quarta-feira, 12 de abril de 2017

Na frente

"Do “clássico” da semana passada resultaram duas evidências. Depois do chamado “jogo do ano”, que iria, ou poderia, decidir o campeonato, o Benfica permaneceu isolado no primeiro lugar. Além desse facto, os encarnados são agora os únicos a depender de si para alcançar o título.
Chegará isto para nos satisfazer? Não!
Queríamos obviamente a vitória, aumentado, com ela, a vantagem para o segundo classificado. E a nossa equipa fez por merecê-la, jogando melhor, dominando a maior parte do tempo, criando várias oportunidades de golo, falhando apenas na concretização – muito por mérito do guarda-redes rival, que, à semelhança do que ocorrera na época transacta, voltou a ser o melhor em campo. Os festejos dos jogadores do FC Porto no fim do encontro são, aliás, bastante reveladores quanto ao alívio que sentiram por não saírem derrotados da Luz.
Este jogo passou, sem a glória que pretendíamos, mas também sem qualquer mácula. Estamos firmes na frente, e temos sete finais para chegar ao ambicionado “Tetra”. Aquilo que a equipa mostrou em tão solene ocasião – desmentindo algum cepticismo que começava a adensar-se em torno dela – dá-nos plena confiança quanto ao caminho que falta percorrer. Temos etapas difíceis, mas todas são para vencer, como, de resto, diante dos mesmos adversários, nos mesmos campos, aconteceu há um ano atrás.
Neste domingo, em Moreira de Cónegos, joga-se mais uma “final”, perante um conjunto que luta vigorosamente para não descer de divisão, e que tem um treinador especializado em tirar pontos aos mais fortes.
Não esperamos facilidades, mas…temos de ganhar. E vamos ganhar!

Luís Fialho, in O Benfica

PS: Os 'clientes' habituais d'O Indefectível devem ter reparado que na última semana não 'postei' aqui os colunas de opinião do jornal O Benfica. Pois bem, normalmente recebo o jornal via CTT, à Quinta-feira e 'posto' aqui no blog na Sexta. Mas esta semana o carteiro ainda não me 'visitou'!!!! Se calhar amanhã vou receber dois jornais...!!! Vamos ver... Os CTT continuam-me a surpreender!!!
Sendo assim, aqui fica a crónica do Luís Fialho, que 'pesquei' no seu blog pessoal!!!

Derrota no antro Corrupto

Corruptos 30 - 27 Benfica
(15-16)

Resultado acaba por ser 'normal', num jogo muito equilibrado, com o Benfica a ceder nos últimos 10 minutos... O plantel já é curto, mas sem o Ales e o Mitrevski ainda fica mais curto... sendo que nestes jogos mais intensos, a rotação obrigatória, fica mais complicada... Mesmo assim, continuo a pensar que o Benfica, tem muito provavelmente o melhor treinador do Nacional, e com 2 ou 3 contratações, ficaríamos ao mesmo nível dos Corruptos e Lagartos...
A melhor notícia da noite, acabou por ser a derrota do ABC!!!

ADENDA:
Aqui fica mais uma pérola dos legalizados adeptos Corruptos:

Os novos pontas de lança

"Longe vão os tempos em que os adeptos falavam sobre a soberba intervenção do guarda-redes, o formidável corte do defesa, o passe magistral do médio ou o golaço do avançado, conversa sempre salpicada com os incontornáveis casos de arbitragem. Tudo mudou. Os feitos (ou defeitos) dos jogadores são cada vez mais o tema periférico de tertúlias invariavelmente dominadas pelos erros ou acertos dos homens do apito e, sobretudo, pelas exibições daqueles que parecem ter-se tornado os grandes protagonistas do jogo.
- Viste aquela entrada em tackle do Francisco J. Marques (Director de Comunicação do FC Porto)?
- Viste a entrada por trás de Luís Bernardo (Director de Comunicação do Benfica)?
- Viste a entrada a pés juntos do Nuno Saraiva (Director de Comunicação do Sporting)?
Entendo a importância da comunicação nos tempos actuais, mas não o peso que tal função assumiu no futebol português e não percebo nem entendo que comunicação se confunda com propaganda, quase sempre de muito baixo nível, doentia, saloia, destrutiva, impulsionada por dirigentes cegos pela obsessão (não confundir com ambição) de ganhar e ávidos por procurar todo o tipo de atalhos para lá chegar.
Talvez o próximo passo seja a aposta na prospecção para identificar e contratar os directores de comunicação com mais potencial, reduzindo o investimento canalizado para o desenvolvimento de jogadores, os quais, aparentemente, já não são o principal factor de decisão.
Alguém sabe quem são os directores de comunicação da Juventus, do Man. United, do PSG, do Bayern ou do Real Madrid? Claro que não. Mas por cá, eles são os donos do palco, enquanto os jogadores vão sendo cada vez mais silenciados e formatados. E ainda nos surpreendemos com cartilhas? Onde há peixeirada, há peixe podre."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

