terça-feira, 27 de junho de 2017

Breve história de uma morte anuciada


"Portugal disputa, nestes últimas quinze dias de Junho (se tudo correr bem) uma prova em que é estreante e parece condenada ao desaparecimento: a Taça das Confederações. Responsabilidade acrescida: é campeão da Europa e a Alemanha apresenta-se com uma espécie de equipa B...

Esta edição da Taça das Confederações é a oitava organizada sob a égide da FIFA e, muito provavelmente, a última a que poderemos assistir. O novo calendário internacional que se perfila no horizonte para as selecções deixará de ter espaço para uma prova que, vendo bem, nunca caiu muito no goto das federações nacionais.
Orgulhosa dos seus galões de campeã da Europa, a selecção nacional, que um dia Ricardo Ornellas, um dos mestres do jornalismo, apelidou de Equipa-de-Todos-Nós, vê nesta sua primeira presença na prova a possibilidade da conquista de um troféu que ficaria a matar nas vitrinas da sede da federação, lado a lado com a Taça Henry Delaunay, triunfalmente ganha em Paris, Saint-Denis, na cara dos chauvinistas franceses.
Como durante esta semana e até à saída deste seu jornal teremos vários jogos que não conseguimos reportar antes do fecho, fiquemo-nos hoje pelo um breve historial desta competição.
Foi em 1992 que a Federação da Arábia Saudita teve a interessante ideia de realizar uma competição envolvendo os vencedores da Copa América, da Taça das Nações Africanas, da Taça da Ásia e da Copa de Ouro da CONCACAF. Meias-finais, final e jogo para os terceiros e quartos lugares, tudo em três dias de Outubro, meio à pressa por vicissitudes mais do que compreensíveis, com vitória dos argentinos sobre os sauditas no jogo decisivo de Riade (3-1).
O primeiro passo estava dado.
Três anos mais tarde, em 1995, nova dose. Também na Arábia Saudita. Chamava-se, na altura, Campeonato Intercontinental. Sendo o Japão campeão asiático, acrescentou-se a equipa do país organizador, como não poderia deixar de ser. Seis participantes, já em dois grupos iniciais para apurar os semi-finalistas. Vencedor: Dinamarca, na final contra a Argentina (2-0).
Tudo piava, a partir de agora, mais fino.
Em 1997, já estávamos, muito mais prosaicamente, perante a Taça das Confederações.
Com edição agendada de dois em dois anos. Entravam na liça o campeão do mundo (Brasil, no caso), o campeão da Oceânia (Austrália) e o finalista da Taça da Ásia, os Emiratos Árabes Unidos, já que a Arábia Saudita voltava a apresentar-se como país organizador. O campeão europeu, a Alemanha, declinou a presença, chegando-se à frente o finalista do Euro-96, a República Checa. Atingia-se o número ideal de oito, divisível por dois grupos de quatro, tal como acontece actualmente.
Vitória brasileira sobre os australianos 6-0!

Tempos modernos
A edição de 1999 teve lugar no México. A França, campeão do mundo em 1998, decidiu não participar. A prova disputou-se no início de Agosto, embora estivesse agendada para Janeiro.
O México venceu o Brasil e, dois anos depois, já se encontrava estabelecido que a Taça das Confederações serviria para para  teste das fases finais dos Campeonatos do Mundo.
Como co-organizadores do Mundial de 2002, Coreia do Sul e Japão receberam a edição de 2001. E participaram nela, como está bem de ver. Com o campeão do mundo e da Europa confundidos na mesma selecção, a França (1998 e 2000), o México teve direito a entrar como titular.
Ao título mundial e europeu, somou o título confederativo, batendo o Japão por 1-0.
Dois anos mais tarde, em 2003, seria a própria França a receber o torneio.
Ganhou outra vez.
Aos Campeões que, na meia-final, tinham visto o seu jogador. Marc-Viven Foé colapsar em campo inanimado ao minuto 71. Seguiu-se a morte.
A partir de 2005, a FIFA estabeleceu que a Taça das Confederações só se disputaria nos anos anteriores às fases finais dos Campeões do Mundo.
E, mantendo o principio de que o grande objectivo era o de servir de teste aos Mundiais, sempre no país que, no ano seguinte, organizasse a prova.
A nova era teria, assim, início na Alemanha.
Seguir-se-iam a África do Sul, o Brasil e a Rússia.
O Brasil conquistaria todas as Taças das Confederações a partir daí, embora tenha ficado de fora da deste ano.
4-1 à Argentina, em Frankfurt; 3-2 aos Estados Unidos, em Joanesburgo;3-0 à Espanha. Mas fala-se à boca cheia pelos corredores que a Taça das Confederações não tem futuro.
Ou melhor, que o futuro dela é já agora. Na Rússia, de onde daremos notícias..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Chegou, traduziu e venceu

