sexta-feira, 11 de novembro de 2016

É preciso cortar o mal pela raiz

"Há muitos anos que me habituei a admirar a eficácia das nossas forças de segurança. Por vezes, a opinião pública quer resultados imediatos para investigações complexas e reivindica celeridade. Mas, no fim, é como a polícia montada do Canadá, que apanha sempre o seu homem, seja Palito, Piloto ou... o ladrão da FPF.
Vem este introito a propósito da vandalização de duas carrinhas do Pedrouços e do relvado sintético do Grijó, clubes que disputam a Divisão de Elite da AF Porto. Não me passa pela cabeça que as forças policiais não venham a colocar (quanto mais cedo melhor), atrás das grades, os vândalos que destruíram propriedade alheia, tentando atemorizar quem entendem ter-se colocado no seu caminho. Por esse lado, de eficiência policial, estou descansado. Porém, há outro lado, alegadamente desta equação, que me deixa muito mais preocupado. O Pedrouços e o Grijó fazem parte do conjunto de clubes que se recusam defrontar o Canelas, na Divisão de Elite da AF Porto, por sucessivos casos de violência dentro (e fora) das quatro linhas. E não é que, da AF Porto, que tutela desportiva e disciplinarmente a competição, nem uma palavra, apenas um silêncio ensurdecedor que, se persistir, assumirá foros de cumplicidade? Ou será que a AF Porto não tem nada a dizer sobre esta matéria, quando a integridade da competição e os princípios do desporto estão em xeque?
Creio que, se da AF Porto não emanar nenhuma posição sobre este caso, não restará à FPF outra solução que não seja entrar em campo. Porque há coisas que não podem ser permitidas (nem que seja por omissão), sob pena de ficarmos reféns do hooliganismo."

José Manuel Delgado, in A Bola

Nuvens negras

"Trump, Erdogan, Putin, Kim Jong-un, Le Pen, Lukashenko, Al-Assad, Maduro, Castro, Mugabe. Dez nomes, dez mensageiros de ódio, de divisão, de intolerância e que ocupam (ou podem estar perto de ocupar, caso de Marine Le Pen) cadeiras poderosas, demasiado e perigosamente poderosas.
O mundo vive, de facto, dias loucos, difíceis de entender. Por esta altura, ainda procuramos perceber como é possível que um homem que passou toda uma campanha a vender mensagens sexistas e racistas conseguiu chegar à presidência de uma das maiores potências do mundo - militarmente, continua a ser a maior; economicamente, mantém papel dominante; e social e culturalmente é ainda muito influente.
Num ápice, uma imensa maioria de não-americanos (e de americanos também) invadiu as redes sociais apontando o dedo à «estupidez» da América branca, pouco ligando ao facto de muitos milhares de homens e mulheres muçulmanas, hispânicas e negras terem votado em... Trump. Sim, é difícil entender como é possível alguém assim chegar por via democrática ao poder. Mas há explicações - como houve, em 1933, quando Hitler, depois de muitas eleições perdidas, conseguiu, enfim, vencer e chegar ao topo (o resto da história, infelizmente, é conhecida por todos... Ou será que já esquecemos?). Entre os principais motivos está o facto de uma fatia grande da população dos EUA (a par do que se vai vendo pela Europa) estar cansada do establishment que figuras como Clinton representam e que ajudaram a conduzir a situação financeira precária de muitas famílias de classe média (uma vez mais, a par do que sucede também na Europa).
No meio da tempestade, há porém raios de luz que tudo fazem na busca de iluminar-nos um pouco. Um bom exemplo (curioso, até) pode ser encontrado no primeiro evento desportivo internacional duma equipa norte-americana após a eleição de Trump: precisamente um duelo EUA - México, de qualificação para o Mundial-2018, já hoje, no Ohio..."

