. Sereno e com um tempo de intervenção muito acertado, Manuel Mota deu um contributo enorme para a verdade desportiva nesse jogo. Deixo ficar só este exemplo: se o árbitro não tivesse esperado pela conclusão do lance de Ewandro e tivesse interrompido a jogada por fora de jogo, não teria havido 2-0. Esta arbitragem deveria ser vista e analisada por todos os árbitros para servir de exemplo. Parabéns ao Manuel Mota e ao Luís Ferreira. Até pareceu fácil. E como o juiz de Braga tem um talho, deixo ficar este piscar de olho: foi atar e pôr ao fumeiro!
(...)
3 - Já aqui falei de alguns jogadores, fora dos três maiores clubes portugueses, que estão a destacar-se no nosso campeonato, mas faltou-me falar de um dos maiores craques! Lucas Evangelista não engana, tem mesmo muita qualidade. Não tenho dúvidas de que teria lugar no plantel de qualquer um dos três grandes, e até poderia ser titular. O brasileiro de 22 anos, formado no São Paulo e emprestado pela Udinese ao Estoril, é dinheiro em caixa. Quem apostar na contratação deste jogador, vai seguramente multiplicar a aposta e ganhar muitos euros. Este canhoto é internacional sub-21 pelo Brasil... e não terá sido por acaso. Outro jogador muito interessante: Fabrício. Também ele brasileiro, o avançado do Portimonense é, no entanto, mais velho que Lucas Evangelista. Fabrício fará 28 anos em Março, mas também me parece uma excelente aposta para um clube de maior dimensão. Esta época já leva 12 golos em 23 jornadas da I Liga! (Escrevo esta crónica sem saber como ficou o resultado do Portimonense-Benfica.)
(...)"

Justiça: em casa de ferreiro, espeto de pau

"O sentimento de impunidade que experimentamos quando os criminosos escapam cai que nem uma luva no caso das violações do segredo de justiça.

vários anos que se debate o problema da violação do segredo de justiça, em particular as fugas de informação pelas autoridades judiciárias para a comunicação social nos processos mediáticos. Os casos Casa Pia, Monte Branco, Freeport, Face Oculta e, mais recentemente, Lex e e-mails do Benfica, são apenas alguns exemplos. Foi particularmente flagrante e caricato os jornalistas terem chegado a casa do juiz Rui Rangel, antes das próprias autoridades.
Quando um processo penal está em segredo de justiça, os suspeitos não podem conhecer os factos concretos pelos quais estão a ser investigados, tornando-se difícil a respectiva defesa. A difusão desses factos na comunicação social, frequentemente articulados de forma acusatória, é especialmente danosa para o princípio da presunção da inocência e para o bom nome dos suspeitos. É sobretudo grave a divulgação de escutas telefónicas e comunicações de carácter pessoal, sem qualquer interesse público ou relação directa com os processos em causa.
Quais serão as presumíveis motivações das autoridades judiciárias quando passam a informação sob segredo de justiça para os meios de comunicação social nos casos mediáticos? Por um lado, poderá existir a intenção de obter um benefício económico na venda da informação. Por outro, poderá existir a intenção de influenciar a opinião pública no sentido da condenação dos suspeitos.
Note-se que a opinião pública pode pesar directamente na decisão de um tribunal. Um juiz, como qualquer outro ser humano, tem vieses cognitivos e é susceptível de ser influenciado pela pressão mediática, particularmente quanto a matéria de prova. Assim, se o arguido já estiver condenado na praça pública será mais fácil para as autoridades judiciárias obter uma condenação no processo. Concluindo, as motivações das autoridades judiciárias serão alegadamente corruptas e/ou batoteiras. 
Vivemos um período de descrédito generalizado nas instituições democráticas, de excessiva mediatização da política e da justiça, e de populismos que se aproveitam das falhas do sistema para proporem caminhos aparentemente mais fáceis, assentes nas paixões da opinião pública, mas profundamente demolidores dos pilares do estado de direito.
Este tipo de comportamento reiterado das autoridades judiciárias descredibiliza a Justiça. O sentimento de impunidade que experimentamos quando os criminosos escapam cai que nem uma luva no caso das violações do segredo de justiça. Ano após ano, violação após violação, continuam sem apurar-se responsabilidades. As instituições competentes para investigar os crimes são incompetentes para investigar os seus próprios delitos. É caso para dizer: em casa de ferreiro, espeto de pau."

Direito à informação versus direito à privacidade ?

"Há casos em que a fronteira entre o que deve ser mantido em privado e o que pode ser publicitado não é evidente.