"A história do homem que ajudou um bom treinador a bem treinar.

John Mortimore chegou ao Benfica no verão de 1976. Depois de Mário Wilson, coube ao treinador inglês orientar a equipa de futebol 'encarnada'. Aterrou em Lisboa às 16 horas e 45 minutos do dia 25 de Julho de 1976. Era domingo. No dia seguinte, após assinar o contrato com o Sport Lisboa e Benfica, deitou mãos à obra e treinou a equipa pela primeira vez.
A prova de fogo chegaria cerca de um mês e meio depois, com o início do Campeonato Nacional, e Mortimore falhou. O Benfica perdeu por 3-0 frente ao Sporting. Rapidamente se começou a duvidar das competências do novo treinador. Mas eis que surgiu outra questão: o idioma. Seria a diferença de idioma que estaria a impedir os bons resultados?
Seguiram-se mais quatro jornadas. Os resultados continuaram a não agradar e Romão Martins, secretário para o Futebol Profissional, comunicou: 'Tenho em mente propor a contratação de um intérprete, só intérprete, enquanto Mortimore não entenda e não se faça entender no idioma português'. Assim o fez e, daí para a frente, tudo mudou.
João Anselmo, major de cavalaria na reserva, 'sócio dos antigos do clube' e já com alguma experiência como intérprete, foi o escolhido para o cargo. 'O dr. Borges Coutinho chamou-me. Recebeu-me (...) e esteve meia hora a falar comigo em inglês. (...) Fiquei'.
Na 6.ª jornada, já com o auxílio do novo intérprete, o Benfica venceu por 2-1 o Boavista. Na jornada seguinte, nova vitória. Depressa João Anselmo se tornou um 'jogador' importante na equipa 'encarnada'. As suas funções, o próprio explica: 'Faço as traduções entre o sr. Mortimore e os jogadores, (...) o massagista, (...) e o roupeiro. Depois acompanho-o no treino. (...) Ele corre, eu corro ao lado dele e tudo o que ele vai dizendo em inglês eu vou repetindo em português'. E, orgulhoso, afirma: 'Nunca perdi (um jogo) e «só conto» com três empates'. E Mortimore reconhece: 'ele foi uma grande ajuda'!
Apesar de um início de época algo hesitante, com o auxílio de João Anselmo, John Mortimore fechou a época em grande: conquistou o título de campeão nacional 1976/77, a três jornadas do fim, e deu o quinto 'tri' ao Benfica. O troféu pode ser visto no Museu Benfica - Cosme Damião, na área 6 - Campeões Sempre."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

Somos Tricampeões!

