quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Uma réstia de senso

"Estamos em semana de muito e bom futebol. A festa começa hoje, no Dragão, com o FC Porto-Maccabi de Telavive e prossegue amanhã com o Galatasaray-Benfica. Os dois únicos representantes portugueses na Liga dos Campeões ocupam classificações interessantes nos grupos de qualificação que lhes entreabrem as portas das eliminatórias (4 pontos portistas e seis os benfiquistas nas duas primeiras jornadas). Depois de amanhã será dia de Liga Europa, com o Braga em plano de destaque ao liderar o seu grupo, mais o Sporting, com janela ampla de onde se vislumbra a final da prova, e o Belenenses, nitidamente sem andamento para gerir duas frentes, a interna e a externa, correndo o risco de sofrer danos de complexa reparação, conforme o próprio treinador já reconheceu. O que coloca a nu, mais uma vez, as debilidades da Liga portuguesa e confronta a intensidade competitiva que a caracteriza: todos gostam de se pavonear nos palcos uefeiros, mas, de um modo geral, do quarto lugar para baixo a tendência para só assinar o ponto e prejudicar a nossa posição no ranking é incontrolável. Nem sempre foi assim, é verdade, mas as honrosas excepções que a história nos revela (Vitória de Setúbal, Boavista, Vitória de Guimarães e até o Belenenses) apenas confirmam a regra.
O programa completa-se com o derby, o mais desejado de todos, na Luz. E talvez por isso, Jorge Jesus, imediatamente a seguir à vitória sobre o Vilafranquense na Taça de Portugal, entre outros reparos, lançou um aviso à navegação, dizendo o que, agitadores congénitos à parte, todos gostariam de ter dito. «Gostava que a uma semana do derby se falasse mais de futebol, que se falasse mais da qualidade dos jogadores do Benfica, da qualidade dos jogadores do Sporting, do valor de ambas as equipas. Era muito melhor para vender o futebol, nós aqui e vocês aí. Vamos esperar para ver», afirmou o treinador leonino naquilo que poderá definir-se como atitude de eloquente sensatez que ajuda a desenrolar o novelo de intrigas, de agressões verbais e de outros cenários igualmente pouco edificantes.
Esta recomendação/desabafo não deve dirigir-se a alguém em particular. Retrata tão-somente um estado de espírito e expressa uma sugestão no sentido de se dar espaço e condições para os actores poderem trabalhar e prepararem-se como desejam de maneira a atacarem com sucesso os importantes desafios que os esperam, porque, contrariamente ao que apregoam os donos da razão, quando chegar o momento da decisão, tudo quanto afirmaram ou insinuaram vale absolutamente nada. O que conta é o que vai passar-se sobre o relvado: a coragem, a força, a inspiração e o talento dos jogadores, consequência da preparação técnica, física e mental determinada pelos treinadores, em função da experiência, do saber, da confiança e da perspicácia de cada qual.
Assim, embora não tendo sido ele o destinatário da mensagem de Jesus, não ficaria mal a Bruno de Carvalho tentar compreender o seu significado e fazer um esforço para entregar o protagonismo a quem o merece, aos únicos que o merecem: jogadores e treinadores, porque são eles os artistas que compõem o espectáculo.
Pedir-lhe para ficar calado, ou falar com moderação, é desperdício de tempo. Ainda ontem, por exemplo, teve direito à antena da RTP África e Internacional para se dirigir ao mundo lusófono. O que pode ser o ponto de partida de excelente ideia futura. Por cá, já lhe ouvimos quanto baste, mas somos poucos, dez milhões mal medidos, motivo por que não seria despiciendo se passasse a dar mais atenção aos grandes mercados emergentes no futebol, como o asiático... Tanaka seria logo valorizado para aí em mil por cento..."

Fernando Guerra, in A Bola

Lateral-esquerdo

"Talvez seja a posição onde a oferta de jogadores de qualidade é mais escassa. Falo de laterais-esquerdos: rareiam os jogadores que juntem competências defensivas com capacidade de oferecer profundidade ao jogo atacante e que combinem esses atributos com as características morfológicas exigidas, hoje, a um defesa (nomeadamente a altura) e, claro está, que sejam canhotos. É isso que explica que o valor de mercado dos laterais-esquerdos seja comparativamente elevado.
Não por acaso, muitos dos grandes laterais-esquerdos são jogadores adaptados: alguns nem sequer são canhotos e muitos fizeram a formação noutras posições. O Benfica tem sido particularmente afectado por esta crise crónica de laterais-esquerdos. Tirando o já distante Léo, as duas épocas com Coentrão e a passagem efémera de Siqueira, a posição de lateral-esquerdo tem sido o ponto fraco do Benfica.
Lembrei-me disto porque, contra o Vianense, causou alguma surpresa que, a certa altura, Rui Vitória tivesse recuado o extremo-esquerdo Nuno Santos para a posição de lateral-esquerdo.
À primeira vista, a equipa não ganhou nada com a alteração. Talvez não seja assim.
Nuno Santos é um jogador com um talento notável de drible simples e com uma velocidade única que lhe permite verticalizar o jogo com muita facilidade. Não engana: vai dar craque. Fez, é certo, toda a sua formação como atacante. Mas a ideia de Nuno Santos como lateral-esquerdo pode bem ter pernas (e altura) para andar. Tem muitíssimo para aprender em termos de posicionamento defensivo, mas o seu futebol de profundidade e velocidade só pode ganhar se partir de posições mais recuadas."

