sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

A arbitragem e o espectáculo

"O jogo das meias-finais da Taça da Liga entre Sporting e FC Porto não foi um grande espectáculo, pese embora o empenho que as duas equipas colocaram na contenda. Para o cinzentismo da partida muito contribuiu a estratégia de apitar a tudo seguida pelo árbitro Nuno Almeida, que fez com que fossem assinaladas 53 faltas ao longo dos 90 minutos, um número que não se vê em partidas de alto nível. Enquanto que, por exemplo, na pedreira de Braga o jogo entre leões e dragões foi interrompido, em média, a cada 1m 42s, em Londres, à mesma hora, onde se defrontaram Arsenal e Chelsea, a média para cada falta foi de 3m 06s; e no estádio Louis II, onde o Mónaco recebeu o Lyon, as interrupções verificaram-se a cada 3m 45s.
Apesar de estar auxiliado por uma vastíssima equipa de assistentes (dois nas linhas laterais, dois nas linhas de fundo, dois no VAR, 4.º árbitro e olho de falcão), Nuno Almeida optou por uma estratégia conservadora, que muito prejudicou o andamento do jogo. O árbitro defendeu-se mas não defendeu o espectáculo, ao contrário do que são as tendências da arbitragem ao mais alto nível, e isso deve ser motivo de reflexão, numa discussão que vá para além da clubite disparatada.
Em relação ao VAR, sem perder de vista que estamos no ano zero, seria pedagógico que fossem dadas explicações públicas por parte do Conselho de Arbitragem em relação aos lances de penalty pedido sobre Bas Dost e de golo anulado a Tiquinho Soares.
O sucesso do VAR será tão mais rápido quanto melhor e de forma mais transparente se perceberem os fundamentos das decisões tomadas.
Boas ou más..."

José Manuel Delgado, in A Bola

PS: A estratégia foi de marcar tudo, mas o Coentrão e o Marega, não foram expulsos!!!

Muitos ficheiros, várias novidades

"As últimas horas, futebolisticamente, e colateralmente, falando, têm sido pródigas em múltiplas notícias, e novidades. Uma delas, no meu entender, a merecer forte penalização por parte dos agentes da Lei, uma vez que acho repugnante a divulgação de exames clínicos - sejam eles quais forem -, do mais comum dos cidadãos a um qualquer futebolista. Exames que podem dar espaço a todo o tipo de análises, por vezes até de forma simplista por parte de quem não estará habilitado para o fazer. E independentemente da triagem que poderá ser feita sobre esses muitíssimos diagonósticos - que até pode prefigurar o uso de substâncias proibidas - e de eventuais punições, a ideia que deve ressaltar é a de que se vivem dias de devassa permanente e tudo serve como arma de arremesso. Daí a pergunta: ainda se vai a tempo de travar esta invasão do nosso recato?
No que diz respeito a novidades, a Taça da Liga provou que ninguém escapa ao vírus que invadiu negativamente o VAR - nem Soares Dias… -, com o Sporting a voltar à final nove épocas depois; Jorge Jesus estará presente na sua sexta decisão; o Vitória sadino regressa ao palco maior depois da estreia em 2007/08, precisamente com os leões; ainda não foi desta que o FC Porto leva para o museu o troféu. Que BdC viu consagrada pelo MP a sua luta contra os vouchers, que João Mário está a caminho do West Ham (?) e que o Real Madrid está muito perto de ver ruir o seu castelo. Vá lá que no meio disto tudo CR7 parece disponível para regressar a Portugal. Segundo Miguel Paixão…"


PS: A sério, o BdC viu consagrada a sua luta contra os vouchers?!!!! Se o ridículo matasse!!!!

O Estoril - FC Porto

"1 - Por que foi adiado jogo entre Estoril e FC Porto e qual o procedimento a seguir?
O jogo foi interrompido e adiado por verificação de "causa fortuita ou de força maior" e, nestes casos, nos termos do Regulamento de Competições da Liga Portugal, o jogo deveria completar-se no mesmo estádio e dentro das 30 horas seguintes. Essa regra comporta excepções, sendo uma delas a impossibilidade de realizar o jogo sem colocar em causa a segurança dos agentes desportivos ou espectadores - algo que o Estoril assumiu publicamente após reunião e recomendação das forças de segurança. Nos casos de excepção e tratando-se de um jogo da segunda volta, há que realizá-lo no decurso da mesma semana ou, caso um dos clubes jogue outro jogo de competições oficiais (da Liga, UEFA, FIFA ou Selecção Nacional) na mesma semana (o FC Porto jogou na sexta para a Liga), dentro das 2 semanas seguintes (as de 22/1-28/1 e de 29/1-4/2). Em todo o caso, a marcação de nova data para o jogo adiado deve, salvo acordo escrito entre os clubes, respeitar um intervalo entre os jogos de 72 horas. Tendo em conta o calendário do FC Porto, só seria possível respeitar este intervalo e agendar o jogo dentro das 2 semanas se o clube perdesse a meia-final da Taça CTT, algo que a Liga não poderia antever, pelo que se deu uma situação de inaplicabilidade do Regulamento.

