quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Casillas, Ederson e Rui Patrício

"A contratação de Casillas, 35 anos, por parte do FC Porto foi e continua a ser um luxo difícil de compreender, sobretudo na actual conjuntura financeira do clube, por mais que nos possamos sentir tentados a evitar a dureza das palavras quando falamos de um dos melhores guarda-redes da história, com currículo invejável. A verdade nua e crua é que o espanhol está longe de ser o que já foi, não faz a diferença. Exceptuando uma outra exibição arrebatadora (como a da Luz na época passada), as defesas que Casillas faz estão ao alcance de qualquer guarda-redes de qualidade média e salário bem mais baixo, sem falar no acumular de erros, alguns incríveis. Pode argumentar-se que esta época está bem melhor, mas isso, perdoem-me, é o reflexo da segurança defensiva da equipa, que deixa o seu keeper pouco exposto. Pode ainda invocar-se a visibilidade internacional que dá ao FC Porto e as camisolas que vende, mas mais uma vez perdoem-me, só dá visibilidade quando dá frangos, e adeptos com a camisola de um guarda-redes vestida é coisa que não se vê por aí.
Ao invés, o Benfica tem na sua baliza um guarda-redes completo, moderno, de top, na senda de Jan Oblak. O brasileiro Ederson Moraes, 23 anos, faz a diferença e tem tudo para ser um dos melhores na sua posição (já o é, de longe, em Portugal). Não é preciso ser bruxo para perceber que não vai ficar muito tempo na Luz, pelo que o Benfica (que actualmente também tem um luxo incompreensível no banco, Júlio César) precisa de preparar já a sucessão.
Há, depois, Rui Patrício, 28 anos, que muitos teimam olhar como um dos melhores da Europa. É um bom guarda-redes, não está em causa, capaz de grandes defesas e exibições, ganhou consistência nos últimos anos, mas não é um guarda-redes de top, bem na carruagem seguinte. É por isso que, provavelmente, vai passar toda a carreira no Sporting, o que não deixa de ser uma boa notícia para o clube de Alvalade."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

O algodão do tempo

"1. Gonçalo Guedes está prestes a sr oficialmente anunciado como reforço do PSG, com o Benfica a receber 30 milhões de euros. Renato Sanches rumou ao Bayern Munique no verão por 35 milhões, mais objectivos que podem fazer com que a fasquia suba até aos 80 milhões - difícil mas não impossível. A cada capa de jornal em que um dos dois era mencionado, invariavelmente, uma horda de comentadores afectos a outros clubes, principalmente ao Sporting, apontava, em sorrisos sarcásticos, para campanhas de marketing e valorização de jogadores por parte da imprensa. Pelo menos, podiam ter rido. Porque rir, como escreveu um dos Milan Kundera, é viver profundamente. Sem muitos mais considerações, ninguém gasta 30 milhões de euros num jogador se não lhe reconhecer qualidade. Ou então, gosta de ser enganado. E ninguém chega a multimilionário, como o dono do PSG, se for muitas vezes enganado. Sanches não tem jogado muito, Guedes terá de se adaptar. Para se verificar se as apostas foram correctas, tem de se esperar pelo maior dos algodões, aquele que nunca engana: o tempo.
2. Palhinha já voltou à Academia, Francisco Geraldes e Podende estão em vias disso; Iuri Medeiros só não regressa já porque se calhar não há muito espaço competitivo para ele, mesmo num plantel mais reduzido. O Sporting redefine metas, volta à génese da sua aposta e Jesus vira a agulha, a ver se o disco muda de música. Adiante se verá o que daqui resulta. Mais uma vez, tem de se aguardar.
3. Rui Vitória monta-se, por agora, no cavalo dos triunfos e, após a renovação do contrato, tem a meta marcada para 2021. Quatro anos em futebol não é muito, é uma enormidade. Mais uma vez, não se pode fugir: tem de se esperar pelo algodão do tempo."

Hugo Forte, in A Bola

De outro campeonato !!!

Benfica 58 - 89 Enisey
18-25, 10-21, 15-21, 15-22

Acabou o calvário desta 2.ª fase da Europe Cup, com 6 derrotas em 6 jogos!!! Se estes Russos eram mesmo de outro 'campeonato', os Holandeses estavam ao nosso alcance... mas pronto, agora é focar tudo nas competições onde temos verdadeiras aspirações!!!

