quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Galardões Cosme Damião 2018

"Temos uma história de conquistas, uma paixão, uma atitude perante a vida. Nada teria sido igual na história do Sport Lisboa e Benfica sem o contributo das mulheres e dos homens que somam coração e paixão ao nosso clube, em Portugal e no Mundo, tal como Cosme Damião o fez. É essa força, esse exemplo, esse amor ao clube que procuramos honrar na nossa acção, sem nunca perder o rumo e sem nos desviarmos do caminho da credibilização, da sustentabilidade e das conquistas desportivas. Quero por isso reafirmar o nosso compromisso com os sócios do Sport Lisboa e Benfica.
Nada nem ninguém nos fará perder o sentido de serviço pelo clube, o rumo que escolhemos e a ambição de construir um Benfica cada vez mais forte, mais ganhador e mais sólido. Sabíamos que não seria fácil, sabíamos que íamos incomodar, sabíamos que quanto mais fortes, mais pedras no caminho nos iriam colocar e todas as distracções seriam criadas para que perdêssemos o foco do essencial.
Desenganem-se aqueles que pensam que nos conseguem desviar do caminho e do rumo que definimos. É que nós temos aquilo que é mais importante e que hoje estamos aqui a assinalar. Um património único de conquistas, de grandes técnicos, de enormes atletas e de uma massa associativa e de adeptos sem igual, em Portugal e no Mundo. Um património único de vitórias, projectos, ideias bem expressas na riqueza e diversidade oferecida pelo conjunto de todos os nomeados aqui presentes. É essa a nossa força. É esse o nosso segredo e a nossa célebre mística. Trabalho, humildade, talento e espírito de equipa.
Foi por isso que em conjunto lançámos um projecto para o Benfica que resgatasse a memória, respondesse com eficácia aos desafios do presente e lançasse as sementes para um futuro mais sólido, sustentável e ganhador. Foi por isso que associámos a essa liderança um sentido de união, de resistência e de foco para que o Benfica voltasse a ser a maior referência desportiva nacional, uma crescente marca global e uma instituição com um forte compromisso de responsabilidade social com a sociedade portuguesa.
Os resultados deste caminho de anos estão à vista de todos. E hoje é com enorme orgulho que vemos o reconhecimento internacional que o nosso clube tem nas mais diversas áreas, estando presentes no top dos principais rankings.
Neste momento de festa e de reconhecimento daqueles que são e serão sempre a alma do Sport Lisboa e Benfica, quero cumprimentar todos os nomeados, pelo mérito do vosso trabalho e dos projectos contemplados, verdadeiro símbolo da vossa dedicação e compromisso com o clube. Vocês são parte da história do Sport Lisboa e Benfica. É isso que hoje reconhecemos, a vossa parte na história do Benfica. Uma história de afectos, de experiências e de paixão.
Quando comemoramos 114 anos, mais do que nunca, continuamos a trabalhar para fazer mais história com a conquista do Penta e de outros títulos nas várias modalidades. Com o vosso apoio, continuamos a ganhar o presente e a construir o futuro.
Por isso, continuamos a apostar na formação e na internacionalização. Por isso, continuamos a dinamizar a rede de Casas do Benfica em Portugal e no Mundo, estamos a ampliar as infraestruturas desportivas no Seixal, vamos criar o Centro de Alto Rendimento, lançar a Benfica Rádio e continuar a aproveitar todas as oportunidades para fazer o Benfica cada vez maior e melhor.
É esse espírito de fazer o nosso trabalho de casa que é o legado de Cosme Damião. Ontem como hoje, um exemplo de dedicação ao clube. É com a inspiração da paixão de cada Benfiquista pelo nosso clube, que continuaremos. Juntos somos mais fortes."




Prémio Revelação
Aljaz Slutej (Basquetebol)
Ana Sofia "Fifó" (Futsal)
Francisco Pereira (Andebol)
Rúben Dias (Futebol)
Vasco Vilaça (Triatlo)

Prémio Formação
Basquetebol (Sub-14)
Equipa Júnior Masculina de Atletismo
Futsal (Sub-20)
Hóquei em Patins (Juniores)
Iniciados A (Sub-15)

Prémio Modalidade
Triatlo
Basquetebol
Equipa Júnior Masculina de Atletismo
Futsal Feminino
Hóquei em Patins Feminino
Voleibol

Prémio Atleta de Alta Competição
Carlos Morais (Basquetebol)
João Pereira (Triatlo)
Jordi Adroher (Hóquei em Patins)
Marlene Sousa (Hóquei em Patins)
Zelão (Voleibol)

Prémio Treinador do Ano
Carlos Lisboa (Basquetebol)
Cláudio Moreira (Futsal Sub-20)
José Jardim (Voleibol)
Paulo Almeida (Hóquei em Patins Feminino)
Rui Vitória (Futebol)

Prémio Futebolista
Eduardo Antonio Salvio
Jonas Gonçalves Oliveira
Luís Miguel Afonso Fernandes - Pizzi

PS: As minhas escolhas serão:
Vilaça
Juniores Masculinos Atletismo
Futsal Femenino
Marlene Sousa
Cláudio Moreira
Jonas

Classificações e arguições

"Sobre a Operação Lex Luís Filipe Vieira terá certamente todos os meios para se defender e espero, por todas as razões, que se prove a sua inocência.

Factos e feitos
Faltam 13 jornadas para se completar o campeonato. Na dianteira, tudo muito renhido e o Benfica, agora na segunda posição, a evidenciar que pode voltar a ser campeão, depois de muitas almas caridosas o terem remetido para o degredo. Nesta última jornada, tudo normal. O Benfica no seu estilo muito próprio e bipolar de uma meia-parte penumbrosa e outra luminosa, vencendo um clube com maturidade e competitividade como é o actual Rio Ave. O Porto vencendo um jogo difícil contra uma boa e bem treinada equipa como é o Sporting de Braga, podendo agradecer ao guarda-redes José Sá um quinhão decisivo na vitória. O Sporting perdendo no Estoril, com muito vento (creio que para as duas equipas) e, assim, evidenciando fraquezas depois de lhe acontecer o que ao Benfica na época passada e também nesta época foi 'o pão nosso de cada dia': lesões de jogadores importantes. Aliás, era uma questão de tempo. Taça da Liga ganha com empates arrancados a ferro, jogos sucessivos com vitórias tangenciais e exibições frouxas, adivinhava-se e avizinhava-se um dia como o da Amoreira.
O director de comunicação do Porto facebookiou aludindo à melhoria sensível do SC Braga de há três semanas a esta parte, assim insinuando, de novo, pretensas facilidades do Benfica no jogo da Pedreira. Além de mau-gosto de voltar a falar sobre o carácter e profissionalismo de uma equipa de futebol que deve merecer todo o respeito, nada disse sobre a facilidade das cabeçadas dos jogadores do Porto nos dois primeiros golos. Para mim, foram contingências e erros naturais de uma partida de futebol, mas aqui d'el rei se esses mesmos golos tivessem sido os do Benfica em Braga. O que diria o inefável director?
Por fim, Jorge Jesus falou das dimensões do relvado no Estoril. Já aqui as havia referido, mas para que conste volto a fazê-lo: 105m de comprimento e 70m de largura. Comparemo-lo com o de Alvalade: o mesmo comprimento (105m) e menos largura (68m). Esta ideia feita de que os clubes pequenos têm dimensões do campo inferiores, às vezes até dá jeito. Mas, não raro, é.

