sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Margem estreita

"No Benfica não se festejam vitórias morais. Uma boa primeira parte em que se podia ter resolvido o jogo na primeira meia hora não chega para trazer algo de positivo do Dragão. O Benfica esteve a quatro minutos de despedir Lopetegui, já era assobiado e criticado pelos portistas, e acabou a perder com um dos piores FC Porto dos últimos 20 anos. Um FC Porto que vinha de Kiev com uma viagem desgastante e onde só um frango de Casillas lhe tirou a vitória. Este facto aumenta o mérito do FC Porto não o diminui. O futuro até pode mostrar que o FC Porto perdeu o campeonato no domingo, (basta acabar empatado com o Benfica e perder por dois golos na Luz), mas por agora é azul e branca a vantagem. Ninguém no Benfica fica satisfeito com derrotas e ainda bem. Só se consegue seguir em frente com possibilidades de êxito, quando se conhece e encara a realidade, por mais dura que seja.
Este início de época tem sido difícil e a margem está estreita. Ganhar ao P. Ferreira é o caminho. Ainda não ganhámos fora de casa, e na Luz houve jogos com muita dificuldade. Rui Vitória sabe bem as dificuldades que tem pela frente, mas não adianta continuar a falar dos jogos já realizados. O futuro é amanhã contra o P. Ferreira, e só ganhar é começar a fazer o futuro que se deseja.
Vai ser um Campeonato disputado e não podemos conceder mais vantagem aos dois adversários (embora me pareça que, infelizmente, apenas o FC Porto conta verdadeiramente). O Sporting quando não tem problemas, inventa-os. Quando não se movem processos a comentadores, atacam-se ex-dirigentes, quando não há ex-dirigentes disponíveis, podem ser quezílias com os melhores atletas. Não pode é faltar burburinho para os lados de Alvalade, é um lugar onde não cabe a monotonia da tranquilidade, tudo em nome do dinamismo."

Sílvio Cervan, in A Bola

Tudo em aberto

"Quando, na semana passada, referi que não seria uma desgraça perder no estádio do Dragão, fi-lo por diversas razões.
Antes de mais, por reconhecer a dificuldade histórica sentida nas deslocações ao campo do FCP. Os mais desatentos poderão pensar que as estatísticas estão inquinadas pelo que aconteceu no futebol português a partir dos anos 80 (e estão!). No entanto, convém recordar que, por exemplo, nos anos 60 em que conquistámos seis Campeonatos Nacionais, fomos Bicampeões Europeus e disputámos mais três finais da TCE em oito temporadas, lográmos apenas uma vitória e três empates nos oito jogos disputados nas Antas.
Por outro lado, quatro pontos de atraso à quinta jornada, embora longe do desejável, em nada hipoteca a nossa candidatura ao título.
E reconheci, também, apesar da mudança de rumo estratégico (menos investimento e aposta consistente na formação), que a equipa já mostrara sinais, individual e colectivamente, de ser competitiva.
Sei que os resultadistas me contrariarão, mas a forma como o clássico de desenrolou não me fez mudar de opinião. Apresentámo-nos personalizados, fomos superiores na primeira parte, defendemos bem e perdemos porque, afinal, se trata de futebol, um desporto em que, nos confrontos entre equipas equilibradas, a vitória sorri a quem é mais feliz e/ou competente nos detalhes. No caso três: a bola que não entrou nas oportunidades que dispusemos na primeira parte; um erro nosso a meio-campo a resultar numa transição rápida superiormente finalizada a poucos minuto de terminar o encontro; e a benevolência do árbitro num lance em que o lateral direito portista mereceu ser expulso por acumulação de amarelos no início da segunda parte."

João Tomaz, in O Benfica

Detalhes

" 'Ah e tal, o jogo de domingo passado foi decidido nos detalhes', terá declarado à comunicação social o filho de um antigo quebra-pernas azul e branco. Tem razão, o rapaz. Foi mesmo uma questão de detalhes. Um deles foi o detalhe de o próprio não ter sido expulso por acumulação de amarelos nos 85 minutos anteriores a ter aparecido sozinho frente a Júlio César.
Outro detalhe que fez a diferença é o facto de, naquele campo de futebol e no seu predecessor, o futebol ser confundido com full contact. Maicon, a grafia errada com sotaque brasileiro de um qualquer Michael, mostrou a longa escola de maus costumes a que já nos habituámos. Faz escola por ali: Bruno Alves, Jorge Costa, Mangala... A cobardia de tentar agredir o adversário na cabeça com o pé foi nas barbas do árbitro Artur Soares Dias. O filho de outro afamado juiz do norte estava a cinco metros de distância. E que decisão tomou? Nenhuma - mas isso é apenas um detalhe.
Querem mais detalhes? Vamos a outro. O menos digno dos elementos do grande povo uruguaio poderia também ter visto o cartão vermelho e terminado o jogo mais cedo no balneário. Não aconteceu graças à intervenção de Nico Gaitán - um grande detalhe de fair play ao alcance de poucos no mundo do futebol e de praticamente nenhum dos elementos do plantel que ficou em segundo lugar na época passada.
Só mais um detalhe: três bolas de golo defendidas por um guarda-redes espanhol na primeira parte.
Foi um Benfica Bicampeão que jogou no domingo à noite. Sem medo, com dois avançados, uma equipa de vencedores com um treinador com 'eles' no sítio. Não fomos minimamente beliscados. Vamos ser Tricampeões."

Ricardo Santos, in O Benfica

Derrotados, mas...

"Não existem vitórias morais. O Benfica perdeu o clássico, e, como tal, ninguém na família benfiquista pode estar minimamente satisfeito. Acresce que esta foi a segunda derrota em outros tantos jogos fora de casa, o que, não sendo dramático, não pode deixar de constituir matéria de reflexão.
Dito isto, é preciso dizer também que da partida de domingo ficaram algumas notas positivas.
A primeira parte foi bastante bem conseguida. Não me recordo, nos anos mais recentes, de entrada tão forte do Benfica no Estádio do Dragão. Ao intervalo, o melhor em campo era claramente o guarda-redes do FC Porto, que já evitara dois golos cantados.
A equipa encarnada apresentou-se personalizada, com os sectores muito juntos, funcionando em harmónio, tanto a defender como a atacar. Os jovens não tremiam (excelente exibição de Nélson Semedo), e, na frente, Mitroglou abria espaços e criava perigo. O FC Porto não conseguia, sequer, aproximar-se da nossa baliza.
No segundo período tudo mudou. Para sermos justos, há que dar mérito à equipa da casa, que apareceu transfigurada. Terá faltado, então, alguma inspiração aos artistas Jonas e Gaitán para que o Benfica conseguisse sacudir a pressão a que foi submetido. O tempo ia passando e, a cinco minutos do fim da partida, o resultado esperado era o empate. Aí, faltou a sorte do jogo. A sorte que havíamos tido, por exemplo, na época anterior – quando alcançámos uma vitória carregada de felicidade.
Nada está perdido. Se a nossa equipa jogar sempre como naqueles 45 minutos, certamente perderá poucos pontos no resto do campeonato. E no fim, faremos as contas."

Luís Fialho, in O Benfica