sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O mundo ao contrário

"Supertaças nacionais e europeia, jornadas de Campeonato, play-offs de competições da UEFA, tudo disputado no meio de um vai e vem de jogadores, e de consequente diarreia de informação e contra-informação corrosiva e desestabilizadora, por via do estapafúrdio estender do mercado de transferências para além dos timings aceitáveis.
Encerrado o mercado, quando os adeptos puderam, enfim, entusiasmar-se com os seus jogadores, e com as suas equipas, eis que o futebol de clubes ficou parado, dando lugar a uma jornada dupla de selecções – que poderia ter sido disputada uma ou duas semanas antes.
Não conheço razões que expliquem tamanho absurdo, perturbador para a generalidade dos adeptos que, directa ou indirectamente, paga tudo isto.
Mais do que vídeo-árbitros, ou seja o que for que destrua aquilo que o futebol tem de melhor face a outras modalidades – a fluidez -, importava às instâncias federativas nacionais e internacionais rever os calendários competitivos, e ajustá-los a um qualquer assomo de lógica minimamente entendível. 
Se as sacro-santas janelas de mercado de transferências são intocáveis, se as datas FIFA são impostas pelos seus tão credíveis e zelosos dirigentes, então que se altere o calendário nacional, começando o Campeonato na segunda semana de Setembro, e deixando o mês de Agosto, por exemplo, para eliminatórias da Taça da Liga e/ou Taça de Portugal, e para todas as insuportáveis contingências do mercado de transferências.
Hoje jogamos em Arouca, com os nossos jogadores, com o nosso plantel. Hoje começa, finalmente, o futebol de que todos gostamos. Já não era sem tempo."

Luís Fialho, in O Benfica

Não aprendem...

"No 'Livro do Tri', que escrevi com o João Gonçalves, incluímos um pequeno capítulo intitulado 'O voucheur do desespero', dedicado às inúmeras tentativas de desestabilização do Benfica empreendidas em Alvalade. Num dos seus parágrafos, elencámos propositadamente sem qualquer tentativa de ordenação muitas das atoardas lançadas (39 e tantas que foram omitidas), com a intenção de demonstrarmos inequivocamente o que considerámos ter sido uma estratégia, tal foi a parafernália de acusações, insinuações e dislates da mais variada espécie, que não só não surtiu o efeito desejado como, em dado momento, se tornou contraproducente.
Sei há muitos anos que, para aqueles lados, 'sportinguiza-se' o (raro) sucesso e 'benfiquiza-se' o (frequente) insucesso, pelo que tal estratégia, mais que pensada, foi sobretudo consequência do complexo de inferioridade latente, exteriorizado de diversas maneiras conforme a relação de forças entre ambos os clubes numa determinada conjuntura.
Se evidências desta característica falassem, tivemos, no fim-de-semana passado, mais um exemplo paradigmático. O treinador leonino concedeu mais uma entrevista em que o Benfica foi um dos tópicos principais. As mais recentes tentativas de desestabilização (que, pelo caminho, servem igualmente para escamotear eventuais problemas internos) não merecem comentário, mas estão registadas. E logo foram acompanhadas por declarações no mesmo sentido noutra publicação. Não há coincidências, já dizia a escritora.
O que eles persistem em não entender é que estas acções estimulam a nossa ambição de lutar por vitórias, algo que, mesmo não precisando que seja reforçada, agradecemos. Continuem!"

