quinta-feira, 31 de março de 2016

Ganhar ao Braga.... e só depois pensar em ganhar em Munique

"Os mais recentes adeptos do Bayern em Portugal deveriam preocupar-se com o percurso europeu das suas equipas...

Depois de mais uma paragem para os jogos de preparação das selecções, e com o regresso do campeonato já amanhã, o mais importante, neste momento, é ganhar ao Braga... porque ainda faltam... 7 finais!!! Tão pouco e tanto!
Enquanto isso não acontece, falemos de... campeões. Ou melhor, das últimas incidências da Liga dos Campeões.

O sorteio
Ditou-nos a sorte do sorteio, nos quartos de final da Liga dos Campeões, o Bayern de Munique. Não teria sido a minha escolha, confesso. Ainda assim, não posso deixar de reparar nas sortes e nos destinos das restantes seis melhores equipas da Europa.
Curiosidades - ou meras casualidades - de mais um sorteio: Wolfsburg-Real Madrid; Barcelona-Atlético; e Paris SG-Manchester City.
Foi com alguma surpresa (ou talvez não) que o mundo futebolístico constatou que as equipas teoricamente mais fortes - teoricamente apenas, uma vez que a força em campo também se mede da forma como se encara e assume o jogo ou, neste caso, a eliminatória - enfrentarão equipas, a priori, mais fracas.
Todas, sem excepção!
De um lado, as actuais ditas potências do futebol europeu: Real Madrid, Barcelona, Paris SG e Bayern; contra os acessíveis Wolfsburg, Atlético, Manchester City e Benfica - sem que a ordem signifique, como é evidente, alguma graduação.
Como se de uma divisão exacta (e, diria, quase estratégica) se tratasse... Como se a UEFA idealizasse (e o sorteio lhe correspondesse) umas meias-finais com os actuais 4 clubes mais ricos da Europa (... e resguardasse o Manchester City para ser Campeão Europeu... com Pep Guardiola)!
A esse propósito, José Antunes de Sousa, no seu artigo da semana passada, na edição online deste jornal, aborda essa (in)feliz coincidência, referindo-se àquele que ainda hoje é uma das maiores polémicas do futebol nos últimos tempos - a famosa e já muito discutida «manipulação da sorte» nas competições europeias... (como fala, como poucos sabem, da atitude a assumir perante o desafio em concreto, que nos poderá «matar» ou levar à glória). As tais «oscilações de humor», como refere.
É verdade que muito se tem discutido sobre o tema e, consequentemente, sobre as técnicas (não) utilizadas... Há quem defenda uma certa climatização das bolas da sorte - umas mais quentes, outras mais frias - e/ou a existência de um pequeno relevo/realce na textura (senão mesmo ásperas). A acontecer, e a existirem, seriam oscilações bastante oportunas... Mas não vou entrar por aí... até porque não acredito nessas histórias!!!

Bayern-Benfica
Independentemente da nossa sorte e até das próprias curiosidades deste sorteio, interessa-nos apenas a eliminatória.
Dizem, por ai, que o objectivo do Benfica - como se tivessem legitimidade para definir alguma coisa - é não ser esmagado pela temível - só para eles - potência alemã.
Conversa... fiada!!!
Desde logo, os mais recentes adeptos do Bayern em Portugal - ironia do destino para alguns... - deveriam preocupar-se verdadeiramente, e em primeira instância, com o percurso europeu das suas equipas... ou, por outras palavras, com as respectivas eliminações precoces. Só aí lhes reconheceria legitimidade. Mas como já por cá não anda...
Relativamente àqueles que, pese embora sejam do Benfica, estão um tanto enquanto apreensivos... vamos lá deixar de ter medo! Porque só essa atitude significa ser do Benfica! Com a certeza de que não poderemos, nunca, ter uma reacção contrária, por mesquinha e infundada, numa tentativa de adivinhação, sob pena de - ainda que inconscientemente - interiorizarmos (e anteciparmos) um desfecho menos favorável.
Tenho para mim que a nossa continuidade na LC dependerá da nossa atitude e da nossa abordagem. Não condicionemos, pois, a eliminatória. Com a consciência de que nos espera uma das equipas mais fortes da Europa... será, acima de tudo, uma questão de... acreditar!
Acreditar com muita força!
Até porque não há equipas invencíveis, por mais fortes que sejam (teoricamente). Aliás, se tivermos em atenção a realidade do futebol actual, antes de um jogo, mas sobretudo em campo, ninguém se considera a si próprio como verdadeiramente mais fraco. Nem poderia ser de outra maneira! Uma coisa é achar-se favorito, outra coisa - bem diferente - é achar-se mais forte.
Na última grande campanha do Benfica na LC, na época 2005/06, sob o comando de Ronald Koeman o Benfica foi eliminado pelo Barcelona, que viria a sagrar-se campeão europeu nessa temporada.
Apenas para relembrar esse feito, e o seu contexto, bem como outros plantéis desta vida. Tínhamos, então, Moreira, Quim, Rui Nereu, Moretto, Nélson, Anderson, Luisão, Alcides, Ricardo Rocha, Leo, Petit, Manuel Fernandes, Beto, Geovanni, Karagounis, Nuno Assis, Karyaka, Simão, Manduca, Robert, Mantorras, Nuno Gomes e Miccoli.
Com esse plantel - é verdade, com este mesmo - depois de termos ganho ao Manchester United, ainda na fase de grupos, eliminamos o Liverpool, campeão europeu em título, nos oitavos. E como me lembro do jogo em Liverpool, onde estive.
Certo é que uma década depois muito mudou no futebol mundial. Por isso, os factos mais antigos valem o que valem... ainda que, para a história, mas sobretudo para memória futura, fique a lição de que é tudo uma questão de querer... muito... e de crença!
Como diria Bélla Guttman (citado por José Antunes de Sousa, no artigo referido), a propósito do jogo com o Barcelona, em maio de 1961 «só pensamos em nós».
E será com base nesse pressuposto e numa fé inabalável, aos quais acrescerá a forte aposta na fórmula intemporal do sucesso: «raça, querer e ambição», que se disputará a eliminatória que se segue.
Disputar o jogo pelo jogo, olhos nos olhos, sem limites, com coragem e concentração. É só uma questão de... escolha! Tudo - ou quase tudo - se resume a acreditar no nosso valor e naquilo que somos capazes de fazer. Para que se possa voltar a fazer história, num momento de glória, e a construir um futuro de vitória. E para que na memória de todos fiquem mais duas grandes noites europeias. Um Benfica à conquista da Europa... à conquista do sonho europeu!

Ganhar a LC
Chamem-me (novamente) louco, o que quiserem, mas acredito que o Benfica poderá em breve vencer a LC, como há muito venho a referir. De facto, devemos ter em nós todos os sonhos do mundo, mas este meu sonho, que hoje em dia é, efectivamente, uma convicção, tem vários fundamentos.
Desde logo, tendo em atenção as actuais características do futebol; não é necessário ser o clube com maior poder financeiro e, por conseguinte, aquele que tem melhor plantel e respectiva estrutura e equipa técnica, para conquistar a LC.
Nas últimas três épocas as finais desta competição foram disputadas entre o Bayern e o Dortmund (2012/13), entre o Real de Madrid e o Atlético (2013/14) e entre o Barcelona e a Juventus (2014/15). Independentemente dos vencedores dessas finais, a verdade é que, em três anos, equipas teoricamente mais fracas, como o Borussia Dortmund, o Atlético e a Juventus, que à partida não seriam favoritas, nem candidatas a um lugar na respectiva final, disputaram até ao fim a competição.
No caso particular da Juventus, tinha sido eliminada na época anterior (2013/14) pelo Benfica, nas meias-finais da Liga Europa.
Além disso, tendo ainda por base os finalistas da LC nessas três épocas, consultando o Football Money League da Deloitte, e considerando apenas as receitas dos clubes, para os devidos efeitos, uma vez que são as que nos permite mais facilmente perceber e comparar o desempenho financeiro dos mesmos, rapidamente nos apercebemos que cada vez mais têm capacidade para competir financeira e desportivamente, sobretudo com a aquisição de bons jogadores. Ora, relativamente à época 2012/13, o Bayern teve uma receita de 431.2 milhões de euros, contra os 256.2 milhões de euros do outro finalista, Dortmund. No que diz respeito à temporada 2013/14, o finalista Real Madrid teve uma receita de 549.5 milhões de euros, em contraposição com os 169.9 milhões de euros do Atlético! Por fim, em relação à época 2014/15, o Barcelona teve uma receita de 560.8 milhões de euros contra a também finalista Juventus, que alcançou os 323.9 milhões de euros.
Tais números revelam diferença, por regra, abissal entre os finalistas da LC, o que demonstra que também os clubes com menores receitas têm capacidade financeira e desportiva para disputar uma final e um dia poder vencer a competição. Além disso, esses números revelam ainda que o clube com maior receita de há uns anos a esta parte, o Real, quase nunca está presente na final, como, teoricamente, seria a sua obrigação. Assim, não obstante as receitas comerciais e os direitos de transmissão terem crescente importância para os clubes, e contrariando um pouco a tese de Pitágoras, nem sempre «os números governam o mundo»... ou a LC, neste caso.
Face a essa factualidade, e no que ao Benfica diz respeito, acredito que poderemos, um dia, voltar a ser Campeões Europeus! Com a certeza, também, de que se não for este ano (talvez... o mais provável, apesar do meu optimismo militante), será numa das próximas épocas.