Um Benfica zen por mais 4 anos

"A necessidade dos adversários é desestabilizar o Benfica. A especialidade de Rui Vitória é estabilizá-lo

dois anos, pelo menos, que a pergunta-chave da Liga Portuguesa tem de ser "como desestabilizar o Benfica?" Não é daquelas interrogações que se possa pôr em público, embora o Sporting tenha chegado a ser quase tão flagrante como isso, mas faz parte dos manuais.
A maior vantagem do Benfica para os adversários é a estabilidade, directiva, desportiva e social. Já era quando Jesus saiu de lá bicampeão e desde então, com um contributo generoso do ex-treinador e de Bruno de Carvalho, só aumentou. Desde maio de 2015, o Sporting deu ao Benfica anticorpos para tudo, do grau de camaradagem com os árbitros até às finanças duvidosas, passando pela tolerância do público ao ruído, que agora é quase total. Hoje, qualquer um de nós consegue ler o jornal (ou até escrevê-lo) ao pequeno-almoço a dois palmos do motor de um Boeing.
O melhor de tudo é que a desestabilização, numa equipa de futebol, é inevitável e não precisa de intervenções externas. Demasiados suplentes, demasiadas diferenças salariais, demasiados egos, demasiadas expectativas frustradas, demasiados treinadores de bancada, etc. As lamúrias de Luisão, no início da época, são um exemplo dessa inevitabilidade.
E ajuda muito ter uma espécie de provisão infindável de Xanax na pessoa de Rui Vitória. A renovação de contrato, apalavrada ontem, significa que o Benfica está bem ciente de qual tem sido a sua principal força."

O dia em que o 'rei' faz anos

"No dia 25 de Janeiro de 1942, nasceu, no bairro da Mafalala, Lourenço Marques, um português irrepetível, Eusébio da Silva Ferreira. A carreira futebolística do pantera negra é património imaterial da humanidade e ao cidadão Eusébio, que teve o mundo a seus pés, foi conferida honra de Panteão como morada eterna.
Eusébio nasceu nos idos do Império e foi como cidadão português que cresceu e demandou a metrópole, onde o esperavam fama e fortuna. Foi com a camisola das quinas que se cobriu de glória, tornando-se o primeiro português global do século XX; e teve o Estado Novo a usá-lo como exemplo de um país, multicultural, multirracial e multicontinental.
Com a independência de Moçambique, em 1975, poderiam ter-se levantado dúvidas a Eusébio. Porém, nunca vacilou nem em relação à sua condição de português, nem quanto ao carinho com que sentia a terra que o viu nascer e da qual foi embaixador.
Esta singularidade merece ser destacada no dia em que faria 75 anos. Eusébio é nosso, mas também é de Moçambique, na medida em que subsiste um elo invisível entre povos que durante séculos seguiam no mesmo trilho e que há mais de quatro décadas convivem e se respeitam, na soberania de cada um, como iguais.
O futebol é o instrumento mais eficaz para a aproximação dos povos da lusofonia, uma impressão digital de Portugal que ficou nos países que falam a língua de Camões, capaz de resistir ao tempo e ao modo. E Eusébio, tão vivo apesar da morte, é o porta-estandarte desta comunidade de afectos e emoções, construída em torno de uma bola de futebol..."

José Manuel Delgado, in A Bola

Revolução em marcha?!