2 - Como decidir?
A Liga decidiu marcar para 21.02, talvez para proteger o Porto de desgaste antes dos jogos da Liga dos Campeões (não censuro) e expôs-se ao fogo da guerrilha que vive o futebol português. Na minha opinião, nesta situação de inaplicabilidade do Regulamento impunha-se uma interpretação analógica e fiel à sua ratio, que protegeria a Liga e levaria à marcação do jogo entre os jogos Porto-Braga (04.02.18) e Chaves-Porto (11.02.18) - isto é, para o dia mais próximo possível, com respeito pelo intervalo das 72 horas."

Infelizmente, o Sporting continua a dar cama e comida ao filho irrequieto, insolente e irremediável - o presidente (...)

"Comecemos pelo mais importante. Do ponto de vista de um benfiquista, a ausência desta prova traduz-se fundamentalmente em menos dois jogos sem Krovinovic em campo. Adiante.
Senti uma certa estranheza por ontem não ver a minha equipa em campo. Pareceu-me pouco natural, como se a festa da Taça da Liga fosse menos legítima sem o Benfica. E é. Gosta de fazer pouco quem não conquistou o troféu, mas a Taça da Liga é, por questões de natureza histórica, a competição do Benfica. E é bom que assim seja. É esse o compromisso simbólico a que uma instituição como o Benfica se vê obrigada: o de tornar toda e qualquer competição uma coisa quase caricatural, de tão previsível que é o seu vencedor. É por isso que o penta não chega.
Precisamos de um hexa, de um hepta e assim por diante, até os dirigentes, treinadores, jogadores e adeptos das equipas adversárias serem vergados a admitir, pelo menos no seu íntimo, que a prioridade para a época seguinte passou a ser a Taça de Portugal, e assim por diante, até que a prioridade seja conseguir apertar os atacadores, eventualmente apresentar onze indivíduos em campo.
E, mesmo chegado esse dia, a missão do Benfica manter-se-á tão válida como até então: dizimar os sonhos e as ambições dos demais intervenientes nesta caldeirada a que chamamos futebol português. Portanto, compreendam que tenha assistido com perplexidade, acima de tudo, às meias-finais de uma competição interna em que o Benfica não se encontra presente.
Nisto, como em tudo na vida, há que ver o copo meio cheio. Ver o jogo de ontem relembrou-me duas coisas. Primeira: tão importante como saber perder, é essa distinta elevação a que chamamos saber ganhar. Parece fácil. Ganhámos, que se dane. Mas não. Segunda: Nem todos sabem ganhar. Dirão que faz parte, e têm razão. Faz mesmo. Está no seu código genético.
Não é uma provocação gratuita. É estatisticamente comprovável. Se a cultura de um clube não se alimenta e evolui no tempo à base de vitórias, do que vive? Alimenta-se do passado, do insucesso, da meia vitória, da vitória moral, da vitória na vida, do troféu imaginário da verdade desportiva, da espuma dos dias que, dia após dia, vai apurando essa caldeirada que é o futebol português. É válido para todos e calhou a todos, mas alguns souberam reerguer-se.
Falo-vos do Sporting, portanto.
Oscar Wilde disse que estamos todos na sarjeta mas alguns de nós estão a olhar para as estrelas. Adaptemos ao futebol português: estamos todos na sarjeta quando nisto vemos Bruno de Carvalho a correr pela bancada fora porque ganhou uma meia-final da Taça da Liga. Desde a célebre volta olímpica após o jogo com o Praiense que não se via tal coisa. Por momentos pensei: será que o formato da competição foi alterado? Seria hoje a final da Taça da Liga? Seria, quiçá, a final da Champions League? Ligo a amigos a dar-lhes os parabéns?
Calma. Os amigos achariam que estava a fazer pouco. Nada disso, era apenas uma meia-final da Taça da Liga ganha nos penáltis pela pior equipa. Nada que não mereça ser celebrado com uma corrida desenfreada pela bancada, mas não era nada que não antecipássemos. É nas derrotas que melhor se conhece o feito, o carácter que molda o comportamento das pessoas.
Bruno de Carvalho teve amplas oportunidades de nos mostrar quem verdadeiramente é ao longo dos últimos anos. Reagiu a uma vitória como quem palita os dentes à mesa no Belcanto. Para um clube de aristocratas, foi digno de canalizador. Peço desculpa aos canalizadores pela comparação. O racismo social é como Bruno de Carvalho: não devia ter lugar nesta sociedade.
Os minutos vão passando. Jorge Jesus, por quem terei sempre afecto e respeito intelectual, explica que o Sporting não está em crise e tem razão. Muitos sportinguistas amigos celebram de forma relativamente moderada, como adeptos razoáveis de uma instituição séria. Sérgio Conceição, imune a um certo portismo de rede social que teima em contrariar a natureza vencedora do seu clube, explica e muito bem que o Futebol Clube do Porto foi melhor no jogo jogado, mas que o Sporting foi mais competente nos penalties.
Coisas de quem sabe ganhar e portanto está mais preparado para perder. Bruno de Carvalho lá continua a correr esfuziante e indiferente ao importante momento formativo contido numa vitória que Pinto da Costa (reparem nestas palavras de um benfiquista) teria celebrado com um aperto de mão a alguém sentado ao seu lado. Quem tem filhos e já os viu fazer semelhante figura sabe que não é assim que se celebra uma vitória, a não ser que queiramos criar um hooligan - quem celebra assim uma vitória arrisca-se a perder algo mais importante quando sair novamente derrotado: a dignidade. 
Infelizmente, o Sporting Clube de Portugal continua a dar cama e comida a este seu filho irrequieto, insolente e irremediável. Alguém mais dado a eufemismo chamar-lhe-á enfant terrible. Eu cá chamo idiota.
No meio disto tudo, onde está o copo meio cheio, perguntam? Simples. A felicidade infantil de Bruno de Carvalho acaba por confirmar aquilo que o próprio já tinha negado.
Afinal a Taça da Liga é uma competição a sério, que até faz as pessoas correrem e saltarem em êxtase. É bom para a competição e bom para o dono natural deste troféu, o Benfica.
Por isso, fica a pergunta: quantos de nós, incluindo sportinguistas, vimos Bruno de Carvalho celebrar aos saltos, a correr por entre adeptos tolerantes da equipa adversária, o mítico título nacional da verdade desportiva 2015/16?"

