sábado, 2 de dezembro de 2017

Vamos então não falar dos e-mails

"Futebol, então, hoje é dia disso. Mas deixem-me recuar mais de um século, para um jantar realizado a 5 de abril de 1907, em Lisboa. Era de homenagem e tinha menu exquis. Exquis não quer dizer esquisito, mas delicado, e uso a palavra francesa porque a ementa está recheada de palavras inglesas e a história é perdidamente portuguesa. O jantar era sobre futebol, cosmopolita, pois.
O menu diz que havia free kick, como então se chamava aos livres. E seguia em latim, língua mãe do foot-ball. Havia assado com puré de penalties. E havia dribblings, que basta pronunciar alto para reconhecermos conversa de campo da bola. Um referee e linemen, com apito e bandeirinha. Citavam-se um goal-keeper e um Levy, os dois homenageados.
Manuel Mora, o guarda-redes, ia emigrar para a América do Sul. E Fortunato Levy, o defesa-direito, ia regressar ao seu Cabo Verde. Ambos jogadores (perdão, players) do Sport Lisboa (SL), o antepassado directo do Sport Lisboa e Benfica, clube que seria criado no ano seguinte. Quer dizer, Mora e Levy, por um ano, já não alinhariam no SLB, mas pertenciam à alma que forjou o clube, como veremos adiante.
No menu, um desenho com um guarda-redes e um colega de equipa, Mora e Levy, que se distinguem só pelas grandes luvas do primeiro. O equipamento é o mesmo, camisola escura que se adivinha encarnada, com golas e punhos brancos, calções brancos e botas que envolvem os tornozelos. Ah, se vos interessa, Mora é branco e Levy, com pele escura e uma carapinha separada por um risco ao meio, não o é. Companheiros. Ano, relembro, 1907.
Fortunato Monteiro Levy, então com 19 anos, iniciava uma tradição que iria levar um clube à glória europeia. E não me refiro às taças europeias conquistadas pelo SLB, mas à glória social, cultural, histórica, o que quiserem, de na década de 1960, quando eram raros os futebolistas não brancos a jogar na Europa, o Benfica ter um mulato a comandar - o eterno capitão Mário Coluna. Os espectadores dos estádios europeus - mesmo não ouvindo das bancadas, e se ouvissem e não compreendessem a língua - percebiam a deferência com que os futebolistas, brancos como Simões, ou negros como Eusébio, pediam ao “patrão” Coluna para marcar um livre.
Dir-me-ão, mas o Levy não era do Benfica, era do Sport Lisboa. Mera formalidade, o SL, meses depois do tal jantar, iria fundir-se, em 1908, com o Grupo Sport Bemfica (respeitem as relíquias, com “m”) e constituir o Sport Lisboa e Benfica - o Benfica de hoje. Esse estado de espírito, o viver à Coluna, único no mundo europeu há 60 anos, pertence-nos, como se prova que há mais de um século, havia o mulato cabo-verdiano Fortunato Levy.
E não se esgotavam, então, em Levy os atletas não brancos do clube. Naquele 1907 do jantar, o Sport Club entrou em crise, perdeu grande parte dos seus jogadores e só pelo arreganho de três futebolistas - Cosme Damião, Félix Bermudes e Marcolino Bragança - se partiu para a fusão com o Grupo Sport Bemfica e se criou o Benfica atual. Marcolino Bragança era um mulato são-tomense.
Trinta anos depois, o duelo que deu ao futebol a hegemonia no gosto dos portugueses, substituindo o ciclismo, foi a rivalidade entre o sportinguista Fernando Peyroteo, branco angolano, e Espírito Santo, negro nascido em Lisboa. Cruzamentos que não eram coincidência mas já estavam na nossa genética social. Como uma simples ementa de jantar de homenagem anunciava no princípio do outro século.
O cabo-verdiano Fortunato Levy, neto de judeu sefardita português, voltou para a sua ilha de Santiago. Foi sócio da casa comercial fundada pelo pai, Levy & Irmãos, e, em 1913, foi administrador da cidade da Praia. O mulato são-tomense Marcolino Bragança foi para Luanda. Assistiu lá ao começo da amizade entre Peyroteo, branco de África, e Espírito Santo, negro lisboeta, que viria a ser, na década seguinte e noutro continente, a rivalidade fraterna já relatada. Marcolino morreu em 1971, em Luanda, onde foi visitado por uma equipa do Benfica em digressão, com Coluna e Eusébio.
O outro dos homenageados no jantar de há 110 anos de que se serve esta crónica, Manuel Mora, luvas tiradas, fez-nos descobrir o grande artista que era, pintor e aguarelista, discípulo de Roque Gameiro. Não ficou na Argentina, destino inicial, foi para o Rio, onde fez carreira. Talvez os trabalhos mais notáveis de Manuel Mora tenham sido as capas de O Cruzeiro, a mais importante revista brasileira do século XX. A capa da primeira revista, em 1928, é dele. Mas o seu tema preferido, que ilustrou em cartões, era o cruzamento de povos, o Brasil. Afinal, o assunto de que temos estado a falar.
Futebol é: Ronaldinho Gaúcho, nome grande, dentes maiores e ar de ingénuo, a marcar um livre. À frente, a poucos passos, uma barreira de gigantes. Hipótese de golo só duas nesgas em cada canto, feito pela trave e postes da baliza - mas até pequeninos buracos o guarda-redes poderá tapar, basta adivinhar o lado do remate. O falso ingénuo corre para a bola, a barreira salta em uníssono, anulando as tais duas exceções. E é golo. Ronaldinho chutou a bola, com delicadeza, por baixo dos pés que sobem em grupo... O futebol, pois, pode ser científico: a nanoprecisão da velocidade da bola, calculada (como? onde?) em função da propulsão para cima da barreira e da avaliação do tempo de regresso dos pés adversários à terra.
O rapaz com cara de parvo produziu mesmo aquela maravilha? Sim, o estádio (estádios, Ronaldinho fez isso várias vezes) confirmou com gritos de alegria ou mãos levadas à cabeça em desespero... Futebol pode ser uma bela sabedoria. E futebol pode também ser essa coisa ordinária, tristeza do povo, roubos de árbitros e e-mails, discutido entre cínicos e/ou desonestos.
Mas hoje apeteceu-me falar de outro futebol. Nem de Ronaldinho, que foi coisa para ver e calar (gritando, eventualmente), nem do segundo, por decência. Apeteceu-me o futebol que nos conta."