João Pimpim, in A Bola

O Homem que treina e ensina

"São muitas as definições de um treinador. A de Cruyff soa perfeita do ponto de vista ideológico, orientada pela independência dos resultados: "Só há duas espécies: os que treinam e os que ensinam." César Menotti dá uma achega, acreditando que o talento do líder se mede pelo progresso dos seus jogadores: "Se um futebolista tem sempre as mesmas virtudes e os mesmos defeitos, é porque não tem um bom treinador." Rui Vitória corresponde às duas definições, na qualidade de gestor e pedagogo de altíssima qualidade, que não choca com a realidade, adapta-se a ela; não luta por mudar as regras instituídas, trabalha para melhorar o que tem; não se propõe fazer revoluções, aperfeiçoa a orientação vigente.
Em apenas 16 meses, RV confirmou ser o treinador certo para a nova etapa na vida benfiquista. Integrou-se na máquina, imprimiu uma dinâmica, escolheu um estilo, definiu elos de ligação entre os vários sectores, defendeu princípios e indicou o caminho. Nas suas escolhas estão implícitas opções estéticas, um espírito de trabalho saudável e o respeito sagrado pela história do clube. Para tanto precisou de aproveitar as estrelas que já tinha e conduzir jovens com talento, mas sem experiência, ao patamar de excelência que reclamam; de lhes incutir uma atitude ofensiva e pugnar por um comportamento elegante, estimulando atitude congregadora e generosa capaz de levar a bola para o outro lado do campo, de preferência às redes adversárias.
O grande futebol constrói-se com sentimento e tradição. Todo o seu enlevo histórico e social é património de uma entidade colectiva alicerçada nos adeptos. RV tem mobilizado essas emoções profundas e misteriosas com resultados à altura mas também com ética irrepreensível. E tem-no feito com a imensa grandeza de um discurso aglutinador; com domínio perfeito da matéria e na acção focada apenas no laboratório que ampara o dia-a-dia do treino. Seguro de si próprio, recusa adornar a lenda que está a construir com caprichos, desplantes, provocações, insinuações maldosas, polémicas estéreis ou qualquer outra grosseria. Simplesmente assume o papel que lhe cabe como responsável de uma grande equipa e nunca se lamenta do que corre mal. É incrível como o Benfica lidera a Liga com 5 pontos de vantagem ao fim de 10 jornadas, depois de quase todos os jogadores do plantel terem passado pelo estaleiro.
No decorrer da época já teve os dois pontas-de-lança na enfermaria (Mitroglou e Jiménez); praticamente não contou com Jonas e Jardel; perdeu logo Rafa para várias semanas; abordou o clássico sem Fejsa e Grimaldo, e ainda ficou sem Luisão ao fim de um quarto de hora do jogo. Metáfora de toda a vigência de RV na Luz, o Benfica soube encontrar no Dragão argumentos para evitar a derrota ao soar do gongo. Não é legítimo exigir agora ao treinador encarnado que se automutile porque teve sorte, porque não agrediu quando teve azar; que agradeça aos deuses o milagre do empate e reconheça a dádiva divina diminuindo os méritos da sua equipa. Há um ano, perdeu com o FC Porto, naquele mesmo palco, com um golo de André André aos 86 minutos, e saiu derrotado, na Luz, de um jogo em que podia até ter goleado. O futebol é fértil nestas situações extremas.
RV é o timoneiro de nau a caminho da terra prometida, que tem passado pelas tormentas do alto-mar com a serenidade de quem se convenceu, transmitindo essa confiança à tripulação, de que nada nem ninguém pode impedir a expedição de chegar a porto seguro. Se vai ou não navegar até ao destino, é impossível sabê-lo nesta altura. Mas que estão todos convictos de que tal vai suceder, sente-se em cada palavra. Para acentuar a ideia de que sim, é possível lá chegar, até já saem íntegros e felizes de clássicos em que foram amplamente inferiores com um golo marcado aos 90’+2.

Joel Campbell cada vez melhor
Joel Campbell não se afirmou logo no Sporting de Jorge Jesus. Não se pode dizer, também, que tenha caído no goto dos adeptos, razão pela qual precisou de contar mais com o seu talento do que propriamente com a condescendência alheia. O costa-riquenho trocou o banco do Arsenal pelo que pensava ser um lugar no onze leonino. Está a jogar cada vez mais e melhor. Em 6 presenças na Liga marcou 3 golos.

Óliver explodiu com o Benfica
Óliver ainda não tinha confirmado a exaltação que marcou a primeira passagem pelo FC Porto. O jogo com coeficiente de dificuldade mais elevado serviu para o jovem espanhol se libertar e explanar todos os recursos técnicos do reportório. Foi deslumbrante frente ao Benfica e a ele deve o FC Porto muito do excelente futebol que exibiu no clássico. Com ele a grande nível, o dragão é muito mais forte.

Duas expulsões inexplicáveis
Marega perdeu a cabeça e, sem razão aparente, agrediu um adversário com uma estalada; Boateng marcou um golo e, indiferente ao cartão amarelo que vira cinco minutos antes, tirou a camisola nos festejos para anunciar que chegara a sua hora. Podemos teorizar à volta das motivações que levaram os dois jogadores a fazerem-se expulsar de um modo tão infantil. Mas nenhuma teria uma base futebolística."

