domingo, 3 de julho de 2016

O carácter de Renato

"Disse que o Renato Sanches tinha condições incríveis logo que o vi jogar. Primeiro com o Astana, a 25 de Novembro de 2015, para a Liga dos Campeões, cinco dias mais tarde em Braga, e, a 4 de dezembro, frente à Académica, onde assinou um golo monumental.
Agora, neste Europeu, e depois do que ele fez contra a Hungria, pedi para que fosse titular o mais depressa possível, tal como aconteceu com milhões de portugueses. Com ele em campo, a dinâmica ofensiva da equipa é outra. A velocidade aumenta e a Selecção joga melhor, pelo que não me surpreendeu que tenha sido considerado o melhor em campo pela UEFA nos jogos com a Croácia e Polónia.
O que me surpreendeu, isso sim, foi a resposta que deu depois do jogo com a Polónia: "O míster, perguntou quem queria bater os penáltis. O Ronaldo disse que batia o primeiro e eu que batia o segundo. Fui para a bola e fiz aquilo que costumo fazer nos treinos: escolho um lado e meto na baliza!" Estas afirmações surgiram com uma tranquilidade tal que até parecia que as grandes penalidades em causa referiam-se a um qualquer torneio de pré-temporada.
Hoje, 33 anos depois, continuo a ser o estreante mais jovem com a camisola das quinas. Tinha 17 anos. Ainda assim, tento colocar-me na mente do Renato e entro em pânico. Os outros que iam marcar as penalidades eram Cristiano, Moutinho, Nani e Quaresma, quatro glórias que sabiam o que estava em causa. Um falhanço naquele momento era uma cruz para toda a vida...
O país estava 'dependente' daqueles malditos penáltis e muitos craques fugiriam se pudessem. O Renato tem 18 anos, era o seu primeiro jogo a titular pela Selecção A e fácil seria dizer ao míster que não estava preparado para aquela responsabilidade.
Mas ele é de outra fibra, não fugiu à responsabilidade e revelou uma coragem incrível. Sete meses depois de vê-lo jogar pela primeira vez, digo que o Renato é um craque, com carácter de ferro e de autêntico campeão. Com a sua personalidade ganhadora será o líder e o capitão da Selecção assim que o Cristiano se retire.

Positivo
Dois jogadores portugueses teriam merecido nota máxima no jogo com a Polónia. Rui Patrício, pela defesa espectacular no penálti, e Pepe. Foi, talvez, o melhor jogo que vi dele.

Negativo
Parece que os árbitros têm medo de marcar penáltis e Portugal está a ser a mais prejudicada de todas as selecções. Foi assim com Nani, frente à Croácia, e com Ronaldo diante da Polónia."

Pepe deve gostar de couratos

"Pepe. Não o José Manuel Soares, mas o Képler Laveran Lima Ferreira. Não o do Belenenses, sim o do Real Madrid. Não o português, antes o brasileiro. Erro grave: brasileiro? Não. Quanto muito, luso-brasileiro. Pepe (o Képler) já é tão português como Ronaldo. Canta o hino e beija as quinas. Até deve gostar de couratos e de caracóis. E de passar férias no Algarve. Tem paragens cerebrais durante os jogos? Claro. Como um bom português. A mais famosa aconteceu a 21 de abril de 2009, quando teve entrada duríssima sobre Casquero (Getafe) e depois pontapeou-o diversas vezes no chão. Por vezes, como na final da Liga dos Campeões, repete a graça, embora de forma diferente. Mas no intervalo destas paragens, é um central extraordinário. Que está a fazer um assombroso Campeonato da Europa, aparecendo em França numa forma física esplendorosa, varrendo a área de Rui Patrício com facilidade impressionante. Está ao nível de Eurico (1984), Fernando Couto (1996 e 2000) ou Ricardo Carvalho (2004 e 2008). Sublime.

Ronaldo. Não o Ronaldo Luís Nazário de Lima, sim o Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro. Não o de Cruzeiro, PSV, Barcelona, Inter, Milan e Corinthians, antes o do Sporting, Manchester United e Real Madrid. Não o brasileiro, mas o português. Ronaldo canta o hino como Pepe, beija as quinas como Pepe, não se sabe se gosta de couratos, caracóis ou de passar férias no Algarve como Pepe deve gostar. Não está a fazer um Europeu ao nível de Pepe. Está dois degraus abaixo. Corre, luta, sua? Sim. Mas está ainda muito longe do Ronaldo a que nos habituámos. As imagens divulgadas referentes ao pré e pós-penalties com a Polónia são fantásticas e prova-se que Ronaldo merece cada centímetro da braçadeira que usa. Está ao nível de Mário Coluna (1966), Fernando Couto (2000 e 2004) ou de Luís Figo (2006).