PS: Todas as semanas as crónicas do Gonçalo, são 'iguais': meter 'todos' no mesmo saco!!!
Como é que é possível comparar a postura pública do Luís Bernardo com os outros 2 directores de comunicação?!!!

Futebol - da euforia ao conflito ... da paixão à agressão!...

"Como sabemos a modalidade de Futebol tem um forte impacto na sociedade, inspirando artistas, despertando paixões, suscitando críticas, tudo isto justificado pelo maior impacto social transmitido pelos media, envolvendo directa e indirectamente bilhões de pessoas quer na sua prática, quer na condição de adeptos e profissionais pelos serviços prestados. Daí que qualquer jogo, especialmente quando se apresenta como um fenómeno de consumo como expressão de alta popularidade, gera forte impacto nos hábitos e atitudes de um povo, podendo mesmo constituir-se como um laboratório de análise social.
O Futebol assume-se de facto como um fenómeno de grande complexidade, servindo de espaço de união ou dispersão, alicerçando de forma abrangente toda uma sociedade sem fronteiras, onde a sua linguagem universal se documenta e exalta.
Perante a dinâmica que o jogo faz incidir e da importância excessiva atribuída tanto às vitórias como às derrotas, pode desempenhar um papel projectivo e colector de frustrações dos adeptos quando perdem e exaltação desmedida daqueles que simplesmente ganham, abrindo espaço para ondas de violência como feridas abertas, prontas a latejar. Quantas vezes, frases feitas de boas maneiras envoltas em gestos de simpatia cobertos por sorrisos, escondem frustrações de desempenho, que a impulsividade duma simples acção acaba por ser a tampa dum ódio libertador pronto a ser disparado. 
A dinâmica imprimida pela conquista da bola, a inquietude revelada nos lances falhados, a má interpretação pelo julgamento do jogo, a conquista do resultado positivo como única garantia para premiar o sucesso, associado a demais causas, tais como: deficiente formação educativa, acompanhada duma degradante iliteracia desportiva, impreparação e masculinidade dos intervenientes, natureza do recinto desportivo, obscuridade e ruído, álcool e outras drogas, rivalidade e racismo, historial qualificativo de violência, grupos ultras e hooliganismo, apresentam-se como índice de causalidade mais evocativo para a violência.
Por vezes o estado de alma, como eco libertador da consciência de quem joga ou assiste, dirige ou treina, julga ou comenta, pode gerar festa e tragédia, esperança e medo, dúvida e razão e da euforia ao conflito, como da paixão à agressão, vai a distância dum tempo favorável para a criação de situações conflituosas, dando lugar à euforia e à cólera perante as fases mais relevantes: marcação ou não de penalty, o golo marcado ou invalidado, a falta inexistente e o estádio transforma-se numa labareda de opiniões com efeitos por vezes dramáticos.
Cria-se à volta e por dentro do espaço de jogo um ambiente propício ao conflito, dado que proliferam escondidos nas próprias sombras, um contingente de inadaptados e marginalizados, que sempre estão dispostos a reincidir as regras do bom senso, incitando ao conflito, tendo ali uma boa oportunidade de provocar o tumulto. São como bestas humanas que se infiltram na multidão, estendendo tapetes de sangue por onde passam, cobrindo de luto a essência pacífica e emuladora que sempre o belo jogo deve promover.
Agressões de forma continuada a árbitros por parte de jogadores e adeptos, absurdas incongruências de ira e raiva portadoras de graves conflitos corporais entre assistentes, discussões acesas em alguns programas de comunicação social que nos entra pela casa dentro documentadas por imagens que enganam e disfarçam com a falta de vergonha como são expostas. Futebol, este belo jogo, também sugado pelo trânsito das palavras e das ideias, demente entre as pessoas que espreitam o conflito, dele se alimentam e se revisitam no espelho da própria ignorância … eis a loucura de trato misturada por uma linguagem rasca entre alguns figurões, prisioneiros pelas malhas da animalidade, grosseria e bestialidade.
É urgente e necessário tomar mediadas severamente punitivas para quem não é capaz de viver de forma social e pedagógica o compromisso do Fair – Play, que implica o respeito pelas regras, a garantia de cumprimento de um conjunto de deveres, obrigações e comportamentos, um modo de pensar e actuar, perante uma filosofia de vida que enriquece de forma exemplar a identidade individual ou colectiva, pelas manifestações de orgulho cooperante e participativo.
A título de exemplo, podemos apelar a um maior reforço de segurança, a identificação e imediata punição do agressor, eliminando-lhe o acesso ao recinto do jogo, (deslocando-se para o efeito à esquadra ou comando policial, possibilitando-lhe a audição em relato ou visualização do mesmo), formação e educação cívica e desportiva e trabalho comunitário congruente até à irradicação absoluta.
Creio que deste modo, estarão criadas as condições para deixarmo-nos envolver por este belo sentimento de amor ao Futebol, transferindo-o para um jogo fantástico, apelando a raros e únicos momentos de inspiração em movimento, onde a harmonia do gesto, insubordinado umas vezes, inspirador e ousado noutras, mas sempre emocionalmente excitante, nos confere.
Então sim, será apresentado o Futebol em jogo como arte, cultura, ciência e razão, gerado por uma fonte mobilizadora, onde possamos situar a dignidade da pessoa com a autenticidade do cidadão e de onde poderão ressaltar boas notícias … notícias de paz, de generosidade e duma inatacável honestidade de processos!..."

