quinta-feira, 9 de junho de 2016

Nem sempre ganhou quem quis... mas nunca ninguém ganhou sem querer!!!

"Fernando Gomes foi corajoso ao escolher Fernando Santos, e o seleccionador é o homem certo no lugar certo para Portugal

Em Outubro do ano passado, neste mesmo espaço semanal, deixei cinco elogios a três sócios do Benfica, um sócio do Porto e um do Sporting.
Neles, estavam incluídas duas pessoas que, hoje, e sobretudo com o aproximar do Campeonato Europeu, faço questão de voltar a elogiar, por diferentes motivos, mas com um fim comum: Fernando Gomes e Fernando Santos. Dois homens, que além possuírem a ambição necessária às nossas obrigatórias aspirações, querem - tanto quanto cada um dos portugueses - ganhar. Um, com um projecto com ambição, e outro, com a ambição como projecto! 

Fernando Gomes... um projecto com ambição
Fernando Gomes foi reeleito, no passado dia 4, para um novo mandato enquanto presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), até 2020, tendo tomado posse na passada terça feira (... nada é por acaso... ).
Curiosamente, ao contrário do que aconteceu nas eleições anteriores, neste ato eleitoral Fernando Gomes obteve 70 votos dos 76 delegados que exerceram esse mesmo direito. Desta vez, com apenas uma lista candidata, foram só 6 os votos em branco. Ao invés, em 2011, obteve 46 votos - contra os 36 do outro candidato - ganhando, assim, as eleições pela diferença de... 10 votos apenas.
Foi, por isso, eleito com a dificuldade que só quem acompanhou essa eleição saberá avaliar devidamente. Ainda assim, poder-se-á dizer que, em 2011, Fernando Gomes ganhou as eleições, sendo eleito presidente da FPF, mas deixou o futebol português dividido (quase) em partes iguais. 
Apesar - diga-se, em abono da verdade - de ter, nessa maioria, clubes que acabaram por fazer a diferença. E que diferença essa diferença fez! Aliás, ao longo do seu mandato, várias foram as vezes em que Fernando Gomes arriscou e ganhou, consolidando a sua posição à frente da FPF, ainda que isso lhe custasse alguns reparos.
Decidido a recandidatar-se, apresentou-se praticamente com a mesma equipa, com excepção para criticadas presidências (apenas constato factos) do Conselho de Arbitragem e do Conselho de Disciplina, sobretudo ao longo da época passada.
Independentemente disso, a verdade é que o seu mandato poder-se-á considerar muito positivo. Pelos resultados, mas, também e até, pela coragem com que o fez. Pelo seu rigor, pela imparcialidade, mas também pela audácia em criar um protejo com ambição. Protejo esse composto por ideias claras e definição de objectivos atingíveis. Estou certo que, face a isso, esta tenha sido a reeleição do reconhecimento e da unidade. Fazendo com que, por um lado, a diferença de ideias tenha servido para valorizar a vitória conseguida - então - à tangente e, por outro lado, o seu percurso tenha servido para ser - agora - o candidato do consenso.