Bom sendo e clareza
1. Manda a prudência e a sensatez não embarcar na voragem mediática dos processos de investigação que por cá abundam e que culminaram, há dias, com a denominada 'Operação Lex'. Para tal já bastam a pletora de advogados que enchem o espaço televisivo, em que alguns nos esclarecem e outros nos confundem.
O certo é que com a recorrente e sistemática violação de regras do segredo de justiça, tudo mediatizado em ambiente ferozmente concorrencial de 'nós violamos mais do que os outros', nestes processos qualquer pessoa passa de investigada ou suspeita directamente a condenada, assim saltando todas as fases de um processo num Estado de Direito. Ou seja, suspeito, indicado, arguido, acusado, julgado, dissolvem-se na voragem de se decretar mediaticamente a condenação sem que haja a mínima hipótese de defesa.
Claro que os casos que temos vindo a conhecer são apetecíveis e excitantes. Atingem o coração do Estado e dos seus agentes de soberania, agora chegando a magistrados judiciais e do Ministério Público e a altos funcionários de Administração. Atingem o coração da economia, desde ex-banqueiros antes todo-poderosos e outros poderosos de terceiros países. E, 'cereja no topo do bolo', vêm atingindo o coração do futebol.
Todavia, tudo isto é também um claríssimo sinal de que não há pessoas ou instituições excepcionadas ao cumprimento da lei. Finalmente, diria mesmo.
Sendo esta coluna dedicada à área desportiva, em geral, e ao meu Benfica, em especial, e longe de querer tomar uma qualquer posição justicialista perante o que não sei para além do que cirurgicamente é divulgado como 'facto consumado', entendo deixar aqui algumas interrogações e algum desconforto.
A incomodidade resulta de ver o meu clube, justa ou injustamente, directa ou indirectamente, envolvida numa sequência de situações, umas notoriamente empoladas, outras a gerar alguma ambiguidade e que precisam de ser rapidamente dilucidadas para bem da indestrutível instituição que é o Sport Lisboa e Benfica.

2. Comecemos pelo 'caso Centeno'. Um caso ridículo, seja qual for o prisma sob o qual pode ser analisado.
Num assomo de purismo angélico e num exercício de indisfarcável excitação, assim surgiu uma pseudo querela à volta do ministro das Finanças. Tudo por causa de dois lugares por ele solicitados para ver um jogo de futebol no Estádio da Luz!
O risco de casos anedóticos como este é o de tudo confundir, misturar ou igualizar. Em faits-divers como este, a medida não está na essência, está, antes, na sua excitabilidade. A sua bitola não está na sua relevância, está mais na sua quase vacuidade. A sua marca não está na sua pertinência, está na sua conveniência. O seu eco não está na cabeça, antes deambula sorrateiramente entre a epiderme e o coração.
Algum povo até gosta destas coisas, porque assim se anima o sentimento à flor da pele de quem uniformiza a apreciação de todos os políticos como tendencialmente corruptos, desonestos e incompetentes. Eis uma forma a um pretexto para mais bater, sem pestanejar, nos outros. Sempre os outros, nunca os próprios.
Estes casos apressam e alargam o juízo fácil. Não dão trabalho, alimentam rumores e fornecem energia gratuita para o recorrente, informe e insidioso 'são todos iguais'.
Esta situação tinha os condimentos todos para ser apetitosa. Juntar no mesmo caldo um membro do Governo, um responsável pelas Finanças, um clube que suscita amores e ódios e um jogo de futebol é quanto baste para preencher a primeira página de um jornal, entrar leda e prioritariamente num alinhamento de um noticiário televisivo, encher as caixas de comentários e quebrar a rotina do quotidiano.
Mas, afinal, onde é que estava a grave infracção política ou ética? Será que, de repente, um ministro já não pode ser convidado ou solicitar um lugar de acordo com a natureza do cargo e a segurança ajustada ao mesmo? Será que o ministro do Ambiente não pode ir para a bancada presidencial do Dragão ver o seu FC Porto? Será que o ministro da Segurança Social não se pode sentar no camarote principal de Alvalade para ver um jogo do seu Sporting?
O exagero caminha inexoravelmente para tomar conta de tudo. O exagero vive de sinais exteriores e precisa de interlocutores que dele se apropriem. E que, de exagero em exagero, o propaguem.
Mas alguém, com seriedade e isenção, acreditaria que Mário Centeno poderia ficar condicionado na imparcialidade e integridade no exercício das suas funções como ministro das Finanças? Valha-me Deus!
Felizmente, foi arquivada a investigação do poder judicial, que bem poderia ter poupado tempo e competência para outras situações.

3. Sobre a 'Operação Lex' Luís Filipe Vieira terá certamente todos os meios para se defender e espero, por todas as razões, que se prove a sua inocência. Escrevo Luís Filipe Vieira, e não presidente do Sport Lisboa e Benfica. É indisfarcável a guia em procurar misturar Vieira e SLB e em envolver o clube nesta parafernália mediaticamente servida em doses cavalares. Como qualquer pessoa sei apenas o que tem sido dito, redito e desdito. Não tenho sequer o direito de ter uma opinião 'transitada em julgado' sobre este assunto. Todavia, diz-se que L. F. Vieira prometeu lugares e honrarias a um juiz desambargador, ou seja, serviu-se da sua função no Benfica para um assunto particular. Fundação do Benfica? Universidade (?) do Benfica? Ora esta nem existe e, ao que se sabe, na Fundação não está o juiz. Isto são factos. Dizem-me que o que, na vida pessoal de Vieira, estava em causa era um contencioso tributário em que qualquer cidadão tem direito a salvaguardar o que julga mais conforme à lei (ainda, por cima, tendo pago, até agora, o caso até ainda não foi decidido e a juíza a quem foi atribuído o processo terá dito que não conhece o juiz desambargador! Depois diz-se que Vieira é arguido? Sim, é. E depois? Já está condenado? E é a primeira vez que um presidente de um clube é arguido na sua vida pessoal, ainda que, nem sempre, distinguível da posição institucional?
Posto isto, espero que, no desenvolvimento deste processo, a legítima e eficiente defesa do bom nome de Luís Filipe Vieira seja realizada com total separação e independência em relação ao Sport Lisboa e Benfica, do qual é institucionalmente presidente da Direcção."