"Quando João Rodrigues se deixou cair no solo do rinque do pavilhão de Odivelas a festejar, todos nos festejámos com ele. Afinal faltavam 23 segundos para o fim do jogo com o Sporting CP e a recuperação estava consumada. Foi o 6 a 5 que nos deu o Tricampeonato nacional de hóquei em patins, o culminar da longa e dura época 2016/17. Já quase ninguém acreditava que era possível, mas foi. A vitória no derby foi o que faltava para se soltar a festa transmitida em directo pela TVI24 para todo o país. Os jogadores patinaram de braços no ar a festejar e eu, em casa, corri para a televisão a gritar 'ganhámos, ganhámos!'. Abracei a minha mulher, portista (cada um tem a sua cruz...), e ela sorriu com a minha felicidade, porque também ela preza a verdade desportiva.
E depois, a vergonha, o roubo, a falsidade, as imagens de marca da arbitragem portuguesa no hóquei em patins e o reflexo de uma estrutura federativa que tudo fez para que o SL Benfica não chegasse ao Tri. Não era possível o que se estava a passar naqueles últimos segundos. De braço no ar, dois adeptos do Sporting CP e FC Porto travestidos de árbitros anularam o golo limpo do campeão nacional. Não tiveram dúvidas, eles que durante toda a temporada fizeram o que estava o seu alcance para aproximar as suas equipas do coração do topo da classificação. Aquilo que os jogadores rivais não fizeram em campo, conseguiram esses dois elementos com a ajuda de um apito e de uma falta de vergonha sem igual no desporto nacional.
Minto, este modus operandi já tinha sido observado nos campos de futebol portugueses nas décadas de 1980 e 1990. Só mudaram as moscas. Estão muito enganados se pensam que vão sair impunes. Para o ano, que venha o Tetra."

Ricardo Santos, in O Benfica

Miserável

"É costume ler-se e ouvir-se que 'não há palavras' nas mais diversas situações. Estou em desacordo: A língua portuguesa é tão rica que há sempre palavras adequadas para descrever ou qualificar um acontecimento.
Por exemplo, sobre o Sporting-Benfica em hóquei, ocorrem-me 'escândalo', 'roubo', 'premeditação', 'favorecimento', 'golpada', 'vergonha', 'nojo' e todos os seus sinónimos. Também 'incompetência', embora logo de seguida da expressão 'não sejas anjinho'. Mas ainda que me as faltassem, sabendo que as línguas evoluem, poderiam utilizar 'rainhar' ou 'teixeirar', que figurariam rapidamente na gíria popular em detrimento das já gastas de tanto usadas 'gamar' ou 'fanar'.
Mas penso sobretudo em 'estupidez'. O Benfica deveria ter passado esta semana a festejar o tetracampeonato de hóquei em patins.
Há três anos, em Valongo, fomos vítimas de uma arbitragem miserável que nos sonegou que, então, não imaginei ser possível uma arbitragem ainda mais tendenciosa que essa, no entanto trata-se de Portugal, trata-se sobretudo de hóquei em patins, uma modalidade gerida à sticada pelos seus dirigentes federativos desde há largos anos.
E 'estupidez' porque estes dirigentes, medíocres e estúpidos por serem incapazes de se libertarem do fanatismo clubístico em prol do desenvolvimento da modalidade, não entendem que, encontrando-se limitado a Portugal, à Catalunha e pouco mais, o hóquei, sem o Benfica, ficará reduzido a coisa nenhuma. Depois bem podem ir jogar ao pau com os ursos - até já tem stiques - ou aos 'polícias e ladrões'. Duvido é que haja, entre os seus amigos, quem se disponha a fazer o papel de polícia."