Ganhar ao Braga
Tudo isto vale o que vale. Porque, hoje, e até amanhã, só uma coisa me importa: vencer o jogo mais importante da época. Contra o Braga. Porque esse é uma das 7 finais que nos faltam disputar para sermos tricampeões. Se entrarmos em campo a pensar em Munique, perderemos, como se costuma dizer pau e bola. Teremos tempo para isso.
Por isso e por agora, só podemos ter um único pensamento, um único objectivo: ganhar ao Braga.
VAMOS A ISSO, BENFICA???"

Rui Gomes da Silva, in A Bola

'Premier League'

"Dêem-se as voltas que se derem, nã há competição futebolística tão vibrante e sedutora como a Premier League inglesa. Estádios sempre repletos, entusiasmo transbordante, mas ordeiro (depois do eficaz afastamento do holiganismo), jogos intensos do primeiro ao último segundo, sem fitas em comparação com o futebol continental, sem queixumes de jogos sobre jogos que por cá suscitariam todas as reservas face à exaustão crónica de jogadores, imprevissibilidade dos resultados, equipas sempre apoiadas independentemente do desfecho, exportação mundial e bem paga das transmissões.
Esta época tem excedido todas as expectativas. Senão vejamos. O provável campeão, o Leicester, promovido à liga principal há dois anos e, por esta altura da época transacta, no último lugar e lutando para não voltar a ser despromovido. O ainda Campeão Chelsea e o Liverpool, agora treinado por Jurgen Klopp, já afastados dos lugares que dão acesso ás competições da UEFA, incluindo a Liga Europa. O Manchester City tentando segurar o 4.º lugar de acesso  à Champions, em luta com o inesperado West Ham e o Man United. O Arsenal - o meu team se fosse inglês - nem com os tradicionais favoritos fora da corrida, conseguirá ser campeão com o teimoso Arséne Wenger. Entre Leicester e os crónicos favoritos está um excelente Tottenham, há muito afastado do sucesso (foi campeão em 1961!). No fim da tabela, o Aston Villa está já relegado para o 2.º escalão, o que deixa a segunda maior cidade do Reino Unido - Birmingham - sem clube na Premier League e marca negativamente a história de um dos poucos clubes que nunca havia baixado.
Tudo é possível ns ilha."

Bagão Félix, in A Bola

O presente envenenado

"O Benfica e Jonas não ganharam nada com a ida do avançado à selecção do seu país. Jonas fez milhares de quilómetros para alinhar 10 minutos e o Benfica ficou sem saber em que condições irá o jogador apresentar-se amanhã no encontro decisivo frente ao Sp. Braga. Jonas tem sido fundamental para os encarnados estarem hoje na liderança da Liga e ainda em prova na Champions. Deixou Lisboa na 2.ª feira da semana passada, dia 21, e só esta manhã está de volta a Portugal. É uma rotina a que muitos jogadores estão sujeitos regularmente, é verdade. A diferença neste caso é que Jonas vai jogar já amanhã, quando o normal é os clubes voltarem a competir apenas ao sábado ou domingo.
É difícil, ou mesmo impossível, que o avançado esteja ao seu melhor nível neste duelo com o Sp. Braga e também no que se segue, frente ao Bayern Munique. Jonas faz 32 anos exactamente amanhã, a temporada vai em fase adiantada,já são mais de 40 jogos nas pernas e o momento é tão importante que Rui Vitória não pode sequer pensar em dar-se ao luxo de fazer descansar o homem dos golos.
O Brasil convocou Jonas à última hora e bem pode agradecer a boa vontade mostrada pelo Benfica, que não estava obrigado a dispensá-lo em virtude de a CBF não o ter pré-convocado até 15 dias antes do jogos com Uruguai e Paraguai, como exigem os regulamentos. O Benfica facilitou vontades obviamente também na esperança de ver o jogador feliz e, assim, ainda mais moralizado na luta pela conquista do campeonato. Mas aí saiu tudo ao contrário: Jonas cumpriu o sonho de voltar a vestir a canarinha, é verdade, mas o seu estatuto não foi respeitado. Não faz sentido o líder da Bota de Ouro sentar-se no banco de um Brasil que não convence. Na perspectiva do Benfica, a pergunta é: valeu a pena?"

Benfiquismo (LX)

Em Leiria era assim que se recebia o Benfica... as 'luvas pretas' vêem-se ao longe!!!

Lindo...

Benfica 30 (2) - (0) 29 Corruptos
(13-13); (25-25)


Noite verdadeiramente Gloriosa: vitória contra os Corruptos, apesar de mais um roubo épico...!!!
Na primeira parte a arbitragem até foi estranhamente equilibrada, mas no 2.º tempo e no Prolongamento foi uma verdadeira vergonha... nada que não estejamos habituados!!!
E ainda me perguntam de vez em quanto, porque é que continuo aqui no Indefectível a 'recordar' a verdadeira natureza daquele Clube, referindo-me a eles, sempre, com o nome de Corruptos!!! Está entranhado na sua essência, faz parte do sangue, não sabem mais...
Mas hoje, nem com os apitos conseguiram ganhar!!!
O espírito desta equipa está realmente muito forte, doutro modo nunca teríamos ganho estes dois jogos aos Corruptos e eliminado os Russos na Challenge. Com muitos jovens, após várias desilusões, finalmente os resultados começam a aparecer... Recordo que os Corruptos, nos últimos anos estiveram na 'Champions', e como tal construíram um plantel para jogar na Champions... e receberam 'prémios' de participação bastante avultados para a realidade do Andebol Português. Se a primeira vitória no antro Corrupto podia ter sido lida como uma noite de sorte nossa e azar deles, creio que hoje ficou confirmado que estamos mesmo na luta...!!!
Parece estranho, estar a vencer por 2-0, faltando só mais uma vitória, para assegurar passagem à Final, e estar ainda com cuidado em atribuir 'favoritismo'... Temos 3 jogos, para vencer 1, é verdade, mas ainda falta vencer 1 !!! E como se viu esta noite, a disputa nunca será justa...!!! Além disso, dos 3 jogos que faltam, 2 serão (em caso de necessidade) no antro Corrupto...
Eles estão mais fracos, muito por culpa da saída do treinador, mas continuam a ter melhores condições do que nós...


Os segundos finais do Clássico! Obrigado aos 1400 adeptos que fizeram do Pavilhão um verdadeiro Inferno da Luz 󾓶󾓶󾓶#UmaCamisolaVáriasEmoções
Publicado por Sport Lisboa e Benfica - Modalidades em Quarta-feira, 30 de Março de 2016

Dentro do excelente jogo colectivo, temos que destacar dois jogadores: Uelington no remate, e Mitrevski a defender... o Figueira também esteve bem, mas calhou a 'sorte' ao Mitrevski de defender os decisivos Livres de 7 metros!!! Dois Livres de 7 Metros, um no final do tempo regulamentar, a levar o jogo para prolongamento, e outro no final do prolongamento, a garantir a vitória... repito: épico!!!

Dentro da felicidade pela vitória, não posso deixar de notar mais uma vez, a falta de 'instinto assassino' da nossa equipa, quando em alguns momentos do jogo, podiamos ter aberto uma vantagem mais confortável, e desperdiçamos em erros não forçados estúpidos... Em sentido contrário, quando tivemos em desvantagem, nunca desistimos!!!

Outro 'problema' habitual, é o nosso jogo com o Pivot. Hoje, só o Moreno marcou 1 golo!!! Ales: 0, e Vrgoc: 0 !!! Com todas as outras equipas, este problema existe, mas com os Corruptos, é praticamente impossível marcar um golo com uma jogada 'normal' com o Pivot, os 'critérios' nos contactos assim o obrigam...!!!