Bagão Félix, in A Bola

'Un italiano vero'

"1. Quando era miúdo adorava ouvir as cassetes dos meus pais naquela gigante e saudosa aparelhagem da sala, com uns auscultadores não menos gigantes e não menos saudosos. Uma das minhas cassetes preferidas, cuja fita devo ter recolocado vezes sem conta sempre que se enrolava no leitor, era a de Toto Cutugno. Como eu gostava de o ouvir. O mítico L'italiano (1983!) ainda ecoa, de tempos a tempos, na minha cabeça. Foi o caso nos últimos dias, a propósito do Sporting à italiana, assim definido por Jorge Jesus. É que na música de Toto Cutugno, em que ele diz para o deixarem cantar com a guitarra na mão (lasciatemi cantare com la chitarra in mano), justificando que é um italiano, um italiano de verdade (sono un italiano, um italiano vero), a dada altura ele fala num canário na janela (un canario sopra la finestra). Que coincidência, a história do Sporting à italiana também mete um canário. A diferença é que o canário de Toto Cutugno servia, entre outras menções na música, para traçar o retrato de um italiano vero, ao passo que o canário na Amoreira serviu antes para denunciar um italiano falso. A história do futebol cínico, pragmático e realista, à italiana, não foi mais do que uma tentativa de maquilhar aquilo que a equipa tem feito em campo, ou melhor, que não tem feito em campo, sobretudo nos últimos tempos mas também em vários jogos no fio da navalha ao longo da época, ganhos ou empatados no limite e com estrelinha.

2. Ou muito me engano ou, no dia 17, Bruno de Carvalho vai sair em ombros e o Sporting de cócoras. Porque, como alguém disse um dia, a pior ditadura não é a que aprisiona o homem pela força, mas sim pela fraqueza, numa prisão sem muros, fazendo-o refém das próprias necessidades. A necessidade dos adeptos do Sporting é vencer e com Bruno de Carvalho têm estado mais perto de o conseguir, pelo que, para a maioria, tudo o resto será sempre um mal menor. Não é preciso ter três olhos para ver isto. Gostava mesmo era de ter três ouvidos para ouvir Toto Cutugno."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

Armados em Deuses do Olimpo

"Em consequência do ambiente pesado, violento e medíocre que se estava a desenvolver nos JO de Londres (1908) devido às violentas disputas entre americanos e ingleses Ethelbert Talbot, Bispo da Pensilvânia (EUA), numa cerimónia religiosa realizada na Catedral de Saint Paul, na prédica que dirigiu aos atletas disse: “… o importante nos Jogos Olímpicos (JO) não é ganhar mas sim participar, tal como o essencial na vida não é conquistar mas lutar bem”.
Muito embora o discurso do Bispo tenha passado despercebido à maioria dos presentes, como se veio a verificar pelos incidentes acontecidos posteriormente na corrida dos 400m barreiras e na corrida da maratona, o que é facto é que Coubertin não deixou de aproveitar a metáfora do Bispo para, no discurso proferido a 24 de Julho, aquando do banquete de encerramento dos Jogos, dizer: “Domingo passado, durante a cerimónia organizada em São Paulo em honra dos atletas, o Bispo de Pensilvânia referiu em termos muito felizes: o importante nas Olimpíadas é menos ganhar do que participar. O importante na vida não é o triunfo mas o combate”.
Infelizmente, esta proclamação de Coubertin tem sido interpretada com um sentido diametralmente oposto àquele que tanto ele como o Bispo da Pensilvânia pretendiam expressar. Quer dizer, não se tratava de abrir os Jogos a qualquer um independentemente do seu nível de excelência. Antes pelo contrário, tratava-se de afirmar que, no original “citius, fortius, altius“ da máxima olímpica, mais importante do que ganhar era participar na medida em que era através da participação que cada atleta podia “lutar bem” quer dizer, expressar a dimensão da sua excelência em relação ao “altius” do Cristianismo Muscular em busca da superação e da transcendência para além do resultado desportivo.
Portanto, estava fora de questão abrir a participação a qualquer um, nivelar por baixo ou promover um padrão de mediocridade em confronto com o padrão de excelência do “citius, fortius, altius” instituído em 1894 aquando da realização do Primeiro Congresso Olímpico e da fundação do Comité Internacional do Jogos Olímpicos que viria a resultar no Comité Olímpico Internacional. Antes pelo contrário, tratava-se de exigir um elevado padrão de excelência na luta a todos aqueles a quem tinha sido reconhecido a capacidade de “lutar bem” que lhes permitia participar. Porque, os outros, como diria Hesíodo, “que fossem competir para outros lugares e com outras gentes”.
Ora bem, a confusão a respeito da participação que reina no espírito de muitos dirigentes que, deslumbrados com as luzes da ribalta, estão mais interessados no “dress code” das olímpicas cerimónias do que nos princípios e nos valores do Olimpismo, fica de sobremaneira exemplificada numa comparação entre Portugal e a Coreia do Norte relativamente à performance dos dois países nas últimas edições dos JO. Por exemplo, nos JO do Rio de Janeiro enquanto a Coreia do Norte apresentou um missão composta por 31 atletas a competirem em 9 desportos para ganhar 7 medalhas (2;3;2) e ficar na trigésima quarta posição entre países, Portugal apresentou-se com uma missão com 180 elementos dos quais 92 atletas para competirem em 16 desportos, ganhar “in extremis” uma medalha de bronze e ficar em 78º lugar, quer dizer, a três lugares do fim da tabela das Missões medalhadas. Isto significa que, enquanto a Coreia do Norte obteve uma excelente taxa de sucesso de 23%, Portugal obteve uma miserável taxa de sucesso de 0.84% mesmo expurgando da contabilidade os 18 jogadores de futebol. Não foi, certamente, a uma participação com uma miserável taxa de eficácia de 0.84% que o Bispo da Pensilvânia ou Coubertin se estavam a referir quando proclamaram que “o mais importante nos JO é menos ganhar do que participar porque, na vida, o mais importante não é o triunfo mas o combate”.
Entretanto, acresce que esta falsa interpretação de que o “importante é participar” está a conduzir muitos CONs por esse mundo fora para situações absolutamente degradantes em que as missões são constituídas por cidadãos de plástico que, na realidade, para além de um burocrático passaporte nada têm a ver nem com os países nem com o desporto que lá se pratica, mas, tão só, com a necessidade de alimentar um espectáculo ultraliberal que, infelizmente, é sustentado à custa do dinheiro dos contribuintes, da dignidade dos cidadãos e do miserabilismo do Movimento Olímpico dos respectivos países.
Em 1896 numa mensagem à juventude americana Coubertin dizia que os Jogos eram “necessários e adequados para manter o espírito de emulação a um nível justo entre as nações”. Todavia, o que tem vindo a acontecer é que, em muitos países, a constituição das Missões Olímpicas revela, tão só, o estado de mediocridade e indigência em que o dirigismo desportivo se encontra uma vez que estão a ser constituídas Missões Olímpicas por cidadãos de plástico a fim de alimentar o atavismo cultural de alguns dirigentes desportivos para quem o Movimento Olímpico é um pretexto para fazerem turismo à custa dos contribuintes.
No final da sua odisseia olímpica, em 1925, Coubertin, perante o que já então se começava a passar, propôs a depuração do Olimpismo de maneira a que os JO deixassem de ser uma espécie de Campeonatos do mundo exclusivamente vocacionados para os resultados. E explicava que, talvez, tivesse chegado o momento de desencadear uma necessária depuração em muitos CONs e, até, no COI. Porque, para ele, a emulação não era um simples quebrar de recordes. A emulação, antes de tudo, devia traduzir-se numa ética de autenticidade que é o que, actualmente, mais falta faz aos CONs quando apostam em “atletas de plástico” sem quaisquer raízes ao território nacional ou em missões inflacionadas a fim de, numa estratégia de “pesca à rede”, tentar conquistar uma ou outra medalha olímpica. No fundo, estes procedimentos que revelam um terrível mau gosto só servem para justificar umas tantas viagens para uns dirigentes desportivos que só o são, não porque gostam do desporto mas, tão só, porque gostam de viajar. Mais tarde, em 1931, num texto intitulado “La Bataille Continue” Coubertin voltava a criticar aqueles que “confundiam JO com Campeonatos do Mundo e estimavam o valor da celebração de uma Olimpíada pelos recordes que baixavam alguns segundos ou elevavam alguns centímetros”.
Para ele, os JO, enquanto evento competitivo, deviam ser considerados uma “manifestação pedagógica” realizada com o objectivo de centralizar o pensamento colectivo das pessoas num projecto comum que devia colocar o desporto ao serviço da humanidade. Neste sentido, o êxito de uma Missão Olímpica “devia ser medido em função da acção que exercia na sociedade em geral”. E, enquanto expressão do próprio país devia estar impregnada de educação, de cultura, de história, de arte e de filosofia de vida, para além das medalhas conquistadas que, só por si, podiam nada representar.
Em 1984 durante a realização do Primeiro Congresso Olímpico Coubertin avisou: “A imperfeição humana tende sempre a transformar o atleta de Olímpia num gladiador de circo”. Neste termos, quando vemos o miserabilismo das Missões Olímpicas de alguns países temos de concluir que os dirigentes desportivos e políticos, para além de já nem se preocuparem em, verdadeiramente, assumir responsabilidades pelos desaires de que são responsáveis, perante os cidadãos contribuintes, insistem em transformar o Olimpismo numa espécie de jogo em que, ridícula e tristemente, à custa do dinheiro dos contribuintes, munidos de uns atletas de inferior qualidade, se arvoram em deuses do Olimpo. É tempo de se acabar com o circo no Movimento Olímpico. Haja decoro."