João Tomaz, in O Benfica

Rainha da fraude

"Para além do Futebol, de todas as modalidades do Benfica é o Hóquei em Patins a que sigo com maior atenção, e a que mais me apaixona desde os saudosos tempos dos relatos radiofónicos. É uma modalidade maravilhosa, mas é também uma modalidade frágil, a carecer de cuidados especiais. Praticada em contexto geográfico limitado, não tem, por isso, estatuto olímpico. Sendo tão popular em Portugal, dando-nos tantos títulos internacionais, cabe justamente aos portugueses acarinhá-la, e tentar promovê-la dentro e fora de portas. Até porque faz parte da nossa cultura e da nossa identidade desportiva.
Os principais clubes têm investido muito, têm contratado grandes estrelas mundiais, e, complementando o trabalho dos seus canais televisivos próprios, também uma estação generalista tem transmitido os jogos, ao que parece com boas audiências. Ora todo este esforço foi deitado para o lixo por um só indivíduo. Paulo Rainha, a quem chamam árbitro, subverteu o campeonato e descredibilizou a modalidade, matando o trabalho de centenas de pessoas, e ferindo a paixão de milhares de adeptos.
Não é fácil calar a revolta. O que se passou em Alverca ficará para a história como um dos mais negros momentos do desporto português. Caberá aos responsáveis benfiquistas encontrar formas de responder a tão grande insulto à verdade. Seja por mail, por carta ou por telefone, há que lutar para que este tipo de situações não volte a ocorrer, em defesa do próprio Hóquei. Dentro do rinque, os nossos jogadores foram campeões. E acredito que toda a revolta se transforme em força para conquistar a Taça. Assim os deixem."

Luís Fialho, in O Benfica

PS: Como é óbvio esta crónica foi escrita antes da decisão da Direcção...

XXXV Gimnáguia

"Os anos passam e a Gimnáguia mantém sempre a mesma bitola - um verdadeiro êxito. Quem teve o privilégio de assistir ao vivo ou de ver através da BTV terá ficado extasiado com o espectáculo de cor, som e harmonia. A XXXV Gimnáguia foi um verdadeiro hino ao «fair-play» e à forma como se deve estar no desporto. Numa justissíma homenagem ao anterior presidente da secção de Ginástica do Sport Lisboa e Benfica, Carlos Broa, este evento ficou marcado pelas brilhantes prestações dos 750 atletas de nove clubes. Um dos momentos marcantes ocorreu quando actuou a classe de rapazes do Sporting CP.
Numa prova cabal de desportivismo, a classe leonina foi aplaudida na altura da apresentação e no final. Todos temos que ter orgulho da postura do nosso Clube e da forma como estamos no desporto. O Sport Lisboa e Benfica é o maior clube português não só pelas conquistas desportivas que tem alcançado aos longo dos seus 113 anos de vida, mas também pela forma exemplar como segue à risca os valores e princípios próprios de uma instituição humanista. Parabéns ao João Cardoso, presidente da secção de Ginástica que não pára de crescer.
Esta semana ficámos bem mais pobres. Partiu o Samuel Vitório, um dos obreiros do nosso Centro de Documentação e Informação e do Museu Benfica - Cosme Damião. Natural de Castelo Branco e com apenas 32 anos, o Samuel trabalhou sempre com amor à camisola e era um verdadeiro talento. Vamos todos sentir muito a sua ausência física, mas ficará para sempre o seu exemplo, o seu profissionalismo, a sua dedicação durante mais de seis anos. Até sempre, caro Samuel!"

Pedro Guerra, in O Benfica

O problema chama-se ânsia da 'fruta'