O ponto de partida para o processo judicial foi uma noite de 2014 em que um conhecido actor nacional saiu de uma discoteca embriagado, e quatro desconhecidos, aproveitando-se desse seu estado de falta de discernimento, o filmaram, incluindo dentro de sua casa e cederam essas imagens ao Correio da Manhã, que aceitou publicá-las, e à CMTV, que as exibiu em inúmeros blocos noticiosos. Durante cerca de quatro minutos podia ver-se o actor na sala da sua casa com um ar totalmente perdido, atordoado, a cambalear, com uma linguagem quase incompreensível, a gesticular com uma garrafa de cerveja de um litro na mão, de joelhos, deitado no chão, com a camisa aberta, num estado de manifesta embriaguez. Fotogramas desse vídeo foram, ainda, publicados em sucessivas edições do Correio da Manhã, da revista Correio da Manhã TV e do suplemento Domingo.
O actor recorreu aos tribunais, não pela divulgação do seu problema de alcoolismo, que já tinha assumido publicamente e já fora referido por outros órgãos de comunicação social, mas porque, no seu entender, fora ultrapassado aquilo que a comunicação social podia noticiar sobre o assunto. A quantidade e qualidade das imagens consubstanciavam uma desproporcionada e injustificada interferência na sua vida privada e uma clara violação do seu direito à imagem.
Defenderam-se os réus, jornal, canal de televisão e jornalistas, argumentando que o actor era uma figura pública e o seu alcoolismo um facto público e notório, tendo as imagens em causa sido enquadradas numa reportagem sobre figuras públicas e dependências, com entrevistas a outros artistas e a médicos, havendo, assim, um interesse público nos trabalhos publicados. E, por outro lado, o actor aparecia a olhar para a câmara, pelo que tinha evidente conhecimento de que estava a ser filmado, consentindo, assim, nas filmagens. A nossa privacidade é, seguramente, garantia da nossa integridade, da nossa identidade e da nossa dignidade. Num mundo em que todos nos estão constantemente a roubar informação pessoal, convém distinguir o que é para ser público e o que é para ser privado ou íntimo. É evidente, por exemplo, que não é privado o que se discute no julgamento criminal do reitor da Universidade Fernando Pessoa, Salvato Trigo, que decorre, de forma assaz suspeita, no Porto à porta fechada. Mas há casos em que a fronteira entre o que deve ser mantido em privado e o que pode ser publicitado não é evidente.
As doenças são uma das áreas onde a questão da privacidade é fulcral. Mas, mesmo aí, há numerosas circunstâncias que justificarão a divulgação de doenças de pessoas públicas, já que, por exemplo, a saúde do Presidente da República não interessa só a ele. E se um artista fala publicamente dos seus problemas pessoais, tais como a dependência do álcool ou das drogas, tem de aceitar que essas questões sejam matéria informativa de interesse público. Mas até onde vai o direito à informação? Quando se justifica a compressão do direito à privacidade, uma vez que estamos perante direitos de geometria variável?
Em 2011, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos deu prevalência à privacidade, considerando que não violara a liberdade de expressão a condenação pelos tribunais ingleses do jornal Daily Mirror por ter publicado fotografias, captadas à distância, da modelo Naomi Campbell a entrar numa clínica de reabilitação de dependência de drogas.
Desta vez, nem o tribunal de primeira instância nem a Relação de Lisboa no passado dia 20 de Dezembro de 2017 tiveram grandes dúvidas: as imagens tinham sido captadas ilicitamente — dado o estado de embriaguez do actor — e a sua profusa difusão a nível nacional em nada contribuía para um debate sobre o alcoolismo, no âmbito da liberdade de informação, antes contribuindo “para o vexame, aniquilamento da imagem e profunda descredibilização” do actor, pondo em causa o seu processo de reabilitação. E os réus foram condenados a pagar uma indemnização de 50 mil euros e proibidos de voltar a publicar as imagens em causa, bem como de publicar informações sobre os tratamentos médico-terapêuticos do actor.
Parece claro que as doenças e dependências de cada um devem, em princípio, ser protegidas pelo direito à privacidade."

O grau zero de algum jornalismo

"Enquanto houver público para este circo mediático, monopolizado por um grupo de comunicação social, tudo compensa.