O que ganha o Benfica com o clássico

"Nulo poderá ajudar a consolidar novas ideias de Rui Vitória.

O bom Benfica durou, na melhor das hipóteses, 20 minutos no Dragão.
Um bom Benfica sustentado pelo 4x3x3 e pela qualidade que Krovinovic acrescenta à construção ofensiva da equipa, permitindo-lhe ter mais bola mesmo em ambientes mais adversos.
O que os encarnados ganham em controlo, e até em melhor posicionamento defensivo, perdem em presença na área, tornando-se mais evidente fora do seu estádio e em partidas de maior grau de dificuldade.
Depois desses 20 minutos, o FC Porto foi crescendo e acabou a desperdiçar oportunidades, perante um rival que, ao ver que lhe escapava cada vez mais o controlo e tinha dificuldades evidentes em voltar à fórmula inicial, preferiu baixar ainda um pouco mais as linhas.
Samaris em campo significava, claramente, que o empate chegava naquela altura.
O que o Benfica ganha na realidade com o clássico?
Um plano cada vez «mais A» para atacar a segunda metade da época, que precisa de trabalhar e explorar mais, sobretudo para compensar essa falta de presença ou profundidade junto das balizas rivais – e que terá de ser assente na chegada do resto da equipa, extremos e médios de ataque.
A manutenção de um plano B já consolidado como alternativa para jogos em teoria mais acessíveis, ou até para usar como mudança estratégica durante os 90 minutos.
O nulo no Dragão anula, de certa forma, os efeitos negativos da derrota em Moscovo – claro que não apaga o fracasso completo na Liga dos Campeões – e parece confirmar um ou outro sinal de retoma dado com o novo sistema na visita ao Vitória de Guimarães, e nos dois triunfos frente ao Vitória de Setúbal.
O empate frente a um rival que tem estado a um nível muito alto dará essa garantia até aos jogadores, que a certo ponto já pareciam descrentes. Ou seja, não há por que o Benfica não se possa reconstruir a partir deste resultado, embora esteja longe de estar tudo feito.
Uma equipa «em crise» apresenta-se, para já, a três pontos da liderança. Os próximos jogos, e também o dérbi de janeiro frente ao Sporting, confirmarão ou não a aparente tendência de retoma. 

P.S. O FC Porto foi melhor e, por culpa própria, não venceu. Continua a parecer estar um nível acima de intensidade em relação aos rivais. Os dois nulos frente aos rivais, que não traduzem que a equipa de Sérgio Conceição foi melhor em jogo jogado em ambos os clássicos, terá de ficar para a segunda volta."

Varela e mais 10 e mais 9

"Ao contrário de todos os prognósticos, que eram muito reservados, o Benfica saiu vivo da sua visita ao estádio do Porto e terá saído de excelente saúde atendendo às circunstâncias. Até começou muitíssimo bem o jogo surpreendendo os seus próprios adeptos, os donos da casa e a crítica em geral. O fulgor dos campeões nacionais durou os vinte minutos iniciais mas depois foi esmorecendo até ao intervalo sem que nada de extraordinariamente invulgar tenha ocorrido, excepção feita ao lance em que Fejsa, inadvertidamente, atropelou o árbitro que lhe apareceu pelo caminho. A culpa foi do árbitro que estava mal colocado. De resto esteve sempre bem colocado em campo, julgando com rigor lance a lance, menos, talvez, todos os lances em que Felipe ia varrendo adversário após adversário sem nunca ter visto um cartão amarelo. Foi obra.
Tal como tinha começado bem o jogo, o Benfica também terminou em grande o jogo. Com menos um jogador em campo, o que torna sempre as coisas mais difíceis, conseguiria o Benfica não só não sofrer golos como quase marcar através de Krovinovic. Entre estes dois períodos bons do Benfica na sua deslocação de ontem o que mais se viu, na realidade, foi o Varela a trabalhar. E muito bem. Ao ponto de já se dizer que o Benfica era o Varela e mais 10. Depois, quando o Zivkovic foi expulso, passou-se a dizer que o Benfica era o Varela mais 9.
Só lá para o fim de Junho, quando a Selecção Nacional já tiver jogado na Rússia com a Espanha, com Marrocos, e com o Irão, é que veremos validadas por demonstração prática todas as opiniões emitidas e a emitir sobre o potencial do que nos saiu ontem na rifa no Kremlin. São três adversários que metem respeito, parece óbvio. Dos marroquinos temos as piores recordações desde 1986 e dos iranianos não temos recordações nenhumas nestes altos patamares, embora o seu treinador seja um grande especialista em aborrecer os portugueses, ou seja, os seus próprios compatriotas, precisamente nestes altos patamares. Quanto aos espanhóis, contra todas as aparências, são a melhor coisa que nos poderia ter calhado em sorte vinda do Pote 2 porque o seu treinador, um sujeito chamado Julen Lopetegui, é péssimo. E se há idiotas que o contratam, enfim, só pode mesmo ser "para perder", tal como sugeriu há pouco mais de uma semana o presidente do FC Porto num momento de justificada euforia internacional.
No delicioso campeonato do poliglotismo, uma feroz competição exclusivamente destinada a treinadores portugueses, surgiu esta semana – e contra todas as expectativas – um novo e fulgurante líder destacado, destacadíssimo. Trata-se de Ricardo Sá Pinto que a falar francês destronou do topo da tabela, onde se encontravam ‘ex aequo’ e talvez já um pouco acomodados, Vítor Pereira a falar inglês e Jorge Jesus a falar espanhol."

O Marega que foi possível e o Varela que parecia impossível

"- Jornais, televisões e comentadores acertaram, de véspera, nos onzes das duas equipas. Por que razão os treinadores não reservaram qualquer surpresa para este clássico?
Porque as coisas óbvias, às vezes, são as mais acertadas. Não foi difícil perceber que Sérgio Conceição iria recorrer ao que tinha dado bons resultados em jogos de grau de dificuldade elevado e também não era complicado antecipar o 4x3x3 que Rui Vitória estava a ensaiar desde Guimarães. Confirmou-se tudo.

