quarta-feira, 29 de junho de 2016

Babalu Pimba !!!

"Ex-director de comunicação do Benfica diz que os seus 'tweets' são diferentes dos 'posts' do líder do Sporting
RECORD - Diz que a comunicação só por si não ganha campeonatos, mas pode ajudar a perdê-los. Foi isso que aconteceu ao Sporting?
JOÃO GABRIEL – Não quero entrar por aí, até porque na verdade não houve ‘uma comunicação’, mas ‘muitas comunicações do Sporting’ que em determinados momentos concorreram entre si, e isso é evidente que fragiliza a mensagem e confunde os destinatários. Em determinados momentos, ninguém sabia quem é que comandava a comunicação, se o presidente ou se o treinador. Houve dias em que o presidente falou em três ou quatro momentos sobre temas diferentes, e isso contraria as regras do que deve ser uma boa comunicação.
R - Quer dizer que o presidente do Sporting fala muito?
JG – Não serei eu a avaliar e a dizer isso. A única coisa que posso dizer é que a comunicação se rege por um princípio económico básico, a lei da oferta e da procura. Quanto menor for a oferta e maior a procura, mais valor tem esse produto. Com a palavra é exatamente a mesma coisa. Falar muito não é sinónimo de boa comunicação, pelo contrário.
R - Mas o João Gabriel usou o seu Twitter. Também vulgarizou a sua palavra?
JG – Eu não sou presidente do Benfica, sou responsável pela comunicação do clube. Depois, comparar os meus tweets com os posts do presidente do Sporting é comparar música clássica com música pimba [risos]... Sabe, é muito curioso ver os comentários que recebemos dos nossos adeptos e sócios. Alguns claramente insatisfeitos porque devíamos responder a tudo e de forma mais agressiva, outros indignados porque nem sequer devíamos responder. Às vezes é preciso ir pelo meio e usar o bom senso. Mas tenho a noção de que também não agradei a muitos benfiquistas. É impossível ser consensual quando se desempenham estas funções.
R - Foi também alvo de Octávio Machado durante toda a época. Alguma explicação para isso?
JG - Faz o papel dele, não levo a mal. É um profissional, e respeito isso, mas tem um grande handicap, a falta de coerência. Há uma história que fala por si, e que já disse e desdisse de Pinto da Costa, de Jsé Roquette e até de Bruno de Carvalho. Este histórico diz-nos que tem uma opinião muito volátil. Por outro lado, está ultrapassado. Uma conferência de imprensa a partir dos 10 minutos é tempo morto. A comunicação do Sporting não pode ser assumida por Octávio Machado. Não tem peso.
R - Quem tem peso no Sporting?
JG - Tinha o presidente do Sporting, mas também ele o perdeu com a lipoaspiração... (risos). É evidente que qualquer presidente ou treinador do Sporting tem peso naquilo que diz, e esse peso, que a instituição lhes confere, devia levá-los a ter maior contenção.
R - Mas também não houve contenção da sua parte e as permanentes trocas de palavras com o presidente do Sporting aqueceram a época. Isso é saudável?
JG - De todo. Acho que o futebol vivia muito melhor sem isso. Mas não se pode comparar a quantidade de insinuações e provocações que o presidente do Sporting lançou durante toda a época com aquilo que eu fui dizendo, e muito menos com a reserva e contenção que o Benfica assumiu durante todo o ano. Contra mim falo, mas acho que tem de haver penalizações severas para todos os dirigentes que alimentem a polémica de forma gratuita. Mas a responsabilidade não é só dos dirigentes. Os jornalistas às vezes também têm muita responsabilidade no ambiente de crispação que se cria à volta do futebol.
R - Como assim? Os jornalistas reproduzem declarações...
JG - Mas esse é o ponto. Em cada época de incêndios, o Ministério da Administração Interna faz recomendações às televisões para que não mostrem imagens de incêndios, porque isso estimula os pirómanos. Mas as televisões, com maior ou menor amplitude, continuam a mostrar essas imagens. No capítulo desportivo é igual. Os jornalistas também deviriam ter mais cuidado no destaque que dão às declarações 'pirotécnicas' dos dirigentes, porque isso estimula comportamentos antidesportivos. E, quando acontecem situações graves, ouço sempre dizer que a culpa é dos dirigentes. Mas os jornalistas também amplificam declarações que não deviam ter relevância. Por outro lado, os jornalistas não se podem limitar a ser correias transmissoras, sem espírito crítico.
R -Algum exemplo em particular?
JG - Assim de cabeça... dois ou três. Primeiro, a saúde financeira do Sporting tão apregoada pelo presidente do clube assenta em mais de 100 milhões de VMOC (valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis), ou seja, dívida que foi transformada em capital e que, por essa via, baixa não apenas o passivo como os custos financeiros do Sporting. Isso não é saúde financeira, mas, sim, uma forma artificial de baixar passivo e concorrer em condições desiguais com o Benfica e FC Porto. O Sporting não respira saúde do ponto de vista financeiro, tem é um regime de favor que a banca não facilitou a nenhum outro clube, mas isto os jornalistas não dizem. Outro exemplo? O número de sócios dos três clubes. Outra das ladainhas do presidente do Sporting. Mas porque é que os jornalistas não consultam os relatórios e contas das SAD dos três grandes e compraram o que é que os sócios, a nível de quotização, representam para os três clubes? E veriam a diferença que há entre os três.
R- Mas os jornalistas não podem assumir o papel que deve ser desempenhado por outros...
JG - Admito que, em certas condições, o contraditório a determinados argumentos não compete aos jornalistas, mas em qualquer um dos casos que falei atrás trata-se de factos facilmente verificáveis, e aí acho que os jornalistas têm de ir mais longe. Falaram há pouco da 'violência' na troca de palavras que marcou esta época, mas se a postura do Benfica tivesse sido igual à do Sporting, garanto-lhe que tudo teria sido bem pior. Se a postura do presidente do Benfica tivesse sido similar à de Bruno de Carvalho, esta época teria sido um desastre. Teria sido fácil explorar o caso Cardinal com a mesma intensidade que usaram no caso dos vouchers, teria sido fácil chegar ao mesmo nível panfletário do presidente do Sporting em muitas outras situações, nomeadamente nesta parte final com a vergonha que se passou em relação ao caso Slimani, mas não o fizemos, e creio que a Federação e a Liga devem estar gratas ao Benfica pela postura que o clube assumiu. A questão do Renato Sanches foi uma das coisas mais baixas a que assisti nestes oito anos. Não pode valer tudo.
R - O FC Porto há três anos que não ganha qualquer título. É uma situação conjuntural, ou estrutural?
JG – Acho que não é apenas conjuntural. A liderança de Pinto da Costa está alicerçada no passado, no respeito que os sócios do FC Porto têm pelo que fez durante 30 anos e não pela capacidade que actualmente lhe reconhecem. Será sempre uma liderança frágil.
R - Não acredita que o FC Porto inverta a situação?
JG – Espero que não, mas é evidente que é desejável para o futebol português que todos os títulos nacionais sejam discutidos a três. Mas, quando vejo a subserviência que o FC Porto teve no final da época para com um clube de Lisboa, vejo mais um sinal de como a liderança de Pinto da Costa está fragilizada. A bajulação de um líder do FC Porto ao Sporting seria algo impensável nos bons tempos de Pinto da Costa.
R - Também falhou na comunicação?
JG – A comunicação do FC Porto é a mesma há 30 anos, e o clube ficou refém dessa comunicação que fez do FC Porto um clube do Norte em luta permanente contra Lisboa. As últimas intervenções de Pinto da Costa voltam a apontar para o mesmo chavão da ‘luta contra o centralismo’. Como se tivesse sido Lisboa a contratar Lopetegui e a dar-lhe plenos poderes durante quase três anos."

