segunda-feira, 21 de agosto de 2017

As maçãs podres

"Se o braço-de-ferro de Bruno de Carvalho com os clubes interessados em William e Adrien inviabilizar as transferências, o Sporting vai ter um grave problema a resolver

No sábado de manhã, Jorge Jesus estava sob uma pressão brutal. A imprensa dizia que o seu lugar estava em risco se não ganhasse nesse dia em Guimarães e depois em Bucareste. E não eram tarefas fáceis.
Ora, o primeiro jogo já foi ganho – e brilhantemente –, esperando-se agora pelo segundo.
A equipa do Sporting emite sinais contraditórios. Tanto se vê em tremendas dificuldades para marcar um golo ao Vitória de Setúbal em Alvalade como marca cinco com a maior facilidade em Guimarães. Tanto parece jogar em esforço, atabalhoadamente, como pratica um futebol com “nota artística”.
Para este “carrossel” também concorrerão responsabilidades próprias. O principal inimigo do Sporting mora em… Alvalade. O presidente Bruno de Carvalho dá mostras de uma gritante imaturidade e a sua conduta errática transmite-se à equipa. O Sporting tem um bom treinador, tem bons jogadores, faltando-lhe apenas a estabilidade emocional que só o presidente pode dar. E não tem dado.
Isso revela-se em todas as áreas. Neste momento, o clube já devia ter resolvido os casos de William Carvalho e Adrien Silva. O primeiro já não joga (e parece que nem treina) e a sua presença em Alvalade só prejudica o ambiente. E o segundo, que gostaria de ter saído há um ano, ainda treina e ainda joga, mas vê-se que tem metade da cabeça no estrangeiro.
Se o braço-de-ferro de Bruno de Carvalho com os clubes interessados em William e Adrien inviabilizar as transferências, o Sporting vai ter um grave problema a resolver. Não encaixará os 55 milhões que eles poderão valer em conjunto e terá no balneário duas maçãs podres.
Não está em causa o valor dos jogadores nem o seu profissionalismo. Mas já se viu que eles querem experimentar outros voos – e, se ficarem, ficam contrariados. Ora, um jogador contrariado, por mais que se empenhe, não rende.
Julgo, aliás, que ambos deviam ter sido vendidos no rescaldo do Europeu – altura em que estavam mais valorizados. A sua continuidade em Alvalade não adiantou nada, como se viu pelo 3.o lugar do Sporting no campeonato. Contrariamente à maioria dos comentadores, penso mesmo que a presença de William e Adrien na equipa da época passada até a prejudicou. Em minha opinião, o grande problema do Sporting não esteve na defesa nem no ataque – esteve no meio-campo. E o meio-campo era formado por William Carvalho e Adrien Silva…
É urgente que o Sporting resolva esta questão, que tende a constituir--se num abcesso infectado. Quanto ao resto, se o clube passar à fase de grupos da Champions, dará um importante passo para fazer uma grande época. Mas para isso acontecer é indispensável que Bruno de Carvalho se torne um factor de estabilidade e não de perturbação. Talvez o castigo de que foi alvo – e que o afastará da equipa – acabe por ser benéfico."


PS: A importância desta crónica, está no facto do autor ser um Jesuíta convicto, amigo intimo... e normalmente ser uma das vias que o treinador Lagarto usa, para falar, sem abrir a boca!!!

'Grandes' que são gigantes em Lilliput

"Lembrar o 'enorme' José Neves de Sousa através de uma imagem que costumava usar e nos remetia para Swift, Gulliver e Lilliput.

