quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Formação tem de ser compatível com vitória

"No Seixal estão a nascer os melhores jogadores da Europa e, até mesmo, arriscaria dizer, os melhores do Mundo. A formação não é incompatível com a vitória...

Formação não como objectivo, mas como meio para um Benfica mais forte
Tenho a perfeita convicção, como sempre tive, que a formação de jogadores é um meio para - face às realidades portuguesas - ter um Benfica mais forte.
Não posso, por isso, subscrever nem calar a minha total discordância com algumas vozes que ouço (ou vejo) que ficam contentes com o facto de o Benfica, esta época, se limitar a incluir na equipa principal alguns jogadores oriundos do Seixal, como se isso bastasse para termos um bom ano desportivo. Já não falo de algumas vozes - responsáveis (sim, existem...) - que acham que este hipotético cenário pode durar alguns anos seguidos...
Ou seja, que seria possível limitar-nos a ganhar jovens jogadores da formação, o que tornaria cada época em que isso acontecesse como uma época muito positiva!!!
Nada mais errado!
FORMAR tem de ser compatível, este ano, como sempre, com GANHAR.
Admitir ou aceitar o contrário, é prestar um péssimo serviço ao Benfica.

'Made in Seixal'... a ganhar!
O Benfica tem apostado na formação de jogadores de alta competição. Situação natural, face à dimensão do clube e do projecto que foi idealizado.
Mas isso - repita-se - não é compatível com um discurso que criticamos e de que sorrimos, nos últimos anos, de outros, que não se importavam de perder só porque tinham mais um jogador da sua Academia na equipa principal, ou porque o conseguiam vender razoavelmente...
A formação não é incompatível com a vitória... e, por maioria de razão, com títulos...
A formação não pode ser vista como formação pela formação, que até admite perder... campeonatos. Na formação temos de preparar jovens jogadores para serem integrados com outros mais velhos e experientes. 
O Benfica, digo-o sempre, deve a sua grandeza à mística dos seus adeptos, mas sobretudo aos grandes resultados alcançados ao longo da sua história.
Ora, essa grandeza do Benfica não é compatível com a mentalidade de abdicação de títulos...

Luís Filipe Vieira, o homem do projecto da formação!
Subscrevo, por isso, na íntegra, o que pensa Luís Filipe Vieira (muito diferente do que dizem alguns, tentando, com isso, julgar agradar-lhe).
Estamos, efectivamente, a desenvolver um trabalho fantástico!
No Caixa Futebol Campus estão a nascer os melhores jogadores da Europa e, até mesmo, arriscaria dizer, os melhores do Mundo.
Estou certo disso!
E temos de defender essa ideia com a força que a convicção de estarmos certos nos dá. Mas para que isso se concretize e para que o projecto de formação seja rentável, em termos desportivos, teremos de fazer com que esses jogadores fiquem durante alguns anos no Benfica.
Para que o balneário tenha memória e experiência de espírito de conquista, para que saiba o que significa vencer, para que a tradição de comemorar títulos não se esgote em poucos jogadores. Sei que um modelo de grande competitividade em termos europeus tem de aceitar e incluir nas suas premissas a possibilidade (infelizmente real) de termos de vender alguns atletas da formação sem que tenham estado alguns anos na equipa principal.
Mas teremos de fazer todos os esforços - como sei que o Presidente fará - para que o que aconteceu nas últimas épocas seja a excepção, apenas e só, fruto das... circunstâncias!
Circunstâncias essas que toda a gente sabe e conhece (e que teve um nome...).
Essa mentalidade, felizmente, está a mudar.
O que não poderá significar pensar que só a formação conseguirá ser responsável por equipas muito competitivas na Europa e absolutamente vencedoras, em Portugal.
Teremos de comprar menos, mas não poderemos abdicar de reunir esforços e conjugar a excelente e exemplar política de formação com os meios necessários à conquista de títulos.
Temos de nos convencer que apostar só na formação não chega para ganhar.
Muito menos, no imediato...
Essa aposta é necessária mas não suficiente.
Por mais que um jovem da formação acredite e tenha a ambição de ser jogador do e à Benfica...
Uma equipa vencedora será feita de bastante experiência no balneário, mesclada com jovens da formação, e com compras cirúrgicas que sejam evidentes mais-valias para reforçar áreas onde o Seixal não tenha cumprido a sua função.