O futebol e a manipulação

"Esta é a semana do derby e seria absolutamente despropositado não se falar de futebol.
Ao contrário do que muitos poderão pensar, até pelo hábito do desregramento a que estivemos sujeitos nos últimos tempos, falar de futebol é falar do jogo, de jogadores, de equipas. Falar de futebol não é, pois, o equivalente a falar de matérias circundantes e circulares, que têm colocado o futebol no epicentro de uma cultura de futilidade e de vulgaridade, que gera audiências na razão directa do mais estúpido interesse dos mercados.
Há muitos anos que o futebol serve de meio de consolidação da ignorância dos ignorantes. Um aproveitamento que estará nos antípodas daqueles que o aproveitam em benefício do conhecimento e da inteligência. No fundo, a dimensão do futebol é tão grande que tudo permite. Especialmente, em matéria de manipulação de um povo menos preparado e pouco avisado.
Porém, o futebol, enquanto jogo, enquanto espectáculo, enquanto desporto altamente profissionalizado e, por isso, especializado, tem um encanto invulgar. Para não dizer único.
Estamos numa semana especial, a caminho de um Benfica-Sporting que gera enormes expectativas. Rui Vitória e Jorge Jesus sabem disso e os seus pequenos dramas resumem-se, nesta fase, a tomarem decisões sobre a gestão dos homens que têm ao dispor. É previsível que Jesus seja mais pragmático e que volte a pensar menos na Europa e mais no campeonato nacional; tal como é expectável que Vitória queira somar pontos em Istambul e só depois pense exclusivamente no jogo com o Sporting. Um jogo que, apesar de tudo, contará mais para o Benfica."

Vítor Serpa, in A Bola

Da verdade

"Lembra-se de quem afastou Portugal da final do Mundial de 1966? Sim, foi a Inglaterra - e nas famosas lágrimas com que Eusébio deixou Wembley não havia só água (quase tudo) e cloreto de sódio como no poema do Gedeão - havia raiva e revolta (sobretudo). Farisaica, a FIFA permitira à federação inglesa a mudança de palco - e para aceitar levá-lo de Liverpool para Londres a FPF recebera (em cortesia...) cheque chorudo. A selecção chegara na véspera do jogo, ao fim do dia, logo se percebeu que o hotel onde a puseram era circo no seu alarido, Eusébio contou:
- Dentro e fora, uma barulheira incrível não nos deixava dormir, a meio da madrugada tivemos de ir para outro hotel, a 30 quilómetros, de malas às costas...
O que aconteceu sabe-se bem - e o presidente da federação argentina denunciou-o, sem punhos de renda:
- Stanley Rous éum homem incorrecto. Organizou o Mundial para que a Inglaterra ganhasse. Mas eu faria o mesmo se jogasse na Argentina...
Craque dessa selecção era Pepe Sasía - e noutra circunstância afirmou:
- Atirar terra aos olhos dos guarda-redes? Os dirigentes não gostam que se faça isso quando o fazemos às claras...
Esse atirar de areia aos olhos tornou-se a metáfora perfeita dos piores jogos que o jogo tem dentro de si - e o recordar da frase de Sasía e da marosca de Inglaterra é para mostrar que o futebol é mesmo assim - há muito tempo...
Bruno de Carvalho revelou-o (por outras palavras): que ao abrir na TVI caixa de Pandora com o Eusébio na tampa, a abriu por um desejo de verdade simplesmente. (Ou de legalismo, vá lá...) No futebol, como na vida, a verdade nunca é simples - e o oposto da verdade até pode nem ser a mentira, o oposto da mentira pode não ser a verdade. E o que eu acho dessa verdade que Bruno de Carvalho quer não é a verdade - é ganhar. Ganhar como os outros ganham ou ganharam (com mais ou menos verdade...) - por saber que assim talvez ganhe mais depressa, mesmo que não ganhe melhor..."

António Simões, in A Bola

PS: Não foi só barulho, nos corredores do tal Hotel os jogadores portugueses também foram assediados por 'meninas', que convenientemente tinham aparecido!!! Alguns dos Magriços já o admitiram!!!

Vitória na Serra

Sp. Covilhã 0 - 2 Benfica B


Finalmente, uma vitoria fora de casa... Devido ao jogo em Londres na Sexta, tivemos mais alguns dias de descanso, além disso o Hélder optou pela rotatividade, em algumas posições, já que noutras, foi obrigado, porque vários dos Juniores, que normalmente jogam na B, devem jogar amanhã em Istambul na UEFA Youth League.