segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Ver o desporto como uma lição de vida

"Bolt e Farah mostraram-nos como na natureza nada se cria e tudo se transforma. E haverá alguém que acuda ao desporto português?

O último sábado foi um dia fantástico para quem busca lições de vida no desporto. Dois atletas extraordinários, que dominaram o panorama internacional durante muitos anos e alcançaram números de perfomance e de títulos estratosféricos, acabaram as carreiras a ser confrontados com sua própria falibilidade, numa lição preciosa de que há que tirar conclusões.
Usain Bolt, o homem mais rápido da história, despediu-se das pistas ultrapassado na competição - foi terceiro nos 100 metros dos Mundiais -  e na condição física - lesionou-se na final dos 4x100 - revelando que, apesar de ter passado tantos e tantos anos com a capa do Super-Homem vestida, acabou vergado ao poder da kryptonite do tempo.
O mesmo, mutantis mutandis, aconteceu a Mo Farah, o inglês nascido na Somália que foi rei e senhor do fundo nos últimos sete anos e que não conseguiu o ouro desejado na derradeira corrida de pista da sua carreira.
Na derrota de Usain Bolt e Mo Farah, campeões para a eternidade, concluiu-se pela perenidade do sucesso no desporto e abrem-se portas à inexorável lei da vida em que nada se cria e tudo se transforma. Mas estes Mundiais de atletismo (soberba transmissão do Eurosport, a ombrear em qualidade com aquela que foi vista no Tour de France) também nos permitiram um contacto directo com a dura realidade do atletismo português, que vai vendendo os anéis para salvar os dedos, através do génio de Nélson Évora (33 anos) e da conjuntura que permitiu o ouro a Inês Henriques (37 anos). Enquanto não houver um trabalho de base consequente, sério e empenhado, com os apoios necessários dos Governos, não passaremos desta cepa torta em que a falta de competitividade (já não falo de medalhas...) é confrangedora.
Ontem, neste jornal, Vítor Serpa traçou um quadro negro do desporto português para além do futebol. Gostaria muito de poder contradizê-lo, mas apenas consigo louvar-lhe a lucidez com que fez o diagnóstico e a coragem para colocá-lo preto no branco.
A realidade mostra-nos um Governo que nada faz de relevante para inverter a situação (na linha dos que o precederam...) e e um conformismo das Federações, que convivem bem com a mediocridade em que nuns casos já estamos e noutros para onde caminhamos.

ÁS
Inês Henriques
Campeã do mundo com vista para Buckingham Palace, a atleta de Rio Maior, teve o mérito da persistência e a fortuna de estar no sítio certo à hora certa, mostrando ser a mais preparada do planeta para acolher os 50 Km marcha no circuito oficial da IAAF. Cereja no topo do bolo: fez o único recorde mundial de Londres-2017.
(...)

DUQUE
Abel Ferreira
Está no início de uma prometedora carreira de treinador de top e deve ser mais criterioso nas guerras que assume. Há polémicas que nada lhe adiantam e apenas podem ter o condão de lhe desfocarem os objectivos, criando-lhe uma imagem de alguém que fala mais do que diz. Este deve ser um tempo de reflexão.

Leonardo Jardim 'obrigado' a inventar soluções
«Se Mbappé não começou o jogo (em Dijón, para a Ligue 1) foi por decisão do clube. Correu-nos bem e aproveitei para ver outros jogadores»
Leonardo Jardim, treinador do Mónaco
Sim, é verdade que os cofres do Mónaco estão a abarrotar. Mas não é menos verdade que o campeão em título está a ser confrontado com a necessidade de reinventar-se, com a Champions à porta. Mbappé, tudo indica, vai mudar-se para Paris (180 milhões!!!) e é Leonardo Jardim quem tem de inventar soluções. Ontem, em Dijon, correu-lhe bem. Mas é vida ingrata...

Neymar não desiludiu
A estreia de Neymar Júnior com a camisola do PSG foi o principal destaque de um dia de futebol que também teve (além do que por cá se passou) um superclássico em Espanha, uma vitória da Lazio frente à Juventus na final da Supertaça italiana e um Manchester United de veia goleadora a brilhar na Premier League. Mas Neymar, um golo a uma assistência no triunfo fora de portas sobre o Guingampo, foi a estrela mais cintilante e justificou, senão o preço pago pelo seu passe, pelo menos a aposta do emblema parisiense e do dinheiro que o sustenta.

