Banco da Luz continua a bonificar

"A boa exibição com o Sporting ajudou o Benfica a entrar de forma decidida em Moreira de Cónegos?
Contribuiu, com toda a certeza. Mas, na verdade, os encarnados têm tido bons arranques. Os problemas, normalmente, surgem mais tarde. Ainda assim, foi notório que a equipa – apesar do empate no dérbi – surgiu confiante, com vontade de mostrar a sua superioridade quanto antes.

A demora em fazer o 2-0 podia ter tido consequências para as águias?
Sim, pois enquanto os jogos estão abertos qualquer equipa – pese não ter os mesmos argumentos – acredita ser possível pelo menos empatar. Esta estranha incapacidade para ‘matar’ as partidas tem sido um dos grandes problemas do Benfica 2017/18. É um paradoxo falar da falta de finalização na formação de Rui Vitória (Jonas tem 20 golos na Liga e a equipa só não marcou no Dragão), mas a verdade é que tem desaproveitado muito do que consegue criar.

Os suplentes voltaram a ser decisivos no Benfica?
Jiménez não teve tempo para se mostrar, mas Parks esteve muito bem no meio-campo (principalmente nas recuperações) e João Carvalho mal entrou roubou a bola a um adversário e serviu Jonas para o golo que ‘fechou’ o desafio.

Como se explica a nítida subida de forma de Cervi?
O argentino ganhou minutos e com isso veio a confiança. A qualidade sempre esteve lá, mas agora tudo lhe sai de forma mais constante e segura."

Benfica bem preparado

"Benfica entrou com boa dinâmica ofensiva, especialmente pelo lado esquerdo.

Confiança e motivação
1. Benfica chegou motivado e confiante depois da exibição contra o Sporting no último derby, na quarta-feira. Os encarnados enfrentaram uma equipa organizada e a atravessar um bom momento no Campeonato (somou duas vitórias seguidas, sobre o V. Guimarães, em casa, e o Desportivo das Aves, fora, antes de receber o Benfica), num campo onde não é fácil de jogar, pelas características do estádio e até do tamanho do relvado. A equipa de Rui Vitória adaptou-se bem às circunstâncias que encontrou em Moreira de Cónegos, estava bem preparada para as dificuldades que o adversário lhe podia causar - e causou algumas.

Movimento e espaços
2. O Benfica justificou a vitória pelo que produziu durante os 90 minutos. Especialmente na primeira parte, os encarnados tiveram mais protagonismo e criaram algumas oportunidades de golo. Mas o Moreirense, bem organizado defensivamente, compacto, e muito objectivo a sair para o ataque, projectando bastante os laterais e chegando várias vezes ao último terço de terreno. Já o Benfica apresentou-se com uma boa dinâmica ofensiva. O lado esquerdo, em particular, muito activo, com Grimaldo a criar desequilíbrios tanto por fora como por dentro, com Cervi a procurar os espaços interiores, e com Krovinovic e Pizzi a chegarem a espaços de finalização e a explorar a zona entre os extremos e o ponta de lança. No primeiro golo, aliás, Salvio surgiu em zona interior e Pizzi deixa o corredor central para rematar sem oposição na área após centro de Jonas.

Desequilíbrio e recuperação
3. Na segunda parte, com as substituições nas duas equipas, o Moreirense esteve mais agressivo na batalha a meio-campo e dividiu mais o jogo, aproveitando o facto de o Benfica não estar tão bem posicionado defensivamente. Os encarnados, porém, recuperaram a capacidade de pressão e chegaram ao segundo golo aos 75 minutos, por Jonas e após recuperação de bola de João Carvalho, acabando com a esperança do Moreirense. Nota para os dois guarda-redes - tanto Varela como Jhonatan evitaram males maiores para as equipas, com intervenções de grande nível.

Esforços sem consequências
4. Benfica conseguiu controlar o jogo na segunda parte e não se revelaram quaisquer debilidades ou sequelas físicas do esforço no derby."