- Mas não faria sentido tentar surpreender com alguma ‘carta’ escondida?
A surpresa não tem de estar necessariamente no onze inicial. Os 90 minutos de um clássico são sempre muito ‘longos’. Há tempo para tudo e até mudar o sistema táctico mais do que uma vez, se for necessário. Como foi o que ontem se viu, por exemplo.

- A entrada forte do Benfica no clássico deveu-se a quê?
À vontade de marcar território e deixar claro desde o primeiro minuto que o principal propósito era vencer. Nesse sentido, o Benfica não especulou. Tentou sempre jogar, ter bola, circulá-la e até, se possível, perto da grande área do FC Porto. Entrou muito bem.

- O FC Porto conseguiu mudar a ‘cara do jogo’ mas demorou muito tempo. Só perto dos 30 minutos conseguiu empurrar o Benfica para os últimos metros. De que forma?
A equipa estava muito passiva no momento da posse do Benfica – dando tempo a Fejsa, Pizzi e Krovinovic para fazerem uma gestão confortável dessa fase. Quando Sérgio Oliveira e Danilo começaram a ‘encostar’ mais rápido no portador da bola, o Benfica passou a cometer erros e percebeu-se que em pouco tempo o controlo iria passar para o lado dos dragões. Inevitável.

- O FC Porto explorou até à exaustão a diagonal longa, entre Jardel e Grimaldo, a procurar a velocidade de Marega. Por que o Benfica não foi capaz de contrariar essa solução?
Isso aconteceu várias vezes, é verdade, mas apenas enquanto o Benfica teve a sua linha defensiva a jogar 30 metros à frente da área de Varela. No momento da recuperação de bola (no corredor central ou no lado direito do ataque das águias), o FC Porto nem precisava de pensar: diagonal longa a pedir a velocidade de Marega. Tinha duas vantagens na perspectiva da equipa de Sérgio Conceição: possibilitava à equipa subir as linhas momentaneamente e era também a única forma de criar alguma instabilidade na estrutura defensiva do Benfica. Foi assim 4,5,6 vezes – até o FC Porto conseguir estabilizar e ficar por cima do clássico.

- Em que momento é que se pode dizer que o FC Porto passou a ser dominador?
Quando Sérgio Conceição decidiu fazer a primeira substituição o FC Porto era, claramente, a equipa que mandava no jogo. Já não era preciso recorrer às diagonais de 30 metros porque Marega fazia agora dupla com Aboubakar no 4x4x2. Com Otávio lançado para o lugar de Sérgio Oliveira, a ideia era acrescentar capacidade para criar desequilíbrios no último terço.

- E esse plano não surtiu efeito porquê?
Porque Rui Vitória respondeu bem e não demorou muito tempo a mexer igualmente no seu meio-campo. Tirou Pizzi, que estava em claro sub-rendimento, e fez entrar Samaris. O grego ficou a jogar praticamente ao lado de Fejsa, com o Benfica, assim, a posicionar-se num 4x2x3x1 quase perfeito. O espaço que o FC Porto pretendia encontrar à entrada da grande área dos encarnados (a partir das soluções criativas de Otávio e Brahimi) foi preenchido por Samaris.

- A entrada de Zivkovic foi um erro de Rui Vitória?
Não. Foi um erro do próprio Zivkovic, que nunca deveria arriscar um corte daqueles tendo já um amarelo. Em teoria, a troca justifica-se. Cervi estava esgotado e Zivkovic poderia oferecer a definição que estava a faltar e também ajudar a conservar a posse de bola.

- A última imagem que fica do jogo é Marega a desperdiçar três flagrantes oportunidades de golo. É um bom retrato daquilo que foi o clássico?
O jogo já era outro quando esses lances aconteceram. O Benfica, com 10 jogadores em campo, já só procurava garantir o empate. O FC Porto ‘traiu’, nesse fase, a sua identidade e passou a utilizar o jogo direto e a bombear bolas . Marega fez o mais difícil, em três ou quatro ocasiões, e nunca conseguiu bater Varela.

- É possível eleger o melhor jogador em campo?
Bruno Varela. Exibição perfeita, sem qualquer erro. Até as defesas mais apertadas (várias!) foram executadas com aparente facilidade. Assombroso!"

Notícias manifestamente exageradas

"Um bom resultado do Benfica no clássico era bom para o Sporting, muito bom para os encarnados e excelente para o campeonato.

Foram manifestamente exageradas as notícias da morte desportiva do Benfica esta época, como ficou demonstrado no passado domingo à noite.
Como são manifestamente precipitadas as notícias que anunciam o FC Porto em baixa de forma apenas porque empatou na Vila das Aves. O FC Porto tem feito um excelente Campeonato, empatou apenas dois jogos, um dos quais é um bom resultado em Alvalade, e é hoje muito mais candidato ao título do que no dia em que a Liga começou.
Acresce que o FC Porto já foi a Braga, Alvalade e Vila do Conde e por isso, uma vitória hoje no clássico deixa Sporting e Benfica em maus lençóis face aos azuis e brancos. O FC Porto segue com aspirações nas provas europeias, na Taça da Liga e na Taça de Portugal e por isso terá que ser credor do maior respeito.
Mas na mente do Benfica, dos seus jogadores e treinadores, apenas poderá estar um resultado positivo no Dragão. A boa exibição face ao V. Setúbal, a melhoria significativa de rendimento da equipa, deixam os adeptos encarnados com uma legítima esperança e ambição. Nos 6-0 do último domingo houve momentos de classe, de inspiração e de excelência. Foi o melhor que tivemos esta época quer a nível individual quer a nível colectivo.
Pena a fabulosa jogada do golo mais fantástico ter sido incorrectamente invalidada, não porque um erro não possa acontecer, mas porque naquela obra prima é um crime lesa futebol. Fiquei muito contente ao ver o regresso de Zivkovic, daquele pé saem magias, aquela qualidade de passe, aquela capacidade a centrar, aquela inteligência de jogo maravilham-me.
Ainda temos algumas lesões e limitações, mas isso não serve de desculpa para não haver um grande Benfica no clássico. No último ano fomos empatar ao dragão sem sete titulares, por isso, as lesões desta época, quase não se notam quando comparadas com as da última temporada. Vai ser um bom jogo, e espero ver um bom Benfica.
Na semana de emocionada e bonita despedida do Imperador, clamamos por um Benfica imperial. Diga-se que o FC Porto vai discordar desportivamente, mas um bom resultado do Benfica, era bom para o Sporting, muito bom para os encarnados e excelente para o campeonato.
Agora é dentro do relvado..."