A figura número 1 da Liga

"Porque os deuses são assim mesmo, quando Rui Vitória desafiou o senso comum e fez dele o homem mais adiantado, Jonas deu resposta digna de um predestinado e resolveu todos os problemas. A equipa ganhou equilíbrio com mais um médio e ele, como ponta-de-lança isolado, continuou a marcar, contra as previsões mais pessimistas, ao ritmo dos maiores bombardeiros do futebol actual. Prova de que, expressando-se preferencialmente pelo engano e pela fantasia, também é melhor do que os outros quando fala verdade e prioriza a eficácia. Jonas é um fenómeno também pela potência de tiro, a curta, média e longa distância; pelo extraordinário jogo de cabeça, no qual conjuga todas as armas específicas, desde instinto, coragem, tempo de salto e técnica de cabeceamento.
Pelas características associativas do seu futebol, é conveniente que tenha outro avançado por perto. De preferência alguns metros à frente, para que o jogo combinado se estenda numa fatia mais alargada de terreno. Assim, é-lhe mais fácil recuar e dialogar com os médios, prolongando a cumplicidade até à zona de definição. Chegou até a dizer-se que só seria útil nesse enquadramento, porque a equipa precisava de maior equilíbrio no miolo. Nessa altura muitos pensaram, sem o terem assumido claramente (alguns por pudor e vergonha), que ele, o melhor jogador da equipa, constituía um problema ao seu bom funcionamento.
Para Jonas, o futebol não tem segredos quando jogado do meio-campo para a frente. Porque tem um poder de síntese absolutamente fantástico, conhece todos os caminhos para o golo, incluindo os atalhos mais sombrios; esteja de costas ou de frente; à direita, à esquerda ou ao meio; mais perto ou mais longe do destino final; é uma delícia vê-lo em acção permanente, a impregnar de malícia cada bola que toca; a aumentar a tensão dos envolvimentos colectivos como uma bola de neve a crescer, até à explosão final do golo que, afinal, esteve sempre muito mais perto do que imaginamos. Sem bola, pressiona, persegue e cai em cima; interrompe, obriga o antagonista a escolher outras soluções, inverte a tendência do jogo e galvaniza os companheiros. Quando recupera a iniciativa está sempre disponível e nunca se esconde; quando é para concluir o rendilhado, luta, chega, encara e define com elevado sentido prático.
Jonas é um talento muito acima do comum dos mortais, que executa milagres como se fossem simples formalidade; deslumbra plateias rendidas ao seu talento, leva companheiros a darem graças a Deus de o terem a seu lado e faz com que os adversários se sintam gratificados por pisarem o mesmo relvado que ele. Jonas atinge grau de exaltação tão sublime que suscita a dúvida se não será bom em demasia para se expressar nos nossos palcos – se é tão grande aos 34 anos, imaginemos como foi aos 25. O compromisso assumido com o Benfica, quando apareceu na Luz há quatro anos, vindo do Valência (era um recém-trintão), faz parte do segredo para o lugar que ocupa na história do clube e para as marcas deixadas no futebol português, no qual é o expoente máximo de um ciclo.
Pistolas está muito para lá dos números esmagadores que o suportam; é um génio que pensa mais depressa, vê mais longe e executa melhor; daqueles magos raríssimos que vulgarizam obras-primas executadas à média de meia dúzia por jogo, em forma de truques, toques, dribles, remates e até golos; é um extraterrestre da cabeça aos pés, apto para a rotina e para o excepcional, que satisfaz a estatística e as emoções; comove por generosidade e inteligência; que nos conquista por eficácia e perfeição. Com características, enquadramento e números distintos, desde Rabah Madjer, na segunda metade dos anos 80 do século passado, que um estrangeiro não trazia tanto e tão bom ao futebol português. 

