terça-feira, 15 de setembro de 2015

Os parafusos e os aperto

"Ninguém antecipou melhor o benefício da pausa para as selecções do que Jardel quando disse que tinha sido "importantíssima para apertar os parafusos". Como se viu na exibição magistral contra o Belenenses, a questão não era apenas apertar os parafusos e recuperar algum tempo perdido na pré-temporada, a solução passava também por estabilizar os parafusos, isto é, a base da equipa titular.
Com Jardel, o Benfica ganha capacidade na organização defensiva, enquanto o brasileiro compensa as quebras de velocidade dos seus parceiros defensivos; Talisca, mesmo que a posição 8 não seja o seu lugar natural acrescenta verticalidade ao jogo e, de todas as jovens soluções testadas à direita, Gonçalo Guedes é aquele que já passou a fase de projecto de jogador e se aproxima mais de um jogador de corpo inteiro.
Já os apertos tiveram outro efeito. Ao contrário dos jogos anteriores, desta feita viu-se uma ideia de jogo clara, com muita circulação de bola, uma equipa mais de posse do que no passado e um jogo interior muito dinâmico. Acima de tudo, o Benfica revelou uma agressividade defensiva que não se havia visto até agora. Mesmo a vencer desde os primeiros minutos, a equipa cometeu 23 faltas, das quais 16 na primeira parte, enquanto o Belenenses, derrotado copiosamente, cometeu apenas 18. Uma equipa cujo jogo assenta em trocas de bola constantes tem de ser também agressiva na recuperação. Só isso permite que os solistas exibam toda a sua genialidade: o que, aliás, explica as exibições superlativas de Gaitán e Jonas."

Zona de conforto

"O caso dramático de José Tiago, jogador português de 24 anos vítima de mais um atropelo de um clube cipriota, o Ermis FC, e um agente grego, George Eleftheroudis, exige ação. Quanto mais exposição gera o futebol sobretudo a nível financeiro, mais interesse suscita. Muitas das pessoas que se interessam não têm quaisquer escrúpulos, não se importam de arriscar e ultrapassar as normas legais, regulamentares e de conduta para fazer um negócio. Há boas práticas, mas são cada vez mais os jogadores enganados e abandonados. A nós preocupa-nos, em particular, os mais jovens, mais frágeis, que o nosso país enjeita, obrigando-os a sair da 'zona de conforto'.
Há um sentimento de impunidade e irresponsabilidade em muitos dirigentes e empresários que acham que vale tudo porque quem deveria dar garantias, nomeadamente o Estado, demitiu-se das suas responsabilidades. E apesar da FIFA, FIFPro, UEFA e EPFL, no plano internacional, e a FPF e LPFP, no plano nacional aprovarem regulamentos e implementarem circulares, os jogadores não estão protegidos. Não há vontade, fiscalização, nem sanções para os prevaricadores. Algumas pessoas representam vários interesses (de federações, clubes, treinadores, jogadores, agentes) e quando têm de tomar posição estão comprometidas.
Este episódio aconteceu no Chipre, mas repete-se todos os dias, na Roménia, na Grécia, na Rússia ou em Portugal. Desculpem a expressão mas é preciso denunciar estes abutres. É disso que estamos a falar, de bandidos e grupos organizados que não respeitam direitos fundamentais. Os jogadores têm de ser mais ativos e esclarecidos. Devem saber quem são as pessoas que os abordam, se são idóneas e conhecidas no meio, se o clube tem ou teve problemas e receber previamente as condições contratuais por escrito. Quem vai para o estrangeiro deve assegurar condições financeiras para a sua estadia. No momento de assinar deve exigir que o contrato seja feito numa língua que entenda e deve SEMPRE ficar com uma cópia do mesmo e dos documentos que assina. Não deve NUNCA entregar a alguém os seus documentos de identificação pessoal, CC ou passaporte. Podemos continuar a assistir 'de cadeira' a estas histórias de desespero ou podemos agir. O desporto é de todos e para todos. É nosso dever protegê-lo."

