quinta-feira, 14 de julho de 2016

Entrada sem golos !!!


Benfica 0 (3) - (3) 0 Setúbal


Todos os anos é assim: estamos todos ansiosos pelos primeiros toques, mas depois dos primeiros 90 minutos, ficamos sempre a dar 'desconto' pela falta de ritmo!!!

Mesmo assim, esta noite no Algarve tivemos um jogo, com bastante intensidade (tendo em conta ser o 1.ª da pré-época), com um adversário a dar 'pau', com o árbitro a roubar... e com o adversário a fazer 'anti-jogo'!!! Portanto todos os condimentos do Tugão...!!!

O Benfica esteve sempre por cima do jogo, com muitos remates, mas faltou o golo... as ausências do Jonas, do Mitro, e do Raul explicam alguma coisa...!!!
Além dos 3 avançados, faltou ainda o Samaris, o Eliseu, Carcela, o Lindelof, o Zivkovic... Ederson, Júlio... Talisca...
Espero que a lesão do Dawidowicz não o impeça de mostrar-se ao treinador nesta pré-época.

Jogámos com basicamente com 'duas' equipas, na 1.ª parte destaques positivos para o Grimaldo, Fejsa, Pizzi e Guedes!
No 2.º tempo, destaco o Kalaica (pena o penalty falhado), o Celis, o Horta e o Cervi...!

Nesta altura é sempre bom recordar que o Celis e o Benitez chegaram com ritmo de jogo, e isso nas pré-épocas às vezes é enganador!!!

O Carrillo precisa de minutos; o Salvio continua a deixar indicadores negativos...; o Jovic precisa de ser mais 'agressivo'; o João Teixeira não convence; o Benitez tem força e velocidade mas parece trapalhão...!!!
O Reinildo estreou-se e começou logo com um 'grande' corte!!! Com o Grimaldo e o Eliseu deve ir para a B, mas fiquei surpreendido positivamente!!!

Resumindo, muitas dores de cabeça para o Rui Vitória, muitos jogadores vão ser emprestados ou vendidos... e ainda faltam algumas contratações!
Temos muitas opções, para várias posições. O Celis será a opção para 6, o Grimaldo será muito provavelmente titular na esquerda, o Cervi poderá jogar na esquerda ou no meio... o Guedes quer agarrar o lugar de 4.º avançado (!!!)... o André Horta, parece que quer ser mesmo opção para o lugar do 'Renato'... mesmo assim (com as boas indicações do Horta), continuo a achar que precisamos de reforçar esta posição!

Neste momento analisando exclusivamente o valor futebolístico dentro do campo, o nosso capitão não pode ser titular!

PS: Fiquei muito feliz ao ver o Nuno Santos de volta em grande forma, no início do jogo foi claramente o melhor jogador do Setúbal com um remate muito perigoso...; na baliza o Bruno Varela acabou por ser o MVP do Setúbal com várias boas defesas... Espero ver os dois no plantel no futuro...!!! Para já vão aos Jogos Olímpicos...!!!

Os momentos mais belos do futebol reúnem certa inocência

"Mais bonito do que o golo de Éder foi o seu sorriso desbragado, a desenvencilhar-se de um e de outro, como quem fugia do dono do armazém que tivera a janela quebrada. Corria para abraçar a glória (esta é uma crónica para ler com sotaque, porque Portugal celebra-se no mundo inteiro e com os sotaques todos)

O problema de jogar contra a França, em Paris, é que o adversário sofre o primeiro ataque logo que o estádio começa a cantar “La Marseillaise”. A derrota pode começar ali, se as pernas dos jogadores não superarem a convocação beligerante dos franceses. Os brasileiros perderam assim, na copa do mundo de 1998, naquele mesmo Stade de France.
Os primeiros quinze minutos de França e Portugal, neste domingo, representaram esse impacto. Houve um lance que parecia antecipar uma tragédia: Pepe escorregou sem porquê, a França tomou a bola e lançou-a na área. Griezmann cabeceou no ângulo esquerdo de Rui Patrício. Seria um golo histórico, mais do hino do que da equipa, logo no começo do jogo. A defesa inacreditável do goleiro português, a primeira de uma série espectacular que viria em seguida, anunciou aos franceses que a batalha seria mais árdua do que imaginavam.
A selecção de Portugal dos primeiros jogos do Euro 2016 parecia aproximar-se, de modo enfadonho, de mais um fracasso previsível. No intervalo do primeiro para o segundo tempo contra a França, com outro 0-0 no marcador, a televisão mostrou Luís Figo a bocejar. Parecia que o jogo se arrastaria sem golos até o fim.
Cinco empates, no tempo regulamentar, em cinco jogos produzem desconfiança em cima de desconfiança. O empate é um resultado mais depressivo do que a própria derrota, dizia Nelson Rodrigues. “A derrota tem o dramatismo que a salva, que a viriliza. Ela desperta no vencido o élan da revanche. Já o empate suscita uma sensação desesperadora de impotência”, escreveu o maior cronista desportivo brasileiro.
Por vezes, no futebol, é melhor perder do que assistir a uma equipa acovardada que não arrisque. A vitória incontestável sobre o País de Gales havia recolocado Portugal no certame. Apagara a impressão de impotência perante um destino antecipado de derrota.
Contra a França, a contusão de Cristiano Ronaldo, aos 25 minutos, foi argumento suficiente para que cardíacos, estressados e hipocondríacos em geral abandonassem a sala com a certeza definitiva de que a derrota estava por vir. Mal sabiam que era apenas um elemento de dramaticidade para a construção da vitória ainda mais prazerosa.