Uma última nota, para o ambiente no Pavilhão: excelente. Devia ser sempre assim...
Espero que desta vez, não apareçam os habituais críticos a exigir o fecho da secção!!! No desporto ganha-se ou perde-se... é natural. No Benfica a exigência é grande. Exige-se ambição. Mas às vezes é preciso ter paciência... No Andebol estamos no bom caminho... Independentemente do que acontecer até ao final da época, no Campeonato, na Taça ou na Europa, é evidente para todos, que a equipa está em fase de evolução, portanto nada de comportamentos bipolares...
Sempre a apoiar, sempre pelo Benfica!

quarta-feira, 30 de março de 2016

Renato Sanches, um caso especial

"Renato Sanches tornou-se um dos jogadores portugueses mais falados dos últimos tempos. Tem apenas 18 anos mas já é titular seguro na equipa do Benfica há meses; saltou etapas e foi chamado para representar o País na Selecção principal e tem, indiscutivelmente, qualidade. Renato é sem dúvida um jogador de muito talento, com características especiais, nomeadamente físicas e de comprometimento em cada jogo que disputa, e apresenta uma margem de progressão enormíssima. Parece-me consensual que estamos perante um belo jogador mas que ainda não é estrela; apenas candidato a estrela e veremos se consegue lá chegar. 
Porém, este miúdo de tranças longas tem mais um pormenor que o torna diferente de muitos outros jovens jogadores: carisma. Só assim se justifica que, apesar dos muitos erros que ainda comete no seu jogo, seja aplaudido e ovacionado pelos seus adeptos sempre que pega na bola e esse carisma explica, sobretudo, a atenção que todos lhe dedicam. No jogo de Portugal com a Bulgária, em Leiria, em campo entrou um adepto desenfreado à procura dum abraço e surpreendentemente não correu para Cristiano Ronaldo mas sim na direcção de Renato Sanches. Nos treinos da Selecção foi com as tranças de Renato que engraçaram Ronaldo e Quaresma; nas redes sociais, imprensa ou televisões tudo o que tem Renato Sanches tornou-se um produto atraente. E com eco internacional, porque é frequentemente bem colocado nas listas que identificam os mais promissores.
É evidente que todos, não apenas os jornalistas, fizeram crescer Renato mais do que neste momento ele é, o que representa uma responsabilidade acrescida para o jogador naquele que seria o seu processo natural de evolução. Mas também é claro que Renato Sanches não é só folclore."

Nélson Feiteirona, in A Bola

Cruyff

"No dia 20 de Março, saiu aquela que viria a ser a derradeira crónica de Johan Cruyff na coluna que tinha no jornal holandês Die Telegraaf, em que falou sobre o último jogo que comentou, premonitoriamente entre uma equipa holandesa (PSV) e uma espanhola (Atl. Madrid). Quatro dias antes da sua morte. Cidadão do mundo, holandês por sangue, catalão por afecto. Em vida, agora eternizada pela morte, o nome de Cruyff, com a sua fonética neerlandesa, funde-se com futebol, na sua etimologia britânica tornada universal. Foi tudo: campeão, treinador, sindicalista, seleccionador, profeta, comentador, educador, professor, mobilizador, vanguardista.
Nascido um ano depois de Cruyff, pude acompanhar, de perto, o seu mister de arte, engenho, perfeição. Um jogador que jorrava elegância nos relvados, eficácia nas decisões. Foi Cruyff que me levou a gostar sempre do Ajax, ainda que, por duas vezes, o Benfica tenha sido por ele eliminado nos tempos áureos da equipa de Amesterdão. Foi Cruyff que mais terá contribuído para reinventar a inteligência ao serviço deste desporto.
Cruyff foi um revolucionário romântico. Às vezes, rebelde. Outras vezes, compassivo e poético. Mas sempre com um futebol perfumado. O holandês entendia-o como o palco para uma orquestra completa, disciplinada e, ao mesmo tempo, criadora e criativa.
"Jogar futebol é muito simples, mas jogar um futebol simples é a coisa mais difícil que há" resumia o génio holandês. Ou "o futebol é um desporto que se joga com o cérebro e não tanto com as pernas". Como li no El País, Cruyff foi o Garcia Márquez do futebol."

Bagão Félix, in A Bola

Benfiquismo (LIX)

Óscar 'Tacuara' Cardozo & Ezequiel 'El Negro' Garay
Esta foto não é muito antiga,
mas merecia ser considerada uma foto Clássica,
logo no dia seguinte ao jogo!!!

Benfica 3 - 1 Fenerbachçe
2 de Maio de 2013
2.ª mão, Meias-finais da Liga Europa

Da imortalidade

"O pai tinha tenda a 500 metros do campo do Ajax - todos os dias lá ia vender a fruta que o clube dava aos jogadores, de cesto às costas. Morreu de ataque cardíaco no regresso de uma das entregas - e foi a mãe para lá fazer as limpezas, levou o filho a um treino - vendo-o chegar magricelas, o treinador torceu o nariz. Vendo-o fazer com a bola o que fazia com laranjas na venda, deslumbrou-se. Se tinha o físico escanifrado, tinha o carácter forte. Aos 15 anos já era jóia de coroa no Ajax - e de prémio puseram-no a apanha-bolas na final da Taça dos Campeões de 1962 que o Benfica ganhou ao Real Madrid nos 5-3 do Olímpico de Amesterdão.
Encantou-o Eusébio pelos seus dois golos, encantou-o Puskas pelos seus três golos, mas quem mais o encantou foi Di Stéfano - por transformar todo o campo num bailado, sempre sublime, em perpétuo movimento. Correu a pedir-lhe autógrafo, foi o único que pediu na vida.
Com Di Stéfano a refinar-se nos seus pés (e mais na sua cabeça) deu-se, arrebatante, a uma revolução: o Futebol Total de Rinus Michels. Hipnotizava os adversários pelo seu carrossel - e o centro do carrossel era ele. Puxou o Ajax à conquista de três Taças dos Campeões, na de 70/71 bateu em Wembley o Panathinaikos treinado por Puskas. Jornalista disse que era o Pitágoras de chuteiras - e lesão grave deixou-o três meses sem jogar. Muhrer passou a usar a sua camisola n.º 9 - quando voltou a jogo avisou Rinus Michels de que a partir daquele instante seria sempre o n.º 14, só o 14:
- Sim, foi um ato de rebeldia, rebeldia contra normas que impunham que se jogasse apenas de 1 a 11 - só porque sim...
Boicotou o Mundial de 78, revelou:
- A Holanda vai ser campeã, não quero ter de ir à ilharga do general Videla receber a Taça das mãos dum ditador.
Nasceu a 25 de Abril, foi revolucionário. Nasceu a 25 de Abril, a 25 de Abril de 1947 - e nunca mais morreu. E a prova de que nunca morrerá é que, nesta crónica, a mostrar-lhe brilho e carácter, não está o nome dele - e todos sabemos quem é..."

António Simões, in A Bola

Aquele abraço

"O que há num abraço? podemos questionar-nos, após o movimento destemido do jovem que galgou a segurança para ir ter com Renato Sanches ter ficado como a marca do Portugal-Bulgária. Num jogo que tenderia a ficar na memória por um falhanço improvável de Ronaldo, um abraço tão caloroso como infantil tornou-se protagonista central. Faz sentido: aquele abraço teve um simbolismo que supera o ato em si. 
Como tem sido dito, o Renato é um enorme talento, mas um projecto de craque, com muito para aprender. Podemos nele vislumbrar sinais de um futuro promissor. Mas não é isso que o diferencia de outros futebolistas. Pelo contrário, Renato Sanches entusiasma por ser um jogador do passado. Uma memória viva do futebol romantizado, jogado em peladinhas desorganizadas no meio da rua, entre carros estacionados e com bolas perdidas para a estrada. A euforia em torno do Renato não é direccionada ao futuro, nem ao que oferece hoje ao Benfica. É um festejo do futebol de ontem.
Depois, não vale a pena fingir que não é assim: o compromisso primordial dos adeptos é com os clubes. A Selecção é o que nos oferecem quando o futebol fica suspenso. A justa paixão dos benfiquistas pelo Renato prolonga-se para lá do Estádio da Luz. A Selecção é mais uma oportunidade para celebrá-la.
Poucos têm a sorte de ter 13 anos e vestir uma camisola do Benfica com o mesmo número 24 do Renato. Mas muitos invejaram o Diogo Caleiro quando irrompeu pelo campo adentro para de forma destemperada abraçar o Renato. É que o que chamamos abraço, dado a outro que não ao Renato, não seria tão encantador."