Na cauda da Europa

"1. Em termos de organização, regulamentação e credibilidade, o futebol português está na idade da pedra. Para o demonstrar não é necessário recorrer a nenhum arsenal de fundamentos e argumentos. Basta dizer que está entregue a um homem só, cujo arbítrio faz o bom e o mau tempo e, ainda por cima, não é escrutinado por ninguém. Esse homem chama-se Vítor Pereira e há oito longos anos (?) é o designador dos árbitros que, por sua vez, escudados no aforismo errare humanum est, frequentemente condicionam os resultados dos jogos. Uma permanência assim tão demorada é caso único na Europa! Os clubes bem contestam esta inusitada e perversa singularidade, mas para o presidente da FPF isto não passa de futilidades. Em Itália, que sempre teve os melhores árbitros da Europa, nenhum responsável pelas nomeações permanece mais de dois anos na função, a fim de não se acomodar ao lugar nem cair no desleixo e na criação de anticorpos.
Mas há mais. A Série A está a ser pioneira em inovações na área da arbitragem que até já mereceram o aplauso da UEFA: as balizas estão agora dotadas do chamado olho de falcão, concebido para impedir os golos fantasmas.
Por outro lado, as equipas poderão colocar nos seus jogadores, à altura da omoplata, uma espécie de pequeno Gps destinado a recolher dados sobre a velocidade, a distância percorrida, o ritmo cardíaco, o consumo, de energia e não só. Registos estes sumamente úteis para personalizar as cargas de treino, estudar o melhor aproveitamento do jogador, avaliar eventuais quedas de rendimento do 1.º para o 2.º tempo e assim por diante.
2. Rolando, finalmente, libertou-se do jugo do FC Porto, mas não foi para o Inter, como tanto queria, seduzido por promessas que lhe foram feitas enquanto lá esteve por empréstimo, desde que se libertasse a custo zero. Acabou no Marselha, resgatado por dois insignificantes milhões de euros. Acontece que, mesmo assim, apesar do baixo valor nenhum clube transalpino se chegou à frente."

Manuel Martins de Sá, in A Bola

Eusébio «da fruta» à caça da Pantera Negra...

"Em dois dos mais emblemáticos confrontos com o Atlético de Madrid, Eusébio marcou quatro golos. Exibições esfuziantes de categoria 'encarnada' no Vicente Calderón (1967) e em Badajoz (1969) ficaram para a história do Clube escritas a letras de prata lavrada.

Voltemos ao Atlético de Madrid, aos «rapazes dos colchões».
Há histórias suficientes de jogos contra o Benfica para encherem uma boa dúzia de páginas de jornal, mas era o que faltava estar aqui e maçar-vos com exageros, fiquemo-nos por mais esta que completa a da semana passada e deixemos restante prosa para tempos que aí venham.
Ficámos, no último número deste seu semanário, em Caracas, Venezuela, e na Pequena Taça do Mundo conquistada precisamente pelo Benfica frente ao Atlético de Madrid.
Alinhou, se bem se recordam, nesses dois jogos (0-3 e 2-0) um defesa madrileno de nome Griffa. Jorge Bernardo Griffa: nascido no dia 7 de Maio de 1935, em Casilda, Santa Fé, Argentina, foi uma das grandes figuras do Atlético de Madrid, mantendo-se dez anos ao serviço do clube, vencendo taças, campeonatos e uma Taça das Taças e só deixando em 2011 de ser o estrangeiro com mais jogos de camisola às risquinhas vestida.
No dia 1 de Novembro de 1967, o Atlético de Madrid promove um jogo em homenagem a tão distinta figura.
Convidado? O Benfica!
Manzanares assistiu a uma enchente quase total. Ninguém quis perder a festa.
Havia, de um lado e do outro, muita gente a repetir os confrontos de Julho de 1965.
ATLÉTICO DE MADRID - Madinabeytia; Colo, Griffa, Calleja e Glaria; Jayo e Cardona; Luís, Mendonça, Peiró e Collar.
BENFICA - José Henrique; Cavém, Raul, Jacinto e Cruz; Jaime Graça e Coluna; José Augusto, Torres, Eusébio e Amaro Vieira.
Foi um Benfica com pressa. E um Eusébio mais apressado ainda. Não terá sido por acaso que, no ano antes, no Mundial de Inglaterra, os jornais lhe chamaram «A Man in a Hurry».
Aos cinco minutos faz o primeiro golo num pontapé fulminante; aos dez minutos tirou uma fotocópia do primeiro.
Lentos, os madrilenos limitavam-se a ver jogar os portugueses. O povo aplaudia de pé os lances desenhados pelo Benfica. Só à beirinha do final é que Luis tornou o resultado mais simpático.
Griffa saía em ombros.
O Benfica fazia a vénia aos estrepitosos aplausos. Era grande o seu prestígio pelo Mundo.