O empréstimo da sorte

"O Europeu está-nos a correr muito bem. Umas vezes com alguma qualidade, outras com sorte. Juntando as duas, tudo agora parece ao alcance da nossa selecção.
Para pouca fortuna, já tivemos uma dose forte: as meias-finais perdidas para a França em 1984 e 2000, a final na Luz contra a Grécia (ainda que aqui, outras razões se tenham imposto) e, de novo, uma meia-final com a Espanha, desta feita por penalties.
Neste Euro 2016, não nos podemos queixar muito. Calhou-nos uma fase de qualificação onde era quase impossível não passar, o sorteio da fase de grupos não poderia ter sido melhor e até a Islândia marcando no último minuto nos proporcionou não jogar com a Inglaterra, a que se seguiria a França e, depois, a Alemanha, Itália ou (a já eliminada) Espanha.
Contra a Croácia - sem facciosismo - fomos bafejados por alguma fortuna. Foi, aliás, um jogo chato. Mas no minuto 117, logo após a bola ter em batido no poste da nossa baliza, Renato proporciona ao tridente atacante o tão saboroso golo. Isto depois de F. Santos colocar Danilo para aguentarmos o empate e ir para os penalties...
Agora vamos ter pela frente a Polónia, que está perfeitamente ao nosso alcance e, a seguir, certamente a Bélgica. De qualquer modo, teremos que jogar mais do que fizemos nos anteriores jogos. Com a Croácia, jogámos modestamente, as equipas recearam-se em excesso, de tal modo que Rui Patrício não fez uma defesa em 120 minutos e o nosso primeiro remate à baliza foi no tal feliz minuto 117.
Mas atenção, a sorte não dá nada a ninguém. Só empresta. Por isso, joguemos como bem sabemos, sob pena de a termos que devolver com juros."