Sílvio Cervan, in A Bola

Vamos falar de justiça

"Não vale a pena lançar poeira para os olhos sobre o que o STJ decidiu de forma inequívoca e definitiva (sobre processo Maurício do Vale).

Numa semana em que o clássico Porto/Benfica vai prender as atenções de milhares e milhares de amantes do desporto-rei - e com o Sporting muito atento - talvez valha a pena tecer alguns considerandos sobre a recente decisão do Supremo Tribunal de Justiça que confirmou a condenação do emblema de Alvalade a pagar ao ex-funcionário do Clube, Maurício do Vale, avultada indemnização por ter considerado ilícito o despedimento desse mesmo funcionário (despedimento promovido pelo Conselho Directivo em Maio de 2013) depois de cerca de 20 anos de exemplar serviço. Perante mais uma condenação judicial do Sporting, o assunto não teria um interesse de maior, não tivesse sido publicitada a intenção dos responsáveis leoninos em demandar antigos dirigentes, a quem imputam responsabilidades pela condenação acima referenciada. Confrontado com uma tal predisposição, da minha parte houve, desde logo, o cuidado de ler o aresto do nosso mais alto Tribunal, a fim de não incorrer num defeito de que muita gente padece: falar do que não sabe nem conhece. E, nesse sentido, a primeira conclusão a retirar da leitura de tal decisão judicial é a de que o autor dessa acção fez assentar a sua pretensão no facto de ser funcionário do Clube e que o executivo presidido pelo Dr. Bruno de Carvalho decidiu unilateralmente a cessação do vínculo laboral sem que se verificasse justa causa. Serve isto para dizer que o que se encontrava em discussão era, em primeiro lugar, se existia ou não contrato de trabalho à data do despedimento e, em segundo lugar, se tinha existido ou não despedimento sem justa causa. Ora, as três instâncias judiciais (Tribunal de 1.ª instância, Tribunal da Relação e Supremo Tribunal de Justiça) decidiram favoravelmente ao demandante, ou seja, considerando... que a relação contratual vigente entre as partes de 23 de Agosto de 1993 a 23 de Maio de 2013, configurou um verdadeiro e único contrato individual de trabalho, e que o autor Maurício do Vale havia sido despedido sem justa causa. Neste contexto, não vale a pena tergiversar ou lançar poeira para os olhos sobre esta realidade que o STJ decidiu de forma inequívoca e definitiva. E, a este propósito, importa lembrar também, que o caso julgado, na sua globalidade, obriga as partes em litígio e apenas estas, estando assente que o responsável pelo despedimento ilícito foi o Conselho Directivo do Sporting presidido pelo Dr. Bruno de Carvalho. Assim o determinou a Justiça. Para memória futura."

Abrantes Mendes, in A Bola

G15, G18 ou G33?

"Os clubes da primeira Liga portuguesa, com excepção dos 3 grandes, reuniram-se na cidade do Porto, curiosamente na cidade em que está sediada a Liga de clubes, para debater o futebol nacional. No final da reunião, surgiu um desafio aos árbitros para assumirem a paragem que prometeram fazer, nos jogos em que participem os 3 maiores clubes. A justificação foi dada baseando-se no comportamento destes clubes, que têm criado um clima de permanente conflito no futebol nacional. Afirmou-se que era impossível continuar assim, e que os 3 grandes tinham que perceber, de uma vez por todas, que sem as restantes 15 equipas não há campeonato. Afirmou-se igualmente que, em último caso, Governo da República teria de intervir.
Este quadro não é novo, bem pelo contrário, têm décadas. Nos anos 90 participei em muitas reuniões sobre esta matéria, bem como alguns dos dirigentes que estiveram agora presentes. O problema central não são os grandes e os outros. O G15 ou o G18. Importante é perceber que o sucesso da Liga passa pelo equilíbrio competitivo entre os seus intervenientes. O modelo de financiamento da competição bloqueia esse objectivo. Contudo, deu-se destaque ao que realmente tem mediatismo, a arbitragem, quando a centralização dos direitos televisivos foi enviada para um plano de menor destaque.
A criação de uma entidade autónoma para gerir a arbitragem é, com todo o respeito, uma mudança conjuntural. A arbitragem faz parte do jogo e deve estar na estrutura organizativa da competição. Alterar o modelo de financiamento das competições profissionais é a medida estrutural mais importante de ser assumida, para que o futebol profissional tenha condições de sucesso. Caso contrário, continuamos com umas intromissões pontuais na luta habitual.
Na verdade, participem nas competições profissionais 33 clubes/SAD, sendo que cinco desta têm equipas B a competir na 2.ª Liga. Todos com assento na LPFP e a sua AG. A Liga é... o G33!"

José Couceiro, in A Bola

'Homem do Leme'

"Enquanto a noite cai e o sol desce para Monsanto, o romântico apaixonado pelas coisas da bola vai fazendo contas ao Circo de Feras em que se transformou o futebol cá do burgo. A carga está sempre pronta e metida nos Contendores para mandar à Vida Malvada os adversários. Há quem tente ser o Homem do Leme, colocar todas as consciências no mesmo barco e Remar, Remar, cortar a corrente, mas às vezes o mar leva gente. No entanto, há sempre quem ache que O Cerco está montado. Que amanhã é sempre dia 1 de Agosto e portanto tem de estar sempre o fogo posto. O maior drama é que não têm consciência de que a Chuva Dissolvente do seu discurso pode levar a que quem espera pelo Dia de São Receber para poder ir ao futebol um dia deixe de o fazer. No fundo, todos acham que têm na mão a Carta Certa e que a sua demanda em Barcos Gregos vai chegar a bom porto. Ainda não viram à luz. Estão numa Prisão Em Si O Que Foi Não Volta a Ser. A ditadura dos seus pensamentos fica n'Esta Cidade. A Minha Casinha do ludopédio nacional já há muito ultrapassou as fronteiras de um país em que, durante quase cinco décadas, todas as manhãs era Negras Como a Noite e apenas quase só o futebol lhe dava dimensão internacional. Ai Se ele cai, vai-se partir. Mas não partiu. Ficou cá. Mas perduraram os tiques dos que ainda não colocaram a mão em consciência e deram conta que isto anda Sem Eira nem beira. Parece que estamos N'América do faroeste. Estão todos a ver O Mundo ao Contrário e o horror é que muitas das palavras não são mais do que um Perfeito Vazio. Quando os ouvimos ou lemos só nos apetece rezar uma Avé Maria. No final da história tudo é simples. Não é preciso que as equipas dêem Beijinhos aos adversários quando acabam os jogos mas ficava bem darem-lhes os Parabéns. Afinal, lá no início o futebol são só Xutos e Pontapés numa bola. E vai ficar tudo bem, eu sei. Neste povo, talvez ainda haja um amor irracional pela modalidade. Como quem diz: «Mas sempre, para sempre, vou gostar de t. Obrigado, Zé Pedro."