Cristiano Ronaldo é um jogador espectacular, cujo talento não deixa de ser temperado por certa antipatia. Algo de egoísta sempre transborda dele — seja quando aparece no telão do estádio a checar se o cabelo está despenteado ou quando sopra com o canto da boca, numa certa expressão de enfado. A contusão obrigou a que as câmaras mostrassem outro Cristiano Ronaldo, solidário, entusiasmante, crente no valor de que o conjunto da equipa pode superar carências e frivolidades individuais. 
Cristiano Ronaldo sai renovado do Euro 2016 por duas jogadas sensacionais que desempenhou à margem do campo. A primeira foi quando convocou João Moutinho a participar da disputa de penalidades contra a Polónia: “Anda a bater. Tu bates bem. Se perder, que se foda!”. Frase de um líder, verdadeiro capitão.
A segunda foi, após a contusão contra a França, regressar do vestiário, ainda coxeando, e se estabelecer à beira do gramado a gritar e sofrer. Um velho marechal dizia que, no campo de batalha, pequenas desatenções podem causar grandes derrotas. Cristiano Ronaldo comprovou o contrário como verdadeiro: dedicada atenção pode estimular grandes vitórias. O craque português fez dois golaços fora de campo. Pôde enfim cantar, com cultivada cumplicidade, um verso roubado da “Marselhesa”: o dia da glória chegou (“Le jour de gloire est arrivé”). A história é generosa com os guerreiros.
Os momentos mais belos do futebol, no entanto, reúnem certa inocência e travessura infantil que os renovam. Quando Éder pegou a bola, a dez minutos do final do tempo extra, tinha à sua volta três franceses cuidando da marcação. Parei a imagem do jogo nesse exacto momento. Outros quatro franceses voltaram-se para o lance, como se pudessem fechar todos os flancos. Os sete jogadores mais próximos eram todos franceses. A responsabilidade sóbria que uma final de Euro exige talvez o aconselhasse a tocar a bola para o lado, a esperar que outros atacantes se aproximassem.
Éder dominou com dificuldade, acossado que estava. O chuto era tão improvável que o marcador lhe deu espaço, imaginando que, covardemente, tentaria o passe a algum companheiro. Mas não havia ninguém a auxiliá-lo. Éder deu quatro toques curtos, a ajeitar a bola. O corpo estava de lado para a meta francesa. Não parecia que poderia chutar. Mas ele, como numa traquinagem entre garotos, fez o giro rápido e chutou cruzado. O mais comum seria tentar o tiro em linha recta, no lado esquerdo do goleiro francês. O chuto saiu rasteiro no canto direito de Lloris.
Quando a bola chegou às redes, é possível que o garoto criado em orfanato tenha ouvido o estalar de vidraça se rompendo, som que acompanhou por tantas vezes os seus golos de menino. Mais bonito do que o golo foi o seu sorriso desbragado, a desenvencilhar-se de um e de outro, como quem fugia do dono do armazém que tivera a janela quebrada. Corria para abraçar a glória.
Éder não precisou da luva branca para pedir paz a torcedores implacáveis. Seu sorriso combinava com os versos do poeta guineense Vasco Cabral: “É como se alguém me pisasse e eu me risse — uma alegria toda cor e luz”."