Bagão Félix, in A Bola

Teorias não ganham jogos

"A Polónia é o adversário que se segue e, sinceramente, estou à espera de um jogo muito parecido ao que foi com a Croácia. Teoricamente podia arriscar que somos os favoritos nesta eliminatória, mas já vimos o que aconteceu a algumas selecções poderosas nesta competição, que eram favoritas e já foram eliminadas. Isso só vem provar que as teorias não ganham jogos. Neste Europeu, as equipas que têm favoritismo têm tido grandes dificuldades frente às selecções teoricamente mais fracas. O exemplo mais claro disso é o feito da Islândia, que afastou a Inglaterra. Os duelos disputam-se sempre dentro das quatro linhas.
A Polónia é uma excelente equipa. Ainda está em prova por mérito próprio. Tem jogadores experientes que podem desequilibrar a qualquer momento. A Selecção Nacional tem de ter a atenção redobrada a essas peças, que podem fazer a diferença. E depois temos de jogar de acordo com os nossos princípios. Temos de ter a consciência que se trata de uma partida a eliminar. De certeza que teremos o apoio de milhões de portugueses. Se calhar os primeiros duelos na fase de grupos não foram os melhores, mas a vitória com a Croácia deu mais confiança.
O golo de Quaresma no prolongamento é um exemplo daquilo que esta Selecção é boa. Rápidas saídas para o contra-ataque, de forma a desmantelar as defesas contrárias. Penso que sentimos mais dificuldades quando as equipas decidem fechar-se e tentam resolver o jogo apenas num detalhe ou num lance de bola parada. Cada um joga com as armas que tem, mas creio que a Polónia quererá discutir o encontro e não adoptar uma postura demasiado defensiva.
Queria que Portugal se assumisse como favorito, até pelo discurso que temos vindo a adoptar. Fernando Santos é uma pessoa muito experiente e sabe que muitas vezes o importante é o resultado final e não uma exibição fantástica. Claro que queremos sempre juntar o útil ao agradável e poder jogar bem e ganhar, mas nem sempre é possível. Por vezes é preciso arregaçar as mangas e lutar com todas as nossas forças.

Positivo
O facto de a Selecção ter mais dias de descanso para o duelo com a Polónia do que teve com a Croácia, dá a importante possibilidade de recuperar quem estava em más condições físicas.
Negativo
Em jeito de brincadeira, o emparelhamento desta fase a eliminar da competição não nos deu a hipótese de termos a nossa 'vingança' frente à França antes de uma hipotética final."

Do pós-caso Gil ao insólito Europeu

"Clubes iniciam preparação para nova temporada, o que, para dirigentes, treinadores e... adeptos, inclui frenesi na formação do próximo plantel. Entretanto, solução pós-caso Gil Vicente mantém-se adiada. Quantos clubes na I e na II Ligas?; não desce um que foi despromovido?; sobe um não promovido?; haverá liguilla? É muitíssimo diferente construir orçamento, logo, plantel, para o primeiro escalão ou fazê-lo para o segundo... Enfim, pormenores de insignificante importância...

Portugal num Europeu muito ampliado para nele entrarem equipas fraquinhas que, num ápice, iam ser devoradas... E toma, Inglaterra borda fora, às mãos da estreante Islândia! Que já aplicara duas derrotas à Holanda (!!), afastando-a da fase final, empatara com Portugal e vencera Áustria. O tal pequeníssimo país do qual Gary Lineker disse ter mais vulcões do que futebolistas profissionais...
Vida difícil para outros gigantes... França precisou de golos ao cair do pano para vencer Roménia e Albânia (estreia), empatou com Suíça e só por 2-1 se impôs à também estreante República da Irlanda (que, no 3.º jogo do grupo, vencera Itália!). Espanha bicampeã caiu ao ter de enfrentar Itália porque, sem prescindir do melhor onze, perdera com Croácia que, de seguida, Portugal mandou para casa... Relembre-se: Rússia e Suécia de Ibrahimovic despediram-se tão-só com um empate; Alemanha ficou-se por 0-0 com Polónia que apenas um golo sofreu em 4 jogos e Portugal irá já ter pela frente.
Nem para Itália, Alemanha, Bélgica - quanto a mim os melhores até agora - está propriamente fácil. E falta um passo para Portugal entrar nas meias-finais..."