Hugo Forte, in A Bola

Ninguém é o culpado

"Ouvi segredar que está prestes a estrear uma nova ópera bufa: “A culpa é do Ninguém”.
Tendo o negócio galopante como universo paralelo, o enredo rondará a perda do talento, do controlo e o crescimento fortalecido da alienação.
“A inteligência em movimento” enfrentará, sem apoio da emoção, os gigantones de cabeça oca conhecidos pelo nome de “Os Bem Sentados”.
Em forma de jogo, a ópera envolverá um exercício inicial de estratégia comunicacional que dará origem ao desenvolvimento da ação: “scrabble” de ódio e mal dizer.
Depois, as palavras e o canto, a gritaria e os gestos amplos, afirmarão, com ar solene e sério, o não dizer, com falsa inocência, assim como o aprisionamento da humildade e a libertação da majestática hipocrisia com olhos em bico.
A liberdade criativa procurará superar a inveja e tentará descobrir os rumos perdidos, as lógicas submersas, os indícios do absurdo.
Dos estádios as atenções e preferências saltam para palcos sombrios de conceito aberto, tão em voga. Quanto mais se vislumbre menos se vê. Há sempre esconderijos e alçapões… para os mais distraídos.
A contradição, poderosa e com voz firme, lidera solistas com o oportunismo bacoco a marcar os ritmos dissonantes mas compreensíveis.
Por vezes, surgem frases soltas vindas de aléns: “não fui eu… sei quem foi mas não digo… quanto ganho com isso?…”
Espaço sem cobertura, o céu como limite ainda que rasteirinho, permite antever figurantes pequeninos que tentam imitar deuses grandes e horrendos: burlesco!
Após mais um trecho musical mais forte, empolgante, o cínico aparece numa barcaça ou canoa do Tejo (o nevoeiro não permite destrinçar) afogando certezas e pescando inutilidades.
Presidentes (há sempre presidentes em número elevado) e suas cortes de seguidores fervorosos porque dependentes, declamam, com improviso fingido, textos climáticos, de tendência hiper-realista citadina, muito centralista, impessoal e irrevogável. Também imperceptível. Por vezes fica a memória de um sotaque que se quer consolidar como praga ou vírus de gente fina.
Risco a evitar: não ser apanhado pelos caça palavras proibidas. Pode ser dramático…
O primeiro ato termina como começou, num eterno vácuo e, sem paragem, nova performance surge com uma componente metafísica ainda que lúdica: o jogo do arremesso (sejam pedras, calúnias, falsidades, piadas secas e molhadas, salgadinhos, mentiras e manipulações de imagens televisivas). 
Lançada a calúnia, em grupos isolados, segue-se o guião clandestino mas eficaz. Algumas vozes tentam defender a verdade com coragem mas ela fica maltratada quanto baste para não se meter noutra igual… para isso servem as substituições.
O ridículo, impaciente, entra como arte suprema, vaidozito, com orgulho no sucesso empresarial, potenciando um riso em coro crescente, inclusive em sociedades ditas secretas, seja lá o que isso for… é uma moda ou vício e pronto.
No fundo do palco, qual valquíria abandonada, multidões cerram olhos, tapam ouvidos e nem se mexem… quase amibas.
Cativos pela nova onda, que nunca chega a tsunami, disfarçam não viver, mas sempre limpinho, sem sair da dita normalidade de fingidores obrigatórios.
Radiante, a realidade, poética, dança com extrema leveza, em todos os sentidos e acaba envolta num repentino crepúsculo incoerente, para não dizer indecente.
Com jogos de luzes recriam-se paisagens virtuais, idílicas, inacessíveis, que chegam a permitir visualizações de paraísos, até fiscais mas não só.
A assistência é provocada para atirar insultos, grosserias virulentas quanto pior conseguirem e, ao sinal, do Presidente dos presidentes tudo se cala e o silêncio absoluto ensurdece. Respeitinho é muito lindo!
Rir ou sorrir obriga a detenção imediata e acompanhamento para antecâmara lateral, preenchida com espelhos deformadores e talvez alguns VARs.
Abatida, a realidade regressa sem triunfo e, inesperadamente, é atingida por lança certeira impulsionada pela corrupção.
Esta última personagem, até ao momento invisível, dissimulada, assume com frontalidade e imponência um domínio totalitário. Sobe ao palco, posiciona-se no centro, em estrado mais elevado, e submete todos os outros que são obrigados a ficarem prostrados no solo. Por vezes, um ligeiro toque na cabeça de alguns permite-lhes mudar para a posição de joelhos.
Simultaneamente, num descampado irregular, ao lado do teatro, dez crianças, quatro pedras e uma bola muito gasta, jogam uma espécie de entretenimento planetário intemporal, aparentemente sem regras, sem limites mas também sem caos.
Cada um dos grupos (dividem-se em dois grupos mas não se percebe a lógica das escolhas) e procura enviar essa bola por entre as pedras do lado contrário aonde estão as suas… alguém usou o termo balizas e, por incrível, assim ficou para sempre…
Movimentam-se sem parar, sem nexo evidente, tocam a bola uns para os outros e para a frente, fazem gestos nunca vistos nem imaginados e marcam golos, gritam eles, que são festejados com saltos e abraços… estranho, muito estranho, embora belo.
Neste jogo de crianças, a genialidade vence sempre, mesmo que a equipa perca. Chamam-lhe futebol (“pé de bola”) e procuram, por todos os meios possíveis, não o deixar contaminar pelo espectáculo vizinho, o tal da ópera bufa, onde todos são culpados.
Desejo uma brigada de descontaminação ambiental eficiente para que as crianças não percam o sonho e o conservem com a inocência de um tesouro precioso que temos de saber preservar. Quanto aos outros espectáculos, cada um faz as escolhas e as dependências com a culpa que quer.
“De época em época, o futebol é um “eterno retorno” que, nas palavras do filósofo, significa “o mais alto triunfo da vontade contra o tempo.”(apud Gustavo Pires)"

O verdadeiro polvo encarnado, a rap battle de Camané e um muito obrigado dedicado a Marega: "Amigo, vemo-nos em maio" (...)