Ser contra Margaret Court e defender o seu estádio

"Quando os clubes de Lisboa celebram os títulos de futebol no Marquês de Pombal algum clérigo proclama deitar abaixo a estátua do ministro de D. José I por ter perseguido os jesuítas?

Alguma organização judaica exigiu a remoção da estátua de D. João III da Universidade de Coimbra, o rei que trouxe a inquisição para Portugal, por aquele monumento ser um insulto aos estudantes judeus?
Então expliquem-me porque deverão o Governo do estado australiano de Victoria e a Tennis Australia rebatizar a Margaret Court Arena, o segundo estádio mais importante de Melbourne Park, a sede do Open da Austrália?
É o que exigem as campeoníssimas do ténis Billie Jean King e Martina Navratilova, defensoras dos direitos da chamada comunidade LGBT, alegando que Margaret Court, de 75 anos, hoje em dia reverenda pentecostal, tem proferido declarações homofóbicas.
Há um ano trouxe a esta coluna essas declarações de Court, que são, sem dúvida, violentas, repulsivas e repudiantes.
Mas Margaret Court não tem o nome naquele estádio pela sua actividade e ideologia religiosa. É simplesmente a recordista mundial de títulos do Grand Slam, com 24 de singulares, sendo uma das três únicas mulheres que completaram o chamado Grand Slam, isto é, venceu no mesmo ano os quatro Majors. Na Austrália ainda é considerada a melhor tenista de sempre.
Nos Estados Unidos e na Europa os seus feitos desportivos têm sido esbatidos por estar sempre no lado errado nas chamadas questões fraturantes, e por ter sido contra a separação do circuito profissional feminino do masculino, cuja principal porta estandarte foi... Billie Jean King, vencedora de 12 troféus de singulares do Grand Slam.
As duas quase se odeiam. Foram grandes rivais dentro e fora do campo. Em currículo desportivo Court superou King, com 22-10 no ‘mano-a-mano’, incluindo vitórias nas duas finais de Majors que decidiram entre si.
Mas em tudo o resto foi a versão dos acontecimentos de King que prevaleceu. É mais mediática, mais influente e é... americana. Basta ver no recente filme Guerra dos Sexos, com a actriz Emma Stone a representar Billie Jean, quem sai favorecida no guião!
Odeio quase tudo o que defende Court, mas insurjo-me igualmente contra a ditadura do politicamente correto em que vivemos cada vez mais, vigiados até ao tutano pelas redes sociais.
E a ironia reside na intolerate Court, nunca ter exigido que o nome de King – uma homossexual, que para ela representa o diabo – fosse removido do complexo de ténis de Flushing Meadows, onde se realiza o Open dos Estados Unidos."