João Carlos Pereira, in A Bola

Francisco Lázaro primeiro maratonista Olímpico português

"Segundo o Formulário de Inscrição de Francisco Lázaro para os Jogos Olímpicos de 1912, datado de 4 de Junho daquele ano, faz precisamente hoje, 127 anos que no Bairro de Benfica em Lisboa, nasceu Francisco Lázaro (8 de Janeiro de 1891-15 de Julho de 1912).
O verdadeiro nome de Francisco Lázaro era Francisco da Silva (António Simões, 2016). Era filho de Lázaro da Silva e quando começou a ganhar as corridas em Benfica o povo dizia: “olha o Francisco do Lázaro” ou “lá vai o Francisco do Lázaro”. Com nos jornais aparecia Francisco Lázaro, acabou por ir ao cartório mudar o nome de Francisco da Silva para Francisco Lázaro.
Foi o primeiro maratonista olímpico com as cores da primeira Missão Olímpica Portuguesa, tendo também sido o porta-estandarte da novel bandeira Republicana, na Cerimónia de Abertura dos Jogos da V Olimpíada da Era Moderna que se realizaram de 5 de Maio a 27 de Julho, no ano de 1912 em Estocolmo na capital da Suécia. Na altura a recém-oficializada bandeira portuguesa era ainda pouco conhecida em todo o Mundo, pois tinha pouco mais de ano e meio de existência, mas já apareceu no cartaz oficial dos Jogos. Curiosamente até aos dias de hoje, nunca mais apareceu nos Cartazes Olímpicos.
Estocolmo foi a única cidade candidata, escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de 1912, no Congresso do Comité Olímpico Internacional (COI), que se desenrolou em Berlim, no dia 18 de Maio de 1909. Promoveu uma competição organizada e realizou a mais brilhante edição até então desde o ano de 1896, num Estádio construído em 1910 sob a direcção do arquitecto Torben Grut (1871-1945), na zona Este da capital sueca.
Na página da Internet do COI, menciona que participaram 28 Missões Olímpicas, pela primeira vez dos cinco continentes, num total de 2407 atletas, sendo 2359 homens e 48 mulheres, com participação em 102 provas nas 15 modalidades. O novel Comité Olímpico Português (COP) tinha sido fundado no dia 30 de Abril de 1912 e não em 26 de Outubro de 1909 como ainda se vai vendo muito erradamente escrito, isto apesar da grande teimosia do COP no repor a verdade histórica que andou arredada da realidade durante várias décadas. A Revista “Os Sports Ilustrado” de 4 de Maio de 1912 menciona que se constituiu o Comité Olímpico Nacional com o intuito de tentar enviar uma equipa aos Jogos Olímpicos de Estocolmo na Suécia.
Em finais da década de setenta do século passado, houve uma grande confusão sobre a Sociedade Promotora da Educação Física Nacional (SPEFN). Sequeira Andrade (2007) menciona que o ato da sua fundação ocorreu no dia 8 de Julho de 1909 e não em 26 de Outubro ou 27 de Novembro de 1909, conforme Revista Tiro e Sport, nº 426 de 18 de Julho de 1909, cujos estatutos da SPEFN foram apresentados em 27 de Novembro de 1909 tendo como conclusão, que as datas de 24/26 de Outubro de 1909 nunca existiram, nem associativa, nem desportiva, nem olimpicamente.
Assim, levou 37 anos para ser reposta a data real da criação do COP, mas, através do Presidente José Manuel Constantino que tomou posse em 4 de Abril de 2013 e teve a coragem de passados 1122 dias em exercício de funções de repor a verdade histórica. Sobre esta temática, aconselho a leitura de “Fundação do Comité Olímpico Português”, de Gustavo Pires (2016) e da Editora PrimeBooks, bem como o portal “Fórum Olímpico de Portugal – Desporto & Desenvolvimento Humano”.
Desde 1979 que o saudoso Orlando Azinhais preveniu o Plenário Olímpico sobre o erro de se considerar 1909 como ano da fundação do Comité. Era nessa altura Presidente do COP, Daniel Sales Grade de 1977 a 1980. Depois vieram Francisco Lima Bello (1981 a 1989), José Vicente Moura (1990 a 1992), Vasco Lynce (1993 a 1996), novamente José Vicente Moura (1997 a 2012), mas nada alteraram sobre a data da criação do Comité Olímpico Português, pois nunca tiveram a coragem de acertar a verdadeira história.
Em 2006, o autor destas linhas fez uma apresentação na Academia Olímpica de Portugal (AOP), quando da realização da XIX Sessão Anual que se realizou em Almeirim, sobre “A Origem do COP” é lá foi comprovado o dia 30 de Abril de 1912, tal como anteriormente ficou escrito em artigo publicado na Revista Atletismo no ano de 2003.
Francisco Lázaro de aprendiz de carpinteiro com seis tostões (0,003 €) por dia ascendeu a oficial especializado em carroçarias de automóveis da firma Ferreira & Viegas, na Travessa dos Fiéis de Deus (actualmente, nº 117), no Bairro Alto em Lisboa. Na época os automóveis eram mais amadeirados que de metal.
Não tinha treinador, pois naquela época ainda não existiam técnicos. Após o trabalho, Lázaro corria diariamente de Benfica até S. Sebastião da Pedreira, e até ao Bairro Alto desafiando, no percurso inverso, os transportes públicos os eléctricos “americanos” de tracção animal, conhecidos também pelos eléctricos do chora. Certo dia, alguém falou de uns deliciosos pastéis a Lázaro. Correu até Odivelas a comprá-los e voltou a Benfica, pouco depois, quase sem se cansar.
Em 3 de Maio de 1908, foi a sua primeira aparição e como estreia ganhou a corrida de 24 quilómetros com o tempo de 1 hora e 39 minutos, organizada pela Revista “Tiro e Sport”, com a designação de “Maratona Portuguesa” no percurso de Cascais ao Dafundo. Não foi possível participar em nenhuma prova no ano de 1909 por impossibilidade de se encontrar com doença prolongada nos pulmões. Até ao ano de 1910 representou o Velo Club Lisboa.