As declinações semânticas da bola

"Começa por uma proclamação simbólica, de carácter arquetípico: ela é esférica e a esfericidade é, como intuiu o próprio Parménides, expressão simbólica de uma infinitude, sem começo e sem fim: simboliza a própria redondeza do ser cuja propriedade é simplesmente ser! Mas a bola, como principal protagonista do jogo, ela é sinal de contradição: todos a querem ter e todos a querem acariciar – embora só uns tantos sejam entendidos neste tipo de carícias - , mas todos passam o tempo dando-lhe pontapés – ou pauladas, como no hóquei em patins ou no hóquei em campo! As equipas andam o tempo todo em busca dela, mas o que realmente se verifica é que não descansam enquanto não a vêem longe de seus domínios: ela gera simultaneamente os fenómenos de atracção e de rejeição.
As equipas têm horror que ela possa anichar-se caprichosamente nas redes do seu território definitivo e inegociável – a baliza (o gol, no Brasil) – mas festejam em delírio quando isso acontece nas redes do lado contrário do campo, um campo simultaneamente de batalha e ringue de Wrestling, de rijos gladiadores e de macios fiteiros: sim, a maior parte do tempo os soldados desta peleja entretêm-se a desentenderem-se da bola e a rebolarem-se, em estridente gritaria, na relva fofa desta versão urbana e sofisticada das guerras púnicas. A bola também como elemento de um exercício manhoso de simulação e engodo, algo que está convertendo, sobretudo o futebol, num espectáculo ilusório, o que seria bem fácil de contornar: um cronómetro que ignore, como no basquetebol ou no futsal, o tempo gasto com interrupções resolveria o escândalo.
Mas a bola, enquanto símbolo redondo do ser, encarna também, talvez por isso mesmo, a simbologia da sensatez, do juízo, daquilo que deve ser: fulano ou sicrano não bate bem da bola, isto é, ele não gasta da loja do bom senso – ele não é bom da cabeça, tendo esta como o último andar do edifício corporal onde supostamente está instalado o painel de comando – e sabemos todos os problemas clássicos dos últimos andares, sobretudo quando os prédios são muito altos. Por isso uma agressão em campo a um adversário implica que o autor se esqueça da bola e perca a cabeça – que sem cabeça não há jogo que se veja, que possa agradar aos espectadores.
Mas a bola é também motivo de qualificação performativa: dizer, por exemplo, que o Bernardo Silva “é bom de bola”, como ouço aqui no Brasil invariavelmente da boca dos exuberantes relatores, é afirmar que ele é particularmente habilidoso, com superiores qualidades técnicas, que é, enfim, um desses raros acariciadores justamente da redondinha. Neste caso, uma vez mais, a bola como signo cinético de uma perfeição que se busca na orla do infinito. Como na consagradíssima e brasileiríssima expressão “show de bola” que expressa de forma gutural e quase em registo de samba, que isso ou aquilo não poderia estar melhor, como tão gracil e sugestivamente o mostra o vendedor (brasileiro) de bolas de Berlim nas areias intermináveis de Monte Gordo, ou nas praias de Copacabana e Ipanema, onde curiosamente espontâneas equipas de vólei dão, nem mais, um grande “show” de bola!
A bola como metáfora em movimento de ventos ora benéficos ora maléficos: ela não vai à minha bola, ou seja, ela “deu-me com os pés” – pontapeou-me para longe do seu território, quanto mais longe melhor – como as equipas fazem, contraditoriamente, com a bola. A bola é a princesa da corte do jogo, pois encarna as qualidades de leveza, de perfeição, de amor – e todos se empenham em ostensivo galanteio: todos, tomados de tórrida paixão se perdem num infatigável exercício de sedução. É por isso que a bola simboliza também a dimensão empática e convivial do jogo: “eu vou à bola dele” (ou dela), querendo com isso enfatizar a simpatia que por ele ou ela nutro – sinal unitivo, de conciliação.
Atendo-nos em exclusivo ao futebol, verificamos que é um jogo contraditório,, paradoxal: tem na bola a sua menina dos olhos e desata aos pontapés a ela. Mais: reclama mestres da táctica, engenheiros que pensem um jogo que, paradoxalmente se joga com os pés, as extremidades mais afastadas da cabeça, onde se localiza o cérebro, alegadamente a sede desse pensar. O futebol é um jogo dúplice – por várias razões, mas sobretudo porque, reclamando a cabeça, ele se baseia no timus (thymus), na sede das emoções, o que faz com que amiúde se choquem a beleza geométrica do jogo e o excesso agonístico, o que acontece quando os agentes perdem a cabeça, quando passam a bater mal da bola.
E falta fazer referência à expressão que o meu querido leitor tem entalada na garganta; “baixa a bola (bolinha)”. E eu baixo, que não quero provocar nem pôr-me em bicos-de-pés. Expressão que conhece a seguinte variação: “bate a bola baixo”, isto é, “não faças ondas”. Não, não faço: não quero molhar ninguém!"