"Apesar de profissionalismo treinado na relevância do poder de síntese há, por vezes, temas para os quais a dimensão desta singela coluna é, no mínimo, inadequada! O tema de semana passada, sobre a inovação no atletismo, era precisamente um desses. Hoje vou continuar.
Por ocasião dos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, o atletismo atingia a sua maioridade quando foi definido o que ainda é hoje programa oficial de qualquer Campeonato do Mundo. A modalidade estava perfeitamente consolidada, era apreciada universalmente e era, como o é hoje, o grande pilar dos Jogos Olímpicos, sem a qual estes não teriam sobrevivido.
As parcas alterações introduzidas desde então foram sobretudo para tirar partido dos avanços tecnológicos em termos dos novos materiais, engenhos e processo de medição.
Passou mais de um século. O mundo mudou várias vezes e o atletismo, como pilar fundamental, manteve-se firme! Mas, para muitos, está na hora de partir ao encontro de novos desafios que nos tragam ainda mais atletas e também vastas audiências, nos estádios e nas diversas plataformas.
Há, no entanto, que ter cuidado ao inovar, para não transformar competições oficiais da IAAF, como os Mundiais ou os Jogos Olímpicos, em laboratórios experimentais com programas sem consistência. Há que mudar, mas para ficar!
Na semana passada, referi a introdução de um estafeta mista nos Mundiais de crosse, a qual poderá fazer regressar muitos países que têm permanecido afastados. Na pista, preparam-se também experiências interessantes. O laboratório situa-se em Melbourne. O projecto chama-se Nitro Athletics! Seis selecções, na presença de Sebastian Coe, defrontar-se-ão com um programa que incluirá, além de disciplinas tradicionais, provas como 60m, estafeta com barreiras, 150m, estafetas mistas e 4x100m, corrida de três minutos, e minha a eliminar.
Aguardemos!"

Carlos Cardoso, in A Bola

Guedes

É oficial, Gonçalo Guedes vai representar o PSG.
Muito se tem dito nos últimos dias sobre a transferência do nosso jovem talento, tenho lido alguns comentários verdadeiramente insanos (no mínimo)!!! Continua a existir muita gente a viver em realidades alternativas (não é só o Babalu...).
O Benfica será sempre um Clube vendedor, sempre... Ilusões de ter um plantel 100% formado no Benfica, a disputar todas as competições internas para ganhar... e a fazer boa figura na Europa, fazem mal... Deixem de pensar nisso!!!
Aquilo que o Benfica tem conseguido nos últimos anos: valorizando os seus jovens, dando minutos úteis na equipa principal, e vendendo alguns por preços altos, é aquilo que a Direcção se propôs, e é a estratégia correcta...
O facto do Benfica ter as 'contas' controladas, não quer dizer que não exista necessidade de fazer mais-valias com jogadores... dá-nos mais flexibilidade negocial, mas não podemos oferecer ordenados iguais àqueles que se pagam lá fora, nem podemos deixar de fazer encaixes financeiros com as vendas...
Por muita ligação emocional que exista entre jogadores e adeptos, os jogadores passam e os adeptos ficam...

O mais curioso, é que muitos dos 'indignados' são aqueles que nas bancadas, gritavam para o Guedes, levantar a cabeça, passar a bola, deixar de ser fução... entre outros impropérios!!!
Com o Jonas e o Rafa aptos, o Gonçalo provavelmente teria tido muito menos minutos daqueles que acabou por ter... De todos os jogadores 'falados' como possíveis transferências nesta 'janela', o Gonçalo é aquele que terá menos impacto no rendimento da equipa! O Nelsinho, o Jiménez e até o Lindelof são neste momento mais importantes...

Desejo toda a sorte do mundo ao Gonçalo, não vai ser fácil em Paris, ganhar minutos, mas com o talento e a garra que ele tem, vai ter sucesso seguramente... E por acaso, o 433 do Emery até se adapta melhor as características do Guedes!

Agora, é esperar que o Joãozinho, o Pêpê, o Zé Gomes, o Yuri, o Dias... entre outros, esperem pelas suas oportunidades, e as agarrem...
E isso não significa que vão fazer todas as carreiras no Benfica, isso quer dizer que podem ganhar títulos na equipa principal, como o Guedes e o Sanches ganharam, e depois terão a possibilidade de ganhar a independência financeira para eles e para as suas famílias...
E é isto que o Benfica lhes poderá oferecer... algo que comparado com o que acontecia à pouco tempo, já é uma evolução enorme!!!