"Futebol é futebol. O resto é o resto. Por isso mesmo não são as manchetes sobre os problemas financeiros e fiscais do cidadão que ocupa o cargo de director de comunicação do FC Porto que me fazem vibrar como se de um golo do Benfica tratasse. E refiro-me ao tipo de vibração provocada por um golo como o que Lisandro Lópes, com uma cabeçada impecável, marcou no Dragão na temporada passada nos instantes finais do tempo de compensação. São essas as alegrias do futebol. Quanto às questões da vida privada de cada um, salvo dar-se o caso de indiciarem ou acarretarem ilícitos gravosos para as instituições que representam ou para um funcionamento asseado da República, não vejo, com franqueza, o menor interesse público nessas sempre espaventosas divulgações jornalísticas. O director de comunicação do vice-campeão nacional tem direito, como qualquer cidadão, a não ver as suas atribulações pessoais expostas nos jornais e nas aberturas dos telejornais. Viu-se vítima, portanto na quinta-feira logo pela manhãzinha, de uma acção dispensável à luz do bom senso que devia imperar nas sociedades paradisíacas.
No entanto, a vítima da devassa da manhã de quinta-feira entendeu na mesma quinta-feira, à noitinha, revelar num estúdio de televisão ter em sua posse documentos "de índole muito pessoal, muito íntimo" que comprometerão a vida privada de outros cidadãos. Prosseguiu o director de comunicação do vice-campeão nacional: "Isto tem a ver com amantes e coisas assim de árbitros de futebol", o que convenhamos, não pode deixar de ser considerado como uma tentativa de insolvência da vida familiar dos ditos árbitros de futebol. -Fruta?- logo perguntou um seu colega em estúdio no Porto Canal, na ânsia, reveladora e insensata, de colar a outros os epítetos que, por direito, lhes pertencem. Mas o orador nem pestanejou: "Não vou mostrar, não vou mostrar, jamais mostrarei isto para preservar as pessoas, mas tenho, existe...", que é como quem diz que a "preservação das pessoas" tem os seus limites face à urgência de uma necessidade. E foi assim, em meio minuto (sexual) de emissão televisiva na quinta-feira à noite, que lá se foi a solidariedade devida à vítima (fiscal) da notícia da quinta-feira de manhã....
A sexta-feira, contudo, amanheceria com excelentes notícias do foro judicial e policial que nada têm a ver com a vida privada de cada um, mas com a vida pública de todos, que é o que, na verdade, interessa: o presidente da FPF chamou, finalmente, a Polícia Judiciária e o Ministério Público à acção e a PJ, por sua vez, "intimou" o director de comunicação do vice-campeão nacional a entregar toda a documentação eventualmente roubada e adulterada com que tem vindo a entreter o pagode aos serões.Agora é esperar."

Queremos Eliseu a festejar o 37.º

"A renovação do internacional português Eliseu é uma notícia que agrada aos benfiquistas. Primeiro porque é ainda um jogador com valor, dá experiência ao grupo, e cumpre com qualidade sempre que é chamado a substituir o habitual titular Grimaldo. Depois porque é dos mais carismáticos e simpáticos jogadores de todo o plantel. Há uma sintonia entre Eliseu e os benfiquistas. André Moreira dizem estar a caminho da Luz, enquanto Nélson Semedo poderá não sair. São só excelentes notícias, que aguardam confirmação. Queremos o Eliseu de Vespa a festejar o 37º.
O Sporting contratou (?) Fábio Coentrão, e parece estar adiantado para conseguir Mathieu, que se terá já desvinculado do Barcelona. Salários muito elevados, não são, este ano, problema em Alvalade, o Sporting será um adversário forte e de respeito. Pela primeira vez, e a continuar assim, talvez o único. 
No museu azul e branco há já um reajuste de espaço para a justa homenagem a Paulo Rainha, o último grande herói depois de Kelvin. Desde longa data, que ninguém fazia tanto em tão pouco tempo pelo espólio azul e branco.
Esta semana voltamos ao trabalho, primeiro com os testes médicos, depois com os jogos particulares. Temos saudades de ver o Benfica em campo, há quase um mês que não ganhamos um jogo. Venha o Neuchâtel Xamax (dia 13) para nos tirar deste purgatório, em que se transforma o defeso sem haver Benfica para saborear.
Muito boa a prestação das nossas selecções. Com a Selecção principal a mostrar rigor, ambição e profissionalismo na Taça das Confederações para muita azia de quem já estava com o veneno preparado. Uma vitória em casa do país organizador, onde em 100 anos de futebol, nunca tínhamos marcado um golo. Os sub-21 também mostram bom futebol no euro da Polónia."

