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quarta-feira, 22 de junho de 2016
Sim, os árbitros também têm clube
HOJE
vamos falar de um assunto que delicia a imprensa, que incomoda dirigentes e
escandaliza adeptos: os árbitros de futebol também têm clube. Parece
inacreditável, porque afinal de contas só estamos no Séc. XXI, mas a verdade é
que, assim como qualquer jogador, treinador, roupeiro, apanha-bolas ou
jornalista, os homens que por acaso também são árbitros têm, quase todos, uma
simpatia clubística. E sendo certo que, para qualquer outro agente desportivo
isso jamais põe em causa a sua honestidade e competência profissional,
relativamente aos homens do apito isso é, desde sempre, sinónimo de
parcialidade e desonestidade. Porquê? Porque, para o mundo da bola, o árbitro
que tem clube fará sempre uma de duas coisas em campo: ou vai favorecê-lo ou
vai querer provar que é isento e por isso vai prejudicá-lo. É aquela velha
história do 'ou rouba descaradamente ou erra demasiado para provar que é
sério'. Estas duas verdades absolutas
estão enraizadas há décadas. Mas agora que o sarcasmo suscitou a vossa
curiosidade e a ironia deu o mote ao tema, vamos ao que interessa. Os árbitros
têm clube, sim. Tal como têm orientação religiosa e política. Tal como têm
namoradas e cursos nas áreas que escolheram. Tal como preferem arroz de pato em
vez de açorda de marisco ou água em vez de cerveja. Quando iniciam a sua actividade, já são pessoas. Pessoas que sabem o que querem. Pessoas capazes de
fazer escolhas e de traçar rumos, de forma consciente e convicta. Há, pois, que
abrir as mentes dos que teimam em suspeitar de tudo e de todos. Há que
abandonar convicções sem sentido e aceitar que também os árbitros sabem superar
gostos pessoais quando em causa está a sua competência profissional. Tal como o
sabe o treinador campeão por uma equipa, que é sócio pagante de outra. Ou o
jogador que representa, com brio, o maior rival do seu clube de sempre.
Se é fundamental que a arbitragem dê passos firmes rumo a uma maior aproximação com o universo do futebol, é também imprescindível que esse universo evolua na sua atitude e cultura desportiva, abandone suspeições permanentes e entenda que nem tudo gira em torno de corrupção, malandragem e desonestidade. Um passo daqui um passo daí. Combinado?
Se é fundamental que a arbitragem dê passos firmes rumo a uma maior aproximação com o universo do futebol, é também imprescindível que esse universo evolua na sua atitude e cultura desportiva, abandone suspeições permanentes e entenda que nem tudo gira em torno de corrupção, malandragem e desonestidade. Um passo daqui um passo daí. Combinado?
Duarte Gomes, jornal A Bola, 21 de Junho de 2016