João Tomaz, in O Benfica

Casa ou fora, tanto faz

"Hoje, às 20h30, o Tricampeão Nacional volta ao trabalho.
À quarta jornada do campeonato de futebol, o SL Benfica disputa o terceiro jogo fora de casa, depois das deslocações a Tondela e à Choupana. Em Arouca, hoje a partir das 20h30, tudo indica que a história se repetirá. E não estou a falar apenas de mais uma vitória da equipa, refiro-me à diferença substancial que o Glorioso tem em relação a todos os outros clubes nacionais e à maioria das instituições desportivas de todo o mundo: os seus adeptos.
Na semana em que ficamos a saber que o SL Benfica ocupa a 12.ª posição no ranking dos clubes mundiais com maiores assistências no seu estádio, fica uma questão: e se aos números de ocupação do Estádio da Luz (média superior a 50 mil pessoas por jogo em 2015/16) se juntassem os dados relativos às partidas disputadas fora de casa?
Não é complicado fazer estas contas e esta temporada prometo estar atento a essa realidade. Em Tondela foram 4973 pessoas num estádio com capacidade para cinco mil. Na Madeira, contra o Nacional, estavam 5017 para uma lotação de 5100. E em Arouca, como será? Não será muito diferente, já que o estádio tem igualmente o mínimo de lugares exigido para a participação no principal campeonato português: 5000 lugares. Lá vai a taxa de ocupação rondar os 100%. E estou, recordo mais uma vez, apenas a falar dos números que os adeptos do SL Benfica conseguem fazer fora de casa.
Os outros querem comparar-se connosco? Então, tentem cobrir as clareiras dos vossos recintos desportivos. De preferência sem pintar cadeiras para parecer que tem gente ou sem aldrabar assistências para 'rimar' com o número da camisola do marcador dos golos."

Ricardo Santos, in O Benfica

Arte do improviso segundo Vitória

"Ao problema que é jogar em Arouca, onde mora a equipa-revelação da época passada e que já na corrente temporada tomou o gosto às competições europeias, o Benfica acaba de juntar uma enxurrada de lesões dos homens-golos. Mitroglou e Jonas, que em 2015/16 valeram 52 dos 88 golos marcados pelos encarnados na gesta do tri, estão fora de jogo, o mesmo acontecendo a Raúl Jiménez, o mexicano em quem Luís Filipe Vieira vê uma futura galinha dos ovos de ouro e ainda ao promissor Jovic.
Perante este cenário de penúria, a Rui Vitória não resta outra alternativa que não seja caçar com gato. O recurso à equipa B, onde evolui o luso-guineense José Gomes, de 17 anos, estrela do último Europeu da categoria, é obrigatório, caindo como sopa no mel no discurso pró-Seixal de Luís Filipe Vieira. Mas não será crível que Zé Golo entre no onze inicial. Gonçalo Guedes a nove, um pouco à revelia do que são as suas características, poderá ser uma solução de recurso, complementada por Rafa, que fez finca-pé em jogar no Benfica e ouviu do presidente encarnado rasgados elogios, para compor a dupla atacante em Arouca. O ex-bracarense, que apenas fez dois ou três treinos no Seixal, tem já tarimba suficiente para não se impressionar com uma estreia supersónica, e logo numa posição que não deverá ser a que Rui Vitória tem para ele. Mas em tempo de guerra não se limpam armas...
Depois de ter perdido dois pontos, na Luz, com o V. Setúbal, o Benfica viaja a Arouca sem a artilharia pesada, num contexto em que não pode deixar fugir mais o Sporting, líder da prova.
É certo que a procissão ainda vai no adro, mas... vidinha difícil, não é?"

José Manuel Delgado, in A Bola

Para... opção

"Arrancaram ontem os Jogos Paralímpicos Rio 2016. A Missão portuguesa é composta por 37 atletas que vão competir em sete modalidades. Incontornavelmente vamos falando de medalhas e objectivos desportivos, numa vertente de alto rendimento que o desporto adaptado também quer para si.
O Chefe da Missão Paralímpica, Rui Oliveira, realçou que a profissionalização «é o caminho para os atletas portugueses poderem participar em igualdade de circunstâncias». Convém termos presente que a grande maioria dos atletas que integram a Missão Olímpica não são profissionais, aliás, tal como a maioria dos atletas que participaram nos Jogos Olímpicos. Alguns recebem bolsas de apoio (técnico e logístico) à preparação olímpica, mas as suas modalidades não têm enquadramento profissional, nem têm contratos de trabalho com clubes ou outras instituições.
Antes de saber se podemos ou devemos dar condições profissionais aos nossos atletas de elite, é necessário saber se queremos, realmente, alto rendimento em Portugal. Competidores de modalidades sem quadros profissionais num país com clubes de escassos recursos, dificilmente chegam lá sozinhos, só ocasionalmente e por geração espontânea.
Se é isso que queremos, é necessária uma utilização mais eficiente dos recursos disponíveis para o alto rendimento. Se pretendemos melhores resultados, temos de investir, detectar os nossos talentos, conseguir que os atletas tenham melhores performances e isso faz-se treinando melhor, com mais qualidade e com enquadramento técnico multidisciplinar.
Se quisermos um verdadeiro alto rendimento é, em muitas modalidades, necessário ter atletas a tempo inteiro. Podem e devem conciliar a sua vida desportiva com a académica e social, mas têm que ter disponibilidade de tempo, física e financeira.
Quem está disposto a isso?"