Sílvio Cervan, in A Bola

O caso dos e-mails explicado às criancinhas (ou como, em 2018, só teremos que nos preocupar com o Sporting)

" momentos em que temos que separar o trigo do joio.
Como, nesta guerra que nos estão a mover, teremos que perceber o que é sério – neste caso, nada – e o que devemos deixar de lado (eu diria, tudo … o que vem lá de cima).
Pois se, antes, se dizia, que … de Espanha nem bom vento, nem bom casamento, … agora, que temos muitas paixões espanholas (que o diga Cristiano Ronaldo), poderíamos começar a dizer que … o Porto não consegue ser campeão, nem, sequer, tem salvação (rima e pode ser verdade)!!!
O melhor é deixá-los a falar sozinhos!
Porque, com raras excepções, o fogo de artifício de alguns denota e expõe a sua fragilidade.
Para a próxima época, se não tentarem condicionar as arbitragens e causarem o pânico em quem tem de decidir, ... nem em 4º lugar ficarão!!! Mas vamos por partes ...

Nos clubes, como nos países, não há milagres
Nós, portugueses, sabemos bem, por experiência própria, o que é viver acima das nossas possibilidades.
Sem aqui procurar encontrar responsáveis (nem é o local certo nem o momento oportuno), durante muitos anos, com alguns – poucos – a chamarem a atenção, vivemos muito acima do que podíamos. 
Seguiu-se um período de austeridade, com regras orçamentais e de gestão das finanças públicas apertadas, em que o País era "governado" pela famosa troika, pelo FMI, pelas instituições europeias.
Acham que se houvesse um campeonato de países em que em vez de futebol e de golos, se disputassem encontros em que as vitórias eram obtidas pelo nível comparado do crescimento do produto interno bruto, pelas taxas de juro, pelo aumento dos salários, teríamos alguma hipótese de ganhar alguma coisa?
Não, pois não?
Então, como é que um clube intervencionado pela UEFA, que tem de pagar multas pelo seu desvario despesista dos últimos anos, que tem limitação de inscrição de jogadores, que tem um tecto no seu endividamento ... poderá ganhar alguma coisa? Pois é ...

Se com um investimento louco há 4 anos a seco ...
Eles chegaram a este ponto porque, tendo ficado deslumbrados com um campeonato – o de 2012/2013 – caído no museu por obra e graça do Espírito Santo (apesar de tudo aquilo parecer ter, já, tantos anos que parece ser tudo, ... de museu), não perceberam que estavam no limite do esticar da corda com um modelo caduco, gasto, bafiento, ultrapassado, bacoco e provinciano.
Ou, ao contrário do que diria Beatriz Costa ... contemporânea deles todos ... "quando os Vascos não eram Santanas"!
Pois, partindo desse campeonato ganho com um pontapé de alguém que nunca soube porque é que o fez, foram acumulando erros sobre erros, metendo dinheiro para tapar más decisões, gastando o que tinham e o que não tinham, para, todos os dias, perceberem que a honra e a glória estavam, cada vez mais, longe!
A honra, já há muito, ... quase diria que desde sempre, ... a glória cada vez mais!!!
Então, perguntarão os mais ingénuos (que nisto de futebol, nós somos e os outros parecem), quem não ganha tem que inventar razões para não ganhar?
Claro que sim!
E nem a atribuição de culpas ao Espírito Santo (o desta última época ... que não o que lhes ofereceu o campeonato em maio de 2013) conseguiu tapar os buracos que por lá existem.
Numa declaração infeliz, Fernando Gomes (de quem tenho, diga-se, a melhor das impressões ... por muito que isso me condene ao inferno ... não ao da Luz nem ao da primeira parte da Divina Comédia, de Dante, mas ao da opinião dos Benfiquistas mais ortodoxos) tentou disfarçar o indisfarçável! 
Havia, então, que encontrar outras desculpas.
E, se bem o pensaram, melhor (pior) o fizeram!
Foram aos arquivos de uns amigalhaços, sejam eles ex-árbitros – que trocaram uns mails com alguém que parece que tem mas não tem importância nenhuma na "estrutura" – ou a ex-detentores de empresas com acesso privilegiado a mails … e puseram-se a descontextualizar o que só tem explicação num determinado enquadramento.
E tomaram por declarações sérias alguns desabafos, insinuações de poder como se de verdadeiro poder se tratasse, irritações como condenações, expressões de momento como processos kafkianos!!! 
Por mim – passe o juízo que possa fazer de alguns desses autores, até, em função do que exigiram, no passado, quando eram julgadores em vez de actores – não lhes dou importância nenhuma!
Percebo que queiram insistir na sua pretensa gravidade para que ninguém olhe para a sua – deles – verdadeira incompetência ...
Incompetência disfarçada, isso sim, com o Apito Dourado!!!
Por mim, dou-lhes – aos arautos – a importância que têm, ou seja, nenhuma!
Com um conselho: o de pedirem a quem baptiza as operações na PJ para lhes dar uma ajuda, porque Apito Amolgado … só lembra ao … Marques!!!

