quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O medo de uns e o excesso de coragem de outros (sempre os mesmos... com os mesmos)

"O medo ou o temor reverencial é o que temos de erradicar do futebol português. A uns tudo perdoam, em tudo encontram desculpas.

Neste tempo de Natal, onde cansa falar sempre dos mesmos temas (não dos temas do nascimento de Jesus, mas da eterna mania do clube rival passar o Natal a dar-nos alegrias... mesmo com o menino Jesus por lá), algumas notas avulsas de temas que, só por si, dariam artigos de fundo. Mas tudo tem o seu tempo (ou, como diria Filipe II, I de Portugal... «o Rei e o tempo tudo resolverão»).

O medo de uns...
1. Muita coisa se tem dito, ouvido, escrito e lido sobre as (animadas) jornadas do futebol português. 
Sempre assim foi... mas, reconheçamos, a ânsia de proteger uns e condenar, sem culpa formada, outros começa a ser um bocadinho excessiva (a fase natalícia ameniza os corações e relativiza a adjetivação usada).
Na verdade, alguns, pese embora serem evidentes os factos, há quem teime em desculpar ou omitir o que não tem desculpa e encontrar problemas onde eles não passam de situações normais.
A uns, tudo perdoam, em tudo encontram desculpas!
A outros tudo exigem, em tudo encontram razões de crise.
Cada vez mais acredito que, também aqui, existem duas facções: aqueles que têm medo... e aqueles que têm coragem.
Ou seja, o medo contra alguns... e o excesso de coragem contra outros! Que tantas vezes se confundem num só lado da barricada da fabricação de opinião, ou seja... aqueles que têm medo de uns e coragem contra outros.
De facto, como diria Ricardo Costa, antigo Presidente da Comissão Disciplinar da Liga, frase que relembro sempre que posso, tenho para mim que o principal problema do futebol português é... o medo!!!
O medo ou o temor reverencial, na sua aparência mais soft (mas com iguais resultados práticos) é o que temos que fazer erradicar do futebol português.
Para que cada clube, cada jogador, cada dirigente de clube, cada agente desportivo, máxime árbitros e observadores sejam, isso sim, livres.
Com efeito, se tomarmos em atenção pequenos exemplos - sobre grandes coisas - percebemos que é o medo que impera, regularmente...
Vejamos:

O temor de Lopetegui
(versão actual do medo aos dirigentes de um certo clube)
2. O desfecho do Nacional-Porto, 1-2, é exemplo disso! Lopetegui, que tanto sabe - e critica! - sobre arbitragem, na maior parte das vezes, alheia ao seu clube, teve duas grandes penalidades não marcadas contra a sua equipa na Choupana... Alguém o questionou - de forma profissional, séria e insistente, como a situação o exigia - sobre esses dois escândalos (um pelo menos tão grande como a Torre dos Clérigos); quer na flash interview, quer depois na conferência de imprensa?
Não! Como sempre...
Ai se fosse no Benfica...
O mesmo Porto foi eliminado da Liga dos Campeões, como (ainda) se lembram... e mesmo quando não se lembrarem, vou fazer questão de lhes reavivar a memória! Bastava um empate, em casa, para ser qualificado!!! Disseram, por aí, que a culpa foi sua... sim, de Lopetegui!
Alguém o questionou, de forma profissional, séria e insistente, como a situação o exigia? Nem na flash interview, nem na conferência de imprensa após o jogo!!!
Ai se fosse no Benfica...
A verdade é que alguma comunicação social o tem (a ele como ao seu clube) como intocável, a julgar pelo número de assuntos que ninguém tem a ousadia de abordar...
É que nem se atrevem!
Não percebendo a razão (lógica) desse comportamento, só poderei achar que é por... medo.
E tenho todo o direito de o achar...
Ai se fosse no Benfica...

O receio do Sporting
3. Pior que ter medo de um treinador, é ter um clube como intocável...
O Sporting perdeu, recentemente, duas vezes consecutivas: contra o Braga e contra o União da Madeira - sendo que a primeira derrota culminou na eliminação da Taça de Portugal... e a segunda na perda da liderança do campeonato!
Ainda assim, nada se diz...
Para eles a estrutura e o treinador continuam intocáveis!!! Mesmo quando começam a vacilar...
Ai, se fosse no Benfica (ainda que fosse com o mesmo treinador, se bem que sem assessorias de imprensa reais ou por simpatia)...
Neste momento, o Sporting ganhou três vezes ao Benfica (diria que já têm a época feita, e o campeonato deles, o da segunda circular, aquele que realmente lhes interessa, conquistado). Porque, se analisarmos - com olhos de ver - a época que andam a fazer, não poderia deixar ninguém eufórico... como eles andam todos por aí. Não está na Liga dos Campeões.
Passou aos 1/16 de final da Liga Europa, a muito custo... Mas mesmo assim, ninguém questiona, jornalisticamente, se as opções do treinador foram as mais corretas ou se a equipa tem qualidade para aguentar a época assim, apesar de tanta compra (como é habitual em quem lá está). Ninguém questiona. Ponto! Pelo contrário, continuam fascinados... achando, inclusivamente, cada vez mais graça a todo o tipo de intervenção do seu presidente e a todas as piadas arrogantes do seu treinador!
Ai se fosse no Benfica...