Mário Santos, in A Bola

O mercado de transferências e a feira das vaidades (o que valem cada um dos três grandes)

"Ser pago para treinar o Sporting e não parar de falar do Benfica. O homem não resiste.

Comecemos pelo Porto
1. Em 2015 tiveram a necessidade de contratar um guarda-redes mediático, que acabou por não ser determinante num plantel mediano.
Esta época, mantiveram Maxi Pereira, inferior, reconheça-se, ao seu antecessor (Danilo) e, surpreendentemente, não contrataram nenhum lateral direito, mas, antes, dois laterais-esquerdos (talvez para, em conjunto, fazerem esquecer Alex Sandro). Contrataram, ainda, dois defesas centrais: Felipe e Willy Boly, reconhecendo, com isso, erros passados. Contrataram, também, dois médios, um deles a custo zero (João Teixeira) e outro (Óliver) por empréstimo. Por fim, foram buscar dois avançados: Laurent Depoitre e Diogo Jota (tenho pena), este também por empréstimo. Depoitre já fez estragos no Dragão; não nas balizas adversárias, mas antes na Administração da SAD (há cada coincidência por aqueles lados).
Ao invés, e quanto a jogadores relevantes - até peco por defeito, se relermos os jornais de há um ano - saíram Aboubakar, Licá e Alberto Bueno, para não falar em Pablo Osvaldo. Os tais que vinham fazer esquecer Jackson Martinez.
O plantel do Porto tem vindo a descer de categoria de época para época, razão pela qual e para colmatar as grandes deficiências existentes, tiveram de se reforçar muitíssimo.
Muito e bem? Ou só muito? A ver vamos!??

O Sporting foi o vencedor
2. Sem Supertaça, não brincaram em serviço e arrebataram o título de Rei das compras. Beto, a custo zero, e o tão desejado e namorado - a julgar pelo que se lia e ouvia - Douglas.
Em 12 meses, 3 defesas novas completas!
É obra!!!
Quanto a médios, redescobriram Bruno Paulista e contrataram Elias e Petrovic (Marcelo Meli chegou por empréstimo).
Relaticamente a avançados, o Sporting contratou Bas Dost, Alan Ruiz, Luc Castaignos, André e Lukas Spalvis, para substituir Slimani (se pudessem jogar todos e só contar como um), E ainda foram buscar Joel Campbell e Markovic (por empréstimo).
Com tanta compra, vou contar os minutos da formação em campo (sem me rir, mas, apenas, para constatar).

A estratégia do Benfica
3. Quanto ao BENFICA - e como adepto - reforçou-se, quanto a médios, com Rafa, André Horta, Danilo e Celis. Quanto a avançados, fomos buscar Franco Cervi, Carrillo e Zivkovic.
Uma opção estratégica clara de Luís Filipe Vieira, que soube planificar bem a época, de acordo com a avaliação das dificuldades que se avizinham e da definição dos objectivos do Benfica, gerindo - numa óptica externa e de pura observação - a cobiça dos grandes clubes.

Os jogadores e as juras eternas
4. A vida dá muitas voltas e o futebol não é excepção. O que hoje é dado como certo, amanhã poderá não o ser. O que nos leva a constatar, tantas vezes, que pela boca morre o peixe.
No dia do encerramento do mercado, entre outras surpresas (ou tentativas de), fomos informados do regresso de Lazar Markovic a Portugal, para o Sporting.
Apesar da sua curta passagem pelo Benfica, deu para o jogador criar uma grande paixão pelo clube.
Markovic, para além de ter percebido rapidamente que «o grande segredo do Benfica são os seus adeptos» - disse-o várias vezes, inclusivamente a uma semana do fecho da janela de transferências -, imediatamente após a sua saída, classificou o Benfica como a sua segunda casa - tal como tantos outros que saem, sendo um dos exemplos mais recentes Carcela.
Ora, presumindo que a sua «primeira casa» não será em Alvalade - ou melhor, o Sporting, por este e aquela freguesia de Lisboa não se confundirem - como irá conciliar essas juras de amor eterno com a sua actual situação?
Terá, certamente, um problema para resolver, para que se evitem crises existenciais e de identidade (que não tiveram Artur, Cardozo, Garay e Coentrão, por exemplo).
Ou, como diria Ricardo Araújo Pereira, a camisola do Benfica honra todos os jogadores que a vestem, sem excepção; alguns deles, não muitos, «honram tanto a camisola como ela os honra eles». E outros há, ainda mais raros, que «conseguem dar mais ao Benfica do que o Benfica lhes dá», sendo que a estes, por esse motivo, o clube lhes ergue uma estátua no estádio e «só lá está uma».
Como tem razão.
Os jogadores, os técnicos, os dirigentes mudam, regularmente; já o símbolo e os adeptos, esses permanecem ad eternum.
Por isso, ninguém está acima do Benfica (nem no mesmo plano, acrescento eu)!