Amor eterno

"Já passou quase uma semana desde o Clássico no campo das Antas e há coisa que não me sai da cabeça - o ódio eterno. Foi esse o mote que antecedeu o jogo entre o Tricampeão nacional e o terceiro classificado da época passada. Do líder do grupo de apoio até à página de rede social do neto do ainda presidente, passando por uma grande fatia dos adeptos da colectividade da cidade do Porto, todos juraram ódio eterno ao SL Benfica.
É isso que os motiva, foi isso que os fez estar acordados na madrugada anterior à partida rebentando petardos à porta do hotel onde pernoitou o Glorioso. É isso que comunicam todos os dias, há mais de 30 anos. Como se alguém deste lado perdesse tempo a pensar neles.
Parece-me que é esse o grande problema destes antis. E de outros, que nem vale a pena mencionar. Preocupam-se tento, mas tanto, com o SL Benfica, que se esquecem de resolver os problemas que têm em casa. Empréstimos bancários, comissões a empresários, relatórios e contas duvidosos, contratações falhadas, vidas pessoais expostas na praça pública, desastres desportivos, utopias para cegos verem, esquecem tudo. Só vêem vermelho à frente.
É assim que vão continuar, a ver vermelho à frente. Para já com cinco pontos de distância, espero que com mais nas próximas jornadas. Jogo a jogo, a pensar apenas no Benfica, como fazem os outros. No SL Benfica não há tempo para ódio. Só concentração no amor. Um amor eterno que não se explica, mas que se põe em prática todos os dias."

Ricardo Santos, in O Benfica

Estrelinha


"Do jogo parece sobrar a 'estrelinha'. Qual estrelinha? A que nos fez tricampeões? A que nos mantém invencíveis há 21 deslocações consecutivas no campeonato? A que nos deu o melhor ataque, a melhor defesa e cinco pontos de avanço à entrada para o clássico? A que lesionou Jonas, Jardel e Rafa e afastou ainda Fejsa e Grimaldo a escassos dias do jogo? Ou a que obrigou Rui Vitória a substituir Luisão ao quarto de hora da partida? É preciso ter lata!
Estrelinha foi termos Lisandro teoricamente o quarto central na hierarquia dos centrais, a entrar a frio e a fazer uma bela exibição coroada com o tento do empate. Estrelinha foi termos, em Rui Vitória, a capacidade para, mesmo com tantos lesionados, mexer na equipa e mudar o rumo da partida. Estrelinha foi termos Benfiquistas na bancada que nunca deixaram de apoiar os nossos jogadores... Já para não referir a estrelinha que foi a actuação de Nuno Espírito Santo no banco, apesar dos rabiscos que ilustram o 'jogador à Porto', qual pintura rupestre. Sem apitos dourados, cafés com leite e quinhentinhos, resta-lhes o anti-benfiquismo primário e não há desenhos abstractos que lhes valham.

Mas não julgue o leitor que sou injusto nas minhas apreciações artísticas, pois houve jogadores que assimilaram bem o conceito de 'jogador à Porto' transmitido pelo seu treinador. Refiro-me concretamente a Otávio, o sabujo que cuspiu no Ederson, e a Filipe, o central especialista em auto-golos que num momento de êxtase após derrubar André Horta com a complacência de Artur Soares Dias, puxou pelo público portista como se tivesse acabado de marcar um golo. Aquela impetuosidade toda deve ter sido do vermelho de camisola do André..."

João Tomaz, in O Benfica

Até ao fim

"Há pouco mais de um ano, saíamos do Estádio do Dragão vergados a uma derrota injusta, com um golo sofrido nos últimos minutos, após uma excelente exibição - que de algum modo anunciava o potencial que a equipa viria a demonstrar meses mais tarde.
Ainda no último Campeonato, mas já na segunda volta, na Luz, depois de dominarmos completamente o FC Porto, e de criarmos cerca de uma dezena de ocasiões flagrantes para marcar, acabámos por perder de forma inacreditável por 1-2, num dos “Clássicos” com resultado mais desfasado da realidade a que alguma vez assisti.
Indo mais atrás, ainda hoje é difícil de engolir o trágico minuto 92 que, em 2013, nos custou um Campeonato - com toda a certeza o momento mais cruel que o desporto me proporcionou em 47 anos de vida e de benfiquismo.
Ao contrário das situações acima invocadas, há que reconhecer que desta vez a sorte esteve do nosso lado.
Com um golo nos instantes finais de uma partida que, até então, não nos correra bem, evitámos uma derrota que poderia efectivamente ter acontecido.
Sem subtrair mérito à performance do adversário, há que salientar o facto de os nossos jogadores nunca terem deixado de acreditar que podiam ser felizes. E sublinhar que a forma como Rui Vitória mexeu na equipa se revelou determinante no desfecho do jogo.
Não festejo empates, e era o triunfo que eu queria. Mas, dadas as circunstâncias, o ponto alcançado e os dois subtraídos ao rival acabaram por saber bem, mantendo-nos firmes na caminhada rumo ao grande objectivo da época.
Ficou o aviso. Nada nos será dado gratuitamente, e até Maio ainda teremos muito que sofrer."

Luís Fialho, in O Benfica