Foi realizada a denominada quarta corrida da Maratona em Portugal a 2 de Maio de 1910 (1ª Maratona oficial) que na altura tinha a distância clássica de 42,800 quilómetros, com o tempo de 2:57:35 horas (primeiro recorde oficial da Maratona) para Lázaro, tendo o segundo classificado (Armando Cruz) chegado cerca de 44 minutos depois. Partiram às 13:13:20 horas da Praça Marechal Saldanha, 12 concorrente e chegaram 10 à meta, no mesmo local da partida, depois de terem passado por Sacavém, Póvoa de Stª Iria, Santo Antão do Tojal e Loures.
Em 1911 ingressou no Sport Lisboa e Benfica tendo sido desafiado a representar o clube do seu bairro, onde por vezes jogava futebol. No dia 7 de Maio no Campo do Lumiar ganhou a primeira prova de Cross-Country Nacional ou designação de I Campeonato Nacional de Corta-Mato realizada em Portugal no tempo de 20:36 minutos, na distância de 4.200 metros, com 48 atletas de oito equipas na partida, com regulamento aprovado no dia 5 de Abril e definida a distância e o respectivo percurso. Tinha o dorsal com o número 13 e teve partida às 11:30 horas tendo ocorrido apenas uma desistência.
No dia 18 de Junho de 1911 com partida às 15 horas venceu novamente a Maratona (2ª Maratona oficial) na distância de 42,800 quilómetros com o tempo de 3:09:53 horas. Dos 23 concorrentes na partida, chegaram 22, onde o segundo classificado (José Matias de Carvalho) chegou quase 22 minutos depois. A partida foi dada na Praça Duque de Saldanha e o percurso passou pela Avenida da República, Campo Grande, Sacavém, Póvoa de Stª Iria, Vialonga, S. Julião do Tojal, Loures, Póvoa de Stº Adrião, Calçada do Carriche e Lumiar com a meta instalada junto à porta do campo do Sporting (Arons de Carvalho, 2017). Um dado curioso para a altura, era no regulamento a indicação aos clubes que os concorrentes tinham de ter mais de 18 anos e pagar a taxa de um escudo (0,005 €). 
Já em 1912 encontrou carinho e amizade de D. José de Mascarenhas (1882-1944), 10º Marquês de Fronteira, que tinha corrido com Lázaro no Velo Club de Lisboa e lhe prometeu: “Vou dar-te condições de preparação, de higiene de vida e de alimentação que possa fazer de ti um campeão olímpico”.
Passou assim a representar o Lisbon Sports Club, da Cruz da Pedra, onde hoje está o actual Jardim Zoológico em Sete Rios. No dia 2 de Junho na 6ª Maratona Nacional (3ª Maratona oficial) alcançou um bom tempo para a época de 2:52:08 horas para os 42,800 quilómetros, no mesmo percurso do ano anterior tendo como ponto final a íngreme subida da Calçada de Carriche em Lisboa.
Nesta prova chegaram à meta 19 atletas dos 22 que partiram e o segundo classificado (José Matias de Carvalho) gastou mais 13 minutos. Tentou bater o recorde mundial da meia hora, mas não conseguiu ao atingir 8.829 metros, que se manteve como recorde nacional até 1929 (José Peixoto, 2013). 
Francisco Lázaro teve uma carreira curta de atleta, mas mesmo assim, conseguiu três títulos nacionais na prova da Maratona, precisamente nos primeiros anos que ela oficialmente teve lugar, tendo também conquistado um título nacional de corta-mato. Dominou ainda várias corridas de distâncias mais curtas.
Foi um corredor de fundo de grande popularidade e por proposta do associado Alfredo Torres do Clube Futebol Benfica, na 1ª Assembleia Geral foi aprovada por aclamação o nome de Francisco Lázaro ao Campo de Futebol do Clube.
O Clube de Futebol Benfica (popularizado como Fófó), fundado em 23 de Março de 1933, tem no seu campo de Futebol Benfica o nome de Francisco Lázaro e está situado na rua Olivério Serpa, nº 9 em Benfica na cidade de Lisboa. Recebeu no passado dia 9 de Julho do transacto ano o XI Memorial Francisco Lázaro, numa organização da Junta de Freguesia e Clube de Futebol Benfica, com partida e chegada no relvado daquela instalação desportiva, numa homenagem ao grande maratonista português.
No dia anterior à prova, os concorrentes da Maratona Olímpica (Revista Spiridon, nº 30 de 1983) foram chamados a uma inspecção médica, tendo esta rejeitado alguns atletas, mas Lázaro passou com a nota de “bom”, já com a idade de 21 anos. Para António Fernandes (2010), em 1912 foi introduzida a prática das inspecções médicas na véspera da Maratona. Aconselhamos a leitura do seu livro “Cem Anos de Maratona em Portugal” da Editora Xistarca.
Almoçou pelas 10 horas no dia 14 de Julho de 1912, um Domingo. O tiro de partida era para ser dado às 11:30 horas, mas a corrida não começou à hora prevista por causa do muito calor (32º), tendo a prova sido sucessivamente adiada. Os seus colegas contaram que estava com muita confiança na prova. Um automóvel levou o atleta para o Estádio, dirigindo-se para o balneário e Armando Cortesão (Atletismo) e Fernando Correia (Esgrima) viram-no a besuntar-se com sebo, mas já não houve tempo para tomar banho.
A prova de 40,200 quilómetros começou às 13:48 horas com 98 inscritos, mas 30 não compareceram à partida, portanto 68 participantes, de 19 Missões Olímpicas, partiram debaixo de um forte calor que continuava com 32 graus à sombra na presença de um estádio esgotado com a assistência de 22.000 espectadores. Completaram 34 atletas e desistiram 34, de 11 Missões Olímpicas.