"Bruno Varela
Enorme. Tanto ele como Marega asseguraram hoje lugar cativo no nosso onze. Perdemos a conta às boas defesas que fez, grandes defesas, decisivas, mas certamente não teríamos perdido a conta aos golos sofridos. Na verdade, não sabemos se foi apenas uma noite brilhante de Bruno Varela ou se ganhámos mais um guarda-redes de eleição. Não é importante. Como diria Kierkegaard, deixem-se de merdas e rumemos serenamente ao penta.

André Almeida
Muito bem a secar Brahimi durante a primeira parte. Entregou-se de forma abnegada às tarefas defensivas. Nem sempre damos por ele mas André Almeida está quase sempre lá, no sítio certo à hora certa, pronto para decidir jogos.

Luisão
Não falhou um único lance na primeira parte. Destaque para um corte tremendo com as costelas aos 36’. Usou e abusou da sua leitura posicional para evitar dar as costas a adversários bastante mais rápidos, que ainda assim tentaram aparecer como se fosse black friday na defesa do Benfica. Feitas as contas, o desconto não compensou.

Jardel
Foi escolhido para desempenhar o papel de central ágil e rápido capaz de acompanhar adversários invulgarmente velozes e possantes. Nos dias que correm isso é um pouco como pôr o Camané numa rap battle, mas a verdade é que não passaram por Jardel os maiores erros da defesa.

Grimaldo
Mal batido em alguns lances que exigiam o habitual charuto dali pra fora. Joga por vezes demasiado bonito para o seu próprio bem, ou da equipa. Foi pelo seu flanco que o FC Porto mais vezes explorou a liberdade nas costas da defesa. Mais vezes ou com mais perigo, escolham vocês. Acabou por dar mais trabalho aos colegas do que ao adversário.

Fejsa
Mais uma notável exibição na defesa dos superiores interesses do clube. Vejam como se comporta, tudo o que faz e o modo como anula as muitas ameaças. Este sim é o verdadeiro polvo encarnado. 

Krovinovic
Se é verdade que ele já foi o Batman do nosso meio-campo, a chegada de Krovinovic fez com que Pizzi fosse despromovido a Robin, mas não um Robin qualquer. Pizzi é hoje aquele meme do Robin que tenta explicar algo quando subitamente leva uma estalada do Batman. Se esquecermos patentes, títulos conquistados e principalmente escolha de penteados, Krovinovic é hoje o mais que natural líder desta equipa e o jogo de hoje foi a confirmação que faltava. Enquanto houve Krovinovic, houve magia, perigo, inteligência e controlo emocional. Sem Krovinovic houve essencialmente Bruno Varela.

Pizzi
Ao intervalo duas dúvidas assaltavam os adeptos: se tinha ou não sido mão na bola de Luisão e se Pizzi se encontrava em campo. A primeira foi esclarecida ao fim de algumas repetições. A segunda foi esclarecida quando Rui Vitória substituiu Pizzi. Para que não restassem dúvidas, o jogador decidiu insultar a equipa técnica. Parecendo que não, foi das acções mais justificáveis de Pizzi na noite de hoje.

Salvio
Deu profundidade ao ataque na direita e conseguiu simultaneamente alinhar numa postura defensiva muito compacta, isto durante meia hora. Depois disso perdeu-se no marasmo de ideias provocado pela pressão do meio-campo portista. Só voltou a encontrar espaço já na flash interview ao citar Mark Twain quando este disse que os rumores da sua morte foram manifestamente exagerados. Poderá também dar-se o caso de que os rumores da nossa ressurreição não se venham a confirmar, mas, mas nada, não há mais nem meio mas, é para ganhar.

Cervi
Foi um dos protagonistas do carrossel inicial de pressão sem bola alternada com transições rápidas. A partir da meia hora de jogo passou a notabilizar-se pela pressão com bola e pelas transições lentas. 

Jonas
Assim assim. Perdeu a oportunidade de bater o recorde de golos em jogos consecutivos no campeonato, pertencente a um senhor chamado Julinho. Complicado quando se remata tão poucas vezes à baliza. Deve estar inconsolável, pelo que não vamos bater mais no ceguinho. Já agora, só um ceguinho para não ver aquele pontapé do Felipe ao Jonas.

Samaris
Rui Vitória não parece satisfeito com o que está a ver e já chamou Samaris” - Repórter Sport TV, aos 62 minutos de jogo, responsável pelo melhor momento de comédia involuntária da noite.

Zivkovic
Até o Felipe se riu da expulsão.

Jiménez
Uma vez contaram-me uma história muito boa de um tipo que foi despedido por um chefe pouco habituado a conversas difíceis. A coisa correu tão mal que o tipo despedido apareceu no dia seguinte para trabalhar, e no dia seguinte, e no dia depois desse, até alguém ganhar coragem e dizer-lhe que não fazia sentido estar ali. Curiosamente o gajo refez a vida dele e hoje trabalha na China, onde é feliz e realizado. Enfim. Não sei porque é que escrevi isto aqui, mas se puder inspirar uma pessoa que seja, já valeu a pena.

Marega
Muito obrigado, amigo. Temos um lugar reservado para ti em Maio.

Aquele tipo no banco do Benfica que pontapeou a bola aos 89 minutos
Não faças isso."

