sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Três pontos

"Heródoto, considerado o pai da história enquanto disciplina, descreveu o povo persa como sendo peculiar nos seus hábitos. Revelou, por exemplo, a forma como as decisões eram tomadas na Pérsia. Conta o grego que os persas se reuniam e discutiam os problemas enquanto bebiam. Quando estavam bêbados, tomavam decisões. Se, no dia seguinte, a decisão continuasse a parecer fazer sentido, era considerada tomada. É assim que imagino a definição de comunicação do Sporting.
Jorge Sousa passou de excelente árbitro após uma vitória leonina em Alvalade frente ao Benfica, apesar de ter perdoado uma grande penalidade ao Sporting num lance que afastou Luisão quatro meses do relvado. Após a recente derrota na Luz, afinal não está à altura do dérbi. As bolas que foram às mãos de jogadores sportinguistas no embate frente ao Porto da terceira jornada passaram a ser tocadas deliberadamente por benfiquistas no dérbi recente sem que se descortinem diferenças nos lances evocados em ambos os jogos.
E após uma longa discussão sobre cuspo ou vapor de Bruno de Carvalho na cara do presidente do Arouca, cai o Carmo e a Trindade por causa de umas cartolinas arremessadas, alegadamente, a Jorge Jesus. Regresso ao grego e recordo uma das suas afirmações mais conhecidas: 'É sem dúvida mais fácil enganar uma multidão que um só homem'. Ele a mim não me 'engana', já aos sportinguistas espero que continue a 'enganar'. Feitas as contas à sua agressividade dirigida a tudo o que é vermelho, somos tricampeões desde que foi eleito...
Quanto ao jogo, o Sporting jogou aquilo que o Benfica quis que o seu adversário jogasse. A estratégia resultou, parabéns a toda a equipa!"

João Tomaz, in O Benfica

Salgueirização

"Lembram-se de quando António Oliveira, antigo jogador e seleccionador nacional, acusou um canal de televisão português de tentativa de homicídio por meio audiovisual? Sim, todos nos rimos com o exagero e com o disparate e pensámos que absurdo semelhante não voltaria a acontecer. Mas aconteceu. No passado domingo, um dirigente desportivo visivelmente transtornado, e sem qualquer luz ao fundo do túnel, resolveu criar a acusação de ter sido agredido por uma cartolina voadora. Deu-se até ao trabalho de a dobrar umas quantas vezes e colá-la para mostrar aos senhores da comunicação social o perigo de vida que tinha corrido. E depois fugiu para o Facebook para mostrar a sua indignação.
Já que estamos a lembrar outros tempos, vou falar-vos também do histórico Sport Comércio e Salgueiros, um dos mais antigos de Portugal. Lembram-se? Deu grandes jogadores e treinadores ao futebol nacional e, em 2004, foi impedido de inscrever jogadores. Devido a má gestão e perda de património depois de uma liderança desastrosa, teve de mudar de nome em 2008 para Sport Clube Salgueiros 08. Só em 2015 reconquistou o direito em tribunal de voltar a ser o velho Salgueiros. Esta potência do polo aquático tenta agora recuperar de um período negro no que diz respeito ao futebol. Teve de abandonar a modalidade em termos profissionais durante algumas épocas, ficou-se pela formação e disputa agora o Campeonato de Portugal - está em segundo no Grupo C. Era um histórico, com uma massa associativa efusiva que nunca deixou de apoiar o clube e elevar a Alma Salgueirista. Nenhum desses adeptos deve ter imaginado a dimensão da queda, mas aconteceu."

Ricardo Santos, in O Benfica

Na Raça!

"Há várias formas de analisar um jogo de futebol. Podemos fazê-lo à luz das estatísticas (sempre relativas, e condicionadas ao evoluir do resultado), pela eficácia, ou quanto à garra demonstrada pelas equipas.
Aquilo, que verdadeiramente importa são os golos. Mas quando vejo o Benfica jogar com a atitude competitiva que demonstrou no 'dérbi', com a concentração e combatividade que colocou em cada lance com aquele espírito de luta que define os campeões, fico com a certeza de que dificilmente alguém nos conseguirá bater. A vitória começou, pois, a desenhar-se na coragem e bravura dos nossos homens, que correram mais, lutaram mais, e foram mais fortes nos duelos físicos, durante a maior parte do tempo.
Em desvantagem, cabia ao adversário assumir as despesas ofensivas da partida. Muito mal estaria o nosso rival se, a perder por 2-0, não mostrasse qualquer reacção. Mostrou-a, e aí soubemos agarrar com unhas e dentes os preciosos pontos, contando com o acerto da linha defensiva, e com a qualidade de Ederson, sem nunca perder de vista o contra-ataque.
As habituais desculpas de mau perdedor apenas procuram desviar a atenção dos dois desaires consecutivos (externo e interno), daquele que é o mais bem pago treinador da história do futebol português.
Se quiserem falar da arbitragem, que falem dos cartões perdoados a jogadores do Sporting: são os únicos casos em que as opiniões dos especialistas não se dividem, e foram também os únicos bem visíveis em todo o estádio. Como visíveis foram as inqualificáveis provocações do presidente de um clube que merecia alguém com outro nível a dirigi-lo."