Marlins: Mil e duzentos milhões de dólares
Derek Jeter, 43 anos, ex-jogador dos New York Yankees, onde jogou durante duas décadas, sendo um dos ícones do basebol norte-americano, lidera um grupo de investidores que acabou de comprar os Miami Marlins por 1200 milhões de dólares. A indústria do desporto nos Stades continua de vento em pompa..."

José Manuel Delgado, in A Bola

VAR, Vigago e Chaves

"O Benfica ganhou as duas finais com o VAR. E são 12 troféus em 16 possíveis. É obra! Com e sem VAR!

1. Na sexta feira passada o Sporting ganhou, com um golo nem solitário, a um Vitória de Setúbal bem organizado por José Couceiro e pressiona, desde já, FC Porto e Benfica que jogam hoje e amanhã. Ambos jogam fora, em Tondela e em Chaves, e sabem que esta Liga vai ser bem renhida. Importa não desperdiçar pontos neste mês de Agosto. Importa que todos arranquem bem fortes, acreditando que, dentro dos relvados e fora deles, vai valer tudo nesta Liga em que só o campeão terá acesso directo à Liga dos Campeões. E já na próxima terça deita o Sporting começa a disputar um importante lugar na fase de grupos na Liga milionária frente ao Steua de Bucareste. Não vai ser uma eliminatória fácil e importa que todo o universo sportinguista assuma, na linha de Marco Cícero, que «quantos maiores são as dificuldades a vencer, maior será a satisfação». Como se constatou, aliás, na alegria sentida e vivida em Alvalade quando Bruno Paixão apitou pela última vez na quente noite da passada sexta feira.

2. O videoárbitro aí está. Desde a final da Taça de Portugal que temos, entre nós, com reconhecimento oficial, o denominado VAR. E nas duas finais em que foi utilizado - também na Supertaça - o Benfica conquistou mais dois troféus, que se traduzem em doze conquistas em dezasseis títulos possíveis. É obra! Com e sem VAR! Já vimos, na primeira jornada, o VAR em pleno funcionamento ao assumir no Dragão um golo favorável ao FC Porto. O VAR vai ajudar em certas situações complexas de jogo. Mas o VAR também vai suscitar polémicas, bem necessárias - digo-o - para a paixão do futebol. Importa não eliminar determinadas polémicas. Importa que os jogos continuem para lá dos já quase que habituais noventa e três minutos. Importa que as diferenças gerações e as necessárias classes e cores que alimentam esta crescente globalização do futebol não sintam diminuir as controvérsias, subordinadas à luz de uma excessiva computarização do futebol jogado. Até para que algum futebol falado continue, nas suas diferentes matizes, a suscitar outras polémicas, alguns azedumes pessoais e certas e legítimas intromissões judiciais e disciplinares. Sabendo nós que «tudo o que não é paixão tem um fundo de aborrecimento»! Mas, e para além da paixão, importa que todas as regras do VAR sejam conhecidas. Acredito que por ora ainda só estarão definidas em língua inglesa. A língua mãe afinal da FIFA e da UEFA. Mas importaria que o manual do VAR fosse divulgado. O VAR não pode ser como que a pioneira e dolorosa resolução do BES - com os milhares de lesados - nem pode ser o milagroso SIRESP que falha nas situações de urgência. O VAR tem de ser equilibrado e equitativo. Importa conhecer as suas regras condições, meios e formas de utilização. E, ainda, os procedimentos e mecanismos efectivos de articulação entre o árbitro principal e o videoárbitro. Sabendo, como se constata nesta jornada, que há árbitros que apitam um jogo e no dia seguinte são videoárbitros em outro encontro da mesma Liga. Trabalho duplo. Com lógico reforço de poder! Acredito que esta Liga, a Liga da implementação do VAR em Portugal, também vai ser a Liga do aperfeiçoamento deste inovador sistema. E o relevante esforço federativo - que se saúda e se aplaude vivamente - bem merece que o VAR corra bem. Com disfuncionalidades é certo. Com algumas redundâncias e inequívoco. Com determinados erros e indiscutível. Mas com a consciência que é um pequeno-grande passo para um tempo de maior credibilidade no futebol verdadeiramente jogado nos relvados de Portugal. E a divulgação pública pelo Conselho de Arbitragem da FPF da forma como decidiu o VAR em alguns lances controversos da primeira jornada é um sinal bem positivo. Como a identificação de alguns aspectos fudnamentais do funcionamento do VAR. O VAR aí está. Acredito que para ficar. Com as suas regras e métodos a serem conhecidos por todos. Por todos aqueles que gostam de saber com o que contam! Já que como escreveu Friedrich Nietzsche, «os métodos são as verdadeiras riquezas»!