Um Azar do Kralj, in Tribuna Expresso

Uma bela cebolada

"O esforço do presidente da Federação portuguesa de futebol é em prol dos burros

Elá foi na terça-feira Fernando Gomes, o presidente da FPF, todo ele um monumento de circunspeção, bater à porta da Procuradoria-Geral da nossa República praticamente um mês depois de ter ido bater à porta da Assembleia da mesmíssima República onde foi recebido por um simpático conjunto de deputados a quem expôs, compungidamente, alguns factos mais picantes – chamemos-lhes assim – desta enorme e deslustrosa coboiada em que se transformou a autodenominada indústria do futebol português.
O esforço do presidente Gomes nem é sequer em prol da Verdade Desportiva visto que essa, com a introdução do vídeo-árbitro, pode-se considerar já como canonizada. O esforço do presidente da FPF é em prol dos burros tal como são vituperados pelo director de comunicação do Sporting todos os adeptos daquela colectividade – e das outras, também – que se recusam a perceber o que está verdadeiramente em causa no que diz respeito às coisas do futebol na sua relação com a lei geral do país.
No seu périplo em prol da sanidade da indústria, chegou, portanto, Fernando Gomes na passada terça-feira ao gabinete da Procuradora-Geral da República, sito em Lisboa – claro! –, o que é mais uma prova da ‘macrocefalia’ assassina da Capital. Relatou, entretanto, a imprensa que a reunião do presidente da FPF com Joana Marques Vidal não terá demorado muito mais de 45 minutos.
Sabe-se, de fonte seguríssima, que os 45 minutos a que teve direito na PGR, que é o órgão de cúpula do Ministério Público, gastou-os o presidente da FPF da seguinte maneira: 5 minutos para o ataque ao centro de treinos dos árbitros da Maia, 5 minutos para os e-mails, 5 minutos para as denúncias do Porto Canal, 5 minutos para as denúncias da BTV, 5 minutos para as claques legalizadas, 5 minutos paras as claques ilegalizadas, 5 minutos para aquele caso do dirigente do Porto no activo que está a ser investigado por corrupção activa, 5 minutos para as comissões de um jogador japonês tendo os 5 minutos finais sido inteiramente preenchidos na precaução de motins em face de uma iminente decisão do Supremo Tribunal de Justiça que pretende ver um antigo funcionário do Sporting ser ressarcido em 300 mil euros pela entidade patronal em causa.
E muito rapidamente. Como facilmente se depreende foi pouca parra - uns míseros 45 minutos!- para tanta uva. Mas louve- -se a boa-vontade justiceira do presidente da FPF que, como é aceitável, gostaria de levar uma vida mais sossegada dentro dos condicionalismos inerentes à profissão. E louve-se também a paciência do nosso Ministério Público. E também a paciência do país em geral. 

Da beira da glória à beira do precipício
Avoluma-se em densidade o estranho caso de Renato Sanches
Na deslocação do pobre Swansea a Londres, onde se defrontou com o campeão Chelsea, mais pobre ficou, se ainda é possível, a reputação de Renato Sanches. Do internacional português com 20 anos feitos, campeão da Europa e pedra fulcral no tricampeonato do Benfica, se poderá dizer que nem idade tem para ter uma reputação sólida. Mas tem. E não é boa.
Em Stamford Bridge, por volta da meia hora de jogo, recebeu a bola no meio-campo, procurou um colega com quem a trocar e, para espanto da vasta plateia, passou-a direitinha na direcção de um placard de publicidade junto à linha lateral. Ajudando à festa, o atónito Paul Clement, que é o treinador dos galeses, levou a mão à cabeça em sinal de não querer acreditar no que tinha acabado de ver.
As imagens do lance deram a volta ao mundo enquanto o diabo esfregou um olho. Avoluma-se em densidade este estranho caso de Renato Sanches que aos 18 anos esteve à beira da glória e aos 20 parece estar à beira do precipício. O que virá aí?"

Os dias do futuro

"O futebol precisa de aproveitar mais a tecnologia

As novas tecnologias invadiram a nossa vida e embora tenham chegado ao futebol com algum atraso tendem, agora, a assumir papel cada vez mais relevante. No entanto, da mesma forma que é importante sabermos utilizar correctamente nas nossas vidas as ferramentas tecnológicas que temos à disposição, também o futebol terá de saber como deve fazê-lo, estabelecendo limites que protejam o jogo e o espectáculo. É fundamental não hipotecar aquilo que de mais importante contribui para a valorização do produto futebol.
Se por um lado a tecnologia proporciona vivências e experiências que até dispensam a presença no estádio, por outro não será possível ‘vender’ esse produto com bancadas vazias. Conquistar o adepto ou conquistar mais adeptos é objectivo que estará mais perto de ser atingido com a panóplia de ferramentas que facilitam ao clube a aproximação e o contacto com o ‘cliente’.
Assim, é essencial jogar em duas frentes de modo a não comprometer a presença daqueles que estão dispostos a ir ao estádio. Não se trata apenas de conforto mas também de informação do próprio jogo. As decisões da arbitragem estão, obviamente, na linha da frente dessa prioridade.
Não é admissível que quem está no estádio não possa perceber o que se passa nas quatro linhas com o mesmo pormenor daqueles que estão em casa. Este é um passo inevitável. Resta saber se quem ainda não ‘compreendeu’ o VAR estará preparado para outra revolução que não tardará.

Vitória de Setúbal e a urgência de se desviar do precipício
vários anos que muitos preveem um destino fatal para o Vitória de Setúbal, um clube de enormes tradições. A ameaça nunca foi tão séria como agora.
Ainda existe uma fresta por onde o Vitória pode ver um futuro sustentável. É bom que saiba aproveitá-la."