As vitórias fáceis de Benfica, Sporting e FC Porto na terceira jornada da Liga tiveram o condão de acentuar bastante a ideia de que o fosso, em Portugal, entre os grandes e os outros, está cada vez mais fundo e mais largo.
Há alguns anos ainda pairou a hipótese de uma aproximação de clubes como o SC Braga e o V. Guimarães aos tradicionais candidatos ao título, mas essa possibilidade tem vindo a esfumar-se. Houve uma janela de oportunidade, em 2014, quando, a páginas tantas, houve uma (nesga) aberta, mas logo se fechou a sete chaves. Falo da possibilidade gorada de um entendimento que visasse encontrar uma fórmula de centralização dos direitos televisivos, a única chance real de serem colocados meios aceitáveis à disposição dos mais modestos, criando assim condições para um maior equilíbrio. Porém essa revolução nunca passou das intenções e cedo se percebeu que continuaria a ser cada um por si, mantendo-se o regime de castas que permite que uns disponham de orçamentos vinte e cinco vezes maiores que os outros. E é pena. Os espectáculos seriam melhores, a intensidade das competições aumentaria e os treinadores teriam de preocupar-se, quando defrontam os grandes, não só com os trinta metros mais perto da sua baliza, mas também com o caminho até ao guarda-redes contrário.
É fácil criticar treinadores que, na prática, quando vão à Luz, a Alvalade ou ao Dragão, apostam no autocarro. Mas que alternativa lhes resta? Chegam lá e em nome do interesse do espectáculo jogam olhos nos olhos? Disparate! Olhem o que seria de Portugal se o Mestre de Avis tivesse jogado de igual para igual com os castelhanos em Aljubarrota! A táctica do quadrado - o autocarro do século XIV- salvou-nos a independência nacional. Bom, dito tudo isto vamos esperar por um campeonato jogado, sem surpresa, a três velocidades: no Moto 3 dez ou onze equipas, que não visa nada mais que a manutenção; no Mot 2, quatro ou cinco, que entram a cheirar a Europa; e no Moto GP os inevitáveis três grandes, confortáveis neste microcosmos lusitano em que são senhores, emprestando jogadores a eito aos restantes, que assumem papéis de vassalos. Mas, infelizmente, não vêem que não passam, na expressão do saudoso Neves de Sousa, de gigantes em Lilliput.


ÁS
Jonas

Três golos ao Belenenses (e o outro, de meio-campo, que não quis entrar...) e uma exibição muito consistente, revelam um Jonas ao melhor nível, longe dos solavancos e das lesões da época passada. Não será exagero, por certo, dizer que Jonas está a somar créditos para ter lugar no olímpo dos avançados da história do Benfica
(...)

O disco mais ouvido no mercado de verão
«Estou a reflectir se devo sair ou não. O clube e os adeptos são incríveis, mas se quero crescer tenho que sair...»
Pierre-Emerick Aubameyang, jogador do Borussia Dortmund
Este mercado de verão fica marcado por um número significativo de jogadores que, apesar de terem vínculos contratuais activos, forçam a barra para poderem mudar de ares. Além de Aubameyang nomes como Diego Costa, Dembelé, Coutinho ou Alexis Sanches têm andado nas bocas do mundo. Não resolverá tudo, mas oxalá o mercado em 2018 encerre a 31 de Julho...

Barcelona
Ontem, em Camp Nou, no jogo com o Bétis, as camisolas dos 'culés' não ostentaram os nomes dos jogadores. Apenas uma palavra, Barcelona, servia de mensagem contra a barbárie, uma fórmula simples mas eficaz que o futebol encontrou para marcar posição. E mais uma vez se viu como, perante causas civilizacionais, as pequenas querelas da rivalidade ficaram para trás, juntando-se todos os emblemas no propósito comum de combater o terrorismo. Momento de dor, mas também de união, propício a uma reflexão sem fronteiras sobre prioridades.

All Blacks de luto, morreu um gigante
Sir Colin Meads jogou pelos All Blacks entre 1954 e 1971 e foi eleito melhor jogador neozelandês de râguebi do século XX. Faleceu no último sábado, aos 81 anos, e foi manchete em todos os jornais. No site dos All Blacks escreveram assim: «Colin Meads está para nós como Babe Ruth para os americanos»."