A partida do Estádio com o formato que tem hoje com 400 metros de perímetro surgiu pela primeira vez neste Jogos. Após efectuarem o percurso de cerca de 350 metros na pista os atletas deixaram o Estádio e dirigiram-se a Stocksund (5 Km) no primeiro posto de controlo. Depois em direcção a Tureberg, segundo posto de controlo (15 Km) e daqui para a viragem do retorno perto da Igreja de Sollentuna, cerca de 20 quilómetros a Norte de Estocolmo onde invertiam o sentido da corrida com regresso ao Estádio. Ao longo do percurso de ida e volta, cerca de 100 mil espectadores assistiram à corrida.
Lázaro partiu bem procurando não perder demasiado tempo para, na parte final da corrida tentar recuperar. Contudo somente esteve na frente à saída do Estádio para depois correr mais lentamente a sua prova, tendo recuperado espectacularmente. A partir do 15º quilómetro, era 27º, com atraso de quatro minutos do atleta que ia na frente. Ao 25º quilómetro seguia de muito perto os atletas da frente. Terá dito nessa altura que estava bem, apenas com sede, tendo bebido água que lhe foi dada. 
No relatório oficial da prova do Comité Olímpico Sueco não consta o seu nome entre os quinze primeiros e ao 25º quilómetro não figurava até ao 19º lugar que passou oito minutos e onze segundos depois do atleta Gitsham que então ia em primeiro lugar (Carlos Cardoso, 2001).
Mas, ao 29º quilómetro cambaleou e caiu várias vezes inanimado e levantando-se para continuar a prova até cair de vez na colina Ofver-Jarva (Pedro Nolasco, 1985). Um médico prestou-lhe assistência com a aplicação de gelo em plena estrada, tendo sido transportado para o posto médico de Silfverdal e face à gravidade do seu estado de saúde, foi transferido para o Royal Seraplin Hospital que, segundo José Peixoto (2013) chegou às 17:30 horas com uma temperatura de 41,2º, sofrendo de um ataque intenso de convulsões em todo o corpo, cãibras e em estado de delírio. Morreu às 6:20 horas da manhã do dia seguinte.
A Maratona teve como vencedor Kennedy Kane McArthur (África do Sul) de origem irlandesa fazendo o tempo de 2:36:54,8 horas e com 200 metros de avanço sobre o segundo, Christian W. Gitsham, também da África do Sul com o tempo de 2:37:52,0 horas e em terceiro ficou o atleta dos Estados Unidos da América, Gaston Strobino com 2:38:42,4 horas. O tempo do último classificado foi de 3:36:33 horas.
Segundo Pedro Nolasco (1985) Kennedy Kane McArthur recebeu das mãos do Rei Gustavo V o troféu destinado ao primeiro classificado. O troféu desta prova representava o soldado da Maratona (Filípides) a expirar no terreno no termo da sua corrida em Atenas.
Há uma rua em Lisboa com o nome do atleta que fica situada entre a rua dos Anjos e rua de Santa Bárbara aparecendo nos azulejos o número 5 no dorsal. Também em Sobral de Monte Agraço existe uma rua com o seu nome, assim como em S. Domingos de Rana em Cascais.
Já em 1924 a Câmara Municipal de Lisboa tinha dado o seu nome à antiga Travessa do Borralho em Benfica através do Edital Municipal de 9 de Dezembro desse ano, com a seguinte legenda: “Pedestrianista Falecido em Estocolmo em 1912”. Há também uma placa em memória do português na cidade de Estocolmo. Segundo Rui Frias (2013) menciona o seguinte: "Foi inaugurada uma placa de homenagem no Estádio Olímpico, na porta da maratona. Trata-se da arena desportiva mais antiga do mundo ainda em atividade e é multifuncional”. Já se falou na possibilidade de inaugurar um marco no local onde Lázaro tombou. Há também uma placa em alto-relevo que foi oferecida pelo grupo de sessenta maratonistas portugueses que no ano de 2012 correram a maratona e deixaram a mesma no Museu Olímpico em Lausanne na Suíça.
Lázaro tinha casado (Gustavo Pires, 2012), pouco antes de embarcar para Estocolmo. Deixou Sofia, uma mulher viúva, grávida de cinco meses de uma filha à qual foi dado o nome de Francisca em homenagem ao pai falecido, tal como menciona Tiago Palma (2016).
Na Suécia foi realizado um festival desportivo para angariar fundos para a filha de Lázaro que só nasceu quatro meses após a morte de seu pai. Vinte e três mil suecos contribuíram com 14.040 coroas, o equivalente a 3.500$00 na época, que, nos dias de hoje seria o equivalente de 17,46 euros, que Lázaro ganharia em vinte anos na fábrica do Bairro Alto.
Pierre de Coubertin enviou condolências à família Lázaro. O Comité Olímpico Português teve dificuldades financeiras para transladar o cadáver para Portugal, que só viria a acontecer decorridos mais de dois meses após a morte do atleta.
Foi a primeira vítima mortal dos Jogos Olímpicos da Era Moderna e o seu corpo chegou a Lisboa ao Cais das Colunas, a bordo do navio Vendsysset, no dia 23 de Setembro passados 70 dias após a sua morte e esteve em câmara ardente no Arsenal da Marinha sendo sepultado no dia seguinte, após uma manifestação de pesar e de homenagem ao atleta pelas ruas de Lisboa, durante quatro horas, para percorrer cerca de nove quilómetros desde o Terreiro do Paço até ao cemitério de Benfica, de quem queria vencer o ouro e acabou por morrer. Disse à esposa no dia 26 de Junho de 1912, antes de partir para Estocolmo “ou ganho ou morro” e Rui Frias (2013) argumentou: “Não ganho, mas também não morro. Sou para sempre”. Segundo Sequeira Andrade (1984) a recolha de dádivas em Lisboa, com vista ao funeral, fez-se no primeiro andar do nº 39 da Travessa de S. Domingos.
Os seus restos mortais repousam no jazigo nº 89 na rua 3 do Cemitério de Benfica. Foi erigido pelas Colectividades Desportivas Nacionais, estando escrito o seguinte: “A Francisco Lázaro Campeão Português falecido em Stockolmo em 15 de Julho de 1912, quando disputava a Maratona da V Olimpíada”."