Quando os "golden boys" se transformam em "shadow boys"

"Por esta altura do ano começa-se já a falar da 15ª edição do "Golden Boy", prémio atribuído anualmente pelo diário desportivo italiano "Tuttosport" ao melhor jogador com menos de 21 anos a actuar na Europa.
Em 2016, Renato Sanches foi o feliz contemplado com o galardão e, em 2017, repete esta nomeação, partilhando agora o "palco dos possíveis candidatos" com os portugueses Rúben Neves, Rui Pedro, Diogo Dalot e José Gomes.
Alguns dos ex "golden boys" mais conhecidos são Lionel Messi, Wayne Rooney, Pogba, Fàbregas, Agüero, Van der Vaart e também Balotelli.
Contudo, e de posse destes dados, atendendo a que esta lista de nomeados chega quase aos 100 candidatos e que já vai na 15.ª edição, a reflexão que se impõe deverá ser:
Onde andam estes (se calhar) quase 1500 promissores talentos?
O caso paradigmático de Renato (o qual não irei comentar, por razões de natureza ética, mas que, por agora, faz lembrar os rumos de tantas outras "jovens promessas"), com a própria imprensa local a questionar a sua rara utilização, deveria fazer-nos parar e questionar todo este processo.
Estarão os Clubes e os "adultos significativos" destes jovens (encarregados de educação) a fazer, efectivamente, o seu papel no processo formativo dos mesmos?
Estarão focados em todas as dimensões da formação do atleta e do atleta como pessoa?
Ou, tal qual adeptos, perdem o seu foco na "contabilização" do número de assistências, remates e golos que estes conseguem fazer? No valor do seu passe?
Quantos destes atletas, projectados para um "aparente" sucesso, muitas vezes efémero, chegam a uma idade "adulta" (18 anos) com a devida preparação para lidar com a exposição associada ao sucesso, com as questões associadas à gestão financeira do seu património ou à própria gestão emocional que precisam fazer com os seus "entes queridos".
Quantos deste jovens não protagonizam apenas, uma espécie de "canto do cisme", onde após uma primeira transferência de grande visibilidade, acabam por se "esfumar" no clube que os acolhe, nunca dado continuidade ao talento outrora demonstrado?
Onde termina a responsabilidade dos clubes, dos pais... onde começa a dos próprios atletas que, muito frequentemente, aos 18 anos evidenciam uma imaturidade sócio-afectiva que os impede de ter o discernimento necessário para tomar a "decisão certa"?
A própria Premier League publicou no passado ano de 2016 um desconcertante estudo que aponta para o facto de que cerca de 60% dos seus atletas, 5 anos após o término das suas carreiras, se encontrarem na falência... financeira e afectiva, pois a taxa de desestruturação do agregado familiar e, até de consumo abusivo de substâncias (ex: álcool), é também ela, elevadíssima.
Estes dados são públicos e do conhecimento de uma larga maioria de intervenientes no contexto desportivo (dirigentes, treinadores, pais...) e, face a isto, o que tem sido feito?
A frequência com que chegam ao meu local de trabalho, "jovens promessas" cuja preparação para a vida e para a disciplina que os contextos de excelência exigem é francamente diminuta, é efectivamente elevada.
Frequentemente, e a titulo de mero exemplo, antes mesmo de me poder debruçar sobre os aspectos específicos do treino de competências psicológicas para a performance, torna-se emergente encaminhá-los para um nutricionista que os ensina a gerir o apport energético que têm que fazer para competir no máximo da sua capacidade. Na realidade, um especialista que, às vezes, tem que os ensinar até a fazer as compras necessárias, ajudando-os a reconhecer o que devem ingerir e onde comprar.
É que, sem "energia", qualquer treino de optimização da gestão emocional será sempre deficitário, face ao que poderia trazer ao desempenho do atleta.
Profissionais que trabalham no seu quotidiano em processos one-to-one, em contexto privado, dificilmente conseguirão ter o "impacto em massa" necessário.
Os grandes players que actuam neste segmento e que tem acesso directo aos atletas e, por essa mesma razão, Partilham em conjunto a responsabilidade da sua formação (pais, clubes, federações e outros organismos), Precisam, neste contexto, fazer um statement diferente, quanto mais não seja, e se não for pela preocupação com a pessoa que está por trás do atleta, por uma questão de aumentar as condições de sucesso daqueles que são o seu "activo financeiro":
- Maior diferenciação cognitiva (entenda-se, aposta genuína no plano escolar), maior educação da sua consciência corporal (fisio-nutricional) e maior destreza em processos psico-emocionais, associados à Pessoa e à optimização desportiva do atleta, resultarão sem dúvida, num maior retorno financeiro a médio-longo prazo, na medida em que teremos atletas com mais e melhores ferramentas para lidar com aquele que é, demasiadas vezes, um contexto extraordinariamente hostil: o da alta-Competição.
Se não o fizermos, continuaremos todos, a "instrumentalizar" miúdos em larga escala, negando-lhes, à partida, o conhecimento necessário para "sobreviverem" ao "pseudo-sucesso" para que são formatados.
Urge, sem dúvida, uma atitude diferenciada.
(nota: entenda-se "contexto hostil", nesta linha de pensamento, como qualquer contexto onde nos sintamos obrigados a performances de elevada exigência, sem que se observem as condições ideias para as mesmas, exemplo: ter que assumir o seu talento, num país, cultura e dialeto diferentes... num balneário repleto de rostos desconhecidos)"