José Manuel Delgado, in A Bola

PS: Esta sucessão de colunas de opinião, sobre este tema das assimetrias orçamentais no Tugão, tem uma única razão: o Benfica ser Tetracampeão!!!
As diferenças orçamentais no Tugão sempre existiram, sempre... Hoje, todos são profissionais, as condições de treino são boas em praticamente todas as equipas...! Cabazadas sempre existiram e vão continuar a existir... em Portugal, e em todas as outras Ligas europeias... Inclusive na Premier League, onde apesar da centralização dos Direitos Televisivos, os 'grandes' são sempre os mesmos...!!! Já para não falar de outras Ligas com 'fossos' ainda maiores, como em Espanha, em França, na Alemanha ou em Itália... Todas, repito todas, com grandes assimetrias orçamentais...

O facto de na 3.ª jornada do Tugão, os 3 grandes não terem perdido pontos, deve-se essencialmente ao sorteio 'cozinhado' que beneficiou Lagartos e Corruptos: que nestas primeiras quatro jornadas, tiveram 3 brindes descarados... sendo que os Lagartos com os Vitós beneficiaram de uma razia de castigos, lesões e indefinições de plantel; e os Corruptos, no próximo fim-de-semana em Braga vão defrontar um adversário que 72 horas antes terá jogo decisivo de qualificação para a Liga Europa!

Se o Machadês e outros estão preocupados com a competitividade do Tugão, se calhar o principal problema é a competência de alguns treinadores e alguns dirigentes: será que o Tondela que vendeu cara a derrota com os Corruptos tem um orçamento grande?!! Será que o Setúbal, que só perdeu no Alvalixo com muita 'paixão', tem um orçamento parecido com os Lagartos?!! Será que o Chaves, que esteve a segundos de empatar com o Benfica, tem um orçamento igual ao do Benfica?!!!

A centralização dos Direitos Televisivos em Portugal, é uma falsa questão. Portugal não tem dimensão para ter uma Liga competitiva, ponto final. O Benfica, através do seu Presidente já demonstrou abertura para discutir o assunto... Mas alguém acredita que os nossos 'inimigos' (são mesmo inimigos) vão aceitar o facto, provado, que o Benfica vale mais de metade do mercado do Futebol em Portugal?!!!
Isto quando, os Benfiquistas, são impedidos de entrar nos Estádios, com adereços do Benfica, depois de terem comprado bilhetes de forma legítima, que estavam disponíveis para o público em geral?!!!

A solução, a verdadeira solução, em Portugal e nas restantes Ligas, é a 'falada' Liga Europeia, ao estilo americano!!! Mas isso não interessa a alguns...
Já o disse várias vezes, o Benfica, tal como o Ajax, o Olympiakos, os grandes Turcos, entre outros, deveriam estar a fazer lobby activo para a criação desta Super-Liga... só assim, seria possível 'equilibrar' algumas coisas, criando regras claras para a competição (salários e transferências)... e onde os Clubes em competição, teriam todos uma 'base' de adeptos grande (similares entre si), com um potencial de receitas elevadíssimo...

Danos colaterais

"A pressão sobre os grandes está a fazer vítimas. Em 84 anos, é a quarta vez que Benfica, FC Porto e Sporting estão imaculados à terceira jornada

Os grandes entraram na época a fazer jus ao estatuto que os suporta e foi com toda a naturalidade que o FC Porto conseguiu ontem uma vitória robusta e tranquila, dando a resposta esperada às goleadas de Benfica e Sporting, conseguidas na véspera. A superioridade exibida por este trio deixou Manuel Machado a clamar contra as assimetrias do futebol português, esta época ainda mais evidentes no arranque da temporada.
O problema do desequilíbrio de forças havia sido aflorado por Abel Ferreira logo à primeira jornada, após a derrota do Braga na Luz (3-1). Defendeu-se com a diferença de orçamentos, referindo a desproporção de 15 milhões contra 150. A situação deste ano não é diferente das anteriores, existe é sobre os grandes uma pressão incomum.
O Benfica procura um penta inédito, o FC Porto nunca antes esteve quatro épocas seguidas sem ganhar na era Pinto da Costa, o Sporting está em jejum há uma década e meia e o investimento feito por Bruno de Carvalho num projecto comandado por Jorge Jesus, após dois anos a passar ao lado, está no limite da validade. A pressão sobre os grandes é perceptível, audível, quase palpável. E as primeiras respostas estão a ser positivas como poucas vezes o foram. Apesar das assimetrias de sempre, atente-se na estatística: em 84 anos de I Divisão/I Liga esta é apenas a quarta (!) ocasião em que o percurso dos três grandes é imaculado à terceira jornada. É inevitável uma luta tão aguerrida provocar danos colaterais, mas os dos outros campeonatos não têm de se sentir dispensáveis. Bater o pé, fintar o destino é um caminho percorrido há mais de oito décadas."

