"1. Três pontos tem o Sporting de avanço sobre o Benfica. Outros três o Benfica sobre o Futebol Clube do Porto. O Sporting venceu claramente um Nacional em crise de resultados e de confiança. Com uma arbitragem serena de Bruno Paixão, o que se assinala. A Liga ganha, assim, renovado e acrescido interesse. A partir dos resultados desta jornada nenhum dos três grandes pode perder pontos. E havendo já novo encontro entre eles, o Sporting-Benfica, no arranque de Março! Está em causa a conquista da Liga e a conquista do acesso directo à atractiva Liga dos Campeões. E os adeptos serão fundamentais. No apoio e na transmissão de confiança. Mesmo perante resultados não esperados. Que nunca inesperados!
2. Todos os clássicos são imprevisíveis. Já tive o privilégio de assistir no velho e novo Estádio da Luz ou no velho Estádio das Antas (mais) ou no Estádio do Dragão (menos) a muitos clássicos entre Benfica e Futebol Clube do Porto. Já sorri e já sofri. Já exultei e já me calei. Já fiz maldades no final de um jogo e já fui atingido com outras no final de outros. Já me entusiasmei e já fiquei, acompanhando, de joelhos. Já discuti o mérito e já assumi o demérito. E, aqui, importa aplaudir também a arbitragem de Artur Soares Dias. Mas nunca esqueço o meu saudoso e querido Artur Semedo quando, com a sua profunda voz bem rouca e o seu imenso benfiquismo, me dizia que «o nosso Benfica nunca perde; de vez em quando é que não ganha». E quando não ganha, por diferentes razões e outras justificações, exige, sempre, que nunca o abandonemos. Sem prejuízo da nossa opinião e, se for o caso, mesmo contra algumas correntes. E, assim, hoje, não estamos proibidos de chegar a outras conclusões que não sejam as já achadas por outros. Vamos lá então.
3. José Peseiro ganhou na sexta-feira a Rui Vitória. Não mexeu no seu meio-campo e arriscou na defesa. Com o miúdo grande Chidozie. Mostrou a Brahimi que pode ser bem útil à equipa e menos efusivo nas chegadas ao banco após a decisão da substituição. E permitiu que Casillas fosse de novo, mencionado por boas intervenções. Foi-o no jogo e foi-o a seguir na imensa imprensa espanhola ou de língua castelhana. Basta olharmos para as páginas e os vídeos que lhe dedicam os diferentes jornais de Espanha, particularmente os desportivos.
Mas Peseiro arriscou e ganhou. Sofreu, e muito, na primeira parte mas segurou o jogo na segunda. O FC Porto renasceu de repente. Sabia que não podia perder este jogo. E José Peseiro mostrou a muitos que duvidavam das suas capacidades, que sabe arriscar e estudar, em profundidade, os adversários. E mostrou que conhece bem este Benfica de Rui Vitória.
4. Rui Vitória não surpreendeu. Manteve as características do Benfica. De um Benfica que só conhecia, nos últimos jogos, vitórias robustas e uma eficácia impressionante em frente à baliza adversária. Eficácia que, na sexta-feira, foi bem diminuta face à diferença nos remates à baliza. Dezasseis para o Benfica e nove para o Futebol Clube do Porto. Ou seja, uma percentagem portista de eficácia superior a 22%! E perante a desvantagem no marcador este Benfica de Rui Vitória não ganhou no meio-campo e não ganhou Jonas para este jogo. E, assim, o Benfica, este Benfica em que acreditamos, sabe que não pode perder em Alvalade. É que, nos jogos entre os três grandes, só soma derrotas. E importa não ignorar, por todas as razões, este facto. Mesmo em época de transição. Sendo certo, e vamos a uma citação, e como escreveu Machado de Assis, «é muito melhor cair das nuvens que de um terceiro andar». E o Futebol Clube do Porto mantém o terceiro lugar na nossa Liga. Como Rui Vitória continua - e continuará - a ser o treinador em que cada benfiquista acredita para nos levar ao tri e mais longe nesta edição da Liga dos Campeões. E já terça-feira, e de novo na Luz, acredito que vamos regressar às vitórias e frente a um Zenit que, por diferentes e notórias razões, conhece bem este Benfica.
5. Casillas foi imenso na baliza do Futebol Clube do Porto. Defendeu os remates dos jogadores do Benfica e defendeu os cortes defeituosos dos seus colegas de equipa. Mostrou que continua a ser um grande guarda-redes. Redimiu-se na sexta-feira de alguns erros - graves - cometidos em outros jogos. A partir da Luz voltou a ser bestial. Um amigo meu dizia-me que fez defesas monstruosas. Aceitemos duas delas, em particular aquela a um remate de Martins Indi. O que me irritou é que guardou os momentos de excelência para o jogo contra o Benfica. E o que sei é que o seu querido Filho já pode, em próximo Carnaval, voltar a mascarar-se com um leão! Desde que um dos próximos jogos não seja contra o meu Benfica!
6. Renato Sanches mostrou, uma vez mais, o seu valor. Mesmo que com momentos de menos fulgor. Chidozie não tremeu e logo na estreia num clássico complexo para a sua equipa. O que significa que a aposta calculada na juventude é uma aposta certa!
E neste encontro participaram oito jogadores portugueses. Quatro em cada equipa. A combinação da juventude com a experiência também se sentiu no bem tratado relvado da Luz. Em diferentes momentos. Onde houve fervor, uma coreografia que se saúda efusivamente e o reconhecimento, no final, que pode haver rivalidade com respeito e real desportivismo. Os abraços no final, entre muitos outros, entre Casillas e Júlio César e entre Renato Sanches e Rúben Neves fazem bem ao futebol, a esta Liga, ao sentimento entre o eu e o tu. Que leva ao nós. E são imagens que a Liga NOS poderia utilizar e replicar! São imagens que valem muitos três pontos. Muitos mesmo!
PS - Um abraço a Octávio Machado. Forte!"
Fernando Seara, in A Bola
PS: Fernando Seara um autêntico Mestre na arte de escrever muito e não se comprometer com nenhuma opinião potencialmente divisória... uma autêntica aula do politicamente correcto!!!