Se não fossem os mails ... Teriam que se justificar ... Perante os adeptos do ... Canelas, Futebol Clube ... do Porto
Não tenhamos medo de chamar as coisas pelos nomes!
E de nos rirmos na cara deles sobre o que nos tentam acusar!
Por mim, é o que farei.
Como o fiz a todo o chorrilho de mentiras que, a cada dia que passa, inventam sobre mim!
Não ligando nem respondendo, porque isso é o que eles querem.
Ou, então, colocando altos responsáveis do clube a responder-lhes devidamente (com excepção do Presidente, que tem mais que fazer do que – como diz o povo – “gastar cera com tão ruins defuntos”)!
Não sou defensor – desde já o digo – do processo Apito Dourado.
Mas não queiram comparar o que ... não tem comparação!
Tenham lá juízo!
Quer quem os forneceu, quer quem os divulga!
Porque, se não forem uns mails para tentar justificar o injustificável, "tapando o sol com a peneira" – como pode dizer-se – teriam que se estar a explicar perante os adeptos do Canelas, Futebol Clube ... do Porto!!!
E sempre é melhor enganar quem quer ser enganado com estes mails do que tentar justificar para onde foi tanto dinheiro ... sem um único título, em 4 anos!!!
Esse é o problema!
Por mim … a palavra de ordem será “Vamos deixar o Xico a falar sozinho”!!!
Não o do Palácio, que já morreu há muitos anos, mas o Xico a que temos direito …
Como a verdade que, um dia, nos quiseram impingir … em forma de jornal!!!

Em 2018 ó teremos que nos preocupar com o Sporting
Por isso, por muito que me custe dizê-lo, em 2017/2018, só teremos que nos preocupar com o Sporting.
Pela calada – será que o homem aprendeu??? – estão a reforçar-se … benzinho!
Sem loucuras, mas com alguma cabeça!
Serão eles os nossos principais adversários na época que aí vem.
E – ou muito me engano – ou serão eles o principal obstáculo entre nós e o … penta!
Ninguém para o Benfica (nem os mails)!!!"

Rui Gomes da Silva, in A Bola

Com um descaramento divino!