A falência do negócio-futebol, e o círculo vicioso português

"Clubes portugueses continuam sem olhar, em conjunto, para o produto.

Abel Ferreira atirou para a mesa a diferença de orçamentos quando perdeu na Luz; Manuel Machado previu, depois da derrota no Dragão que, a continuar assim, «o negócio-futebol vai acabar». Há diferenças evidentes (e não começaram agora) nos valores que envolvem os grandes e os outros, que aumentam de forma exponencial quando num dos pratos da balança estão equipas que lutam apenas para não descer, como é o caso da de Moreira de Cónegos.
Os treinadores sentiram-se impotentes perante os dois candidatos ao título, e apontaram para a falta de competitividade que atravessa a Liga. Prefiro ir pela discussão da falta de qualidade na grande maioria das equipas, e da falta de respeito pelo produto.
O discurso é, no entanto, válido e tem antecedentes: a falha de uma negociação colectiva dos direitos televisivos em Portugal, o termo de comparação de uma rica Premier League, capaz de entregar muitos milhões a equipas do fundo da tabela, e a constatação de que os grandes, mesmo com FC Porto e Benfica em fase de contenção, parecem ainda mais longe.
O modelo inglês assenta em cinco parcelas, três comuns a todos os clubes do primeiro escalão: 50% por cento dos direitos TV, transmissões internacionais e base comercial de patrocínios da competição, todas divididas em partes iguais. As outras duas, as de pagamentos de mérito e as de transmissões nacionais (facilities fees), são divididas respectivamente de acordo com a classificação e o número de jogos transmitidos em território britânico. Ou seja, se a base é comum, há factores de diferenciação importantes, que continuam a privilegiar os mais fortes: os resultados e o interesse que os respectivos emblemas suscitam entre a população. Por exemplo, na última época o campeão Chelsea recebeu 164,7 milhões de euros, enquanto o Watford, o último dos que conseguiram a manutenção garantiu 112,2, menos 52,5 milhões.
O sucesso contínuo de uns e menor sucesso de outros levará a que essa diferença eventualmente se mantenha, pouco servindo para a competitividade interna. Claro que poderá sempre aparecer um Leicester de peito-feito, mas não me parece que seja este o modelo que mais potencie campeões-surpresa, ou que os «Foxes» tenham nascido candidatos a partir desta distribuição mais equitativa de receitas.
Os valores dos direitos televisivos dão sim uma força extraordinária aos clubes ingleses mas em comparação com os dos outros países. A competitividade aumenta, mas sobretudo externamente. Entre portas, há sim mais qualidade, e com mais qualidade de intervenientes há um melhor produto. 
A preocupação dos ingleses com o seu produto é evidente. A Premier League nasceu porque os clubes se uniram para criar um melhor modelo que os beneficiasse a todos, e é o que realmente tem acontecido. Não se trata unicamente de um ponto de vista comercial, mas sim cultural. Discute-se o jogo em si, castiga-se quem não o respeita e no imediato, sem grandes demoras. Agora, já se pensa até em limitar o mercado até ao inicio da liga. Sempre o produto em primeiro, porque é este que depois alimenta os clubes.
Por cá, a qualidade parece cada vez menor, a classe média corre o risco de desaparecer a curto prazo. Em três jornadas, as boas notícias trazidas pelo Rio Ave e pelo Estoril e Marítimo a espaços contrastam com a instabilidade vivida em Guimarães e até em Braga, cuja retoma ainda necessita de confirmação.
Os clubes pequenos esperam que Agosto se aproxime do fim para fechar plantéis com os emprestados dos grandes, e deles parecem cada vez mais dependentes. A culpa também é parte deles próprios. No passado, quantos maus negócios fizeram com Benfica, FC Porto e Sporting, a troco de quase nada? Também está nessa subserviência alguma quota-parte do problema. Sem dinheiro agora, não é fácil construir grupos para fazer gracinhas, lutar mais do que a permanência, arriscar um ou outro ponto com os mais fortes. O estrangeiro de escasso talento, a precisar de tempo de adaptação, abunda. Falta, mais uma vez, e primeiro que tudo, qualidade.
O círculo é, como sempre, vicioso. Baixa qualidade gera menos competitividade sim, mas sobretudo um mau produto e menos dinheiro, que não chega para comprar qualidade. Por aí fora.
Enquanto por cá se continua a achar que é o vídeo-árbitro o grande sinal de modernidade e se debate o conceito mais oco que existe, o de verdade desportiva – que nunca será real por muitos penáltis se marquem ou golos se anulem –, outros países deram há muitos anos passos seguros nesse sentido, assumindo a liderança planetária. Alguém duvida de que hoje em dia a Premier seja o campeonato dos campeonatos?
Claro que dificilmente teremos, mesmo quando haja uma verdadeira cultura desportiva e nunca antes, um melhor produto ou um tão rentável quanto o inglês, mas parece evidente que os clubes portugueses precisam de unir-se e trabalhar em conjunto para um bem-maior, um bem comum, que depois os beneficie a todos.
Em Portugal já houve tempo mais que suficiente para se aprender a não pensar tão pequeno.
Porque nos faz pequenos. A todos."