Olimpicamente: inconcebível, intolerável, inadmissível, inacreditável, inaceitável

"O sul-coreano Ban Ki-moon (n. 1944) é um Senhor. Com letra grande. Foi o oitavo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) (eleito a 13 de Outubro de 2006) funções que exerceu entre 1 de Janeiro 2007 e 1 de Janeiro de 2017. Após deixar a ONU, Ban foi eleito presidente da Comissão de Ética do Comité Olímpico Internacional (COI) na Sessão de Lima, que decorreu de 13 a 16 do passado mês de Setembro de 2017. Foi o primeiro presidente verdadeiramente independente a assumir funções na Comissão de Ética do COI.
A Comissão de Ética do COI está prevista na Regra 22 da Carta Olímpica onde se afirma que tem por missão “… definir e actualizar um quadro de princípios éticos, incluindo um Código de Ética, com base nos valores e princípios consagrados na Carta Olímpica, do qual o referido Código faz parte integrante”. Além disso, investiga as queixas levantadas em relação ao não respeito de tais princípios éticos, incluindo violações do Código de Ética e, se necessário, propõe sanções ao Conselho Executivo do COI.
O que é mais importante na Comissão de Ética do COI é que, para além do seu presidente, também os seus membros (que se candidatam individualmente, sem programa e sem promessas) são eleitos pelos membros da Sessão (assembleia plenária) do COI, numa votação directa e secreta, pela maioria dos votos expressos. Por isso, os seus Estatutos no artigo primeiro determinam que a Comissão de Ética é independente. E, assim, até pelas pessoas que a ocupam, tem um estatuto de prestígio e dignidade insofismáveis. É composta por nove membros, entre os quais deve haver:
- Quatro membros do COI, quer sejam membros activos, honorários, ou ex-membros do COI, incluindo um representante da Comissão de Atletas do COI;
- Cinco personalidades, membros independentes, que não são activos, honorários, ou ex-membros do COI e que não tenham nenhuma ligação directa com o movimento desportivo.
- O presidente da Comissão de Ética do COI é uma das personalidades que não deve ser membro do COI.
Quer dizer, a Comissão de Ética do COI é um órgão absolutamente livre e independente e aberto ao exterior, cujos membros são eleitos directamente pela Sessão sem qualquer obrigatoriedade ou privilégio de ordem corporativo-profissional entre entidades de grande prestígio não só pelo seu currículo bem como pelo exemplo das suas vidas como é o caso de Ban Ki-moon.
Portanto, o Comité Olímpico de Portugal (COP) tinha na Carta Olímpica um extraordinário exemplo de uma Comissão de Ética que podia e devia ter replicado na revisão de 27-09-2016 que fez dos seus estatutos. Infelizmente, optou por uma solução paroquial de um Conselho de Ética sem qualquer valor, sem qualquer credibilidade e sem qualquer prestígio que, bem vistas as coisas, não serve para coisa nenhuma a não ser para, eventualmente, apoiar juridicamente as decisões da Comissão Executiva. Por isso, aquilo que podia ter sido saudado como uma medida de fundamental importância não passou de uma medida que mais não faz do que reafirmar um “status quo” decadente de uma instituição que, desde que bem gerida, podia ser um verdadeiro motor do desporto nacional. Assim, cabe perguntar:
(1º) Porque é que o COP não seguiu o padrão da Comissão de Ética da Carta Olímpica do COI?
É inconcebível que o COP não tenha seguido o modelo de Comissão de Ética do COI. E é tanto mais inconcebível quanto se sabe que são os próprios Estatutos do COP que, no seu preambulo, afirmam solenemente que “o Comité Olímpico de Portugal tem por missão desenvolver, promover e proteger o Movimento Olímpico em Portugal, em conformidade com a Carta Olímpica, …”. Ao não seguir o modelo da Comissão de Ética do COI, a atual chefia do COP, optando por um modelo caduco e desconforme, reafirmou o futuro como uma mera repetição daquilo que já se fazia no passado com resultados absolutamente desastrosos. Em consequência, hoje, o futuro do Movimento Olímpico português é visto como uma fonte de preocupações quando podia ser visto como uma fonte de oportunidades.
(2º) Porque é que o COP optou por uma visão corporativa de ordem instrumental?
Na solução encontrada, imperou a força da “razão instrumental” de ordem corporativa, paternalista, individualista e narcisística quer dizer, uma racionalidade que, no desdém pelos valores democráticos, permite chegar a um determinado objectivo de uma forma expedita, rápida, operacional, imediata e errada. Nestes termos, a lógica corporativa da institucionalização do Conselho de Ética não está de acordo com os valores e os princípios que movem o olimpismo moderno configurados na Carta Olímpica e, menos ainda, com os do País e os da sua Constituição. Representa uma visão caduca e ultrapassada que não corresponde à dinâmica dos diferentes interesses que hoje movem os protagonistas do fenómeno desportivo. De tal solução, resulta que os atletas, técnicos, dirigentes e eventuais interessados que gravitam à volta das organizações desportivas, podem a ser considerados como meros instrumentos à revelia dos seus próprios interesses ou dos interesses da comunidade desportiva de que fazem parte na medida em que o órgão de natureza ética para onde, em caso de conflito de interesses, podem apelar tem uma vocação corporativo-instrumental. É necessário que o Movimento Olímpico, em alternativa às duvidosas soluções instrumentais desprovidas de quaisquer sentimentos de ordem ética, seja capaz de preservar uma certa espiritualidade de princípios e valores que a visão corporativa dos seus dirigentes está a destruir.
(3º) Porque é que o Conselho de Ética é eleito em lista única?
Numa perspectiva instrumental e utilitarista, por incrível que possa parecer, à revelia de uma visão democrática dos sistemas de controlo das instituições e da própria Carta Olímpica, o Conselho de ética é eleito em lista única, quer dizer, em lista solidária com a Comissão Executiva e o Conselho Fiscal. Isto significa que quem escolhe os membros do Conselho de Ética é o candidato à presidência do COP quando constitui a sua lista para concorrer às eleições. Diz o nº 2 do artigo 12.º (Processo eleitoral) dos Estatutos do COP: “ As eleições para a Comissão Executiva, Conselho Fiscal e Conselho de Ética realizam-se no sistema de lista única, por sufrágio directo e secreto”. Ora, esta solução, para além de não respeitar o modelo perfeitamente possível de replicar da Comissão de Ética do COI, em termos do princípio da transparência democrática, é inadmissível. Uma Comissão de Ética “escolhida a dedo” no seu “círculo de confiança” pelo presidente da Comissão Executiva e eleita em regime de lista única e, por isso, solidária para com o presidente da instituição, para além de não ter qualquer credibilidade não tem a dignidade institucional que deveria ter. Será sempre vista como a uma espécie de “porta-voz” da Comissão Executiva que, em termos jurídicos (devido à sua composição) procurará resolver os problemas de ordem ética que se levantarem ao COP. Note-se, que pessoas escolhidas dentro do “círculo de confiança” da chefia não garantem aos olhos da sociedade uma transparência democrática relativamente aos assuntos que têm de tratar. Por exemplo, sabendo-se que, segundo o nº 3 do artigo 26 dos Estatutos do COP, compete ao Conselho de Ética “prestar esclarecimentos e recomendações aos demais órgãos sociais e aconselhar os membros de Comité Olímpico de Portugal sobre os casos que lhe sejam submetidos, nos termos do Regulamento…”, embora se desconheça se existe um regulamento do Conselho de Ética, uma vez que não o conseguimos encontrar no portal da organização, pergunta-se se o dito Conselho de Ética já instaurou um inquérito relativamente às gravíssimas acusações proferidas pelo Dr. Rogério Joia presidente da ADoP (Autoridade Antidopagem de Portugal) contra José Manuel Constantino e Artur Lopes (Cf. A Bola, 2017-11-11) acusados pelo presidente da ADoP de “esquema montado para tentarem prejudicar o seu exercício”, bem como Artur Lopes de “… supostamente tentar condicionar a actuação da ADoP…”ao tempo da posse de Rogério Joia. Infelizmente, um Conselho de Ética constituído nos termos determinados nos Estatutos do COP, aos olhos de um observador minimamente atento, não passa de uma espécie de tecnoestrutura de apoio ao presidente da Instituição. Todavia, um Conselho de Ética devia garantir a máxima isenção e independência pelo que o respeito pelo “Princípio da Mulher de César” devia ter sido considerado como uma questão de honra. É inaceitável, seja em que organização for que um Conselho de Ética possa ser eleito em regime de lista única e, por isso, solitária com a Direcção de qualquer organização.