Lucas tem tudo para ser grande
Quase nada lhe falta para jogar e ser influente numa grande equipa
Lucas Evangelista é um jogador fascinante (já se sabia) mas que revela agora potencial extraordinário (não precisava de exagerar). Frente ao Sporting, o jovem brasileiro revelou estar muito acima do patamar que lhe parecia reservado. Tem intensidade tremenda, sentido posicional apurado, tempo de entrada e técnica individual; é talentoso na condução, rápido, articulado e solta a bola com precisão. Um craque.

Rony Lopes já delimitou espaço
Em França, o passeio do PSG não impede que outros craques se expressem
Rony Lopes está a fazer grande época no Monaco. Apesar do mediatismo esmagador das estrelas do PSG, o português tem o seu espaço bem delimitado como grande figura da equipa de Leonardo Jardim, na qual tem sido muitas vezes decisivo – 6 golos apontados. Agora, com o Lyon, que esteve a ganhar por 2-0, coube-lhe selar a reviravolta com o terceiro golo monegasco. Continua na luta por um lugar no Mundial.

Edinho teve resposta perfeita
O Vitória ganhou na Liga ao fim de 11 jogos sem conhecer o sabor do triunfo
Edinho fez o que lhe competia face à depressão que se abateu sobre o Bonfim com a saída de Gonçalo Paciência. O veterano avançado assumiu o papel de substituto natural, mostrou que não estava acomodado e joga como se tivesse 25 anos. Frente ao Belenenses marcou um golo espectacular (livre directo perfeito) e lançou vitória que mostrou um V. Setúbal unido, comprometido, ambicioso e competente."

O acessório e o essencial

"Quem deve ter suspirado de alívio pela confusão gerada durante e depois da Assembleia Geral do Sporting de sábado foi Luís Filipe Vieira e todo o Benfica. De um momento para o outro, a Operação Lex deixou de dominar a agenda mediática, sendo substituído pela ameaça de demissão de Bruno de Carvalho, que ocupou directos durante quase uma hora para dizer uma coisa por outras palavras: quer ser reconhecido pelos sócios.
O presidente do Sporting foi eleito há menos de um ano com uma esmagadora maioria dos votos e isso dá-lhe crédito para gerir o clube seguindo o rumo que determinou. Mas todo o ruído criado - e talvez o próprio Bruno de Carvalho não estivesse à espera que fosse tanto - acaba por ser aquilo que o Sporting não precisava nesta altura. Por uma questão estratégica, de comunicação e não só, para os leões seria muito mais conveniente que o Benfica fosse ardendo no lume brando dos vários casos judiciais que têm atingido o clube, directa ou indirectamente.
Bruno de Carvalho acabou, uma vez mais, para pôr-se a jeito para críticas, transformando o acessório em essencial. O que disse sobre o seu "sequestro", os insultos que recebe, a vida pessoal é amplificar de forma injustificada algo que atinge, em maior ou menor escala, qualquer pessoa que tenha espaço mediático. Custa, mas... faz parte. Verdade seja dita: Bruno de Carvalho também pouco faz para colocar a sua vida pessoal de lado e fora da esfera de presidente do Sporting. Aliás, bem pelo contrário. Quem não quer ser lobo, não lhe vista a pele."

As sete vidas do Benfica

"Sei que o Benfica não cai sempre de pé, até porque já o vi estender-se ao comprido ainda este ano, mas acho que cada vez mais se parece com um gato.
Sobre eles, diz-se que têm sete vidas. Uma ideia mitológica provocada por um excelente sistema imunitário aliado à agilidade que evita qualquer tombo. O Benfica deste ano, se não tem sete, anda lá perto.
Depois da vergonha suprema na Europa, do adeus precoce às Taças internas, do casting de guarda-redes em competição, de Douglas, da mudança de esquema, de Gabigol, das várias polémicas vindas a público envolvendo dirigentes e notáveis do seu universo, da lesão de Luisão, do sumiço de Seferovic, da lesão de Krovinovic e do empate no Restelo quando tudo parecia corrigido, o Benfica está a dois pontos da liderança. Podem ser cinco, mas já lá vamos.
A verdade é que, com tanto tropeção e embaraço, o mais normal seria uma espiral negativa que atirasse a equipa para longe do penta. Que o sonho esteja de boa saúde por esta altura já é, de si, meritório.
Mas as culpas também têm de ser apontadas aos rivais. Tiveram o Benfica no tapete em vários momentos e não conseguiram.
Primeiro o FC Porto, no Dragão. Falta de pontaria, azar com a arbitragem e um nulo que fez o Benfica agarrar-se à luta com as pontas dos dedos.
Depois o Sporting, na Luz. Onde um resultado, é preciso dizer, enganador, esteve a minutos de vingar. O Benfica voltou a agarrar-se à tábua.
Por fim, ambos, à vez. O Benfica cede no Restelo, o FC Porto responde na mesma moeda, o Sporting faz ainda pior na semana seguinte.
E chegamos aqui. Com o Benfica fora de tudo, mas bem dentro do campeonato. E com um ponto que pode ser determinante, sobretudo se a diferença for mesmo os dois pontos e não os cinco que o FC Porto pode conseguir: um calendário deveras mais simples. Basta olhar para a classificação da Liga. Quando, este sábado, terminar o jogo com o Portimonense, o Benfica já terá jogado nos estádios de todos os rivais do 1.º ao 12.º classificado da Liga, excepto Alvalade. Parece que o mais difícil já passou, mas nunca fiando.
Ter sobrevivido a uma espiral negativa no início da época, que agora até parece coisa de outra vida, foi decisivo, até porque, além do calendário teoricamente mais simples, há outro dado importante: da teoria à prática, é, de certeza, um calendário mais desafogado. Pelo menos até meio de Março.
Deixar o Benfica «vivo» foi um erro que pode custar o resgate a FC Porto e Sporting ainda que esteja capaz de antever que, se, porque vão na frente, os homens de Sérgio Conceição, pela fome imensa que mostram desde o início, terminarem o mês de Fevereiro com os tais cinco pontos à maior - e até porque os rivais, encarnados incluídos, não têm feito da regularidade regra -, ficarão na pole-position para festejar em maio.
Qualquer outro cenário deixará a dúvida permanecer mais intensa, sendo que o Benfica já provou, há dois anos, que é bem capaz de uma prova em recuperação até à vitória.
Se chegar lá de novo, é fazer o teste: deve haver sangue felino nas veias da águia."