Desafios no (futebol) feminino

" «You always have to be at the top of your game and your always improving because of the people around you. I train the way I do every day because in the end, I love what I do.»
Shannon Boxx (campeã olímpica 2004, 2008, 2012, entre outras provas, e finalista do prémio "Melhor Jogadora do Mundo", da FIFA, em 2005).
No mês em que se iniciaram os trabalhos de preparação para o Campeonato da Europa na Holanda, para o qual a nossa selecção feminina sénior fez um apuramento histórico no final de 2016, parece de alguma forma apropriado abordar este tema da perspectiva sócio-psicológica.
Durante muitos anos (quase 15), tive o oportunidade de colaborar com uma série de Associações de Futebol, no âmbito dos cursos de formação de treinadores. Foi, efectivamente, uma oportunidade única onde, tendo a oportunidade de ser responsável do módulo de "Ciências do Comportamento", acabei por dar a conhecer esta área de conhecimento científico (e do seu contributo para a modalidade) a uma imensidão de "candidatos" a treinadores - alguns deles vieram efectivamente a assumir um claríssimo papel de destaque na profissão.
Curiosamente, ao longo de tantos anos, a percentagem de treinadores dedicados ao futebol feminino era diminuta (1%?) e, muito frequentemente, e num ambiente de franca camaradagem e sem malícia, eram trocadas piadas acerca dos colegas que se dedicavam a treinar mulheres.
Contudo, sem excepção, e inversamente ao que pude constatar em muitos treinadores do masculino, quase sempre observei elevadíssimos níveis de motivação e de compromisso com a modalidade.
Na realidade, treinadores que treinam "o feminino" (e aqui poderíamos integrar todas as outras modalidades) são, muito frequentemente, motivados intrinsecamente ou, por outras palavras, extraordinariamente focados no processo e, daí, fazerem o "match" perfeito com as características das populações que treinam.
Curiosamente, existe uma correlação positiva entre este estilo o o nível de confiança pessoal do treinador (ou seja, acreditando no processo que foi por si delineado, tende a mantê-lo mesmo face à adversidade, até que resulte). Igualmente curioso, alguns dos treinadores de excepção do masculino, partilham deste mesmo estilo. De uma forma bastante generalista, poderíamos dizer que, em treinadores focados no resultado, todas as suas decisões e estratégia estão, em primeira instância, focadas na vitória imediata, enquanto que um treinador focado no processo orienta as suas acções para o plano que delineou, com o propósito de expandir as competências da sua equipa. 
Grosseiramente, poderíamos dizer que uns estão focados no sucesso a curto-prazo e outros, a médio-longo prazo - naturalmente que, este estilo de orientação, será ou não a mais oportuna, de acordo com a conjectura onde tudo isto será actuado.
A expressão de Shannon Boxx espelha-nos isto mesmo: um enorme foco na superação (a cada minuto) das suas competências, pelo prazer que retira daí - ou seja, prazer associado à aprendizagem e não ao resultado obtido. Revela também uma enormíssima confiança na equipa que a gere e este tipo de fenómeno é bastante comum, na medida em que, se acredito no processo, acredito na minha equipa técnica.
Os estudos de género (diferenças entre o atleta masculino e feminino) foram fortemente impulsionados na década de 70 e, nesse enquadramento sócio-conjectural, foram observadas diferenças entre os dois géneros que, durante muitos anos, foram citadas como os denominadores que distinguiriam homens e mulheres.
Contudo, e como o contexto social é, também ele, extraordinariamente dinâmico e permeável a novas tendências pedagógicas, seja no contexto académico, desportivo ou até familiar, estas mesmas diferenças tenderam a esbater-se um pouco, não se podendo afirmar tão peremptoriamente como isso. 
Falemos, então, apenas de tendências (algumas elas, até partilháveis com atletas de outras "minorias", em contexto de alta competição, como sejam os paraolimpicos).
Tendencialmente, diz-se, as mulheres são menos competitivas e mais focadas na tarefa ou, por outras palavras, mais orientadas para o treino e menos orientadas para a competição.
Dependendo da perspectiva, esta pode ser uma enorme vantagem competitiva que um treinador poderá explorar na medida em que, a performance competitiva, num plano óptimo, deverá espelhar a qualidade dos treinos e, por esta razão, se se forem integrando mais momentos "competitivos", em treino, estaremos também a desenvolver as suas competências de jogo.
Tendencialmente, diz-se, são mais trabalhadoras e esforçadas (sendo que, da minha experiência, pode-se incluir aqui todo e qualquer atleta, independentemente do género, que desenvolva a sua actividade em alta competição e que exiba performances consolidadamente de sucesso - nem sempre acontece).
Aqui, costumo brincar com algumas atletas... é a "vantagem" das mulheres serem, culturalmente, mais propensas ao "fenómeno da culpa" (entenda-se em "psicologês": locus de controlo interno)... traduzindo, "se correu mal, a culpa é minha... logo, tenho que trabalhar a dobrar".
Em traços genéricos, é mais fácil comprometermos um atleta, com este tipo de locus de controlo - com exercícios de correcção e superação, porque desvalorizam completamente a "frustração" momentânea (a curto prazo e resultante muitas vezes da repetição dos exercícios) e se focam no ganho de competência - do que um atleta que, com o locus de controlo externo, justifica os seus erros com os colegas, o treinador ou a arbitragem (tudo, convenientemente, fora da sua "zona de responsabilidade").
Por último, e talvez o mais claramente associado à prática de futebol no feminino (fenómenos que, por certo, assistiremos, por exemplo, num rapaz que queira seguir dança clássica), uma gigantesca determinação e capacidade de resistência à frustração, resultante de uma prática que, até há bem poucos anos, era mal aceite em termos sociais, pelos estereótipos que foram criados.
Julgo que, em alguns contextos, será certamente uma "obstinação saudável" em provar ao "mundo" que, através da sua escolha, será bem sucedida - o que não a protege, sem dúvida, de desenvolver grande parte da sua actividade num "contexto hostil" (hostil porque não valoriza e não apoia a sua escolha, chegando mesmo a descredebilizá-la).
É certo que as mulheres que irão defender o nosso país no próximo campeonato da Europa beneficiaram já de um forte apoio da Federação Portuguesa de Futebol, dos clubes e treinadores que agarraram este desafio de levar o Futebol Feminino "to the next level" (coisa que, há uns anos, seria impensável)...
Todavia, isto só foi possível porque há 10, 15 ou 20 anos... um conjunto de meninas, contra tudo e contra todos, seguiu a sua escolha. Uma escolha que as transformaria nas atletas que todas estas estruturas (e pessoas) decidiram apoiar.
E, por isto, e só por isto... independentemente de qualquer resultado, merecem sem dúvida, o nosso apoio. Melhor, o nosso agradecimento por nos mostrarem que, com trabalho e dedicação, o nosso sonho ou objectivo fica mais próximo."