Luís Fialho, in A Bola

Nulo

Benfica B 0 - 0 Sporting B


Empate, em jogo equilibrado, mas onde o André Ferreira, com decisivo com algumas grandes defesas... com o Benfica a definir mal no último terço.
7 jogos sem vencer, confirma aquilo que eu tenho dito: estamos a jogar mal, depois de um início bom, a equipa baixou de rendimento... Pode ter sido coincidência, mas a 'quebra' acentuou-se quando começou a Premier League International Cup, e quando alguns jogadores 'baixaram' à UEFA Youth League!

Tudo maluco!

"Por cá, não vemos o futebol a cores; vemos o futebol a três cores. E, no fim, queremos que ela tenha apenas uma. A nossa.

Mais coisa menos coisa, todos contribuímos para este clima de tensão permanente no futebol português e para a visão meio alucinada como observamos e analisamos o jogo e nos deixamos condicionar pelas rivalidades e pela atmosfera de conflituosa competição.
Um dia destes, exigiremos que os jogadores não possam tocar uns nos outros e que todos sejam obrigados a amarrar os braços de preferência atrás das costas, para evitar, do mal ou menos, que tenham, simplesmente, de os cortar.
Também passaremos a querer que o esférico (redondo, lembrem-se!...) não possa, em nenhuma circunstância, raspar sequer nutra qualquer parte do corpo que não seja as pernas ou a cabeça.
Para o tribunal do vídeo, e sobretudo para os especializados comentadores da classe dos doutores e engenheiros, o movimento dos jogadores, a velocidade da bola, os ressaltos, o capricho dos desvios, a escorregadela, nada disso conta, nada disso faz parte do mais bonito jogo do mundo.
O que interessa não é entender o jogo ou a clareza e intenção com que por exemplo se comete uma falta; o que interessa é fintar a ilusão de óptica e dissecar o pormenor, o raspão, ínfimo toque, o milímetro a mais ou a menos, à luz de centenas de repetições de imagens televisivas que apenas servem, na maioria dos casos, para azedar a discussão e confundir ainda mais o estimado ouvinte.
O que interessa não é discutir com serenidade e aceitar a dúvida dos outros como aceitamos a nossa; o que interessa não é ajudar a compreender-se quem deve ser punido por rasteirar, por agarrar, por intencional e claramente jogar a bola com a mão.
O que interessa é fazer ruído com o centímetro em fora de jogo, o último terço do pé dentro da área, o dedo mindinho da mão direita mais para a esquerda ou mais para a direita ou o toque da bola no fio do cabelo ou no pelo da barba.
O que interessa é esmiuçar o detalhe da imagem televisiva (sempre a imagem televisiva, como se ela fosse infalível e desfizesse todas as dúvidas!...), o que interessa, dizia, é esmiuçar o detalhe como se estivéssemos num laboratório a dissecar o organismo de um qualquer pequeno animal.
O jogo já não é para ser apreciado enquanto jogo mas para ser cortado à fatia com as afiadas lâminas da má-língua.
É a realidade, e saibamos aceitá-la: estamos todos a ficar um bocadinho malucos!
Ainda agora, num dos jogos do pomposamente designado Campeonato do Mundo de Clubes, e recorrendo precisamente ao tribunal do vídeo, a tecnologia que tanto se apregoa, como se ela fosse capaz de resolver tudo, levou um árbitro a assinalar, e bem, uma grande penalidade, mas a ignorar, e mal, o fora de jogo que a precedeu.
É incrível, não é?!
A verdade, infelizmente, é que já vamos tarde para nos educarmos, porque este vírus das emoções disfuncionais está no sangue destes latinos incontroláveis que somos nós, tendenciosamente capazes de passar a vida a ver a árvore sem conseguir ver a floresta.
Gostamos de conviver com esta raiva e com esta confrangedora obsessão por acusar os outros, julgar os outros, difamar os outros, condenar os outros, iludir e enganar os outros, como se fossem os outros, só os outros, os culpados dos nossos erros e insucessos.
Não vemos o futebol a cores; vemos o futebol a três cores! E, no fim, queremos que ele tenha apenas uma. A nossa.
Não há paciência!