PS: Extraordinário como os avençados anti-Benfica (neste caso Corrupto assumido), conseguiram criar o Mito que o Corruptos-Benfica, desta época, foi decidido pela arbitragem!!!! Sim, é verdade que houve um golo mal anulado os Corruptos, mas antes disso, já vários jogadores Corruptos deviam ter sido expulsos... mas essa parte, é 'abafada' da narrativa mentirosa!!!

A macabra história de Larry Nassar

"À partida, para quem ande um pouco mais desatento, parece que estamos a presenciar o desenrolar de mais um argumento de um episódio de uma daquelas séries policiais norte-americanas:
- mais de 265 vítimas de abuso sexual, numa das modalidades mais emblemáticas dos EUA, ao longo de mais de duas décadas - abusos esses perpetrados por uma “figurinha aparentemente inofensiva” e, ao que indica, aparentemente muito respeitada na comunidade civil e científica (não são todos?). Jornais, revistas, televisões... todos eles têm feito as mais diferentes considerações acerca de Nassar e do contexto onde tudo decorreu:
- Da exigência da modalidade, da idade destas jovens que iniciam (demasiado? Alguns questionam) cedo o seu processo de especialização, do carácter mais “fechado” da modalidade que “obriga” as atletas a frequentar um regime alternativo escolar para poderem dedicar mais tempo à modalidade (onde estão maioritariamente com colegas igualmente jovens e treinadores), do clima de “abuso” e de “silêncio” que impera na modalidade... inclusive (esta foi a melhor) que, futuramente, a modalidade terá que fazer uma escolha entre “atletas saudáveis ou medalhadas”, dado o carácter de exigência (tolerância à dor física e, acrescento eu, dor emocional), sacrifício, stress e ansiedade a que são sujeitas.

Escolhas.
Há, contudo, em toda esta envolvente, algo de facto inquietante:
- É que, em boa verdade, ocorreram denúncias ao longo dos anos... as atletas falaram, queixaram-se... mas, invariavelmente, um qualquer outro “adulto de referência”, acabou por fazê-las desacreditar do seu próprio discernimento, destacando que estariam a confundir “abuso” com “práticas médicas” (?).
Escolhas, outra vez.
Elas, de facto, falaram... aliás, desde 1997, todo este processo poderia ter sido travado por 8 vezes.
8 vezes. Se assumirmos que, só no decorrer do ano em que o FBI lançou a investigação (e no decorrer da mesma), se estima que houve mais de 40 abusos...
Bom, podemos imaginar quantas jovens poderiam ter sido poupadas a este predador.
Desenganem-se por “cá”, se considerarem que este é mais um fenómeno “dos EUA” (lá longe) e, que, por terras lusas, este tipo de “eventos” não ocorre... então, se associarmos a este tipo de situações uma outra forma de violação dos direitos da criança/jovem, que é o bullying (muitas vezes, potenciado pelos próprios adultos com “brincadeiras inofensivas” que se instalam no seio de um grupo, já sem a supervisão do mesmo), então as estatísticas dispararão de certeza. 
Importa, sem dúvida, que, mais do que nos preocuparmos em identificar os “psicopatas” (nem todos têm este diagnóstico... apesar de parecer que gostariam de o ter...) que perpetram este tipo de crimes (até porque, invariavelmente, são extraordinariamente hábeis a criar uma imagem socialmente inquestionável), ser de extrema importância procurar perceber as razões porque o meio (onde supostamente estarão os “normais”), face a este tipo de eventos, se comporta com indiferença, submissão e incapacidade de questionamento sobre os factos... o que resulta, dramaticamente, na integração por parte dos jovens que, afinal, os “seus adultos de segurança”... não são de tanta segurança assim – o que os remete para o silêncio, face a novas investidas.
Em boa verdade, a questão fracturantenão é como é que a sociedade produz um “animal” daqueles... isso, já sabemos que acontece e irá acontecer sempre... a questão que se impõe é como é que nós (todos nós: pais, tios, professores, treinadores, dirigentes...) adultos supostamente “saudáveis”, falhámos tão redondamente na protecção dos nossos jovens?
Por cá, em Portugal, para quem se movimenta no terreno do desporto há muitos anos, este tema não é novo nem desconhecido – aliás, basta perguntar a qualquer atleta se vivenciou ou presenciou algum comportamento “minimamente desadequado” onde viu a sua intimidade “ameaçada” e, garantidamente, a estatística será assustadora.
Há, ainda, um longo caminho a percorrer... mesmo muito longo e terá, certamente, que se iniciar por um longuíssimo processo de psico-educação para pais, atletas, treinadores e dirigentes sobre coisas tão simples como o que são “comportamentos aceitáveis” ou não...
De facto, sem cair em extremismos desnecessários, e principalmente no contexto do desporto onde o corpo é uma “ferramenta” trabalhada pelo atleta e mais uma série de profissionais (treinadores, médicos, fisioterapeutas, osteopatas, massagistas...), é importante que haja uma clarificação nítida do que é ou não aceitável (para que o/a atleta o possa reconhecer de imediato) – só assim estaremos a CAPACITAR uma “potencial vítima” com as ferramentas necessárias para exercer a sua própria defesa em primeira instância (onde, muitas vezes, se encontra sozinho/a).
O desenvolvimento de um “protocolo” que os profissionais devem atuar quando estão a exercer a sua profissão (que obriga a “tocar” o atleta), também ajudará bastante – protegendo os próprios profissionais de eventuais “mal-entendidos”.
Há uns largos anos, em contexto de formação, um treinador de uma modalidade colectiva (num escalão júnior) comentava (inocentemente e jocoso) que havia um namorado de uma atleta que não gostava nada quando, após um lance bem sucedido (que resultava em ponto/golo), ele dava uma “palmadinha no rabo” à atleta.
Na altura, perguntei se também costumava dar “palmadinhas no rabo” aos rapazes. A resposta foi silêncio.
Em boa verdade, não considerei que houvesse qualquer tipo de intencionalidade, mas apenas, nunca ter parado para pensar e, o confronto com este tipo de paralelismo, num contexto com alguma informalidade, possibilitou que a pessoa renegociasse consigo própria o seu comportamento futuro. 
Às vezes, é só isto que é preciso.
Mas, urge, de igual forma, que sejam desenvolvidos mecanismos/canais seguros (onde a criança/jovem possa sentir que vai ser, de facto, ouvida) que possam ser actuados em caso de suspeita e, também aqui, os atletas devem ser “educados” para saberem quando e como actuar os mesmos. 
Estes poderão ser, realmente, dois primeiros (e importantes) passos de um caminho que, sabendo-se longo, importa começar a trilhar desde já."