Deus te abençoe, amigo Santos

"Crónica de um amigo para um amigo num momento de glória de um país inteiro

Chamaram-me maluco quando há dois meses disse à boca cheia que Portugal seria campeão europeu. Chegara a essa conclusão por conhecer Fernando Santos do tempo em que treinava o Estrela da Amadora, atirava para o gorducho, usava bigode, já tinha trejeitos e jogava bright. Um homem trabalhador, sério, digno, competente e engenheiro nas construções frásicas. Um treinador fechado defensivamente, que gostava de jogadores experientes, punha muitas vezes o mesmo 11 e tinha um ou dois jogadores fetiche ao ponto de quase parecer que era capaz de alinhar com eles lesionados caso fosse (como o bósnio Velic, um veterano simplificador de jogo).
Deixei de fazer Estrela da Amadora para O Jogo e vim para a Visão de Cáceres Monteiro. O Fernando foi para o FC Porto e pediram-me para escrever um perfil e contar o seu primeiro dia. Não estava fácil conciliar a agenda do treinador com a minha urgência em fazer a peça e mandar para a revista. Lembro-me como se fosse hoje: num lance rápido, depois da conferência de apresentação, disse-me ao ouvido: “Não te preocupes, que eu não me esqueci de ti. Falo contigo na hora de almoço, abdico do almoço mas tu não ficas pendurado”.
Os anos passaram, ele pelos relvados, eu pelos jornais, e deixamos de ter naturalmente tanto contacto. Quando chegou à FPF comecei a observá-lo ao longe e percebi logo que estava preparado para ficar à frente da selecção. Ainda não tinha feito um jogo e já ganhava pontos: mandou as guerrinhas antigas entre seleccionadores e jogadores às malvas, fez uns ‘périplos’ pelos clubes para os convencer a voltar de cabeça limpa, uniu o balneário e juntou a malta à sua volta, o que é difícil num grupo de vedetas milionárias.
Depois fez o que lhe competia: ganhou os jogos e qualificou Portugal sem a tanga da calculadora. Com conservadorismo, certo, mas pragmatismo também. Com a equipa fechada defensivamente, certo, mas com killer instinct para golpear os adversários na hora H (uma nota: este texto foi escrito 24 horas antes da final, ainda não havia Éder na minha cabeça, caro leitor). Continuando: sem brilho, mas com resultados - coisa que há muito não tínhamos apesar dos brilhantismos de outrora de Rui Jordão e Fernando Chalana, Figo e João Pinto.
Mas chegaria para fazer Ronaldo & Companhia pensar que era agora ou nunca? Tive literalmente a resposta no trabalho, esse desporto favorito do tão criticado CR7. Antes do europeu, o Fernando veio à Impresa para uma entrevista com o Pedro Candeias. Apanhei-o no átrio do edifício. Trocamos abraços e perguntei-lhe de pronto: Ganhamos? Ele: “Paulo, tu conheces-me: vamos trabalhar, ou melhor, vamos trabalhar para isso. O resto é a bola que entra ou vai à trave, só Deus sabe”. Como ele é um crente e reza, pensei, Deus te ouça e benze, amigo Santos.
A conversa ficou por ali mas pus-me a pensar se não seria ousado deixar tudo nas mãos de Deus. Não, o Fernando não é disso, do acaso, tem um plano. Mas continuei a duvidar. Pus-me a pensar que grupo e balneário tínhamos – sabia de antemão que com ele iam acabar as palhaçadas das selfies e das miúdas a minar a concentração nos treinos como vi com Paulo Bento – mas não tinha a certeza que tínhamos equipa para voos mais altos. E passei ao exercício do check, concluindo rapidamente que cumpríamos um dos maiores pressupostos de uma equipa que pode ganhar: tínhamos esteio. O check: guarda-redes? Não tínhamos o Buffon mas Patrício também não é mau como o pintam, check; centrais? Pepe e mais um, check; médios defensivos e ofensivos? Para todos os gostos e clubite, check; referência no ataque? Check.
Nisto, surgiram-me os receios: a teimosia, os fetiches e o conservadorismo do Fernando. E lembrei-me do dia em que o levantei em peso na exígua sala de imprensa do Estrela da Amadora quando ele disse que o Jorge Andrade iria ser titular (lembras-te Fernando?). Tinha passado meses a dizer-lhe informalmente que não percebia porque não apostava no Jorge e finalmente ele tinha dado a mão à palmatória. No momento que ele achou correto, é verdade, um bocado tarde a meu ver, é também verdade, mas fê-lo e o Jorge Andrade foi ainda a tempo de ser titular no FC Porto e na selecção.
Ou seja, sabia, desde o início do Euro 2016, que se o Fernando tivesse de dar a mão à palmatória daria. Portanto, bafejado aqui e ali pela sorte do jogo e das lesões, não foi surpresa para mim que tivesse colocado Vieirinha e depois percebesse que Cedric é que era; que começasse com Ricardo Carvalho para a seguir dar o lugar ao Fonte; que tivesse deixado no início Sanches no banco para mais tarde fazer dele titularíssimo; que tivesse teimado em Moutinho até dar a mão à palmatória por Adrien.
Mas tenho de confessar duas coisas que não previ.
(Acertei, entre os meus amigos, que para a final estudaria a França e daria um banho de táctica ao Deschamps, como fez com a Croácia; que se fosse preciso pediria a Ronaldo para ser mais capitão, como contra a Polónia; que adormeceria os gauleses antes do golpe letal, como fez aos galeses.)
Na minha bola de cristal não estava a lesão do Cristiano nem aquele pontapé histórico do Éder. Sabem porquê? Não sou bruxo, sou amigo do Fernando e há coisas que só Deus sabe."