segunda-feira, 5 de setembro de 2016

O nosso futebol e o restante desporto

"A partir de amanhã Portugal passa a ser, oficialmente, um alvo a abater, porque todos vão querer bater o pé ao campeão da Europa.

Na última quinta-feira, no Bessa, o particular com Gibraltar marcou o fim das festividades pela conquista do Campeonato da Europa. Amanhã, em Basileia, frente à Suíça, tem início uma nova era, mais exigente, para a equipa de todos nós. Quando perguntado se os jogadores de Portugal iam sentir alguma pressão adicional por serem campeões europeus em título, Fernando Santos respondeu com uma negativa veemente. Provavelmente tem razão. Mas há outra verdade que não pode ser escamoteada, que se prende com a forma como passámos a ser vistos de 10 de Julho para cá. E disso não tenho dúvidas: os nossos adversários vão ter uma motivação especial quando defrontarem Portugal e, por isso, o grau de dificuldade, para a turma das quinas, vai aumentar, a começar já amanhã, na Suíça.
Estaremos preparados para a responsabilidade? Francamente, creio que sim. Ainda sem Cristiano Ronaldo, a alma mater, Portugal encontrou uma forma pragmática de jogar que deve manter, permanecendo aquela equipa vista ao longo do consulado de Fernando Santos, que muitas vezes não joga bonito mas joga quase sempre bem e, por isso, é muito difícil de derrotar. A esta matriz ganhadora podemos ir acrescentado novos valores, numa renovação em marcha que promete muito. João Cancelo, Bernardo Silva e André Silva espreitam a titularidade e a sua juventude juntar-se-á em breve a Renato Sanches, formando um núcleo fortíssimo.
Ao contrário do que acontece em quase todas as outras áreas do nosso desporto, o futebol tem meios e competência e por isso regenera-se com sucesso. É essa a diferença fundamental. E enquanto não houver, para o desporto em Portugal, uma visão de conjunto que altere o paradigma miserabilista existente, não passaremos da cepa torta, um bronze aqui, dois diplomas acolá, numa mediocridade confrangedora que não é culpa nem de dirigentes, muito menos de atletas, mas que radica na falta de política desportiva no nosso país. Francamente, não tenho grandes ilusões de ver alguém sugerir e avançar com reformas profundas, que nos dêem a esperança de, daqui a 20 anos, sermos um país desportivamente melhor.
Enquanto o desporto for visto como um custo e não como um investimento, valha-nos o futebol e os meios que tem...

Quando se apagam os holofotes da fama
«Vai às compras, ajuda a descascar batatas, a levar a louça, faz o que aparece... ele é o Isaías, o que fez no Benfica ninguém esquece»
Sílvio Ramos, restaurante 'O Pote', Pombal
A excelente reportagem da Elsa Bicho, na edição de ontem de A Bola, revelou ao mundo a situação de Isaías, um dos melhores estrangeiros que passaram pelo futebol português, figura de proa do Benfica de há duas décadas e meia. Fica a bola agora nas mãos de quem pode devolver Isaías ao meio do futebol. Porque, pese embora a solidariedade de Pombal, é aí que ele pertence...

Rafa Silva
Nasceu no Barreiro, como dois dos maiores extremos da história do Benfica, José Augusto e Fernando Chalana, e chegou à Luz para fazer esquecer o mago Nico Gaitán. Mas não é a fasquia alta que o ex-jogador do SC Braga vai encarar que aqui mais interessa. Relevante, neste momento, é sublinhar a forma personalizada como manteve a escolha que fez de jogar no Benfica, indiferente a pressões e outras ofertas aliciantes. Hoje em dia, entalados entre empresários, gurus e mental coaches, é cada vez mais raro encontrar jogadores assim...
(...)"

José Manuel Delgado, in A Bola