(4º) Porque é que o currículo social e profissional dos membros do Conselho de Ética não é sujeito a um escrutínio alargado?
Lamento muito dizê-lo mas, independentemente da consideração que, em termos pessoais, as pessoas possam merecer, em termos sociais e epistemológicos, os membros da Comissão de Ética do COP, à parte de Nuno Barreto que, para além de ter sido atleta olímpico em três Jogos Olímpicos Atlanta (1996), Sydney (2000) e Atenas (2000) e medalhado em Atlanta, é Comendador da Ordem do Infante D. Henrique por relevantes serviços prestados ao País, tem, reconhecidamente, dedicado a sua vida ao desporto pelo que foi indicado pela Comissão de Atletas Olímpicos, os restantes membros do Conselho de Ética, depois de termos procurado os seus currículos na NET concluímos não serem portadores de um currículo socio-desportivo que justifique a pertença em tal Conselho. Trata-se de um conjunto de pessoas que, no domínio da reflexão, social, científica ou qualquer outra, tanto no domínio do Olimpismos quanto da ética do desporto, não se lhes reconhece um currículo minimamente convincente. O que é que já viveram em termos de experiência? O que é que já investigaram? O que é que já produziram? O que é que já publicaram sobre o assunto? Em conformidade, em matéria da sua composição o Conselho de Ética, aos olhos da generalidade das pessoas, trata-se de uma figura mais ou menos folclórica que só serve para “épater la bourgeoisie”, nada mais. Trata-se tão só de mais um indicador do individualismo narcisista da sociedade moderna que leva pessoas, sem qualquer competência demonstrada para o efeito, a aceitarem cargos para os quais não estão minimamente preparadas. E a sua impreparação é de tal ordem que não se perceberem sequer que, um Conselho de Ética eleito em lista única e solidária, aos olhos das pessoas minimamente esclarecidas, não passa de uma estrutura que não representa mais do que a “voz do dono”. Lamento dizê-lo mas esta é a triste realidade.
(5º) Porque é que o Conselho de Ética do COP tem de ser constituído maioritariamente por licenciados em direito?
Diz o número 1 do artigo 25º dos Estatutos do COP que “o Conselho de Ética é constituído por um Presidente, um Vice-Presidente e três Vogais, sendo obrigatoriamente pelo menos três deles licenciados em direito, e incluindo um representante da Comissão de Atletas Olímpicos, a indicar após as eleições da CAO.”
Ao contrário daquilo que se passa no COI em que não existem quais quer condicionantes de ordem corporativo-profissional a constituição do Conselho de Ética por um número maioritário de Licenciados em Direito parece-nos, antes de quaisquer outras considerações, de um mau gosto a todos os títulos condenável. Trata-se da defesa de corporativismo vesgo que deturpa a verdadeira vocação e missão de um órgão a funcionar no domínio da ética. Tal opção determina uma lógica de forte limitação cultural e de pensamento único conferindo um peso avassalador e, por isso, profundamente nocivo, às razões instrumentais de ordem jurídica, prejudicando radicalmente uma verdadeira abordagem ético-moral das questões de carácter desportivo. Em consequência, estamos perante um Conselho de Ética que mais parece tratar-se de Conselho Jurídico ao serviço o presidente da instituição. Um Conselho de Ética tem de ser portador de uma inteligência diversificada e contextual pelo que não se esgota na jurisprudência como, só por si, não se esgota em nenhuma área científica. Um Conselho de Ética, por princípio, há-de ser constituído por um conjunto variado de elementos com sensibilidade e formação diversas em interacção sinergística, entre outros, nos domínios da teologia, da antropologia, da filosofia, da história, do direito, da educação física e do desporto, da economia, da sociologia, da psicologia, etc. O juízo ético na sua moralidade (note-se, por exemplo, que Pierre de Coubertin nos seus escritos sempre utilizou o termo moral) é o todo e não as determinações separadas e abstractas de cada perspectiva científica pelo que não pode ser subvertido a uma racionalidade instrumental que apenas expressa acções triviais da conduta das pessoas e das organizações. Quer dizer, as partes só encontram um sentido no todo que lhes atribui significado. Tratar-se-ia, assim, de instituir um Conselho de Ética provido de uma inteligência diversificada e contextual característica de uma cultura vigorosa que é de fundamental importância num processo de desenvolvimento na medida em que, do que se trata é de gerar justiça, inovação e qualidade, o que, muitas vezes, nada tem a ver com os formalismos e a objectividade da lei. E o desporto é pródigo em exemplos em que a justiça nada tem a ver com o direito da norma, da regra ou da lei pelo que, em muitas situações, a justiça é ultrapassada pelo direito. A este respeito o caso de Jim Thorpe (1887-1953) é paradigmático. Foram necessários quase setenta anos para se fazer justiça sobre uma lei que serviu, tão só, para praticar uma das maiores injustiças a que já se assistiu no Movimento Olímpico. Por isso, direi que a eticidade de um Conselho de ética, em termos de liberdade de pensamento e de acção, decorre da natureza da consciência dos seus membros que permite ajustar a objectividade absoluta de um conceito ético universal à subjectividade relativa da consciência moral das comunidades desportivas. Significa isto que a ética não rejeita o direito mas não se subordina a ele. A ética está muito para além do direito. Nestes termos, é de fundamental importância o desporto superar a instrumentalidade do pensamento jurídico a medida em que estando a ética muito para além do direito, muitas vezes, o exercício do direito nada tem a ver com a dimensão ética da condição humana. Antes pelo contrário. Um Conselho de Ética, maioritariamente constituído por licenciados em direito, parece-nos, não só, ser uma aberração epistemológica mas, também, uma deturpação da ordem democrática absolutamente inaceitável numa actividade transversal como é o desporto em que a ética tem de primar pelo reconhecimento das singularidades culturais, morais e comportamentais existentes entre diferentes pessoas, povos e nações que, apesar disso, numa ética de autenticidade, não devem deixar de estar integradas numa visão que abarque a humanidade na sua totalidade. Claro que o código olímpico devia ter sido aplicado mas de acordo com as circunstâncias sociais, económicas e políticas de Jim Thorpe. Aliás, o que veio a acontecer em 1982 quando Samaranch devolveu as medalhas que, em 1912, lhe haviam sido usurpadas.