Sejamos claros e frontais: a democracia e o Estado de Direito não podem viver sem um jornalismo livre, independente e, muitas vezes, incómodo. De entre outras coisas, para isso se fez o 25 de Abril. Os vários tribunais nacionais e internacionais, com particular destaque para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, têm densificado a liberdade de imprensa, sopesando-a como valor mais relevante que, em muitas hipóteses, o direito à honra. Em alguns casos, até, em minha opinião, com excessiva leniência.
É velha, desde o aparecimento da imprensa, a questão da “tabloidização” dos media: estes limitam-se a dar aos cidadãos o que eles querem ver, ler e ouvir (sangue, tragédias, grandes parangonas), ou são eles que criam a necessidade nos ditos cidadãos? Ambas as coisas. Também desde cedo, sobretudo nas últimas décadas em que as novas tecnologias da informação permitem transmitir uma “notícia” à velocidade da luz, se debatem os mecanismos de auto e hetero-regulação. Se a isto juntarmos a violação do segredo de justiça, em que já todos percebemos que há pessoas em todos os sectores de profissionais que lidam com os processos que passam informações com variadas motivações, mais o eventual exercício do direito de informar, constitucionalmente garantido, aludindo-se a um “interesse público” do dito “jornalismo de investigação”, como possíveis tipos justificadores, é normal que tal crime morra invicto.
A solução nunca é matar o mensageiro. Mas também não é — não pode ser — o vale tudo: o linchamento público a que vamos assistindo, quase sempre vindo dos mesmos títulos da imprensa escrita e de um canal de televisão. Os buscados a saberem pela TV que este meio de obtenção da prova vai ser realizado, por vezes antes mesmo de os órgãos de polícia criminal saberem que para além daquela busca ainda havia outra para cumprir. Há quem diga que tudo isto se deve a esses “meios de comunicação social” — há quem os chame assim — serem mais competentes. Sem pôr em causa a competência desses jornalistas, ninguém é ingénuo ao ponto de achar que todos os demais são estúpidos. Não. Simplesmente não têm a mesma influência junto das possíveis fontes de informação. E como conseguem tal poder? Apenas posso imaginar, uma vez que não me compete investigar. 
Portugal e vários outros Estados regulam os media na sempre complexa ponderação de interesses contrastantes. Perante o panorama sumariamente descrito, soam a verdadeiras anedotas as palavras da Lei. Assim, o art. 3.º da Lei de Imprensa (Lei n.º 2/99, de 13/1) estabelece que esta visa “salvaguardar o rigor e a objectividade da informação, garantir os direitos ao bom nome, à reserva da intimidade da vida privada, à imagem e à palavra dos cidadãos e a defender o interesse público e a ordem democrática”. O Estatuto do Jornalista (1/99, de 1/1), no art. 14.º, n.º 1, al. a), prevê como dever destes profissionais “informar com rigor e isenção, rejeitando o sensacionalismo e demarcando claramente os factos da opinião”. Simplesmente, só “constituem infracções profissionais as violações dos deveres enunciados no n.º 2 do artigo 14.º” (art. 21.º, n.º 1). Dito de outro modo, o sensacionalismo compensa em vários domínios, pois rende mais que eventuais indemnizações a liquidar e porque — pasme-se — nem sequer é falta disciplinar. Donde, estamos em face de uma norma imperfeita, sem sanção, que, por isso, escapa ao controlo da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (cf. o art. 4.º, al. b), do DL n.º 70/2008, de 15/4). E não resulta da Lei que cria a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social – Lei n.º 53/2005, de 8/11), nem podia, por imperativos constitucionais e legais, qualquer acção disciplinar sobre os jornalistas em matéria do dever de rejeitar o sensacionalismo. Por seu turno, em termos de mecanismos de auto-regulação, o Código Deontológico dos Jornalistas estabelece, no seu n.º 2, que “[o] jornalista deve combater a censura e o sensacionalismo [...]”. Refira-se que este instrumento de soft law foi aprovado no 4.º Congresso dos Jornalistas a 15/1/2017 e confirmado em referendo realizado a 26, 27 e 28/10/2017, com uma baixíssima participação da classe, cujo lamento se pode ler no sítio do Sindicato dos Jornalistas.
Note-se que o dever que vemos vulnerado diariamente resulta de Leis da Assembleia da República, supostamente vinculativas e que deveriam prever efectivos mecanismos sancionatórios. Sic gloria transit media. Enquanto houver público para este circo mediático, monopolizado por um grupo de comunicação social, tudo compensa. Enquanto nas escolas de jornalismo não houver uma aposta mais forte no estudo da legislação dos futuros profissionais em temas de Direito da Comunicação e de Deontologia, tudo ficará na mesma, o que é meio caminho para tudo piorar. Por certo há honrosas excepções, mas essas ameaçam entrar em insolvência.
É este o jornalismo que queremos? Tempo é de se promover um amplo debate com todos os envolvidos e de transformar os provedores dos media em realidades actuantes e não em meras figuras decorativas. Debate sem dogmatismos e sem medos de encontrar um justo equilíbrio entre o papel essencial que a comunicação social tem desempenhado na descoberta de vários (supostos) crimes e os lentos autos-de-fé ao sabor de conveniências de interesses grupais."