A coragem contra o Benfica
4. Os mesmos que assumem todo o tipo de permissividade e comportamentos desculpantes para com as atitudes dos nossos adversários, com receio (medo, é o que é...) do que lhes possa acontecer, enchem-se de coragem para analisar o dia-a-dia do Benfica.
Por termos empatado na Madeira, com o União, foi um escândalo (até poderei reconhecer que foi, mas apenas queria que tratassem os outros resultados escandalosos também como verdadeiros escândalos e não como resultados... menos positivos).
Apenas para recordar alguns, no dia seguinte ao empate na Madeira, havia manchetes (e críticas) para todos os gostos nos jornais desportivos: «sem desculpa» ou «nem golos nem ideias»... podia-se ler.
Todo um drama, portanto!
Por sua vez, o Sporting perde na Madeira, contra o mesmo União, no passado domingo, que foi (compreensivelmente) entendido, pela mesma comunicação social, como... «efeitos do jogo da Taça»! 
Quando a equipa do Sporting, bem vistas as coisas, teve mais dias de descanso que o Benfica!!!
E quais foram os destaques dos jornais desportivos logo após a esse jogo, que ditou a perda da liderança do campeonato do Sporting?!
Também para todos os gostos!
Além de terem realçado (ou quase unicamente destacado) - para não variar - o Benfica, para não terem de criticar os outros: «Leão cai, dragão na frente e águia está viva»; ou «União provoca primeira derrota do Sporting na Liga»; ou, ainda, «Leão atrofia na Choupana».
Nada de grave, portanto!
Ai se fosse no Benfica...
Isto já para não falar na diferença de tratamento que é dada aos respectivos presidentes...
O Sporting tem um presidente que fala todos os dias...
Por sua vez, o presidente do Benfica, após os sucessivos prejuízos - 15 penalties, 15 - que o clube tem sido alvo esta época, criticou a arbitragem de Manuel Oliveira, no Benfica-Rio Ave, pelos seus erros escandalosos - nomeadamente três grandes penalidades que ficaram por marcar -... e acharam um escândalo!!!
É preciso ter paciência...

O exemplo que vem de fora... e o futuro
5. Como se sabe, foi recentemente anunciado pelo Comité de Ética da FIFA a suspensão de Joseph Blatter e Michel Platini, por oito anos, devido a um alegado pagamento irregular, em 2011.
Independentemente da opinião de cada um, realça-se a coragem dessa medida aos senhores do futebol europeu.
Um exemplo a seguir... sem medo!
Seguem-se as sucessões nos respectivos cargos... Será que esses mesmos castigos terão um efeito dominó no futebol português, ao nível das Presidências da FPF, da Liga e da Arbitragem?
Ou, para ser mais directo, uma possível (embora não muito fácil, ainda...) candidatura de Fernando Gomes à UEFA, provocaria mudanças em toda a liderança do nosso futebol.
Reconheço a Fernando Gomes essa capacidade de transformar cada mandato numa oportunidade. Quando nada o fazia prever, surgiu na Liga. Depois da Liga seguiu-se a Federação. Será que, depois da FPF, seguir-se-á a UEFA?
Vamos ver.

Bom Natal
6. Quanto ao resto, um Bom Natal, para todos... um Santo Natal, para os que acreditam mesmo no menino Jesus.
Todos, os do Bom ou os do Santo, porque temos obrigação de fazer do Natal Bom e Santo... para todos!"

Rui Gomes da Silva, in A Bola

Lateral de forte vocação ofensiva

"Grimaldo começou a sua trajectória futebolística no Valência, de onde rumou, em 2008, ao Barcelona. onde foi transformado de médio-ofensivo virtuoso em defesa. Lateral-esquerdo de forte vocação ofensiva, destaca-se por ser muito rápido, disponível fisicamente - pode tornar-se mais resistente - e capaz de imprimir acelerações, o que lhe permite assumir acções de condução, até porque possui atributos interessantes de ordem técnica, e de desmarcação, mostrando sagacidade a oferecer largura e a atacar a profundidade. Com argumentos no passe e nos cruzamentos, surpreende pela forma exímia como bate livres directos, livres laterais e pontapés de canto. No capítulo defensivo, mostra mais argumentos na defesa de posições exteriores, ao tirar partido da sua velocidade, agilidade, agressividade e sagacidade posicional do que na defesa de posições interiores, onde exibe algumas carências no jogo aéreo e nos duelos corpo a corpo."

Rui Malheiro, in Record

2.ª Liga às vezes melhor que a 1.ª Liga

"Já aqui escrevi sobre a 2.ª Liga. Todavia, a ela volto, Desde logo para saudar o anunciado fim da anomalia de uma competição com 24 clubes e 46 jornadas! Depois, para enfatizar a sua competitividade, em que entre os que podem subir e os que podem descer a distância não é muito cavada. Retirando as equipas B, os líderes da classificação estão em sucessivas mudanças e os resultados dos encontros suscitam interesse, pois qualquer desfecho pode acontecer com naturalidade. A distância entre o agora segundo a subir (Chaves) e o agora o 12.º (meio da tabela) é apenas de 6 pontos. E entre o primeiro abaixo da linha de água e o quarto classificado é tão-só de 9 pontos.
Outro aspecto a salientar tem a ver com a importância da 2.ª Liga para os clubes que lá jogam com as suas equipas B.
Já foi assim com o aproveitamento que o Vitória de Guimarães fez para promover jovens atletas e, de entre os grandes, muito tem beneficiado o Benfica e o Sporting (aparentemente menos o FC Porto) com a mais rápida descoberta de talentos e a promoção de juniores de boa craveira. De vez em quando vejo na televisão jogos desta competição e confesso que muitos deles são mais interessantes que a molhada de jogos entre equipas da Primeira Divisão com estádios vazios e paupérrimo futebol, muitas vezes na busca de irritantes nulos de empatas.
Em meu entender, deveria haver 3 equipas promovidas (ou, pelo menos, a terceira a disputar um play-off com o antepenúltimo da 1.ª Liga) e não duas. Melhoraria a 2.ª Liga e também a 1.ª Liga onde o facto de só descerem duas torna o seu futebol ainda mais conformado e cinzento."

Bagão Félix, in A Bola