"Há um episódio que me encanta. Estocolmo, 1958. O Rei Gustavo da Suécia desceu ao relvado para entregar a Taça Jules Rimet aos novos campeões do mundo de futebol, os brasileiros. Estão lá todos os grandes nomes: Gilmar, Djalma Santos, Nilton Santos, Vavá, Pelé, Didi, Zagalo, Bellini, o capitão. E Garrincha. O inimitável Garrincha, essa espécie de Charlot da bola redonda, ingénuo e audacioso como o personagem do filme The Champion, driblando um boxeur enorme na pequenez de um ringue. Dêem uma olhada às imagens. Vejam-no: vagabundo com um descaramento divino, diria o Carlos da Maia ao ministro da Educação sobre o facto de não haver literatura em Inglaterra. Para cá e para lá, intocável. Escorregadio como as enguias da ria da Barra da minha infância.
Era assim Garrincha. Foi assim Garrincha naqueles que foram os três minutos mais loucos da história do jogo. Contra a União Soviética, precisamente em 1958, dia 15 de Junho. Nelson Rodrigues, rei da crónica, deixou escrito para sempre: «O jogo Brasil x Rússia acabou nos três minutos iniciais. Insisto: nos primeiros três minutos da batalha, já o ‘seu’ Manuel, já o Garrincha, tinha derrotado a colossal Rússia, com a Sibéria e tudo o mais. E notem: bastava ao Brasil um empate. Mas o meu personagem não acredita em empate e se disparou pelo campo adversário, como um tiro. Foi driblando um, driblando outro e consta inclusive que, na sua penetração fantástica, driblou até as barbas de Rasputin. Amigos: a desintegração da defesa russa começou exactamente na primeira vez em que Garrincha tocou na bola. Eu imagino o espanto imenso dos russos diante desse garoto de pernas tortas, que vinha subverter todas as concepções do futebol europeu. Como marcar o imarcável? Como apalpar o impalpável? Na sua indignação impotente, o adversário olhava Garrincha, as pernas tortas de Garrincha e concluía: ‘Isso não existe!’. E eu, como os russos, já me inclino a acreditar que, de fato, domingo Garrincha não existiu».
Tudo isto lá na Suécia.
Mas volto ao rei. Gustavo Adolfo, sexto do nome. Veio do seu camarote com a taça, cumprimentou os brasileiros um a um, com a solenidade própria de um soberano nórdico, e quando estendeu a mão a Garrincha, ouviu: «Ei, meu chapa! Como é? Tudo bom?»
Isso, isso, um descaramento divino, com ou sem a bola nos pés.
Diz-se que a História é escrita pelos vencedores, mas também gosto de falar dos vencidos. Não faço ideia se o Gustavo Adolfo entendeu o português de Garrincha, mas pouco importa porque era de suecos que queria falar. Também foram cumprimentados pelo seu rei. Mais polidos na hora dos shake-hands, presume-se. Estavam do outro lado - a Suécia acabara de perder a final para o Brasil. 
Dez anos antes, eram vencedores. 1948, em Londres. Torneio de Futebol dos Jogos Olímpicos. Nesse tempo, uma espécie de Campeonato do Mundo, vendo bem. Os suecos arrasaram: 3-0 à Áustria, 12-0 à Coreia do Sul, 4-2 à Dinamarca, 3-1 à Jugoslávia.
Não era motivo de espanto.
Três deles também tinham o descaramento divino de de um Carlos ou de um Ega.
Gunnar Gren, Gunnar Nordhal e Niels Liedholm. Jogaram juntos na selecção sueca e no Milan, de Itália. Ficaram conhecidos por Gre-No-Li.
Na final do Estádio Raasunda, em Solna, Nordhal não estava. Era o mais velho dos três e foi o primeiro a chegar a Milão. Diz-se que desprezado pela Juventus, que preferiu o dinamarquês Johannes Ploger, também presente nos Jogos Olímpicos de Londres. Nordhal ficaria a ganhar com a troca. Não demorou a convencer os dirigentes do Milan a contratarem os outros dois: Liedholm e Gren.
Gren: Il Professore.
Nordhal marcava golos atrás de golos. Isso mesmo: com um descaramento divino.
Liedholm era um purista do corpo: passava o tempo no ginásio, não fumava e não tocava em álcool. Ele que, na reforma, depois de ter sido um dos treinadores mais considerados de sempre, se dedicou às uvas e ao vinho.
Houve um dia terrível para o Gre-No-Li. No primeiro jogo frente ao Inter. O Milan esteve a ganhar por 4-1; perdeu por 5-6. Na época seguinte arrasou a Juventus: 7-1.
Durante anos estiveram, os três, do lado de cá e do lado de lá das derrotas.
Na Suécia, Garrincha transformou-se numa enciclopédia de piadas. Autênticas ou inventadas, pouco importa. Minutos antes dos três minutos, aqueles três minutos de uma absoluta inexistência, durante os outros três minutos, o dos hinos, deu uma cotovelada em Nilton Santos: «Olhe, olhe, o seu Carlito também veio!» E apontava para o fiscal de linha, de bigodinho pequeno e aparado, à Charlot.
E ria, gargalhando com um descaramento divino."