Separar as águas

" "Sou do Benfica, e isso me envaidece". A ideia que faço do Glorioso é de um clube ganhador, fundado por um grupo de rapazes de Lisboa, de inclinação popular e que "conservou imaculado/um ideal sincero e puro", para recuperar as palavras exactas do hino original de Félix Bermudes. Por isso mesmo, como muitos outros benfiquistas, tenho assistido com incómodo a uma sucessão de episódios que afrontam a ideia que projecto do Benfica.
Vemos, ouvimos e lemos, pelo que não podemos ignorar. Não podemos, por exemplo, ignorar que o presidente do clube foi constituído arguido (uma figura que, convém nunca esquecer, existe para conferir um conjunto de prerrogativas a quem foi envolvido numa investigação, mas que se tornou, tristemente, uma forma de condenação na praça pública).
Do que vem sendo sugerido, Luís Filipe Vieira viu-se envolvido na operação Lex por força dos seus negócios privados e os indícios aventados na comunicação social são, aliás, risíveis. O empresário Luís Filipe Vieira, que tem um contencioso legítimo com o fisco, teria pedido a um juiz da Relação (Rangel) para interceder junto do Tribunal Administrativo e Fiscal, no sentido de apressar a sentença. Em troca, teria oferecido um lugar na Fundação Benfica (não é remunerado) ou uma posição numa futura Universidade do Benfica (em si um projecto mirabolante).
Independentemente do juízo que hoje podemos fazer, como foi reconhecido, trata-se de um processo que é estranho ao Benfica. Esta questão é central. O processo deve manter-se absolutamente afastado do Benfica e a prioridade é, mesmo, separar as águas. Desde logo para proteger o Benfica de toda e qualquer turbulência judicial que envolva o seu presidente.
A este respeito, os primeiros sinais não foram positivos. Faz pouco sentido que o advogado que tem surgido a representar o clube noutros casos incómodos tenha aparecido a representar o presidente do clube num processo que, é-nos garantido, nada têm a ver com o Benfica. Da mesma forma que são dispensáveis manifestações colectivas de solidariedade vindas do plantel principal, assim como o site oficial do Benfica não deve ser utilizado para publicitar comunicados que dizem respeito a Luís Filipe Vieira.
Sabemos que há um caldo cultural que nos trouxe até aqui. Quando os estatutos determinam que o presidente não é remunerado está-se, ao mesmo tempo, a promover a promiscuidade entre vida privada e vida do presidente do clube e a diminuir de facto os direitos de quase todos os associados (quantos de nós têm rendimentos que nos permitam ser presidente graciosamente?). Do mesmo modo que estão por explicar outras alterações estatutárias feitas à medida (por que razão só é elegível alguém que tenha 25 anos de sócio após ter cumprido 18 anos de idade?) e, pior, a lógica que tem vigorado de cooptação sistemática de opositores para o campo da direcção tem trazido para a órbita do Benfica gente com passados nada recomendáveis.
No fim, uma certeza: ontem, como hoje e amanhã, no Benfica, nenhum presidente se pode confundir com o clube. Mesmo que se faça uma avaliação positiva do seu mandato. A separação de águas entre clube e vida empresarial do presidente beneficia todos: Vieira, que tem o direito absoluto de defender o seu bom nome; e o Benfica, que merece ver conservado o "ideal sincero e puro" que recebemos dos fundadores."

Uma nova liga jovem?

"O Sindicato lançou recentemente o estudo de utilização de jogadores nas competições profissionais, revelando, com preocupação, a diminuição da aposta em jovens jogadores, nomeadamente portugueses, no quadro competitivo existente. Neste contexto, e apesar dos benefícios trazidos pela aposta nas equipas B, faz sentido analisar a proposta de uma nova competição, na óptica do jovem praticante? Obviamente que sim. Na perspectiva de garantir que este participa, efectivamente, num espaço competitivo adequado, em especial na transição de júnior para sénior, tendo uma evolução gradativa do nível de exigência, o que necessariamente contenderá com a inclusão de jogadores com diferentes níveis de maturação nos plantéis desta nova competição.
Paralelamente, a criação de um novo espaço competitivo não deve amputar a possibilidade de valorização do jovem jogador através da presença nas equipas principais, devendo manter-se uma lógica de antecâmara que não faça de uma eventual liga jovem um projecto segregado do objectivo de assegurar a progressão dos jovens jogadores.
Em suma, considero que a ideia tem aspectos positivos, em especial no momento actual, em que é manifesto o desinvestimento na aposta nos jovens jogadores, mas reconheço que comporta desafios, quando comparada com o modelo vigente e espaços competitivos concedidos aos jovens, nomeadamente através das equipas B. A aprovação da proposta dependerá, necessariamente, da definição do novo quadro competitivo e do apoio e envolvimento dos clubes. Se assim for, e amplo consenso, a nova competição poderá fazer sentido.
Aproveito para desejar os parabéns ao Cristiano Ronaldo. Aos 33 anos é o símbolo maior do talento português e não poderia ser melhor exemplo do que podemos alcançar se incrementarmos a aposta na formação!"