Não é muito fácil compreender o que se passará com André Carrillo, o jovem avançado peruano que trocou o Sporting pelo Benfica. Um ano sem jogar foi suficiente para lhe sugar todo o talento que se pensava que tinha? A verdade é que ao cabo de seis meses na Luz, não há meio de Carrillo fazer qualquer diferença no futebol do Benfica. Até ao momento, e respeitando a dedicação e o profissionalismo de Carrillo, ganha o prémio de maior flop da Liga, como os italianos tanto gostam de chamar aos reforços que... não reforçam!

Gonçalo Guedes vai ser ainda melhor jogador do que é; ganhará dimensão, controlo e domínio do jogo. Mas espero que a maturidade não lhe tire o lado imprevisível e espontâneo. Ele é, de momento, essencial no jogo das águias. Sempre que sai, a equipa afunda-se; sempre que entra, a equipa cresce! Em Istambul, quando Vitória o tirou do jogo, o Benfica sofreu 2 golos e cedeu o empate; com o Nápoles, mais 2 golos, e perdeu; com o Sporting, sofreu um golo e abanou.
Apenas coincidência?

Não se vê nenhum outro guarda-redes na Europa capaz de colocar a bola (ao pé ou à mão) como o benfiquista Ederson; e também não se vê na Europa guarda-redes em melhor forma do que Rui Patrício, recentemente designados 2.º melhor guarda-redes de 2016 - e devia ter sido o primeiro -, atrás do italiano Buffon. Ederson e Patrício são dois ilustres craques da nossa Liga e isso ficou bem claro no último derby.
Afinal, ainda temos algumas coisas boas!

PS: Alguém tinha dúvidas de que CR7 ganharia a 4.ª Bola de Ouro? E alguém tem dúvidas de que vá ganhar o prémio da FIFA para melhor do mundo? Ronaldo merece tudo isso e muito mais!
(...)"

João Bonzinho, in A Bola

PS1: Inacreditável como até agora nenhum jornaleiro tenha tido a coragem de denunciar a 'fraude' dos votos em Rui Patrício na Bola de Ouro, do France Football 2016.
Dos 6 pontos que ele conseguiu, 5 foram atribuídos por um jornalista em representação de Cabo Verde (avençado, que na sua página de Facebook pessoal, não esconder o seu sportinguismo); e 1 ponto foi atribuído por outro jornalista Macaense!!!!
Onde está o reconhecimento internacional?!!!!

PS2: Em relação ao video-árbitro no Campeonato do Mundo de Clubes, é óbvio que ainda estamos numa fase experimental, e portanto é o momento para cometer erros e desenvolver protocolos para no futuro, errar menos!!!
Mas realmente, a forma como os erros foram cometidos, até parece que estão a tentar sabotar o vídeo-árbitro, à nascença!!!

Carrillo: quando talento não chega

"Carrillo não é caso único. Como o peruano já houve muitos e muitos continuarão a aparecer. Os que nasceram com tudo para entrarem na galeria dos grandes mas que por uma ou outra razão - ou muitas juntas, se quisermos - não chegam sequer lá perto. O extremo do Benfica ainda vai a tempo (não convém, ainda assim, demorar muito, porque já tem 25 anos...), mas a verdade é que tem sido incapaz de mostrar de forma consistente as qualidades que muitos lhe apontam - e por isso viram nele um craque, estatuto que Carrillo ainda não fez por merecer.
Tem talento? Claro que sim. É unânime. Tem o que é preciso para singrar num clube grande? Aí começam as minhas dúvidas. Porque à excepção de alguns jogos de grande nível no Sporting - em especial no período em que estava para renovar e que culminou no Benfica a ir buscá-lo a Alvalade -, nunca o peruano se conseguiu assumir como um jogador realmente regular. E se nesta nova experiência na Luz teve, durante algum tempo, a desculpa de ter estado mais de meio ano parado, os meses vão passando e Carrillo continua a mandar para as nuvens as oportunidades que Rui Vitória lhe vai concedendo. No Restelo foi só mais uma: substituído ao intervalo depois de 45 minutos para esquecer frente ao Real Massamá... E com tantas opções para os flancos - Rafa, Salvio, Cervi e Zivkovic estão, percebe-se, muito à frente -, é natural que as aparições no onze comecem a escassear.
Não se trata (ou pelo menos não é disso que quero falar hoje) de a aposta do Benfica ter sido acertada ou não. O clube da Luz viu nele (suponho) aquilo que milhões de outros viram. A questão é saber se Carrillo pode ser o jogador que prometeu ser - ou se quer sê-lo. Porque, como em tudo na vida, há quem queira e não possa e há quem possa e não queira..."

Ricardo Quaresma, in A Bola

Benfiquismo (CCCIXX)

Isto é um Álbum musical...
do Benfica!