A lição de Inês Henriques que devia chegar a Cristiano Ronaldo

"Nos festejos, [CR7] não resistiu à pulsão narcísica de tirar a camisola e oferecer às câmaras a pose de Action-Man

Faz hoje uma semana que recebemos a notícia duma medalha de ouro nos campeonatos do mundo de atletismo (há dez anos, desde Nelson Évora, que não víamos uma), na marcha, aquela modalidade com qualquer coisa de antinatural pelo modo desarticulado com que os atletas se locomovem. Foi uma prova mista, que abriu a marcha às mulheres na distância de cinquenta quilómetros - até aí só permitida a homens - e exigiu um tempo mínimo comum para participação. Sete mulheres conseguiram-no e marcharam, mas só quatro chegaram ao fim. Inês Henriques cortou a meta à frente dessas quatro e, além da medalha, arrebatou o primeiro recorde mundial. No fim, mostrou a felicidade de quem comete um feito histórico. Mas a sua felicidade primava pela contenção (que não deve ser confundida com modéstia ou humildade) e passava aos jornalistas um discurso grato, onde destacava o seu treinador, um homem que, aos 69 anos, aparecia associado a um grande momento, depois de a ter ajudado a educar o corpo e o espírito para a resistência e para o estoicismo. Por isso, aos 37 anos de idade, Inês Henriques encarava a medalha como uma recompensa do esforço de 25 anos de trabalho, e relativizava o seu feito nas entrevistas: quatro horas a marchar não era nada que se comparasse ao que a mãe fazia todos os dias ao lado do pai, trabalhando mano a mano na venda de carvão e lenha, em Rio Maior.
Horas depois, em Camp Nou, durante o Barcelona-Real Madrid para a supertaça de Espanha, o mais famoso desportista português de todos os tempos marcava um dos muitos fabulosos golos que ornam a sua longa e emérita carreira. Nos festejos, não resistiu à pulsão narcísica de tirar a camisola e oferecer às câmaras a pose de Action-Man. Viu o cartão amarelo, como reza a lei. Dois minutos depois, caiu na área e reclamou um penálti que o arbitro não validou. Em vez disso, mostrou-lhe o segundo amarelo e expulsou-o. Por instantes, o astro perdeu a cabeça e ensaiou um infesto ao juiz de campo, que lhe valeu cinco jogos de suspensão. Ronaldo foi vítima da esparrela mais idiota do futebol: queimar um amarelo a festejar um golo seguido do segundo por pedir um penálti. Num jogador inexperiente, seria só uma burrice. Numa estrela, o estatuto agrava a burrice, até porque, logo a seguir, o sub-21 Asensio marcou também um golo fantástico sem mostrar os abdominais. Ronaldo sente-se permanentemente julgado, injustiçado, como se não consiga ultrapassar o facto de ter ascendido à custa de muito trabalho e abnegação. Para ele, cada golo é uma bofetada em quem o assobia e quem o inveja. Messi, pelo contrário, parece ter nascido no caldeirão dos predestinados. A sua movimentação encarna a realeza genial que dispensa o exibicionismo. Vai ser curioso assistir ao fim da carreira de Ronaldo. A nossa veia provinciana não o tem ajudado. Não é fácil ter o nome num aeroporto. Torço para que a sua saída de cena ainda demore e não lhe ensombre a grandeza. Talvez uma passagem de olhos pelas palavras de Inês Henriques forneça algumas pistas."