A grande entrevista
5. As paragens de campeonato dão para tudo. Desta vez, deu para uma grande entrevista - pelo menos, em extensão - do treinador que se auto-intitula como o melhor do mundo.
Dela destaco essencialmente a frontalidade com que assumiu a «pequenez» que encontrou no seu actual clube.
Então o que encontrou «lá dentro» era «muito pequenino»?
Muito nos conta!
Mais: ficámos a saber que os jogadores que estavam no seu clube foram valorizados pelo próprio - algo, aliás, que sempre fez em todos os clubes por onde andou, sem excepção, como bom «cérebro» que é.
Mas, o que terá a dizer relativamente a alguns jogadores da sua academia, quais pérolas, que, se a memória não me falha, deu como certas no plantel e que, entretanto, foram dispensadas?
E o que terão a dizer Iuri Medeiros, Mané e João Palhinha, por exemplo?
Mas não posso deixar de constatar que, da época passada, não retirou uma (grande) lição: ser pago para treinar o Sporting e não para falar do Benfica. O homem não resiste (talvez não fosse ele próprio se assim não fosse).
Diz que o Benfica quer «correr com o Luisão».
Terá memória curta?
Quem dispensou Nolito, que está, agora, a jogar no Manchester City e é titular da selecção espanhola?
E André Gomes, que foi parar ao Barcelona?
O que terá a dizer das prestações de Bernardo Silva e João Cancelo na selecção principal?
E das oportunidades que não deu a Nélson Semedo e a Lindelof, por exemplo?
E de Renato Sanches, que, com ele, não só não teve a devida oportunidade, como ainda se deu ao atrevimento de defender, há 3 meses, que não poderia ser titular da Selecção (como se viu, anteontem, com o resultado alcançado pelos aurélios na Suíça, se lhe tivessem dado ouvidos, nunca seríamos Campeões da Europa).
E sobre Oblak, a quem resistiu, durante anos, até lhe dar, quase obrigado, a titularidade do Benfica e que hoje é indiscutível no Atlético de Madrid?
Isto para não falar de Pablo Aimar e Saviola.
Afinal, ele, sim, foi a única pessoa que nos últimos sete anos, no Benfica empurrou jogadores para fora do clube.
Para já não falar na comparação infeliz - para o capitão do Sporting - entre Luisão e Adrien.
De facto, ele bem tenta não falar do Benfica, mas não consegue.
Tendo como únicas preocupações a grandeza do Benfica e a do seu narcisismo.

Por mim, uma certeza: não poderemos entrar no jogo de quem precisa de muito barulho para parecer o que foi. Até porque, ganha quem merece e não quem faz mais barulho!
Quanto a contas, contas, talvez lhas peçam um dia destes, lá para meio da época, quem, bem ou mal, fez alguma coisa para lhe pagar tanto ou mais do que ganham todos os restantes treinadores da 1.ª divisão portuguesa (a não ser que, em Alvalade, se ache bem dar 6 milhões/ano para ganhar uma Supertaça, ou nem isso)."


Rui Gomes da Silva, in A Bola

PS: Duas notas, o consócio Rui Gomes da Silva, esqueceu-se do último capitão do Benfica a ser empurrado pelo treinador para fora do Benfica: Nuno Gomes...; e já agora temos que ser justos, além da Supertaça, o homem já conquistou a Taça Rui Santos!!!!