Numa conclusão final direi que a Comissão Executiva do COP não necessitava de tentar “inventar a roda”. Bastava-lhe ler a Carta Olímpica e os regulamentos que dela decorrem relativamente às questões da ética e replicá-las nos seus próprios Estatutos. E teria feito bem melhor na medida em que evitaria colocar-se numa situação a todos os títulos lamentável que terá de ser corrigida num futuro tão próximo quanto possível. A ética tem um espaço próprio de análise e reflexão que não de compadece com uma perspectiva instrumental juridicizada do problema. Não tem só a ver com o direito, nem só a ver com boas práticas de gestão. Também não é só um conjunto de “mandamentos” que, tal qual ladainha, acefalamente se recitam nos discursos oficiais de circunstância.
A ética é muito mais do que isso. A ética tem a ver com a consciência de cada um e todos nós. Tem a ver com o estabelecimento de horizontes morais que devem estar assumidos na prática de uma dada actividade social como é a desportiva. Não se trata de mais leis, de mais normas, de mais penalizações. Trata-se de mais educação, de mais consciência, de mais cultura e de mais justiça. Tem, por isso, de ser como que uma plataforma de honestidade assumida e praticada que cada um por si e todos em conjunto devem colocar naquilo que fazem. Tem, por isso, de ser tratada de uma forma séria desde logo porque é uma das questões fundamentais da democracia e do desenvolvimento. Se não existe democracia sem ética não existe desenvolvimento sem democracia. A última coisa que se pode aceitar é ver a ética tratada numa lógica instrumental que só serve para iludir as questões, deturpar os problemas, produzir confusões e promover injustiças.
O Movimento Olímpico nacional encontra-se numa das suas maiores crises de sempre que está a destruir o seu capital social. Por isso:
(1º) É inconcebível que o COP não tenha seguido a estrutura e a orgânica do padrão da Comissão de Ética do COI;
(2º) É intolerável que o COP tenha seguido um modelo de características corporativo-instrumentais; 
(3º) É inadmissível que o Conselho de Ética seja eleito em regime de lista única;
(4º) É inacreditável, a carência socio-desportiva da composição do Conselho de Ética;
(5º) É inaceitável que o Conselho de Ética seja obrigatoriamente composto por uma maioria de licenciados em direito.
Estamos perante um Conselho de Ética sem paixão, sem classe, sem ousadia e sem futuro. Tal facto, pode parecer uma coisa de somenos importância até porque, desgraçadamente, ninguém perde tempo a ler estatutos a não ser quando surgem complicações. Contudo, os estatutos de uma organização são o seu bilhete de identidade. Infelizmente, os Estatutos do COP representam uma imagem falsa e distorcida daquilo que o Olimpismo moderno deve ser. São de uma confrangedora tristeza.
O Movimento Olímpico nacional necessita de uma cultura ético-política vigorosa que exige órgãos com credibilidade que possam questionar, debater e partilhar os caminhos do futuro do Olimpismo nacional.
A haver um Conselho de Ética nos termos do instituído nos actuais Estatutos do COP melhor seria que não houvesse Conselho de Ética nenhum.
Não se percebe como é que a Administração Pública assina contratos de milhões de euros com uma organização que, para além de resultados desportivos miseráveis e de défices financeiros incompreensíveis apresenta uns estatutos com as mazelas que temos vindo a apontar."