3. (...)

4. O Benfica joga amanhã em Chaves. Com o estádio esgotado. Há um restaurante, o Carvalho, que comemora as bodas de prata e que é de louvar e de recomendar. Fazendo-nos sentir, sempre, em casa. «Esta casa é sua casa»! Mas também ali bem perto, em plena estrada nacional (EN2), em Vidago, um outro, o Resineiro, merece uma visita. Pela história de vida e pela história de uma Família que merece ser oralmente conhecida. Pela gastronomia tradicional que, com esmero, proporciona ao visitante. E por nos (vos) levar a conhecer, pela escrita doce de Floripo Virgílio Salvador, as Memórias de Vidago. E, depois, só depois, uma visita ao maravilhoso, bem reabilitado e requintado Palace Hotel. É um verdadeiro retorno a um tempo de infância, a umas Termas famosas, a Trás-os-Montes, aos seus lugares de referência, às suas gentes hospitaleiras, às suas emblemáticas famílias, aos emigrantes que, amanhã, vão encher, com uma nova bancada, um Estádio que bem merece sempre futebol de primeira. Pela paixão dos seus dedicados dirigentes e pela devoção dos seus empenhados adeptos. E ali, são verdadeiras as palavras de Miguel de Unamuno: «Quem não sente a ânsia de ser mais não chegará a ser nada»!"

Fernando Seara, in A Bola

Roubo - parte II

Benfica B 2 - 2 Nacional


Isto está a ser um pouco repetitivo!!! Duas jornadas, dois Roubos!!! Inacreditável...
Toda a arbitragem foi má... a quantidade de faltas ofensivas marcadas ao Benfica, sempre que nos aproximávamos da área do Nacional, não foi inocente... e depois: Ferro sofre uma falta violenta, nada é marcado, fica na relva, a jogada persegue, e acaba por ser o Ferro (deitado com dores...) a colocar em jogo os avançados do Nacional... que fizeram o 1-2! O Ferro é substituído... e pouco depois, não satisfeito com o que tinha acontecido, o árbitro, inventa um penalty contra o Benfica!!! Com o Zoblin a defender à primeira e depois com alguma sorte nos ressaltos, o Nacional não marca... Pouco depois, conseguimos chegar ao empate...

Depois de todas estas incidências, não é fácil falar de futebol, e analisar a evolução dos miúdos... Neste momento a nossa equipa B, é inferior à do ano passado... Temos muitos lesionados (o Félix faz a diferença...), contratámos vários jogadores, e neste momento só o Alan e o Alex Pinto estão integrados na equipa... Existe muito potencial para evoluir... Mas a continuarem este tipo de arbitragens, não vai ser fácil garantir a manutenção!!!

Uma nota para o Nacional, com alguns jogadores com experiência de 1.ª Divisão, mas mesmo assim jogaram muito pouco, deram a bola ao Benfica, e tentaram a velocidade no 'contra'... com o Costinha ainda arriscam-se a 'descer', até porque não vão ter arbitragens destas todas as semanas...

PS: No último dia dos Mundiais de Atletismo, o destaque vai todo para a Inês Henriques que se sagrou Campeã do Mundo, com Recorde do Mundo, na estreia dos 50 Km Marcha, nos grandes Campeonatos... Não sendo atleta do Benfica, merece o reconhecimento, são muito poucos os portugueses que se sagraram Campeões do Mundo de Atletismo!
O nosso Pedro Isidro, não teve um dia fácil, terminou em 32.ª lugar, nos 50 Km Marcha, com uma marca bastante abaixo daquilo que eles já fez...

O zumbido vitorioso do moscardo...

"Em 1941, Francisco Inácio bateu Faísca e revoltou-se contra a aborrecida burocracia dos favoritos da Volta a Portugal.