A verdadeira cartilha

"Aparentemente, tem provocado grande ruído o facto de o Benfica enviar informação circunstanciada a alguns comentadores, pasme-se, afectos ao clube. Ainda não consegui perceber qual é exactamente o problema com este facto.
A semana passada, quando confrontado com a existência de tal informação, quer no Record, onde escrevo vai para quatro anos, quer na Sport TV+, onde comento desde o início do canal, fui claro na resposta, que recupero: "Cartilha só conheço a Maternal do João de Deus e o facto de um clube enviar informação sistemática é sinal de organização e de profissionalismo". Acrescentei que escrevo aquilo que penso e digo o que me apetece e que, para mim, é muito mais importante para formar a minha opinião as conversas quotidianas que tenho com outros grandes benfiquistas, os meus amigos Bernardo Azevedo, João Tomaz e Manuel Castro.
Este ponto é fundamental porque ajuda a perceber a verdadeira cartilha que rege os benfiquistas. Uma cartilha que firma um clube que não só existe para além de qualquer direcção, por natureza transitória no tempo e limitada no seu poder, como recusa qualquer tipo de culto da personalidade do Presidente, quem quer que ele seja. O Benfica de que me habituei a gostar, e que sinto como meu, é mesmo uma agremiação de inclinação popular, pluralista e com adeptos hipercríticos e de pendor pessimista face à performance desportiva. Quando no nosso estádio os cânticos forem a Presidentes ou nas bandeiras se vir a face de dirigentes, é a identidade do Benfica, clube de espírito democrático e nascido nos meios populares de Lisboa, que estará a ser afrontada. Bem sei que isto custa a perceber a todos aqueles que veem os outros à sua imagem e que, por isso, não hesitam em utilizar epítetos como 'avençados'. Tudo o que devo ao Benfica, e não é pouco, é do domínio imaterial: angústias diárias e emoção incontida nas vitórias.
Quem quiser fazer o exercício, que julgo penoso, de recuperar todos os meus textos no Record, concluirá que está perante um olhar não isento sobre o futebol e o Benfica em especial (afinal sou o sócio 8001 do Glorioso), mas também perante uma visão livre. Bem sei que para o lúmpen que pulula em redor do mundo do futebol seja difícil perceber que é possível ter uma filiação clubística inegociável, vibrar com as vitórias da nossa equipa, mas manter espírito crítico sobre a forma como a equipa joga ou até sobre as opções estratégicas que o clube toma. Não há opinião neutra e muito menos comentário higienizado. Os que me leem e ouvem sabem que sou – e, posso garantir, serei sempre –, com orgulho desmedido, benfiquista."

A maior ameaça de sempre ao futebol