O monólogo de BdC

"O monólogo de mais de uma hora de Bruno de Carvalho (BdC) para os 300 sócios do Sporting e as câmaras de televisão valeu pelos cinco minutos finais: não se demitiu (também ninguém estava à espera que cumprisse esse propósito), mas voltou a ameaçar demitir-se se não forem aprovados os novos estatutos e as alterações ao regulamento disciplinar. O líder sportinguista garantiu não estar a fazer chantagem, mas sobrelevou o facto de as propostas que irão ser levadas à assembleia geral só poderem ser aprovadas com 75% dos votos, o que, se não é uma forma de extorsão, é, pelo menos, uma óbvia forma de pressão. E o mesmo resultou quando declarou que já há alguém a preparar-se para entrar numa eventual futura corrida eleitoral ou quando asseverou que não se recandidatará se houver eleições antecipadas. O resto da arrastada e enfastiante intervenção serviu para dizer que se sente restringido na sua liberdade pessoal, que é vítima de ofensas gratuitas e que anda há sete anos a ser "humilhado e difamado por sportinguistas". Ou seja, depois de termos começado por ouvir a xaropada em que se chegou a queixar de não poder levar a filha ao jardim e de ser destratado num texto de uma peça de teatro, não é totalmente descabido concluir que BdC espera que as alterações propostas nos estatutos e no regulamento disciplinar sirvam também para travar os ultrajes e as injúrias de que se diz vítima. BdC já foi muitas vezes acusado de egolatria, mas parece ter chegado a um ponto em que sente dificuldade até em lidar com as críticas mais pueris que possam constar num qualquer anónimo post do Facebook (de facto é sempre ele quem acaba por os tornar conhecidos, o mesmo acontecendo com boa parte dos associados de que ele se queixa). É bem possível que o presidente do Sporting, como tantos outros com idêntico mediatismo no mundo do futebol, tenha razão nalgumas das queixas que apresentou. Mas não pode meter tudo no mesmo saco e cometer delito de opinião, esquecendo-se que provavelmente não se teria tornado suficientemente conhecido e chegado a presidente do Sporting se tivesse respeitado o comportamento imaculado que agora exige a quem o contesta ou simplesmente discorda das suas ações ou das suas ideias. Todo este processo, completamente escusado, serve para provar que o principal inimigo de BdC é o próprio BdC.
O presidente do Sporting tem uma grande qualidade: sabe quase sempre dizer o que não deve dizer. E esse ruído desnecessário acaba invariavelmente por ter um efeito boomerang, o que resulta ainda mais perigoso num clube com uma tendência histórica para o masoquismo e para a depressão coletiva. A verdade é que boa parte das suas prédicas e/ou escritos nas redes sociais acabam por ter o resultado diametralmente oposto ao pretendido. Em vez da unanimidade que BdC parece perseguir de forma imatura e quase perversa junto da nação sportinguista, as suas posições empoladas e truculentas e a sua pose exagerada e presunçosa acabam por desagradar a uma parte dos muitos que o elegeram, servindo ainda para fazer medrar a oposição interna. Esse comportamento rende-lhe obviamente notoriedade junto das claques e daqueles que sempre acharam que a civilidade e o bom senso de outros presidentes contribuíram para o insucesso desportivo. Mas esses são também aqueles que mais rapidamente procuram novos gurus quando as derrotas se acumulam. E o líder sportinguista, que parece viver permanentemente com a consciência atormentada e à procura de uma redenção impossível, nem sequer se dá conta que é precisamente o seu léxico, a sua verve e a sua compostura que mais contribuem para que os seus inegáveis méritos e a sua indiscutível serventia não sejam suficientemente outorgados. Porque a generalidade dos sportinguistas sabe que o Sporting, há cinco anos, correu riscos sérios de bancarrota e tinha uma equipa de futebol desacreditada. Sabe também que BdC, utilizando ou não os esquissos do seu antecessor, foi muito hábil na renegociação da dívida com a banca, não sendo por acaso que os rivais mais directos se queixam com inveja. Não ignoram igualmente que o actual presidente soube sempre escolher bons treinadores, tendo usado a controversa e mediática contratação de Jorge Jesus para fazer crescer a onda de euforia junto da massa adepta. A chegada do ex-técnico do Benfica teve ainda outra consequência imediata: depois de duas épocas de grande autocontrolo orçamental e muito recurso à formação, o nível de investimento disparou nas últimas três épocas e está hoje na linha do que gastam o FC Porto e o Benfica. Mas nem isso tem impedido o Sporting de apresentar resultados financeiros positivos, o que é meritório, mesmo levando em conta a possibilidade de mais tarde poder vir a ser criticado por o Sporting continuar a antecipar largos milhões de euros à conta do novo contrato de transmissões televisivas. A contratação de Jorge Jesus não teve apenas como consequência a contratação de jogadores de créditos firmados e a formação de uma equipa competitiva; serviu ainda para que BdC passasse a respeitar a autonomia de um treinador que nunca admitiria o contrário. O que falta agora é BdC encontrar alguém que o ajude a travar esta estranha tendência para a autofagia e o faça desistir das batalhas inúteis. Porque, valha a verdade, naquelas que verdadeiramente importam ao Sporting até nem se tem dado mal de todo.

Cinco estrelas
Guardiola e a carapuça
O M. City até empatou na última jornada, mas esta declaração de Guardiola ao canal francês SFR Sport serve de carapuça a muita gente: "Não inventei nada, apenas vejo o futebol desta forma, com ligações entre os jogadores e criando um estilo de jogo que os beneficie. Quero que peguem na bola, que ataquem, que marquem golos. Não sei quantos títulos iremos ganhar, mas quando me reformar posso dizer que estive em Inglaterra e consegui que esta equipa jogasse como eu queria".

Quatro estrelas
Heynckes ilumina James
Para James Rodriguez, o regresso de Heynckes ao B. Munique foi melhor do que ganhar a lotaria. O alemão deu-lhe não só a titularidade, mas também a liberdade de movimentos que faz render o seu futebol. E o colombiano recompensou-o com grandes exibições, "golaços" como o último frente ao Mainz e ações decisivas (4 golos e 6 assistências em 15 jogos).

Três estrelas
O faraó Salah
Mohamed Salah, recém-eleito melhor jogador africano, não pára de brilhar. O egípcio marcou dois golos ao Tottenham e já soma 21 tentos em 25 jogos, a melhor média de sempre no Liverpool e um registo que já não se via desde Fernando Torres, em 20117/08. À atenção do FC Porto…

Duas estrelas
Ronny Lopes cresce com Jardim
Leonardo Jardim está a burilar Ronny Lopes e a transformá-lo num avançado de dimensão internacional. Frente a um Lyon que esteve a vencer por 0-2 e que contou com um enorme Anthony Lopes na baliza, foi o pequeno português que culminou a reviravolta no marcador e deu uma preciosa vitória ao Mónaco.

Uma estrela
Críticas ao vídeo-árbitro
Quem tiver dúvidas sobre a utilidade do vídeo-árbitro que reveja o Estoril-Sporting (e, já agora, o jogo da primeira volta entre as duas mesmas equipas). Aqueles dois jogos valem mais do que mil discursos sobre a verdade desportiva e deviam fazer corar de vergonha quem ainda lhe levanta obstáculos, designadamente na UEFA."