Fernando Santos... uma ambição como projecto
tinha  dito, aqui, que Fernando Gomes tinha sido suficientemente audaz ao apostar em Fernando Santos. Fernando Gomes foi extremamente corajoso ao escolher Fernando Santos, por, essencialmente, se tratar de uma aposta de risco, uma vez que se encontrava em vésperas de poder vir a cumprir um castigo muito pesado.
Ainda assim, e convicto da sua escolha, Fernando Gomes teve a capacidade de definir uma estratégia - como o foi fazendo com os diversos assuntos com que se foi deparando ao longo do seu mandato - escolhendo gente competente para defender as suas escolhas.
E a verdade é que... ganhou.
Como com Fernando Santos... um homem com uma ambição, com um projecto. Aliás, um homem que tem uma missão com um projecto. E nisso, está em perfeita sintonia com Fernando Gomes, ainda que tenha tido um percurso contrário. De facto, Fernando Santos é um homem que, não obstante ter passado pelos três maiores clubes portugueses, enquanto treinador, não fez o alarido de muitos outros, falando o seu passado de águas calmas por si.
Também por isso, não levantou problemas na sua designação como seleccionador, tendo recolhido a (quase) unanimidade das opiniões expressas na altura da sua entrada em funções. Mas - face a essa personalidade calma e não conflituosa - foi uma excelente surpresa ter ouvido Fernando Santos afirmar que já está na altura de Portugal ganhar um título numa grande competição. E como tem razão... Até porque... tal como ele e muitos outros... eu penso que isso não é impossível.
Já tivemos muito perto desse acontecimento... mas perdemos, na final, para a Grécia, em 2004... quando ninguém colocou a hipótese de que poderiam ser eles os campeões.
Foi uma boa surpresa Fernando Santos assumir essa postura, de querer ganhar. E estou certo de que irá lutar por isso. Uma postura contra o que costuma ser o tradicional português (invejoso, pequenino, sempre com desculpas, por não atingir o que devia, por ter medo de assumir o que quer). Por isso, só posso elogiar o facto de ser bastante ambicioso. Hoje, com Fernando Santos ao comando da nossa selecção, e com o Europeu mesmo ao virar da esquina, finalmente temos a ambição que devíamos ter sempre! Nada mais que a nossa obrigação! Por cada um de nós, portugueses, mas, sobretudo, por consideração ao valor individual e colectivo da nossa equipa.
Temos o melhor jogador do mundo - ou um dos dois melhores - que é, por maioria de razão, o melhor jogador da Europa. Temos uma equipa experiente, com jogadores de reconhecida qualidade - até pelos clubes onde jogam - ainda que nem todos sejam da mesma galáxia que Cristiano Ronaldo. Por isso, além de assumirmos sem rodeios os nossos legítimos objectivos, temos de estar focados, mais do que nunca, deixando de parte os falatórios, cheio de episódios, que habitualmente emergem, junto da selecção, nestas fases decisivas. E um desses exemplos recentes foi a campanha que fizeram contra Renato Sanches, num claro, injustificável e mesquinho síndrome de clubite. Como se o facto de se ser jovem demais fosse impedimento de alguma coisa...
Quis o destino que fosse Fernando Santos o escolhido para liderar uma equipa de grandes talentos, nesta fase da competição.
E ainda bem que assim é, porque, efectivamente, é o homem certo no lugar certo, o único - neste momento - capaz de gerir essas campanhas, de manter a equipa concentrada, e de... sonhar.
Ou melhor, ambicionar.
E nisso os dois Fernandos, tanto o Gomes como o Santos, são parecidos. Ambos se encontram unidos no projecto... e na ambição!
Para podermos festejar, por Portugal,... no Marquês (se os outros não levarem a mal)."

Rui Gomes da Silva, in A Bola

Modalidades 'play-off' e Illiabum

"1. As modalidades colectivas têm sido injustificadamente marginalizadas pelas televisões em canal aberto. É futebol, futebol e futebol e quase mais nada. A televisão pública ainda transmite o Futsal (parente do futebol), mas quase nada de basquetebol, hóquei, voleibol e andebol. Tudo metido para canais por cabo ou para televisões ligadas a clubes (é o caso do basquetebol). Incompreensível e sobremaneira gravoso sobretudo para os clubes com menos recursos.
2. Com a excepção do hóquei, as modalidades têm um play-off para apurar o campeão depois da fase regular. Tenho muitas dúvidas sobre a justiça deste método, ainda que o compreenda do ponto de vista de esticar a temporada e aumentar a emoção. Este ano, está a verificar-se uma situação quase inédita: o vencedor da fase por pontos não se sagra campeão. Em basquetebol, o Benfica dominou e depois perdeu na final. Em voleibol, o mesmo Benfica superiorizou-se na competição, mas o campeão foi o Fonte Bastardo. No andebol, o crónico campeão Porto ficou pelo caminho, substituído pelo ABC. Só falta saber no futsal: se vence o Sporting, o primeiro na fase regular, ou o Benfica.
3. O clube da minha terra - o Illiabum - sagrou-se campeão da Proliga de basquetebol, depois de assegurada brilhantemente a promoção à Liga principal. Como seu sócio 137 e actual presidente da AG, fiquei muito feliz. A cidade de Ílhavo e a direcção do clube merecem este sucesso. Aliás, na sua história de 73 anos, o Illiabum tem muitas e significativas vitórias em diferentes torneios e escalões e até uma Supertaça derrotando o... Benfica."