Benfica foi avassalador

"Raúl Jiménez entrou muito bem e com dois passes fantásticos esteve nos dois últimos golos.

Entrada muito forte
1. Que entrada forte a do Benfica! Jonas marcou logo aos dois minutos e com isso a equipa da casa serenou e embalou para uma exibição magnífica. Mas não avencemos tão rápido: o Belenenses até conseguiu reagir bem ao primeiro golo de Jonas e teve 15/20 minutos em que deu a sensação de que poderia equilibrar a partida. Mas há momentos que tudo mudam e num lance em que a equipa do Restelo não conseguiu afastar a bola da sua área apareceu Salvio no jogo, tendo marcado o segundo golo, que acabou por ser a chave. Já que acabou aí o equilíbrio que Domingos procurou com o meio-campo tão povoado.

Fragilidades sem perdão
2. Após esse segundo golo do Benfica acentuou-se ainda mais o domínio dos encarnados, que conseguiram sempre colocar a bola nos seus atacantes, que foram tão fortes que se mostraram imparáveis. De um lado viam-se bons movimentos individuais e colectivos, um futebol de vertigem ofensiva, como a equipa de Rui Vitória tanto gosta. E não conseguia responder o Belenenses, que teve muitas falhas e foi na Luz equipa muito frágil em termos defensivos e principalmente sem força para reagir a um Benfica demolidor, que ainda antes do intervalo conseguiu chegar ao terceiro golo.

Mais desnivelado
3. Em vez de melhorar, o cenário ficou ainda mais negro para o Belenenses no segundo tempo, já que não conseguiu chegar à área do Benfica e não só sofreu ainda mais dois ou três golos porque as bolas ficaram nos postes. Se na primeira parte, com Chaby solto na frente, os visitantes não conseguiram chegar à área, esperava-se que isso acontecesse no segundo tempo com Maurides em campo, homem de área, com mais poder de choque. Mas não foi o que se viu... a bola nunca chegou lá à frente e em vez disso viu-se um Benfica ainda mais avassalador.

Jiménez entrou muito bem
4. O que estava desequilibrado, mais desequilibrado ficou com a entrada em campo de Raúl Jiménez, que esteve nos dois últimos tentos com passes fantásticos. E com tudo isto, houve goleada na Luz e uma superioridade que foi evidente dos encarnados, que poderiam até ter construído resultado ainda mais desnivelado. Aquela entrada forte e o segundo golo foram golpes demasiado profundos no Belenenses, que a partir daí ficou perdido, desconcentrado, desorganizado. Enfim, foi tudo demasiado fácil..."

Bruno Ribeiro, in A Bola

Da segurança de Varela à arte de Jonas

"A veia goleadora de Jonas explica a goleada?
Seria uma visão muito redutora da exibição do Benfica, mas é verdade é que foi Jonas quem deu corpo à goleada. O brasileiro leva 10 golos marcados ao Belenenses desde que chegou à Luz e jogando e fazendo jogar ainda teve tempo para o hat trick. Genial. O entendimento que mostra com Seferovic é de equipa grande.