Santos Neves, in A Bola

Os portugueses e o Euro 2016 em sete verbos irregulares

"A gramática de uma relação bipolar

Verbo: seleccionar
Eu selecciono
Tu enganas-te
Ele é um nabo
Nós escolhemos
Vós estais a gozar com isto
Eles Pelamordedeus, o Éder!

Verbo: apoiar
Eu apoio
Tu assobias
Ele cala-se
Nós cantamos
Vós rezais
Eles abrunhosam

Verbo: debater
Eu debato
Tu desconversas
Ele é um troll
Nós trocamos ideias
Vós só dizeis asneiras
Eles Renato Sanches vs. Adrien

Verbo: defender
Eu defendo
Tu só defendes
Ele dá porrada
Nós jogamos com linhas compactas
Vós atentais contra a paciência do público
Eles são uma vergonha

Verbo: festejar
Eu festejo
Tu provocas
Ele abusa
Nós celebramos a nossa alegria
Vós tendes a mania
Eles armam-se em parvos

Verbo: ganhar
Eu ganho
Tu empatas
Ele gama
Nós somos os maiores
Vós tendes uma sorte incrível
Eles não metem medo a ninguém!

Verbo: perder
Eu bem dizia
Tu bem dizias
Ele bem dizia
Nós bem dizíamos
Vós bem dizíeis
Eles não jogam nada."

United Colors of Portugal

"De cada vez que Quaresma «parte a louça» em campo, um daqueles horríveis sapos em cerâmica estala na montra de um café ou de uma loja. Cada momento artístico dele é um pontapé (ou cabeçada) no âmago da intolerância.
Nessas alturas, imagino um preconceituoso militante encostado ao balcão do café a interromper um discurso que reza qualquer coisa como «Ciganos? É gente que não gosta de trabalhar» ou «Brasileiros? Era mandar tudo de volta para a terra deles» e vociferar para a televisão «Mete o Quaresma!» ou «Que jogão do Pepe!», antes de sentenciar: «Eu não disse? Golo! Grande Quaresma!» Tal como o imagino nos festejos a partir a figura do batráquio que só está lá para, por via da superstição, excluir uma etnia inteira da clientela. 
O futebol às vezes é mais do que um jogo e esta que, arrisco, é a mais representativa selecção portuguesa da história fará qualquer xenófobo engolir um sapo.
Neste Portugal do Euro 2016, que tem um traço ítalo-grego no seu jogo, há uma nação inteira que pode ver-se ao espelho. Loiros, morenos e mulatos. Veteranos e outros tão novos que podiam ser seus filhos. Todos juntos na mesma equipa.
Portugal é um miúdo da Musgueira a pegar no meio-campo como quem joga no bairro e dois centrais de sangue brasileiro nascidos um de cada lado do Atlântico. É um Carvalho de Amarante e outro com raízes em Angola, onde só crescem embondeiros, e é acrescentar ao contingente das ex-colónias talentos da Guiné e de Cabo Verde.
Portugal cumpre-se ao ver regressados à pátria emigrantes que trocaram França ou Alemanha pelo orgulho supremo de envergar a camisola do país dos seus pais, que tal como tantos milhares podem ter atravessado a fronteira a salto ou talvez viajado horas a fio no Sud Express até desembarcarem na parisiense Gare d’ Austerlitz, como cantava José Cid em «Domingo em Bidonville». Por falar em Cid, Portugal é ter nas fileiras um transmontano que sorri com todos os dentes (mesmo que só veja a baliza do banco de suplentes), mais um minhoto e um algarvio. E até um açoriano mulato (haverá menor minoria?) ou um madeirense que é de todo o mundo.
Na altura em que a xenofobia irrompe pelo discurso de vários líderes políticos da Europa é significativo que neste Euro Portugal uma quase perfeita selecção da sua diversidade, no mesmo solo gaulês que em 1998 viu a primeira selecção multicultural da história levar França ao topo do mundo do futebol.
Quando leio ou ouço teorias sobre «Portugal para os portugueses», sorrio. De puro-sangue lusitano só conheço os cavalos. Para lá do seu rectângulo, esta nação é verdadeiramente grande sobretudo pela miscigenação que inventou há séculos e pela diáspora que cultiva há décadas. Esse legado é a bandeira, sem pagodes, que esta selecção ajuda a empunhar. Essas são as mais autênticas cores de Portugal."


PS: Não esquecer São Tomé...

Benfiquismo (CXLIX)

Esta devia ter sido nossa...

Benfica 1 - 2 Chelsea,
Final da Liga Europa, 2012/13