Patrício. Não os do Euro-1984, antes o do Euro-2016. Não o Bento, o Damas ou o Jorge Martins, antes o Rui. Tem feito um Campeonato da Europa muitíssimo bom. À guarda-redes de equipa grande. Sem grande volume de jogo, não registando alta sequência de intervenções, Rui Patrício tem defendido o que tem defesa e algumas bolas quase sem defesa. E a grande penalidade detida frente à Polónia é soberba: esticou-se até ficar quase com dois metros e tocou com a ponta dos dedos na bola. Tão importante como os cinco remates certeiros dos 11 metros. Não está ainda ao nível de Bento (1984) ou Vítor Baía (1996 e 2000), mas está já bem ao nível de Ricardo (2004 e 2006). Falta-lhe apenas, um dia destes, marcar um penalty. Sem luvas, claro. E já depois de ter defendido um. Talvez de Bale, quem sabe. Em Lyon.

Renato Sanches só tem três velocidades
Renato isto, Renato aquilo, Renato outra coisa qualquer. O jovem médio é, depois de Cristiano Ronaldo, o jogador mais falado da Seleção portuguesa. Se Patrício é o homem dos penalties, se Pepe se tornou num paredão atrás da linha média e se Ronaldo é o craque mundial, Renato Sanches é o homem do momento. Há quem pense para o lado e quem pense para trás: Renato só pensa para a frente. Há quem tenha cinco velocidades. Renato tem apenas três: a quarta, a quinta e a sexta. Há quem veja duas balizas. Renato vê, sobretudo, uma: a do adversário."

Rogério Azevedo, in A Bola

Benfiquismo (CLIII)

Outro ângulo... em relação ao Benfiquismo de ontem...!!!

Redirectas XLV - Renato Sanches: O Farol


Entra em campo e tudo ilumina o miúdo da Musgueira. Sua alma irradia. E todas as atenções atrai em seu redor com o seu extraordinário magnetismo. É uma luz que se espraia em campo qual farol anunciando terra firme. 
Poucos jogadores na história do futebol tiveram o condão de trazer a este desporto rei aquilo que Renato Sanches trás. Na realidade, do meu ponto de vista, Renato Sanches é único nesse particular. Dos jogadores que eu tive a sorte de ver jogar talvez Maradona possa comparar-se em termos desse magnetismo. Mas Maradona deixou-se perder pelos jogos da vida. Renato Sanches ainda está a começar. Acredito que saberá escolher os melhores caminhos. Essa luminosidade não se apagará. Continuará pelos anos a dentro. Nunca vi jogar Eusébio mas acredito que fizesse o mesmo quando entrava em campo. O magnetismo da genialidade. A personalidade do gigante que se ergue a cima do comum dos mortais.
Todos os relatos sobre Renato Sanches falam da sua extraordinária personalidade. Uma personalidade que não está acente na loucura inconsequente de um jovem imaturo. Uma personalidade que está sustentada na firme convicção de que ninguém está a cima dele, porque ele sabe das suas capacidades e quer mostrá-las à saciedade.
Chegou, viu e venceu. Foi assim no Glorioso Sport Lisboa e Benfica. Está a ser assim na selecção nacional. Está a ser assim no Euro 2016. Irá ser assim no Bayern de Munique. E sim sr. presidente tenha a mesma convicção que o senhor. Renato Sanches irá vencer a bola de ouro. Irá ser considerado o melhor jogador do mundo. Simplesmente porque não existe ninguém como ele.

Podem rir-se à vontade. Esta a minha convicção. E não é de agora como os meus artigos antigos o demonstram. Escrevi que o contrato deveria ser renovado. Escrevi que menos de 150 milhões de euros era a baixo do seu valor. E aí está todo o mundo de boca aberta com a sua prestação no Euro. Eu escrevi que era inevitável que tal acontecesse. Uma vez a porta aberta ele ía tomar de conta. É assim Renato Sanches, bastam-lhe uns minutos para não mais ser esquecido. Apenas um lunático pode menosprezá-lo. Mas sabemos que em Portugal existem muitos.

Primeiro os treinos onde conquista o respeito dos colegas. Depois os minutos em campo onde conquista o público. Depois o inevitável. A qualidade mostra-se e impõe-se. E o treinador não tem outro remédio a não ser aproveitar-se dessa dádiva dos céus que tem em mãos. Mesmo assim faz toda a gente que ama o futebol barafustar por encostar o miúdo à linha. Van Hoojdonk simplesmente letal para com o Fernando Santos. Veremos se contra Gales o vai encostar de novo à linha e sujeitar-se a perder o jogo.

Escrevem que teve a sorte de "... estar no lugar certo à hora certa...". Shame on you Delgado! No Renato Sanches nada se deve à sorte. Talento puro do princípio ao fim. Ele que foi o português mais maltratado desde que me lembro como gente. Simplesmente ignóbil. E não vi ninguém defendê-lo. Favor de se abesterem de fazer comentários a constatar o que já não conseguem empurrar para debaixo do tapete.

Portugal está vergado ao peso da grandeza de Renato Sanches. E quantos, quantos, quantos com amendôas do tamanho de melões entravadas na garganta!

Para ti Renato, daqui do Reino Unido quero enviar-te um abraço do tamanho do mundo e muita saúde que é o mais importante principalmente no mundo do futebol. Continua com essa alma e lembra-te do nossso Benfica enquanto estiveres nas terras bávaras. És enorme. Um farol. São jogadores como tu que fazem do futebol algo de único no mundo.

Espero um dia voltar a ver-te de manto sagrado vestido. Muito triste com a tua partida mas feliz por ti.

E Pluribus Unum