Condição física juvenil

"Faz amanhã 52 anos, o presidente Kennedy manifestou na TV a preocupação com a condição física da juventude americana. Colocou ao país o desafio de a melhorar e, assim, o vigor físico e mental da nação, pedindo às escolas secundárias que nas aulas de educação física se desenvolvesse um programa visando tornar os jovens fortes, saudáveis e atléticos. Inspirou-se no programa, do Liceu de La Sierra, na Califórnia, criado por Stan Le Protti, veterano da II Guerra Mundial que viria a ser adoptado por mais de quatro mil escolas. Já o antecessor de Kennedy, o General Einsenhower, havia manifestado preocupação com o nível baixo da condição física dos jovens que teria sido responsável por significativo número de mortos naquele conflito.
Discute-se actualmente o regresso àquele programa, tendo em conta o deplorável estado físico dos jovens. O método inspirou-se na Grécia Antiga e nos sistemas surgidos no séc. XIX, particularmente na Alemanha e Suécia, considerando a interligação - que a ciência actual comprovada - entre a actividade física, o desenvolvimento cognitivo e a saúde mental. Inclui intensa actividade muscular e cárdio-vascular, com recurso a obstáculos e exercícios que utilizam o peso corporal. Os jogos e desportos fazem também parte do programa, considerando-se que a preparação física lhes é indispensável. Como factor motivacional os alunos usam calções cuja côr corresponde a determinado nível de fitness, na perspectiva de que cada um tem o seu lugar no programa em que se progride a caminho da excelência. Um realizador de cinema, entusiasmado com o sistema de La Sierra, resolveu realizar um documentário que o dê a conhecer e promova a generalização, estando em curso uma campanha de crowdfunding.
Seria bom reflectirmos sobre o papel das escolas portuguesas no desenvolvimento da condição física dos alunos e na forma como são orientadas as aulas de educação física, tendo em mente esta preocupação."

Sidónio Serpa, in A Bola

Vitória...

Benfica 85 - 69 Barcelos
25-22, 22-19, 17-16, 21-12

Jogo fraquinho... o Barcelos ultimamente tem levado várias cabazadas, e as ausências do Andrade e do Gentry não são desculpa. Só no final do 3.º período começamos a cavar uma diferença... até lá, jogo muito equilibrado, e com o Barcelos perto do intervalo, chegou mesmo a liderar...
O Cook pareceu-me limitado fisicamente, os 11 minutos de utilização, indicam isso...

terça-feira, 29 de março de 2016

Um nome para a literatura...

"Dificilmente se escreveu, em Portugal e no mundo, tão belas páginas sobre um atleta do que as que foram dedicadas a Eusébio. Voltemos a ele, portanto. Inesquecível, sim; irrepetível, também.


Eusébio. Voltemos a falar de Eusébio. É sempre bom recordar Eusébio. O mais fascinante personagem que vi sobre um campo de Futebol. Figura antediluviana... Absoluta!
Durante o Campeonato do Mundo de 1966, Joseph-Marie Filippi, no insuspeito «Le Monde», escreveu: «Eusébio, melhor marcador do Mundial, esse atleta excepcionalmente dotado cujo nome ressoa como o de uma personagem de Musset. O Mundo inteiro procurava o título. Numerosos países mobilizaram as suas forças para o conquistar. Cada equipa foi apoiada pelo entusiasmo de milhões de adeptos. E um jogador escuro, de um pequeno país, impõe a sua lei frente a essas multidões febris. Creio ser necessário dizer obrigado a Eusébio. Ele demonstrou-nos que os empreendimentos humanos não devem tudo à máquina, nem ao gregarismo de uma sociedade anónima, e quanto podem ainda contar, sobre o velho instrumento da calúnia, com o esforço do homem e o valor individual de enfrentar obstáculos. Sim, as exibições de Eusébio talvez tenham um significado simbólico. Nesta época da 'Marcha da Paz' e da 'Marcha Contra o Medo', não é apenas com os pés que se defende a Humanidade».
Ainda dizem que o Futebol não tem literatura... Se isto não é literatura, onde está a literatura?
A dimensão de um nome!
Eusébio.
Há nomes assim: esse ponto final parágrafo aí em cima poderia ser um ponto absolutamente final. Porque a Eusébio nada se acrescenta.
Exagero, subjectivo!, exclamarão alguns. Estão no seu direito.
E aqui estou, subjectivamente, a escrever de novo sobre Eusébio. A dimensão de um nome.
Convenhamos: Eusébio escreveu-se a si próprio.
Outro nome fundamental: Nélson Rodrigues. A ele se devem as mais belas páginas escritas em português sobre Futebol. E, ao contrário do que possam pensar, futebol e literatura têm muito em comum.
Nélson Rodrigues: «Em Futebol, o pior cego é que só vê a bola. A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespearina. Às vezes, num córner mal ou bem batido, há um toque evidentissímo do sobrenatural». Era aqui que queria chegar: Eusébio é demasiado complexo para se poder ser objectivo.
Ficaremos, portanto, no reino mágico da subjectividade.
Revejam o filme do primeiro golo de Eusébio contra o Brasil, em 1966, no Campeonato do Mundo em Inglaterra. Ou melhor, revejam-no depois do golo.
Ele corre, de braço no ar. A cabeça está erguida, imperial, reparem bem: há no seu olhar, que abraça todo o estádio de Goodison Park, em Liverpool, a consciência de que a história está a passar por ele, pela sua passada elástica, veloz, o redor move-se em câmara lenta, só ele tem vida para além da vida corriqueira, insignificante, só ele ganha luz para além dessa vidinha de que falava Alexandre O'Neill e que acabrunhava o país triste.
Corre, corre, corre, Eusébio corre. Está apenas a comemorar um golo, mas até disso dir-se-ia depender a sua própria existência. Aquela corrida parece durar horas e horas.
Prestem bem atenção, agora: ele eleva-se no ar como se tivesse as asas nos pés de um Mercúrio negro. O seu braço erguido estende-se para lá do estádio, quase tocando o céu num soco vigoroso, vibrante. Não tirem os olhos dele: deixam-no ficar assim para sempre na parece lisa da vossa memória. Dificilmente Eusébio poderá ser tão Eusébio.
Lá está o que disse Nélson Rodrigues: «O pior cego é o que só vê a bola».
A bola aqui pouco importa: estava colada no fundo da baliza de Manga, guarda-redes do Brasil. De forma irreversível.
Personagem de Musset ou apenas personagem destas pobre crónicas, Eusébio eleva-se para lá do tempo. Os anos passam... a sua imagem não!"

Afonso de Melo, in O Benfica

Benfiquismo (LVIII)

Inauguração do nosso Estádio das Amoreiras...
13 de Dezembro de 1925
A onda vermelha não nasceu ontem!!!
15 000 lugares era a lotação...

Roubaram as trutas!

"Enquanto o Benfica se preparava para a vitória em Faro, era roubada a comida da águia Vitória no Estádio da Luz.

A época começava oficialmente com a disputa da Supertaça Cândido Oliveira entre o Benfica e o Vitória de Setúbal, a 14 de Agosto de 2005, no Estádio do Algarve. O mesmo Vitória de Setúbal que, meses antes, impedira o sonho da 'dobradinha'. Mas o campeão nacional estava decidido a conquistar o troféu que homenageia um grande nome do desporto nacional e a quebrar o enguiço que já durava há 16 anos.
A festa 'encarnada' arrancou logo a 12 de Agosto. O Estádio da Luz preparava-se para um fim-de-semana de grande animação a que o calor de Verão convidava. Foram vários os artistas presentes: Vitorino, Tito Paris, Toy, D'ZRT, Boss AC, Janita Salomé, entre outros.
A primeira a subir ao palco foi a águia Vitória, que iria animar o público com o seu magnífico voo. Quando foi anunciado que a Vitória não voaria, muitos se interrogaram porquê. Para surpresa de todos, tinham desaparecido as trutas que estavam no palanque onde pousava! Quem teria roubado a comida da águia? Este foi um crime que ficou por desvendar, mas a festa continuou e, apesar da Vitória não ter voado, fez furor entre os presentes e foi a estrela da festa.
A noite foi marcada pelos sons da lusofonia, misturando-se 'fado, mornas, músicas tradicional, os ritmos quentes do Brasil, Angola ou de Cabo Verde', acompanhados pela boa gastronomia portuguesa de norte a sul, oferecida pelas 30 Casas do Benfica presentes. Milhares de pessoas passaram pelo recinto do festival e o testemunho de Vitorino comprova que a festa benfiquista foi para todos: 'Sou da Académica. E o meu irmão Janita do Sporting. Mas estamos aqui com gosto para um espectáculo de qualidade'.
A festa continuou nos dois dias seguintes com mais concertos, actividades lúdicas e vários tipos de animação - um verdadeiro festival para toda a família. E, claro, para o ansiado jogo de domingo foram colocadas ecrãs gigantes em vários pontos do recinto.
Em Faro, o Benfica venceu, sempre, apoiado por uma onda de vermelho que inundou o estádio. A águia Vitória pode ter sido impedida de voar no Estádio da Luz, mas as 'águias' no Estádio do Algarve voaram bem alto e conquistaram a Supertaça Cândido de Oliveira 2004/05, que pode ser vista na área 10. Tributo ao 'Mestre' do Museu Benfica - Cosme Damião"

Ana Filipa Simões, in O Benfica

segunda-feira, 28 de março de 2016

Mataram o futebol

"Estávamos nos anos 90 quando o futebol deixou de ser ócio para ser negócio. A falta de prazer alastrou-se a jogadores, treinadores e adeptos. “Voltemos aos espectáculos de antigamente”, pediu o mentor de Guardiola numa conferência em Lisboa.

