terça-feira, 20 de junho de 2017

Um azar nunca vem só

" 'As mirabolantes aventuras de um craque em sarilhos por terras de Vera Cruz'.

Em inícios de Janeiro de 1972, o Benfica encontrava-se em digressão pelo Brasil e na comitiva figurava Vítor Baptista, autor de um golaço no jogo inicial contra a Portuguesa dos Desportos. Era já tarde quando os jogadores chegaram ao hotel para retemperar as forças para os desafios seguintes. Um calor tórrido de 44 graus era convidativo a um copo de água gelada. Porém, Vítor percebeu que no frigorífico do seu quarto já não havia água. Resolveu então ir ao quarto do Adolfo buscar duas garrafas de água, descalço e vestindo apenas as suas cuecas. Na vinda para o seu quarto, uma das garrafas escorrega-lhe da mão e zás! Mesmo em cheio no pé esquerdo! Após alguns gritos de socorro, lá apareceram o José Henrique e o Adolfo, que o levaram às cavalitas para o quarto do Hamilton, o massagista de serviço, que de imediato lhe coseu o pé.
No dia seguinte ficou deitado em repouso, mas as dores que tinha não davam sinais de abrandar. Para seu desgosto, ficou decidido que o craque deveria regressar a Portugal, terminando de forma abrupta o seu périplo por terras brasileiros.
A 13 de Janeiro, Vítor rumou ao Aeroporto de Galeão no Rio de Janeiro, deslocando-se numa cadeira de rodas. Porém, quando se encontrava a dar instruções a funcionários de companhia aérea, o nosso homem é apanhado numa autêntica aventura digna de thriller policial. Ouvem-se tiros de pistola, rajadas de metralhadora e gritos de pânico. Três encapuçados haviam assaltado uma ourivesaria e, apesar da superioridade da força policial, os assaltantes estavam fortemente armados. Um deles, de forma intimidatória, disparou contra a perna de uma senhora, enquanto um dos polícias que tentava abordar um dos assaltantes pelas costas é alvejado com uma rajada de metralhadora. As balas faziam ricochete nas paredes e assobiavam por todo o lado. O nosso craque só teve tempo de largar a cadeira de rodas e, de rabo no chão e perna esquerda no ar, foi avançando com auxílio do rabo, das mãos e do pé direito. Após uns dez metros de verdadeiras acrobacias, finalmente por entre bagagens, enquanto no meio do caos os assaltantes fugiram sem deixar rasto.
Pode saber mais sobre esta e outras figuras na área 22 - De Águia ao peito do Museu Benfica - Cosme Damião."

Ricardo Ferreira, in O Benfica