Dizem que trazia atrás de si um zumbido da fúria com que ia dando aos pedais.
Francisco Inácio.
Não parece nome de ciclista, mas é.
Nelson Rodrigues também dizia que Coutinho, esse mesmo, parceiro de Pelé no Santos, não tinha nome de jogador de futebol. Querem ver?
«Lembro-me que ao ouvir falar em Coutinho, pela primeira vez, tomei um susto. Comentei, então, de mim para mim: ‘Coutinho não é nome de jogador de futebol!’. De facto, o nome influi muito para o êxito ou para o infortúnio. Napoleão, se tivesse outro nome, já seria muito menos napoleónico. Outro exemplo: por que é que Domingos da Guia foi o que foi? Porque esse ‘da Guia’ dava-lhe um halo de fidalgo espanhol, italiano, sei lá. Ainda hoje, o sujeito treme quando ouve falar em ‘da Guia’. Mas o Coutinho tem contra si o nome. O sujeito que se chama apenas Coutinho dá logo a ideia de pai de família, de Aldeia Campista, Vila Isabel, Engenho Novo, com oito filhos nas costas e a simpatia pungente de um barnabé».
Francisco Inácio tinha contra si o nome. Era mais como se fosse funcionário público de sair às cinco e meia da tarde com o jornal debaixo do braço para ler no autocarro.
Mais ainda: no ano de 1941, que é o ano sobre o qual quero falar, Francisco Inácio tinha contra si o Faísca.
José Albuquerque. Ora diacho! Mais um sem nome de ciclista. Mas tinha a alcunha: Faísca! Com ponto de exclamação. Um Faísca pode muito bem somar duas vitórias na Volta a Portugal que ninguém se espanta. E pode até ter sido atropelado, como foi, isso já no Sporting, depois de ter corrido pelo Campo d’Ourique.
Faísca foi o vencedor em 1940.
Ganhara também em 1938.
Em 1941, era o grande favorito.
Íamos para a última etapa e Francisco Inácio zumbia na frente. Mais de dois mil quilómetros de esforço bruto, sanguíneo. Pouco importa o nome ao fim de mais de dois mil quilómetros e, de um momento para o outro, só faltavam setenta e cinco.
Ponte de Lima: o Faísca prepara a fuga. Assim, de mansinho, fósforo riscando a lixa, de repente chama brusca.
Joaquim Manique tem um furo.
Manique é nome de ciclista. Com intendência e o resto.
João Lourenço era rodeado em Santa Marta de Tortozendo pelo Rancho das Lavradeiras. Vencera a etapa, mas o metódico Inácio continuava na frente da classificação na véspera do fim.
Descia em vertigens de velocidade. Correndo os riscos das ladeiras, dos precipícios. Corajoso, também, sem o modo funcionário de viver de que falava O’Neill, ele que, para mim, tinha nome de funcionário público com ordem da mulher para só fumar à janela, longe da sogra.
Ninguém vira nele um vencedor.
Às vezes, os vencedores passam-nos injustamente despercebidos mesmo que ainda não tenham sido vencedores e só venham a sê-lo um pouco mais para diante. Vencedor é um nome, também. Francisco Inácio devia poder exibi-lo no Bilhete de Identidade.
Faltava apenas a etapa.
Decisiva. Plena.
Francisco Inácio, José Martins, Aniceto Bruno, José Albuquerque, João Lourenço, Aristides, Trindade, Rebelo, Baltazar e Francisco Duarte. era assim que se dispunham na classificação.
O Faísca falhara a fuga.
Perdia-se pelo meio dos outros.
Como Trindade, Alfredo Trindade, o grande Trindade, agora já no Belenenses.
Os anos tinham atropelado Trindade tal como o automóvel desgovernado atropelara Faísca no ano anterior.
Azarado Faísca: dois furos na 18ª etapa, junto a Mirandela, tinham-no feito tombar cinco minutos.
É como quem tomba de um terceiro andar.
Viana do Castelo-Porto: os setenta e cinco quilómetros da vida de Francisco Inácio.
Dezassete etapas de amarelo até aos braços erguidos do Estádio do Lima.
João Lourenço surge fantástico, brilhante. É o primeiro. Fora o primeiro no da Póvoa do Varzim e o primeiro em Viana do Castelo. Conquistou dez etapas dessa Volta de 1941.
Entra no Lima sob a ovação popular, espontânea.
Um grupo coeso na sua peugada. José Albuquerque, o Faísca, sabe que o seu sonho da terceira Volta se quedará pelo quarto lugar. A tarde é de Francisco Inácio.
É um homem de desassombros, diziam dele.
Podia não ter nome de ciclista nem de jogador de futebol, mas levava apelido vitorioso de estradista revoltado contra a burocracia dos favoritos.
Nas bancadas, os espectadores ouviam-no zumbir como um moscardo de Rimsky Korsakov."