O 'título' do segundo lugar

"Os promotores da contratação de Jesus venderam a ideia de provocarem rombo irreparável no Benfica, mas verificou-se o contrário: fizeram-lhe um favor impagável

Em primeiro lugar quero pronunciar-me sobre uma frase de Jorge Jesus na conferência de imprensa depois do empate nos Barreiros, ao indicar o segundo lugar no campeonato como objectivo a perseguir no que falta preencher da temporada desportiva.
Parece-me uma precipitação, a quente, na medida em que, apesar do quadro problemático, que é visível e reconhecido, ainda agora começou a segunda volta. Há dezasseis jornadas por disputar, os três candidatos têm de defrontar-se entre si, em jogos sempre especiais e à margem de todas as projecções, além de ter de contar-se com outros intervenientes, casos de SC Braga, Vitória de Guimarães, Rio Ave e Marítimo, por exemplo, com argumentos para interferirem nas contas do título.
Por outro lado, há o respeito pela grandeza da instituição Sporting e um plantel formado por profissionais de diferentes sensibilidades e capacidades que, na sua esmagadora maioria, de certeza, não deve ter gostado do que ouviu, principalmente a cerca de duas semanas do próximo clássico, no Dragão.
Quero acreditar que não passou de um frase irreflectida, dita em ambiente de tensão e não tradutora do pensamento de quem a proferiu. Julgo ser este o comentário que fará mais sentido, dado entender-se mal que por detrás dela possa haver uma segunda intenção.
Sobre o desempenho da equipa, além de estar a tentar transferir-se o ónus para os jogadores, ele só pode espantar quem não se deu ao trabalho de pensar um pouco na relação benefícios/prejuízos quando se anunciou a extravagante aquisição, ou quem nem sequer deitou um olhar ligeiro ao currículo de Jesus. Se o tivessem feito, depois de um ano fracassado e de outro caminho disso, saberiam que a sua época forte é a primeira, a do tratamento de choque.
Nesse período é eficaz, por ser um treinador que prefere as corridas curtas às maratonas. O efeito surpresa dilui-se, portanto, assim que é resolvida a chamada situação de emergência, entre outros factores regra geral desvalorizados e que mais tarde ou mais cedo começam a fazer mossa ao nível da coabitação desejável entre a liderança que se quer natural e discreta e o diálogo que se pretende sem ruídos entre todos os elementos da comunidade futebolística.
Com tudo a ser posto em causa, emerge uma conclusão que até os mais recalcitrantes devem sentir dificuldades em contrariar: muita parra e pouca uva. Os promotores da contratação de Jesus venderam a ideia de provocarem rombo irreparável no Benfica, mas verificou-se o contrário: fizeram-lhe um favor impagável, ao libertá-lo do adamastor por ele criado e que se transformara num obstáculo à prossecução da política de crescimento estabelecida para o emblema da águia, como Luís Filipe Vieira já explicou.