Cadomblé do Vata

"1. Voltamos a não sofrer golos, o que já não acontecia desde a nossa visita ao Dragão... esperam-se nos próximos dias grandes elogios ao ataque do Moreirense.
2. Samaris teve muita sorte naquele lance em que leva um biqueiro de um atleta minhoto, em cheio na canela... podia ter terminado ali a carreira, se no pé de Billel estivesse uma cartolina.
3. É estranho ver um norte americano conduzir ataques do SLB... fico sempre à espera que ele termine o lance com um afundanço na baliza adversária.
4. É preciso que se entenda que os dois falhanços pré golo do Jonas foram propositados... ele tem que fazer azelhices destas de vez em quando, para não ser proibido de jogar na Liga Portuguesa.
5. Enorme defesa do Varela a segurar o 0-1 na segunda parte... só gostava era que ele acabasse com aquela "técnica da banana" a defender, em que se deita, parecendo que a bola lhe passa por cima e depois estica os braços para defender... não há coração que aguente tamanho suspense."

O penteado compacto e imóvel, o filho do CEO, o argumentista e a Neflix entraram nesta crónica e deu nisto (...)

"Bruno Varela
Seja em que situação for, nos tempos mortos ou nas defesas decisivas, nota-se em Bruno Varela uma vontade indomável de não ser apenas mais um figurante. Temos hoje um guarda-redes titular que, após um início tímido e o embaraço reservado a Bossio, Roberto, Rui Nereu e tantos outros, deu a volta por cima. Isto é raro e deve ser acarinhado. Se o livro fosse sobre este Bruno Varela, chamar-se-ia “O entusiasmo do guarda-redes no momento do pénalti.”

André Almeida
Está preso num gif pleno de amor à camisola. Assim passou André Almeida mais 90 minutos: cumpridos técnica, táctica e metaforicamente a bater com a mão esquerda no símbolo do Benfica enquanto fechava o flanco ou subia de forma aguerrida para apoiar Salvio ou João Carvalho. O seu bater no peito de há uns dias após atirar Fábio Coentrão ao chão já tinha sido explicada por Ricardo Reis, um colega de escola de Cosme Damião:
“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui
Sê todo em cada coisa
Põe quanto és
No mínimo que fazes
E acima de tudo
Carrega Benfica.”

Jardel
Bem na gestão das poucas tarefas que lhe couberam em sorte esta tarde. Já tive colegas de trabalho que disfarçavam muito pior.

Rúben Dias
Participação competente na versão defensiva da expressão “bater a mortos”, alternando atenção com uma ambição ofensiva que mais dia menos dia nos sairá cara, mas a vida é mesmo assim. Pareceu interpretar correctamente as novas regras da modalidade, em vigor desde 4ª feira, num lance aos 80 minutos disputado com a ajuda do braço.

Grimaldo
Continua em excelente forma. Desenhou meia dúzia de triangulações com Cervi e Krovinovic que só não darão origem a títulos como “Gangue de jovens espalha horror em Moreira de Cónegos” porque a imprensa não gosta do Benfica.

Samaris
Saiu ao intervalo após um lance do qual se orgulharia se tivesse sido ele a provocar a lesão.

Pizzi
É o Aaron Sorkin do meio-campo benfiquista. Os guiões escritos para os seus colegas resultam frequentemente em dinâmicas estonteantes - à la West Wing - por vezes quase irreais pela velocidade a que se sucedem, mas plenas de inteligência, humanidade e profundidade atacante. Chegam mesmo a fazer do guionista a estrela improvável, até se tornar habitual e querermos mais e mais dos seus guiões. Esta época, porém, tem havido espaço para o ocasional diálogo azeiteiro como em Studio 54 ou Newsroom, irreal de tão ridículo que chega a ser. No caso de Pizzi, e não obstante este ou aquele passe para as costas da defesa ou linha de passe que só ele achou verosímil, continuamos a ter um guonista de quem esperamos sempre o melhor, sabendo sempre que contém em si o pior.

Krovinovic
Manteve-se imune às modas e consciente da razão pela qual está neste planeta. Krovinovic devolve a fé a todos os adeptos de futebol que acreditam ser possível regressar a um tempo em que os jogadores se preocupavam mais em jogar bem à bola do que em cuidar do seu cabelo. Deviam ensinar este desmazelo capilar nas escolas do Seixal.

Cervi
É espantoso como se mantém compacto em qualquer circunstância e consegue recuperar a posição ideal sem nunca perder mobilidade ou irreverência ao longo de 90 minutos. Refiro-me obviamente ao novo penteado de Franco Cervi.

Salvio
Finalmente um jogo em que ele não é um dos melhores em campo. Ainda assim, escusava de ter sido o pior. Jonas Estatisticamente, poderia até dizer-se que foi um dia mau, tal foi o número de golos falhados ou passes mal conseguidos. Hoje não falhou golos por causa do árbitro, mas devido à intervenção dos seus pés. Não satisfeito, lá remediou como pôde, decidindo mais um jogo como só ele tem sido capaz esta época. Continua a ser a principal razão para um benfiquista sair da cama todas as manhãs.

Keaton Parks
Tem nome de multinacional, mas Keaton Parks evita jogar como se fosse o filho do CEO que entrou com cunha. Ainda que tenha estudado na melhor escola internacional do Seixal e todos lhe augurem a sucessão do pai Ljubomir na liderança da empresa, o jovem Keaton sabe que o caminho até ao topo não é só glamour: há que sujar as mãos, guerrear à zona e comer a relva em Moreira de Cónegos. Só assim manteremos vivo este sonho americano.

João Carvalho
Continua a fazer o seu caminho improvável rumo ao Mundial da Rússia. Leram aqui primeiro. 

Jimenez
Esta semana o magazine cultural “Não tenho nada para dizer sobre este tipo” destaca os novos especiais de Dave Chappelle na Netflix."