O Benfica do futuro
Esse será, com toda a certeza, o Benfica do futuro. Sem cedências a treinadores egocêntricos, a empresários ávidos de lucros imediatos, ou a dirigentes acomodados.
É por isso nossa obrigação dar ambição a cada um desses jovens... para que sejam os melhores.
Aqueles que me acompanham há muitos anos sabem o que defendo e as ideias pelas quais sempre me debati.
Relembro, por isso, um pequeno excerto de um texto que escrevi no já longínquo ano de 2000:
Quero um Benfica com os melhores jogadores portugueses, de forma a que a juventude se identifique com o clube e com as suas vitórias.
Quero um Benfica que não tenha necessidade imediata de vender jogadores - pressa que sempre se torna inimiga dos bons negócios - assumindo o princípio de que o futebol é, cada vez mais, neste mundo dominado pela televisão, o espelho do clube.
Quero um Benfica com um modelo de jogo (ataque planeado e continuado) verticalizado, desde as escolas de jogadores à equipa principal, recusando ser uma mera montra de passagem para o futebol europeu ou o último reduto de uma qualquer pré-reforma dourada.
Para o bem e para o mal, escrevo o que penso e nunca me arrependo do que digo, porque o pensei, sempre muito, antes de o dizer!
Tal como Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, «tenho em mim todos os sonhos do mundo»...
Por isso, tenho o sonho - que, acredito, ser possível de concretizar - de ser campeão europeu com uma equipa com alguns jogadores da formação.
Mas não se enganem!
Temos inevitavelmente de obter a capacidade de saber e conseguir conciliar a formação com a experiência inegável das aquisições, para que o percurso seja de vitória!
Porque quero ganhar!
E porque ganhar é o que faz evidenciar o resultado da nossa formação...
E, por isso, tempo de mudança - cujos sinais já são visíveis - sem comprometer, nunca, aqueles que são os grandes objectivos para um clube com a grandeza do Benfica.
Até porque, qualquer ideia que não coincida com essa política, que julgo ser a melhor para o caminho da vitória, é ir contra aquilo que é o Benfica...
Quero o Benfica campeão!
... E para que não restem dúvidas, mesmo não sendo para o campeonato... «acho que vou ganhar no sábado»...
Percebido????"

Rui Gomes da Silva, in A Bola

Batota no desporto e não só

"Há uma estranha constatação quando se fala de batota. Seja no plano desportivo ou noutro qualquer. Se a batota tem um alcance restrito, não direi que é aceite, mas acaba por ser enquadrar num plano de reduzida importância. Verdadeiramente, ela só é tornada importante e maléfica quando abrange uma magnitude com consequências severas. É agora o caso conhecido dos esquemas de sistemática dopagem no atletismo russo.
A mais pérfida batota nos desportos de alta competição é a dopagem associada a todas as técnicas para a encobrir ou dissimular, num enredo de crescente complexidade tecnológica e científica, e que envolve muita gente em teias organizadas.
No tempo da URSS e seus satélites havia a batota de Estado, ou seja usavam-se meios ilegítimos para se alcançarem resultados de pretensa superioridade de ideologia, ainda que usando até ao tutano jovens atletas.
Agora,  doping é transversal. Não depende de ideologias, regimes políticos, desportos. E sobretudo advém de uma obsessão competitiva que tudo leva à frente, em função de interesses de momento, de dinheiro e de vãs ilusões.
Mais conhecidos publicamente são os casos no ciclismo e no atletismo. Mas muitos outros desportos olímpicos traem esta sua qualificação. Rio de Janeiro 2016 pode ser mais uma oportunidade para repristinar o ideal olímpico de Coubertin.
Vive-se cada vez mais entre a verdade real e a mentira virtual. Basta ver o que se passa nas redes sociais. Hoje, lamento olhar para uma fotografia ou um vídeo, e ter passado a inverter o principio que me orientava: agora desconfio, antes acreditava."

Bagão Félix, in A Bola