Ano e meio depois - o futebol é feito de momentos, hoje é assim, amanhã logo se vê -, o Benfica lidera a classificação no campeonato, está na Liga dos Campeões e mantém no seu horizonte a Taça da Liga e a Taça de Portugal. Continua em todas as frentes. Afirmou Rui Vitória, em conversa com o jornalista Hélder Conduto, que não existem prioridades, há a vontade de ganhar aliada à noção de se poder perder. Ou seja, a garantia de que a solidez do projecto vermelho se sobrepõe ao sentido de um qualquer resultado. Em contraposição à realidade leonina, em que a fragilidade do projecto verde ameaça colapsar sob o peso de promessas em cima de promessas por cumprir.
O título do segundo lugar é o que Jesus alvitra - ou do terceiro, porque no FC Porto Nuno Espírito Santo não dá sinais de cedência -, o que suscita um questão intrigante e para a qual ainda não consegui resposta minimamente esclarecedora. O vencimento de Jesus era escandaloso no Benfica e subiu para ofensivo no Sporting face à realidade social do nosso país, mas, tudo bem, faria parte de uma encenação para sustentar a espaventosa operação. O que não enxergo é a razão por que, decorrido menos de um ano, o presidente resolveu aumentá-lo e prolongar-lhe o contrato. Como prémio por ter conquistado nada? Ou quase: venceu uma Supertaça, o legado que Marco Silva lhe deixou. Que deve estar a sorrir, tal como Leonardo Jardim.

Markovic está a caminho de Inglaterra. Constava na lista de dispensáveis em Janeiro, da qual fazem também parte Azbe Jug, André, Elias, Meli, Petrovic e Douglas. Poupar é preciso, de aí a tentativa de colocar no mercado quem convence pouco. E o misterioso Bruno Paulista? Alguém se lembra dele? Não está na lista e, no entanto, chegou ao Sporting no verão de 2015. Joga muito raramente e nem se fala dele, embora a seguir à derrota de má memória com o Skenderbeu, na Albânia, ainda na época passada, o seu trabalho tivesse sido elogiado por Jesus, creio que o único jogador a merecer esse privilégio. Vá lá perceber-se..."

Fernando Guerra, in A Bola

Pizzi, porto seguro

"Médio atinge números fantásticos em jornada em que o FC Porto mostra garras, e Chaves e V. Guimarães confirmam grande momento.