uma maneira infalível de distinguir o adepto ocasional do adepto apaixonado. Basta fazer-lhe uma pergunta simples: qual foi o teu primeiro Mundial? Faça agora um minuto de intervalo e pense bem no assunto. Já está? Prossigamos: o primeiro adepto se calhar não saberá ao certo o que dizer; o segundo terá uma resposta que o enquadrará geracionalmente e que nos permitirá perceber como é que o futebol o começou a marcar. Ora o meu primeiro Mundial foi, lamentavelmente, o de 1994, nos EUA. Que teve Romário, Bebeto (a embalar o bebé, pois claro), Baggio e Preud’homme, sim, mas pouco mais. Porque quando comecei a ver futebol, já o futebol tinha morrido. Juanma Lillo explica: “Tens de fazer muita força para te lembrares de qualquer coisa emocionante nos Mundiais de 1990 e 1994, foram insuportáveis. Foi nos anos 90 que o futebol morreu”, disse o homem que Pep Guardiola reconhece como seu mentor.
A tese deste treinador espanhol de 50 anos, explicada pelo próprio numa conferência que decorreu em Lisboa, na Universidade Lusófona, é dura e baseia-se em dois argumentos fundamentais: foi nos anos 90 que, fora de campo, a modalidade começou a ser muito mais negócio do que ócio; e foi nos anos 90 que, dentro de campo, a supremacia do físico sobre a técnica passou a dominar o futebol.
Faz sentido? Muito, diz António Simões. “Não quero parecer moralista, mas a nossa juventude hoje será que quer ser como Messi e Ronaldo ou será que quer ter o que Messi e Ronaldo têm, dinheiro e fama? Os milhões que estão entre ganhar e não ganhar mexeram muito com o jogo e com o jogador, a quem hoje se paga somas quase incomportáveis”, considera o ex-internacional português, que recebia cinco mil escudos (hoje 25 euros) quando foi contratado pelo Benfica, em 1961.
Em 2014/15, os clubes que participaram na Liga dos Campeões partilharam um bolo de mais de mil milhões de euros, entre prémios e receitas televisivas. Mas o número não impressiona a ganância. Recentemente, a ideia da criação de uma Superliga apenas para a elite europeia, já defendida em 2009 por — quem mais? — Florentino Pérez, voltou a ganhar força, quando os maiores clubes ingleses se reuniram com Charlie Stillitano, empresário norte-americano que organiza a International Champions Cup, torneio de pré-época que reúne algumas das maiores equipas do mundo, e que tem boas relações com a UEFA. Para Stillitano, a Liga dos Campeões — ou outra competição semelhante — só deve ter os maiores clubes a competir, porque são os maiores que geram mais dinheiro e são os maiores que os adeptos querem ver. O empresário utilizou o exemplo do Leicester, surpreendente líder da Liga inglesa, para dizer que, ainda que “a história seja bonita”, há que ver o outro ponto de vista: interessa mais ter na Champions o Leicester ou o Manchester United?
“Conheci o Stillitano quando morei nos EUA e não me choca que ele queira criar uma liga assim, que creio ser inevitável, eventualmente, mas a questão aqui é conciliar o negócio com a paixão, que é indispensável no futebol”, defende Simões. É que a ditadura das grandes potências (financeiras) no futebol nem sempre é acolhida com um sorriso: basta ver a cara de enjoo de Jackson Martínez quando foi apresentado na China (a contrastar com a alegria do empresário Jorge Mendes) ou a luta dos adeptos do Liverpool contra o aumento dos preços dos bilhetes em Inglaterra. Lillo diz que o dinheiro se sobrepôs à paixão, e torna-se difícil contrariá-lo: “Hoje fala-se de tudo menos do próprio jogo. Onde está a paixão de um adepto que nem pode dizer o 11 da equipa numa época, porque os jogadores estão sempre a mudar? Antes, o Maradona marcava um golo sozinho, era um herói. Hoje, se o Messi marca um golo há cinco gajos que levantam logo a mão: o dietista diz que foi da refeição que preparou, o podologista diz que lhe cortou as unhas, o preparador físico diz que foi dos sprints que treinaram...”

O COXO, O GORDO E O ANÃO
Se o futebol é negócio e o negócio só recompensa os vencedores, há que fazer tudo para aumentar as probabilidades de ganhar. Ou, por outro lado, não perder. Foi aí que entrou o físico. “O conhecimento mais profundo e científico sobre o ser humano fez com que a componente física invadisse o futebol e passasse a dominá-lo, especialmente nos anos 90. Passámos a ter muitos jogadores extremamente competitivos fisicamente, mas daqueles que não nos ajudam a ganhar, ajudam é a não perder, que é uma coisa bem diferente”, argumenta Simões, que sofreu na pele com adversários bem mais fortes — mas bem menos talentosos — do que ele.
Passou a confundir-se atleta com futebolista, mas o futebol nunca teve a linearidade da ginástica: nem sempre um grande atleta é um grande futebolista, e vice-versa. “No primeiro Mundial que vi, o de 62, no Chile, fiquei deslumbrado com o Garrincha. Como era possível um homem com as pernas tortas, daquele tamanho, fazer aquilo tudo? E o Maradona? Baixinho, uma grande cabeça, um grande rabo — a antítese do atleta baseado no físico, e era o melhor”, diz António Simões.
Francisco Silveira Ramos, director técnico da Federação Portuguesa de Futebol, resume os avanços e recuos da modalidade em quatro fases distintas: “Nos anos 60/70, uma fase baseada na técnica; nos anos 70/80, a introdução de métodos de treino para apurar o físico acima de tudo; nos anos 90/00, um aumento do volume dos treinos físicos; e, actualmente, um novo paradigma em que o lado técnico voltou a ser o mais importante, mas sem esquecer o físico e a táctica.”
Mais importante do que correr é saber para onde correr. “Quando treinava o Saragoça, um jogador veio ter comigo no início da época e disse-me, todo contente: ‘Mister, estou melhor do que nunca fisicamente.’ Olhei para ele e respondi-lhe: ‘Isso é a pior notícia que me podias dar. Agora vais estar em mais sítios errados mais vezes, cabrão’”, contou Lillo. No último mês, nos oitavos de final da Liga dos Campeões, o Barcelona foi a Londres derrotar o Arsenal por 2-0. O atleta Lionel Messi teve uma prestação lamentável: correu pouco mais de oito quilómetros, o pior registo de todos os jogadores em campo (alguns correram 12 quilómetros). Mas o futebolista Lionel Messi teve uma prestação bem diferente: criou perigo sempre que teve a bola em seu poder e marcou os dois golos da equipa. Touché.
“Se eu fosse bola, queria jogar nos pés de quem? De Messi, claro”, sentencia Simões. “O futebol é arte, não é corrida. Num Mundial há 23 jogadores em cada uma das 32 selecções, e são quase todos iguais. Só há meia dúzia de reis e príncipes. Cada vez que aparece alguém que faz alguma coisa mais surpreendente, ficamos malucos”, graceja. Mais surpreendente do que as cuecas e cabritos que Neymar trouxe para Barcelona é difícil, mas, ainda assim, há em Espanha quem diga que aqueles malabarismos são uma falta de respeito para com os adversários. Preferimos então ter um jogo aborrecido, que não ofenda ninguém?
“Se queremos ter um jogo que nos apaixona, então o que interessa é ter jogadores que nos apaixonem com a bola”, conclui Silveira Ramos. “Lembro-me da emoção de ver o Mundial de 66 e, além do Eusébio, claro, impressionava-me muito o Coluna, que não perdia uma única bola. Era incrível, porque a bola não tinha segredos para ele — para eles —, fruto da muita liberdade individual, algo que depois os jogadores deixaram de ter. O João Vieira Pinto, por exemplo, contou-me que, a determinada altura da carreira, perdeu à vontade perante os adversários, porque os treinadores tantas vezes o obrigavam a jogar a um e dois toques, a ter de largar a bola rápido, que ele acabou por perder a boa relação que tinha com a bola.”
Algures entre esta desvalorização da criatividade dos jogadores começou a valorização de outro interveniente no jogo como expoente máximo da evolução táctica: o treinador. “Começámos a olhar mais para o treinador quando ele passa a trazer algo de novo para o futebol: Guttmann introduz uma variação na táctica WM com a Selecção da Hungria da década de 50, Zagallo influencia o futebol brasileiro em 4-2-4 e 4-3-3 em 60/70, Helenio Herrera fica para a história com o catenaccio [táctica ultradefensiva] no Inter de Milão dos anos 60”, conta o scout Rui Malheiro, que debita formações, variações e ‘onzes’ de tudo o que são equipas no futebol como quem soma dois mais dois. “São marcas ao alcance apenas de grandes nomes, daí dizermos, mais recentemente, o Inter de Mourinho ou o Barcelona de Guardiola. Mas também é preciso ter noção de que há espartilhos tácticos que não são benéficos para os jogadores: é preciso haver liberdade para haver criatividade.”
O culto da vitória, numa sociedade que só reconhece vencedores — “o desporto actual reproduz e multiplica as taras da nossa sociedade, centrada na medida, no rendimento, na eficácia”, escreveu o professor Manuel Sérgio no livro “Filosofia do Futebol” —, aumenta o ego dos treinadores, líderes máximos de uma equipa, mas é preciso não esquecer o essencial: são os jogadores que jogam o jogo. “Trabalhei com muita gente, como jogador, treinador e director, mas nunca me apercebi de um treinador que tenha feito um jogador. Podem ajudá-los, mas não os fazem jogadores”, conta Simões.
A este propósito, Vítor Frade, ex-coordenador da formação do FC Porto, costuma dizer: “O futebol não se ensina, aprende-se.” Simões corrobora: “Tinha um treinador que dava muitas indicações: ‘Ó Simões, faz isto assim e assado.’ Mas eu não sabia fazer aquilo daquela maneira, então pegava na bola e fazia à minha maneira. E ele lá dizia: ‘Pronto, assim também está bem!’ A criatividade é assim. Por isso é que digo que conheço muitos jogadores que em muito contribuíram para fazer treinadores, isso sim.”