Bagão Félix, in A Bola

Arbitragem e arbitrariedades

"Começam a vir a público algumas das acções do antigo Conselho de Arbitragem (CA), e assim vamos também percebendo a reacção dos árbitros ao longo da época, como a sistemática recusa à realização dos obrigatórios testes escritos e físicos (art.º 20º, alínea h do Regulamento de Arbitragem), cujas notas deveriam ter reflexo na classificação final. Mas a fila anda: como justificar também o incumprimento em matéria de designação dos nomes para as insígnias da FIFA, num evidente desrespeito regulamentar (Carlos Xistra nos últimos dois anos, Hugo Miguel na última época...)? Como validar para a classificação as imagens vídeo da empresa contratada pela Liga e haver entretanto jogos em que o sistema, por acaso, até falhou, beneficiando uns e prejudicando outros? Como aceitar que árbitros lesionados sejam reconduzidos sem nota final quando as normas são explícitas e dizem que a falta de elementos de avaliação determina a descida de categoria?... Finalmente, para não atulhar a caixa de críticas, que devem aliás ser estendidas a todo o antigo CA e não apenas a Vítor Pereira, detenhamo-nos nesta realidade tão absurda quanto ilegal, só possível numa casa sem ordem e num futebol de faz de conta(s): do quadro dos 24 árbitros da Liga (sem contar com os assistentes, portanto), só nove foram realmente tratados como profissionais - os internacionais. De facto, este restrito lote, além das verbas tabeladas para cada jogo, e comuns a todo o grupo, recebeu um bónus mensal de três mil euros, suportado pela FPF, a título de compensação pela exclusividade. Não entrando na discussão da chocante falta de paridade, já parece serviço de amador proceder depois à avaliação dos 24 sem a devida equidade, uma vez que uns podem treinar-se diariamente e outros não!... E não canso mais. Mas pergunto: vamos continuar assim?!..."

Paulo Montes, in A Bola

10 porcos e 10 vitelos

"Anda o presidente do Gil Vicente rejubilante com este maná caído do céu, mais concretamente do Tribunal do Círculo Administrativo de Lisboa, que anulou a despromoção do clube, a ponto de prometer um festim, na cidade, de porcos e vitelas e a animação de Quim Barreiros.
Não é caso para menos. Diremos que, no meio desta exuberância pecuária, só falta mesmo a vaca que voa... Mais um caldinho, a atormentar a já débil credibilidade do futebol português, com esta realidade singular: no espaço de três anos, a Liga vai ter de alargar duas vezes o número de clubes na primeira divisão, por via de reversões judiciais, que anularam decisões dos órgãos disciplinares da Federação e da Liga (que, nestes casos, ainda exercia esse poder).
A somar às suspeições decorrentes, do 'fixing' e que já levaram à prisão preventiva de vários arguidos, ressurge agora esta batata quente, que, desde 2006, andava esquecida nas catacumbas do nosso contencioso administrativo.
Bem andou a Federação ao atalhar caminho neste imbróglio, renunciando ao recurso e encarando a questão de frente, mas com um desfecho reputacional e desportivo desastroso; realmente em Portugal acontecem coisas que não há em mais lado nenhum e a Primeira Liga, que não era já um modelo de competitividade, vai ser alargada com um (ou mesmo dois) clubes, que, em rigor, não vão acrescentar nada.
Os mitos urbanos, em que o nosso futebol é pródigo, pululam de histórias de membros de órgãos jurisdicionais, que, sob a capa de uma aparente independência, se prestam a fretes e a jogadas de bastidores. Não quero nem saber, porque, em minha opinião, o problema não é esse.
O problema está na qualidade das pessoas que vêm integrando sucessivamente esses órgãos e que falham, por sistema, em questões fulcrais, quando submetidas ao escrutínio judicial. Logo, há que ter os processos mais bem instruídos, de forma absolutamente transparente e decididos por gente mais capaz e dedicada.
Talleyrand dizia dos Bourbons, que estes nada esqueciam, mas também nada aprendiam. Desde o famoso caso N'Dinga que, nos anos 90, opôs Guimarães e Académica, que esta máxima parece aplicar-se aos órgãos jurisdicionais do nosso associativismo, onde vejo sempre os mesmos nomes, 'pase lo que pase'."