Os últimos dois jogos do Benfica na Liga, em casa e com o apoio de um estádio cada vez mais entusiasmado, não foram fáceis.
No momento da viragem da época e numa altura em que se aproximam meias-finais de competições internas e os oitavos da Liga dos Campeões, com quatro pontos a maior para o segundo na Liga, os encarnados atravessam, a julgar pelas exibições mais recentes, fase menos fluída. Uma eventual falta de frescura, física e até, possivelmente, mental.
É verdade que é demasiado cedo para antever nuvens negras sobre o futuro da equipa esta época – e os homens de Rui Vitória já tiveram uma fase mais dramática, quebrada com o triunfo no dérbi com o Sporting –, mas cabe-nos a todos olhar para lá de uma recuperação fantástica de 0-3 para 3-3 ou de uma goleada por 4-0 ao último. O 0-3 frente ao Boavista terá sido um primeiro sintoma, com a equipa a sentir falta de pernas para atacar o 4-3 nos últimos minutos, tal como uma hora de seca frente ao último sublinhado outro. São incidentes que aparecem, ressalve-se, depois de dois excelentes triunfos em Guimarães, intervalados por poucos dias.
A qualidade individual dos jogadores, sobretudo do meio-campo para a frente, tem disfarçado o maior cansaço. É óbvio que alguma insegurança defensiva – evidente perante o conjunto portuense – não é alheia à ausência de Fejsa. 
Não podemos parar aqui, na defesa. A influência do sérvio estende-se depois à perda de alguma capacidade de pressão à frente e da facilidade, perante equipas com transição mais frágil, de roubar a bola próximo da área rival, criando vagas sucessivas no ataque. Com Fejsa em campo, varrendo de lado a lado à frente dos centrais, o Benfica começa puxar a manta muito acima a fim de reconquistar a posse de bola bem cedo.
Samaris tem tentado disfarçar, mas as características do grego são diferentes e obrigam a equipa a outro tipo de movimentos, criando mais vazios entre linhas.
Coube a Pizzi resolver. Apesar de frente a Boavista e Tondela não ter estado no melhor nível de discernimento, conseguiu com a sua capacidade individual encontrar soluções para uma partida bloqueada. Dois golos que fazem subir os números fantásticos do médio português, que só à sétima jornada assumiu de vez a posição 8 – com o Braga, na Supertaça, e Tondela começou à direita; perante o V. Setúbal foi segundo avançado; frente a Nacional, Arouca, Besiktas, Sp. Braga e Chaves esteve destacado à esquerda. Foi sempre a peça mestra do puzzle que encaixava em qualquer buraco vazio.
Melhor marcador dos encarnados na Liga com oito golos e sem ser o escolhido para os penáltis, e já com quatro assistências, Pizzi faz subir as estatísticas quando somadas todas as competições: 11 golos (oito da Liga, mais dois na Taça de Portugal e outro na Supertaça) e sete assistências (as já referidas quatro, mais duas na prova-rainha e outra no arranque da nova época, em Aveiro).
É o médio quem tem sido o porto seguro numa equipa em que se têm destacado ainda o gélido Ederson, a força de Nélson Semedo, que já leva dois golos e seis assistências em todas as competições, um Fejsa sempre impressionante, os goleadores Mitroglou e Jiménez, e um variadíssimo leque de soluções para as alas, desde um Cervi que já marcou em todas as competições, passando por um Salvio menos exuberante mas objectivo (seis golos e sete assistências, em todas as provas), e por um Gonçalo Guedes que se vestiu, à sua maneira, de Jonas até ao regresso do brasileiro, podendo agora estar prestes a deixar o clube.
Pizzi tem unido todas as pontas, e será obviamente fundamental para o que vem aí em termos colectivos. No plano individual, já vai na melhor época de sempre. A renovação surge como prémio merecido.

O FC Porto mantém-se por perto e voltou a ter de recuperar de uma desvantagem, mesmo depois de se ter adiantado primeiro no marcador. Foi um muito bom Rio Ave aquele que se apresentou no Dragão.
A equipa de Nuno Espírito Santo terá de sair viva do clássico de daqui a duas jornadas e isso só conseguirá se vencer na Amoreira e, depois, no Dragão, o Sporting, isto caso o Benfica cumpra nos seus compromissos. Se os encarnados fraquejarem, melhor então para Nuno Espírito Santo e para a sua jovem equipa, com o campeonato ainda mais efervescente.
Dificilmente o FC Porto conseguirá virar todos os jogos da forma como fez frente ao Rio Ave, com três bolas paradas. No entanto, depois de novamente ter mostrado dificuldades no controlo da partida, apoiou-se em mais dois livres indirectos – já tinha dessa forma inaugurado o marcador – para recuperar o ascendente. Alex Telles chegou às sete assistências (cinco na Liga, duas na Champions), Marcano assinou o quinto golo (quarto no campeonato), Felipe o terceiro (segundo na Liga) e Danilo o segundo (ambos na principal prova do futebol português).
Os dragões mostram aos rivais uma arma importante para o que resta da temporada e numa das suas fases mais decisivas. Será desta que se torna de vez consistente?

Elogios ainda para os fantásticos Desportivo de Chaves e Guimarães. Os flavienses, sempre muito organizados, igualaram o Marítimo no sexto lugar. Já os vimanarenses venceram na visita ao rival Sp. Braga e têm o quarto lugar e o Sporting a um ponto. Dois projectos bem estruturados e com provas dadas esta temporada, com resultados que ainda tornam mais válidos todos os passos dados no passado recente."