JOGAR À BOLA VS. JOGAR FUTEBOL
A valorização excessiva do treinador é especialmente preocupante na área da formação, onde o colectivo muitas vezes prejudica o desenvolvimento individual. “Há uma pressão muito forte da sociedade — que depois se reflete nos dirigentes e treinadores — para obter resultados rápidos, porque parece que só é bom quem ganha. Quem perde não presta”, diz Silveira Ramos. “Hoje há muitos treinadores com conhecimento, que apresentam demasiados constrangimentos aos miúdos. Costumo dar este exemplo: se há um cirurgião que sabe todas as técnicas médicas, mas só lhe aparecem pacientes saudáveis, ele vai aplicá-las na mesma? 
Isto acontece nos treinadores, que sabem muito sobre modelos de jogo e organização colectiva, e quando começam a carreira, normalmente na formação, vão aplicar isso nos miúdos, mas não deviam”, explica o director técnico da Federação.
O resultado é a formatação dos jovens jogadores. “No outro dia vi o professor Sidónio Serpa escrever, com razão, que ficava muito preocupado quando ouvia um treinador referir-se a crianças de 10 anos como ‘os meus atletas’. Nas idades mais jovens, temos de preservar a origem lúdica do jogo, porque é aí que se desenvolve a criatividade. Há que separar no percurso de formação o jogar à bola do jogar futebol. Deixem os meninos jogar à bola”, pede Silveira Ramos, que acrescenta que em Portugal os clubes já reflectem sobre essa questão e procuram replicar o antigo futebol de rua nas suas academias. “Os miúdos querem fintar e imitar o Ronaldo e o Messi e o Rui Patrício: deixem-nos fazê-lo. Se eu vejo o Renato Sanches a passar por todos, vou dizer-lhe para largar a bola? Claro que não! Se ele consegue, então vamos pô-lo a jogar em inferioridade numérica em vez de igualdade numérica, ou então pô-lo a jogar com os mais velhos, para ele continuar a desenvolver as suas capacidades com a bola.”
Hoje há bem mais jogadores federados do que antigamente — em 1996 havia 95.746 jogadores e jogadoras, em 2015 houve 162.705 —, mas, ainda assim, o talento parece mais escasso do que em outros tempos. “Lembro-me bem de que houve um período na formação em que só interessavam aos clubes os jogadores altos. Esquecemo-nos que existia uma bola”, conta Simões. “No meu tempo havia poucos reis e muitos príncipes, mas acho que os príncipes da minha altura seriam reis hoje em dia.” Silveira Ramos concorda: “Também creio que havia mais jogadores apaixonantes no tempo do Simões, mas felizmente hoje em dia já há mais gente a ter noção de que é preciso estimular o desenvolvimento individual e não comprometê-lo.”

A RESSURREIÇÃO
Então, se o futebol morreu, o que andamos a fazer? Lillo chama-lhe a nova “busca do Santo Graal”. O problema não é só do futebol, diz, mas de uma sociedade em constante mudança, fruto de uma evolução tecnológica que promoveu o imediatismo como norma. “A essência pela qual as coisas se faziam perdeu-se. No meu tempo tinha de passar por muitíssimo para ter dinheiro para comprar uma caderneta de futebol. Hoje, compram-se os cromos todos da caderneta de uma vez só, para despachar. Queremos tudo para ontem, sem percorrer o trajecto. A sociedade actual criou outro tipo de homem, e creio que somos actualmente mais filhos da sociedade do que dos nossos pais”, explicou o ex-adjunto da selecção chilena. “Falta rua no jogar e bairro no viver”, concluiu.
A solução, aponta Lillo, está no melhor livro de táctica do mundo: o regulamento. “Toda a lógica do jogo está aí: diz que é provável que seja feio, porque é jogado apenas com os pés, e que ganha quem marcar mais. Atenção: quem marcar mais, porque não diz em nenhum sítio que ganha quem sofrer menos golos.” A arte de antigamente — da Hungria de 54, do Brasil de 70, da Alemanha de 72 e do dream team de Cruyff, enuncia — é difícil de replicar actualmente, ainda que haja mais gente a tentá-lo: “Aquilo que se vê de bom, que gosto de ver, com o Barcelona e o Bayern de Pep, com o Dortmund, o Arsenal e a Fiorentina, não é modernidade, é um voltar ao passado, à essência do futebol.”
Rui Malheiro, cujo primeiro Mundial foi o de 82 — da fantástica selecção brasileira, que acabou por perder para a Itália —, concorda: “Claro que vencer é o que interessa a 90% dos adeptos, pela questão da clubite aguda, mas creio que já há uma geração mais nova menos interessada no resultado e mais na qualidade do jogo. Até porque temos hoje em dia mais gente a querer valorizar o espectáculo: Guardiola no Bayern de Munique, Tuchel no Dortmund e Paulo Sousa na Fiorentina, por exemplo, todos a procurar impor o futebol positivo, de ataque, menos resultadista.”
No (legítimo) polo oposto está José Mourinho, claro. “É o maior exemplo do treinador resultadista, com grandes sucessos, ainda que no início não fosse tanto como é agora. Também era muito ambicioso, mas procurava que as equipas jogassem bom futebol e teve uma influência fantástica em Portugal com a evolução do 4-4-2 losango. Depois ficou algo diferente, com a passagem por Itália e por ser eventualmente contraponto a Guardiola.” E passou a querer acima de tudo aquilo que Sócrates, o “doutor” que liderava o Brasil de 82 (outro que não era “atleta” — fumava e bebia tudo o que lhe apetecia), diz que não é o essencial: ganhar de qualquer maneira.
“Vencer não é a coisa mais importante do mundo. Futebol é arte e deveria ser sobre mostrar criatividade. Como se jogar feio desse resultados sempre?” Não dá. Só dá Mundiais aborrecidos. Como o de 1994."


PS: Subscrevo a tese deste artigo, com ênfase na substituição do Futebol de Rua, pelas Escolinhas...!!!
Acrescento, outro factor: a evolução táctica, a preparação cientifica do jogo, e o desempenho físico de cada jogador, foi acompanhada pela inercia total nas regras do jogo!!!
Noutras modalidades, existe a preocupação em defender o espírito do jogo, no Futebol exige-se à muito tempo, a defesa efectiva do Futebol ofensivo... por exemplo, um limite de faltas (colectivo ou individual) iria melhorar o jogo...
Hoje, as faltas cínicas, são recorrentes, a pressão asfixiante, em zonas do terreno 'mortas', é constante... existem mesmo treinadores que exigem aos seus jogadores, que não podem permitir ao adversário, que faça mais de 2 ou 3 passes, sem 'parar' o jogo, para reequilibrar a equipa...!!!

Elegia de um devoto da igreja Cruyffiana e Maradoniana

"Um dos maiores jogadores / treinadores / pensadores do futebol moderno perdeu o jogo da vida dele: o cancro no pulmão tirou-nos Johan Cruyff, 68 anos. O Expresso pediu ao scout e comentador de futebol Rui Malheiro que explicasse quem foi Cruyff. E pediu bem - veja porquê.