Fez sentido o Belenenses jogar com três centrais?
No papel talvez o esquema tivesse nexo, mas ao levar o golo tão cedo a estratégia caiu por terra. Para além disso o entendimento nunca foi o melhor, continuando a haver muito espaço para o ataque encarnado. O equívoco teve custos graves e o sistema precisa de muito trabalho por parte de Domingos Paciência.

Foi desta que Filipe Augusto agarrou o lugar?
Fez um jogo muito positivo mas é cedo para confirmar essa tendência. O adversário pouco incomodou o médio encarnado, tal a complacência demonstrada pelo miolo belenense. Há muitos momentos o brasileiro parece ainda meio peixe fora de água. Mas aproveitou a oportunidade de ontem.

Varela não provou que pode ser titular do Benfica?
O jovem guarda-redes tenta prová-lo semana a semana. Mas continua a falar-se de mercado. Rui Patrício está hoje onde está porque Paulo Bento teve coragem. Varela precisa de sorte, talento, confiança... e de Rui Vitória. Ontem fez mais um bom jogo."

Não temos medo

"Vamos todos a Barcelona. Iremos às Ramblas. Com o meu neto Alexandre Maria com a camisola do Benfica.

1. (...)

2. (...)

3. Para a semana é a semana de muitas decisões no futebol europeu. E o arranque das derradeiras contratações com números que impressionam a cada dia que passa. Números do outro mundo. Ficam decididos, em definitivo, os clubes - em rigor as marcas! - que marcarão presença na fase de grupos da Liga dos Campeões e da Liga Europa. A primeira bem determinante financeiramente e bem motivante sob o ponto de vista da exposição desportiva. A segunda conquistando em razão dos relevantes emblemas que lá chegam uma bem interessante atractividade. Mas só a primeira dá milhões. A segunda proporciona receitas tão só que estimulantes. Como Sporting, Braga e Marítimo bem sabem. A Liga dos Campeões é a ambicionada e desejada. A Liga Europa é procurada pelos médios clubes da Europa e considerada como mal menor por referências europeias. O meio termo é, em certas situações, a conformação desportiva ou, em outro prisma, o estímulo interno. Com a consciência que nesta época desportiva ser primeiro em Portugal é bem importante em razão da futura participação nas competições europeias. Já que, de verdade, se inicia um novo ciclo na nossa participação europeia! Ou seja o refúgio interno pode ser, nesta época, uma justificação que gera uma acrescida e diferente motivação. É que no final desta época só o nosso primeiro tem acesso directo à Liga dos Campeões! Com o VAR bem explicado a alguns...

4. Vi o Benfica ontem na companhia do Rodrigo. Um jovem benfiquista que vive, com paixão, o seu clube do coração. Joga nas escolas do Benfica. Admira o Pizzi. Envergava, aliás, uma camisola deste maestro deste Benfica. Acredito que o nosso Pizzi lhe irá assinar uma camisola. Bem merece. É também este compromisso entre um jogador de referência - e de excelência - e um jovem adepto que ajuda a fortificar o ADN deste Benfica. O colinho dos adeptos de todas as idades e de todas as origens. E ele, o Rodrigo, dirá com o sorriso maroto que evidenciou quando o Jonas fez aquele extraordinário chapéu, que já está! E, assim, assim mesmo, recordo, com um prazer imenso, aqueles momentos deliciosos do relato da Antena 1 na final de Paris. Já está mesmo! Com a vitoria de ontem na Luz são três jogos e três vitórias. Tal como Sporting e Rio Ave. E, agora, é a deslocação a Vila do Conde. Com a certeza que, à hora desse jogo, o nosso Rodrigo envergará uma vez mais a camisola do seu ídolo. Espero eu com uma já assinada e com uma dedicatória bem especial.

5. Não temos medo! Não temos mesmo medo!"

Fernando Seara, in A Bola