Um muro de Berlim está por derrubar

"Árbitros perdem credibilidade com as sucessivas ameaças

Salvo raras e neste caso desonrosas excepções, para aí 95 por cento (para não pecarmos por excesso...) do insuportável ruído que por estes dias polui o futebol português é produzido a partir do universo próprio de três pontos bem localizados no mapa. Dois ficam junto à Segunda Circular, em Lisboa, o outro à vista da Via de Cintura Interna, no Porto.
O resto, portanto, é uma pequena franja. Decidiram os 15 clubes da Liga que fazem parte desta minoria reunir-se por estes dias e lançar um grito de alerta, feito pela voz autorizada de António Salvador, presidente do Sp. Braga. "É impossível continuar assim.
Os três grandes do futebol português têm de perceber que sem os restantes 15 clubes não há campeonato. Há que acabar com os insultos e com esta pouca vergonha." E atirou até uma ideia, que lança a arbitragem para esta pira: "Se os árbitros falam de paragem, então que tenham coragem de parar nos jogos com os três grandes. São eles que têm feito este ambiente." Concordo em absoluto.
Já por várias vezes os árbitros acenaram com ameaças de greves que acabam por não se cumprir. Era por isso tempo, de uma vez por todas, de mostrarem que estão a falar a sério. Sob risco de ficaram descredibilizados. Ou então que se calem. Sentem-se injustiçados mas têm medo de mexer com poderes instituídos? Se é isso, então ainda pior.
Os muros de Berlim fizeram para separar e desunir. Mas para quem vê o mundo com outros olhos, fizeram-se também para ser derrubados. É tempo de dar a primeira marretada.

Portimonense sem perder há dois meses
Desde que ‘apanhou’ uns valentes 5-2 no Dragão, frente ao FC Porto, o Portimonense não voltou a perder na Liga. E quando foi isso? No dia 22 de Setembro, ou seja, há mais de dois meses. Vítor Oliveira leva a água ao seu moinho, mesmo com parcos recursos.

Abel a deixar marca
Abel Ferreira está a realizar um excelente trabalho no Sp. Braga. O começo foi tremido, mas tem atenuantes, pois a equipa perdera algumas pedras nucleares. Nas últimas oito jornadas da Liga apenas cedeu um empate. Com o Sporting, em Alvalade. Assim se lança um treinador na ribalta.

Há mais Vitórias...
Um duelo entre os dois Vitórias mais tradicionais do futebol português é sempre digno de nota. Sem jogos dos ‘grandes’ neste domingo, olhos postos num duelo com tradições. A seguir com atenção."

Cadomblé do Vata

"1. O melhor FC Porto dos últimos 5 anos treinado pelo novo Mourinho, não conseguiu vencer o pior SL Benfica dos últimos 15 anos treinado pelo "sem processo"... adivinham-se tempos difíceis para a música portuguesa, tantas são as violas que vão começar a ser metidas nos sacos.
2. Confesso que quando Jorge Sousa apitou para o final do jogo, eu respirei de alívio... não pelo resultado, mas porque tenho noção que se o árbitro portuense tem dado mais 1 ou 2 minutos de desconto, também eu levaria porrada do Felipe.
3. Já disse aqui muitas vezes que gosto do Rui Vitória, mas há coisas que não admito e jogar à Setúbal é uma delas... acabar a partida com Fejsa e Samaris no meio e Jardel, Luisão e Marega a centrais devia dar direito a processo disciplinar.
4. O FC Porto queixa-se de um golo mal anulado... na verdade parece-me que têm razão, mas se calhar para afastar todas as dúvidas, é melhor perguntar ao Donato Ramos o que ele acha do fora de jogo nesse lance.
5. Após o falecimento do benfiquista Zé Pedro, impunha-se uma homenagem da equipa ao guitarrista dos Xutos e Pontapés... foi por isso emocionante, ver os nossos jogadores encararem os cânticos de ódio ao Glorioso vindos das bancadas daquele Circo de Feras, em pouco mais do que Gritos Mudos."

Vermelhão: Nulo positivo...

Corruptos 0 - 0 Benfica


Não consegui acompanhar a partida tranquilamente, só vi algumas partes do jogo... portanto, não vou fazer a crónica completa.

Entrámos melhor... no final da 1.ª parte o resultado era justo. Na 2.ª parte jogámos demasiado recuados, os Corruptos parece que tinham a 'amarelinha' no balneário (vamos ver se na Quarta não estão de ressaca!!!) e acabou por valer o Varela e a azelhice do adversário!!! Com as substituições e o habitual jogo 'partido' dos últimos minutos, ainda tive alguma esperança, o Zivkovic com o Setúbal tinha entrado em 'grande'... e voltou-o a fazer, mas acabou expulso em poucos minutos!!!

Quem diria, depois do jogo do Bessa: grande jogo do Varela... Krovi a mostrar qualidade (aquela última oportunidade...!!!), com a bola nos pés, mas também na pressão defensiva o Krovi tem sido muito importante, e fez-nos muita falta na Europa...
Muito se vai falar da arbitragem, e verdade que o Jorge Sousa 'conteve-se' nos muitos e variados pedidos de penalty contra o Benfica (o VAR ajudou...) - faltou coragem ao VAR para marcar um penalty a favor do Benfica (Huguinho), pelo menos um !!! -, é verdade que foi mal assinalado um fora-de-jogo aos Corruptos, que poderia dar um golo (não houve golo anulado, o jogo estava parado, além disso no mesmo lance parece existir uma falta sobre o Grimaldo não assinalada...), mas e critério técnico na marcação das faltas e principalmente o critério disciplinar foi uma coisa horrível: como é que o Zivkovic leva dois amarelos em poucos minutos, e o Felipe termina o jogo em um Amarelo?!!! - aliás o único Amarelo aos Corruptos, foi numa simulação de penalty!!! -, o Felipe que devia ter sido expulso directamente aos 10 minutos... e o Ricardo também!!!
Estou curioso para saber o que vai acontecer aos Corruptos e ao adepto que invadiu o relvado e dirigiu-se ao banco do Benfica!!!

O Campeonato continua em aberto, nada está decidido, temos que ir somando os 3 pontos... o próximo ciclo começa com o Estoril (que parece estar melhor...), depois vamos a Tondela, e recebemos o Sporting... logo a seguir dois jogos fora: Moreirense e Braga! Se o Benfica estiver 'vivo' no final deste ciclo (com a Taças pelo meio), temos tudo para lutar pelo Penta...
É verdade que hoje não deu para ganhar, mas pelo menos provou que a teoria ventilada por quase todos os cumentadeiros, diariamente, que o Benfica não 'joga nada' e os Corruptos são 'quase' candidatos a vencer a Champions, é treta... e até os Lagartos, hoje (devem estar a preparara a 'bombinha' para Barcelona), com uma vitória mijadinha com mais um penalty, contra um Belém fraquinho, demonstram que o Benfica, mesmo abaixo daquilo que fizemos nas últimas épocas, temos tudo para ganhar...