A minha primeira memória de Johan Cruyff remete-me para uma revista “Foot”, de Setembro de 1985, onde João Querido Manha assinava um texto sobre o novo Ajax que buscava o ressurgimento internacional com um conjunto de meninos orientados por uma figura polémica – Cruyff, quem mais podia ser – que se recusava a ter a credencial de treinador, utilizando a pomposa designação de “director-técnico” para se sentar no banco.
Que coisa tão estranha. Tinha 8 anos, nunca tinha visto a Holanda numa grande competição internacional de selecções (o Mundial 1982 e o Europeu 1984 são as minhas primeiras referências) e o Ajax, um clube com o nome do detergente com que se lavava os vidros lá em casa, ganhava títulos internos, mas andava distante das finais europeias, a outra montra pela qual nos chegava futebol internacional no princípio da década de 1980.
Perguntei ao meu tio quem era aquele gajo. Explicou-me que tinha sido “o” futebolista genial da década de 1970, a principal figura da Holanda vice-campeã do mundo em 1974, ano em que venceu a Bola de Ouro, e que se recusara, por ser contra a ditadura militar argentina, a marcar presença no Mundial 1978, aquele dos papelinhos infinitos sobre a “cancha”, em que a Holanda voltou a ser finalista vencida, e parecia desenhado para o seu futebol poético e desconcertante.
Depois, o meu tio também me contou que Cruyff contribuíra de forma decisiva para que o Ajax conquistasse um rol de títulos nacionais e um tricampeonato europeu consecutivo, e da passagem pelo Barcelona, só com um título de campeão nacional, mas plena de futebol arte. O tal futebol total que, mais tarde, compreenderia.
Posto isto, Johan Cruyff, daqui até à eternidade. Fui acompanhando, pelos resumos curtíssimos do “Domingo Desportivo” e pelas notas de futebol internacional à segunda-feira n’“A Bola”, as peripécias de Cruyff e dos seus petizes: Van Basten, Rijkaard, Ronald Koeman, Vanenburg, Bosman, Rob Witschge e Van’t Schip, uns ilustres desconhecidos sub-23 que viriam a marcar a década seguinte do futebol europeu. Foi através daquelas imagens gigantes que acompanhavam o texto de João Querido Manha que tive o primeiro contacto visual com grande parte deles. Outros tempos, difíceis de serem compreendidos para quem cresceu na era do digital.
Não houve conquistas de campeonatos nacionais, apenas de taças da Holanda, até que chegou o grande dia. 13 de maio de 1987. Às 19h15, depois de aguardar ansiosamente pelo término do maçudo “Brinca Brincando”, indiferente à carne que a CEE não enviou, às lutas entre PRD, PS e MDP para convencerem Maria de Lourdes Pintasilgo a assumir a candidatura ao Parlamento Europeu, ou ao adiamento do encontro entre o primeiro-ministro (Cavaco Silva) e o Papa, lá estava eu, acompanhado por um pequeno bloco de notas, agarrado à RTP 1 para ver a final da Taça das Taças entre Ajax e Lokomotiv Leipzig.
O jogo, disputado em Atenas, não ficou para a história pela nota artística elevada, mas aquele 3x4x3 em losango (falta o 1 do guarda-redes, o excêntrico
Menzo, que também procurava, no seu estilo desengonçado, jogar e, como agora se diz, controlar a profundidade, mesmo num tempo em que o guardião podia agarrar a bola após um atraso) do Ajax nunca mais me saiu da cabeça. Menzo na baliza; Verlaat, o libero; Silooy e Boeve, os defesas “de marcação” que, no fundo, eram laterais (e não tinham a estampa física – será a minha única referência a “físico” no meu texto – de defesas centrais); Wouters, o médio de cobertura; Rijkaard e o veterano Mühren, os médios interiores “pensadores”; o jovem Winter, sempre disponível para esticar o jogo, como vértice ofensivo do losango de meio campo, ainda que usufruindo de liberdade para trocar de funções com Mühren; Van’t Schip e Witschge, os extremos vertiginosos; e Marco van Basten, o ponta-de-lança que era apontado como uma das grandes promessas do futebol mundial. O meu exercício, a partir daí, passou a ser o de imaginar como seriam Benfica, FC Porto, Sporting e Rio Ave em 3x4x3 em losango. Um exercício tão difícil como inexequível.
A vitória da Holanda no Europeu de 1988, sob o comando de Rinus Michels, o “avô” do futebol total, tinha muito mais dedo do treinador Johan Cruyff do que seria expectável. É só olharmos para os convocados e para o onze titular, não nos esquecendo que Ronald Koeman, Vanenburg e Bosman, entretanto desviados pelo milionário PSV, também estiveram no exórdio da sua carreira como técnico principal.
O regresso de Cruijff ao Barcelona, curiosamente no verão de 1988, ofereceu-me a hipótese de ter mais acesso aos seus jogos. Primeiro, através da partida de sábado à noite transmitida pela TVE, que se capturava em Vila do Conde com pedacinhos pequeninos de grão no ecrã, e, principalmente, após 1990, altura em que o meu avô me ofereceu uma antena parabólica, cuja rotativa buscava incessante e avidamente todos os jogos do Barcelona. Para um ateu, devoto da igreja Cruyffiana e Maradoniana, aquela passou a ser a missa de todos os fins-de-semana. Até à primavera de 1996, altura em que os jogos do campeonato espanhol já eram transmitidos por canais portugueses (SIC e TVI).
As maiores lições que retirei de Cruyff foram as da valorização da inteligência e da capacidade para tomar decisões do futebolista, e a de retirar o máximo prazer possível de cada segundo do jogo, mantendo-nos fiéis ao que acreditamos: à nossa ideia de jogo, ao nosso modelo de jogo. O resultado é importante, mas está longe de ser tudo.
Devemos saber vencer – aqueles quatro títulos nacionais consecutivos, entre 1991 e 1994, foram épicos, e dois deles com requintes esdrúxulos de malvadez sobre o Real Madrid, assim como as finais ganhas à Sampdoria na Taça das Taças e na Taça dos Campeões Europeus – como também saber perder – aquela final da Champions, em 1994, quando o “Dream Team” da Catalunha é atropelado (0-4) pela sua antítese: o AC Milan de Capello – sem ceder uma vírgula aos nossos princípios. Um idealismo romântico em que a estrutura tática (o tal 3x4x3 losango) não é o ponto de partida, já que até pode ser transformada num 4x4x2 em losango – como o que detonou o Real Madrid, em 1994, por 5-0 – ou num 4x3x3.
Johan Cruyff, que entretanto trocara os maços de cigarros por chupa-chupas, decidiu deixar de ser protagonista no final da primavera de 1996. Seguiram-se duas décadas em que nos ofereceu reflexões sublimes, com mais ou menos polémicas, mas sempre fiéis às suas ideias e aos seus ideais, num namoro ininterrupto com o infinito prazer pelo jogo bonito. Pelo futebol espectáculo.
Foi também um tempo que coincidiu com a democratização – expressão que imagino lhe seja muito grata –, do acesso à informação, o que me permitiu descobrir o Cruyff jogador, confirmando o futebol poético e desconcertante, pleno de rasgo, de técnica, de leitura de jogo e de intensidade cerebral (que capacidade para tomar decisões!), sobre o qual o meu tio me falara, e voltar a olhar o Cruijff treinador com maior distância e muito mais experiência no terreno.
Podemos achar que, para alguém que esteve sempre à frente do tempo, Cruijff deixou os bancos demasiado cedo. Contudo, saiu no tempo certo para continuar a ser olhado como a mente que (melhor) pensou e colocou em prática a mais cintilante ideia de futebol poético-associativo-ofensivo, e, acima de tudo, teve tempo para desfrutar com aqueles que mais amava. Algo que a maior parte de nós, principalmente os que trabalham(os) no (gosto mais do “para o”) futebol, só se apercebe demasiado tarde. Por aqui, vou continuar a insistir com a Paulina que Johan Garcez Rodrigues Malheiro é o nome perfeito para o nosso filho."

Benfiquismo (LVII)

Benfica em Goa... a 10 de Maio de 1960

domingo, 27 de março de 2016

Futuro das Competições Europeias de Futebol

Eu sei que este tema não é nada consensual, e pelas discussões que tenho tido, para minha surpresa,  leva mesmo a discussões muito emotivas!!! É preciso recordar que a última grande revolução no Modelo de competições Europeias, foi mesmo a criação da Taça dos Clubes Campeões Europeus em 1955!!! Desde então, é verdade que a TCCE mudou de nome e formato, mas a 'formula' é basicamente a mesma... Tudo o resto mudou no Futebol, o profissionalismo dos jogadores, a televisão, os Estádios... tudo mudou, menos as competições onde os Clubes participam: Campeonatos e Taças Nacionais; e Liga dos Campeões... Já vai para 61 anos. Algo que nos dias de hoje, é realmente muito tempo...
Sendo que muita da resistência à mudança, é somente uma questão de mentalidades!

Nas últimos semanas voltou-se a falar de uma futura Liga Europeia de Futebol, que consiga imitar os números da NFL, tendo em conta que o Mercado Europeu de Futebol é maior!!! O facto de vários donos de equipas Norte-Americanas terem comprado Clubes Europeus deve ter ajudado a colocar esta questão na agenda... Muito provavelmente tudo isto não passa de uma forma de pressionar a UEFA a distribuir mais dinheiro pelos Clubes, algo que já fez este ano, e irá fazer nos próximos.