"Se tivéssemos ganho aquele jogo que perdemos em dezembro, agora bastava empatar este. Se aquela bola que bateu na trave tivesse entrado, o jogo seria totalmente diferente. Se o árbitro tivesse visto aquela falta, se calhar até nem perdíamos.
O futebol tem muitos «ses» e o mais normal é aparecer logo alguém a dizer que o «se» não interessa. Mas…e se? Já interessa? Interessa e muito.
E se aquele frango não tiver sido bem um frango? E se aquele passe falhado tiver sido, afinal, calculado com toda a precisão? E se aquela reviravolta não tiver sido incrível mas consentida? E se na bancada estiver alguém sentado conhecedor de resultado e marcha do marcador ainda o árbitro não tinha apitado para o início?
Enquanto meio país discute com o outro meio se foi fora de jogo ou não, se o penálti foi bem assinalado ou aquela bola entrou mesmo na baliza, um problema bem maior corrói, centímetro a centímetro, a estrutura que sustenta todo o fenómeno.
O problema das apostas é a maior ameaça de sempre ao futebol. Maior do que o doping, por exemplo. Nem um presidente incompetente, um director corrupto, um treinador mal intencionado e, muito menos, um jogador com pouco jeito têm capacidade para fazer tão mal ao desporto como a desconfiança.
Antes, o Liverpool recuperava de um 3-0 em 45 minutos e era só épico. Hoje fazem o mesmo e é de investigar. O 5-3 de Portugal à Coreia do Norte levantaria muitos sobrolhos houvesse apostas online na década de 60.
O problema central não é, assim, o que se ganha, o que se perde, se serão ou não apanhados. O maior golpe é mesmo a desconfiança. Que o imprevisto passe a ser sempre suspeito, o que fere de morte toda a lógica do futebol.
A sociedade actual acredita em cada vez menos coisas. Não há fé no amor, na amizade, no casamento, na boa vontade, na política, no jornalismo, na solidariedade. Olhamos para uma imagem à procura do Photoshop, ouvimos um cantor identificando os efeitos que a gravação levou.
Vemos uma prova de ciclismo à espera da contra-análise. Apresentam-se números de vendas e fala-se em «milhões da treta». Vê-se um erro de um árbitro e tenta-se logo descobrir intencionalidade.
Não há fé em nada e nem sequer entramos por caminhos religiosos.
Era mesmo preciso acrescentar o jogo da bola, até agora território sagrado?
É urgente uma solução que limpe de vez a dúvida e deve ser esse o foco dos responsáveis do futebol nos próximos tempos. Pois se deixamos de acreditar que aquele remate foi naquela direcção porque havia a melhor das intenções, mais vale fechar o campo e, como no velhinho jogo da rua, pegar na bola e levá-la para casa. Porque aí, pelo menos, todos suavam para ganhar e a única aposta que valia era a do vais ver como eu te ganho."