As últimas notícias que saíram em alguns jornais Ingleses, confirmaram os piores cenários. Aquilo que aparentemente está a ser discutido, é uma alteração ao formato da Champions, dando a alguns Clubes o privilégio de presença garantida, através de um sistema de Wild-Card (por exemplo o Chelsea esta época vai ficar muito longe da qualificação, e assim receberia um 'convite'...), além disso parece que se quer uma redução do numero de equipas a participar na Fase de Grupos da Champions, de 32 para 16 !!!

Isto a tornar-se realidade, é uma Liga 'fechada' encapotada, onde a diferença de orçamentos entre os Clubes com lugar 'cativo' e outros, iria aumentar exponencialmente... estilo o que acontece actualmente no Basquetebol Europeu.
Isto a tornar-se realidade é uma daquelas decisões, que não são carne, nem peixe...!!!
E no ponto do vista do Benfica, seria mau, muito mau...

Por tudo isto, é que tenho defendido uma abordagem a este tema muito diferente O Benfica, tal como outros grandes Clubes de Mercados mais pequenos (Holanda, Bélgica, Grécia, Turquia, Rússia, Suíça, Sérvia, Áustria, Polónia, Ucrânia... etc... e mesmo França...), em vez de ficarem à espera de uma decisão qualquer do grupo dos 'privilegiados', deviam avançar com ideias para novos Modelos de competições... Sabendo que o actual Modelo, muito dificilmente irá resistir ao desgaste do tempo...
Em vez do habitual deixa andar, exige-se pragmatismo e alguma capacidade para antecipar mudanças inevitáveis...

De todos os cenários possíveis, aquele que na minha opinião beneficiaria o Futebol Europeu, o Benfica e os adeptos, seria o de uma Liga Europeia 'fechada', com os Clubes a participarem em exclusivo nesta Liga, mas alargada não só aos Clubes Super-Milionários, mas também aos Clubes Grandes dos Mercados médios e pequenos...

Vou dar um exemplo, de um possível Formato, dessa tal Liga. Quatro Conferências:
A: 1-Barcelona 2-Atlético Madrid 3-Sevilha 4-Arsenal 5-Manchester City 6-Liverpool 7-PSG 8-Lyon 9-Lille 10-Benfica 11-Ajax 12-Basileia 13-Brugge

B: 14-Real Madrid 15-Valência 16-Atlétich Bilbao 17-Manchester United 18-Chelsea 19-Tottenham 20-Marselha 21-Bordeus 22-Celtic 23-Porto 24-PSV 25-Salzburgo 26-Anderlecht

C: 27-Bayern Munique 28-Bayer Leverkusen 29-Schalke 04 30-Milan 31-Roma 32-Juve 33-Panatinhaikos 34-Zenit 35-Fenerbache 36-Steua Bucareste 37-Dinamo Kiev 38-Sparta Praga 39-Partizan Belgrado

D: 40-Borrusia Dortmund 41-Wolfsburgo 42-Monchaglabach 43-Inter 44-Napolés 45-Fiorentina 46-Olympiakos 47-CSKA Moscovo 48-Galatasaray 49-Shakthar Donestsk 50-Legia Varsóvia 51-Dinamo Zagreb 52-Estrela Vermelha

52 Clubes. Divididos por 4 grupos(divisões) - tentei limitar as deslocações grandes, evitar 'grupos' só com equipas do mesmo País, e ao mesmo tempo manter algumas rivalidades... -, com os Clubes do mesmo 'grupo' a jogarem 2 vezes entre si, e uma vez com os restantes Clubes, o que dá 63 jornadas (recordo que com este modelo, sem Champions ou Liga Europa, e sem Taças da Liga... as datas disponíveis para cada jornada são logo mais).
Com um Play-off com 16 equipas, a duas mãos, com a Final num jogo.
(6)- Inglaterra, Espanha, Alemanha e Itália (5)- França (2)- Portugal, Grécia, Turquia, Holanda, Sérvia, Bélgica, Ucrânia e Rússia (1)- Escócia, Polónia, Croácia, Suiça, Rep. Checa, Áustria e Roménia.
Tentei fazer incluir todos os Mercados, com os Clubes mais representativos, e com uma 'ocupação' geográfica dentro dos respectivos Países - os maiores, porque nos mais 'pequenos', os Clubes mais representativos normalmente estão na Capital.

Como é evidente teria que existir a nível de regulamento laboral e disciplinar uma uniformização total. Com tectos salariais, e contratos com diferentes 'categorias' como existe na MLS, para promover o equilíbrio e a competitividade entre todos. 

A diferença entre orçamentos seria atenuada, com a distribuição de receitas da televisão e dos patrocínios, mas os Clubes continuariam a ter possibilidade de ter receitas próprias: bilheteiras, sócios... E até as receitas das Apostas Online, seriam mais facilmente canalizadas para os Clubes...

Uma das questões mais vezes levantada, é como convencer os Ingleses a entrarem numa competição deste género! A resposta é simples: A Europa é um Mercado com cerca de 700 milhões de pessoas. Actualmente o Futebol está dividido, em mais de 50 Ligas Nacionais, com cerca 800 Clubes.
Uma Liga Europeia forte e dominadora, iria açambarcar a grande maioria deste Mercado, portanto em vez de 50 promotores, haveria 1... Em vez de 800 Clubes, para dividir o bolo, haveria 52 (aproximadamente)...  Seria uma forma de consolidar o Mercado.
Isto sem contar com as receitas da venda para outros continentes: Ásia e América Latina... e com um Modelo deste tipo, haveria seguramente um aumento das 'vendas' para o Mercado Norte-Americano, pelo simples facto, de os Norte-Americanos estarem habituados a este tipo de Modelo!!!

Isto é só uma possibilidade, a Liga seria 'fechada', mas tal como acontece nas Ligas Americanas, ao longo dos anos, existem alargamentos das Ligas, Clubes a sair outros a entrar... e se no meu exemplo temos 52 equipas, creio que existe espaço para cerca de 60 equipas.

Um dos benefícios da Liga alargada, seria a 'menor' concorrência regional!!! Se por exemplo os Clubes portugueses ficarem fora de uma Liga Europeia deste género, a Liga Portuguesa, mesmo que diminuída, iria continuar a ter seguidores... e os mesmo iria acontecer, noutros Mercados médios e pequenos. Com uma Liga Europeia alargada a mais Mercados, a 'concorrência' seria menor, porque a atenção de praticamente todos os adeptos estaria nessa tal Liga...

Existem alguns mercados que ficaram de fora do meu exemplo: Irlanda, Suécia, Noruega, Hungria, Bulgária, Eslováquia, Eslovénia, Bielorússia, Chipre... e alguns Clubes com dimensão em número de adeptos; em Assistência nos Estádios; ou em representação das suas zonas geográficas, que podiam aqui estar: Newcastle, Everton, a maior parte dos Alemães... o PAOK, o Besiktas, o Corunha, o Villarreal, o Saint-Etienne, o Standart Liege, o Feyenoord, Lokomotiv Moscovo, o Spartk Moscovo... entre outros...

As Ligas Nacionais continuariam a existir, com os restantes Clubes, com menos visibilidade obviamente. Os Clubes da Liga Europeia podiam mesmo continuar a participar com as suas equipas B, ou Clubes Satélites como acontece no Basebol Americano... Podia até continuar a existir um estilo de Liga Europa, com os melhores destas Ligas Nacionais!!! As Taças nacionais também podiam continuar a existir, inclusive com a participação das principais equipas!!! Bastava para isso uma harmonização do formato e das datas das eliminatórias das Taças.

Este Modelo, para o Benfica, desportivamente e financeiramente iria ser muito benéfico, não tenho a mínima dúvida.
Se os 'tubarões' Europeus, julgam que concentrando a 'atenção'  de todos os adeptos de Futebol Europeu em 4 ou 5 Clubes gigantes, Multi-Milionários, e que os actuais adeptos dos outros Clubes eventualmente com o tempo, se 'transfiram' para esses gigantes, estão totalmente enganados...
Uma coisa é ser simpatizante, outro coisa é ser fanático/sócio/adepto incondicional de um determinado Clube, e isso na Europa, depende de vários factores, inclusive a proximidade com o Clube e com o Estádio. Numa futura Liga Europeia só com 'ricos', sem Clubes portugueses, os adeptos portugueses, mesmo podendo ter simpatia por ou por outro Clube Inglês, Espanhol ou Alemão, nunca iria existir a mesma ligação que nós temos actualmente com o Benfica!!! Nunca...

Portanto, quando fizerem as contas de somar, não se esqueçam de subtrair...!!!