Eusébio, o caçador...
Passaram-se entretanto dois anos sobre esse dia 1 de Novembro.
Eis-nos no Verão. E ainda em Espanha. Mais precisamente em Badajoz, com Elvas à vista, para a disputa da terceira edição do Troféu Ibérico, ou Torneio de Badajoz.
A ideia que presidia à competição era a de pôr em confronto equipas espanholas e portugueses. Nas duas edições anteriores, vitórias lusitanas de Vitória de Setúbal e Sporting.
Chegara a vez do Benfica.
Cabia-lhe em sorte a Real Sociedad no primeiro jogo; no outro, o Vitória de Setúbal defrontava o Atlético de Madrid.
Cá estamos nós de volta à dita vaca fria.
Vitória 'encarnada' sobre os bascos por 1-0.
Vitória dos colchoneros sobre os setubalenses por 2-0.
Final marcada para o Estádio El Vivero.
Eusébio queixava-se de uma lesão que o obrigara a sair a meio do jogo frente à Real Sociedad.
Mas fui à luta. E luta a sério!
«Foi um dos jogos em que apanhei mais pancada», diria no fim. «Não esperava uma coisa destas».
Pois. E quem mais caçou as pernas de Eusébio foi... Eusébio. O outro. O do Atlético.
Eusébio Bejarano Vilaro, seis anos mais novo do que o autêntico Eusébio. Natural de Badajoz, estava em casa. E distribuía fruta a seu bel-prazer nas canelas do seu homónimo.
Eu escrevi luta, mas devia ter escrito guerra.
Os espanhóis usaram todos os meios, lícitos e ilícitos. Elementos da Guarda Civil colaram-se ao banco do Benfica e provocaram desentendimentos com o treinador Otto Glória e alguns dos dirigentes e suplentes. O jogo foi longamente interrompido. Os protestos de Toni valeram-lhe a expulsão.

E ainda não estavam decorridos 20 minutos!
Nessa altura, o resultado estava em 1-1. Um golo fantástico de Eusébio, de livre directo, e um chapéu de Garate a José Henrique.

Setenta minutos para jogar e o Benfica com dez.
«Eram só dez. Mas quando se esperava que o Atlético de Madrid redobrasse os seus ataques e aumentasse a sua pressão, o que se viu foi o Benfica fazer uma sorte de prestidigitador - 'nada nesta mão, nada naquela' - e dar uma tal volta naquilo tudo que pareciam ser mais os de encarnados».
Este é o testemunho de Mário Zambujal, jornalista ímpar que não perdeu pitada com os seus próprios olhos.
E concluiu: «Cremos ter sido a melhor actuação do Benfica nesta sua tão agitada época. E foi, sem dúvida, uma exibição perfeitamente ao nível dos seus famosos jogos, em épocas anteriores. (...) A segunda parte foi toda ela um 'show' benfiquista».
O resultado? Ah! Claro! Não nos esquecemos desse «pormaior»: 4-1!
Vejamos:
ATLÉTICO MADRID - Zubizarrain; Mariano (Melo), Jayo, Iglesias e Calleja; Eusébio e Irurarte (Benegar); Ufarte, Adelardo, Garate e Hermández.
BENFICA - Zé Henrique; Malta da Silva, Humberto, Zeca e Adolfo; Toni e Coluna; Jaime Graça, Torres, Eusébio e Simões.
Golos de Eusébio - 4 e 44 minutos; Garate - 18; Jaime Graça - 68; Simões - 88.
Uma sumptuosa peça de prata lavrada era erguida por Mário Coluna no final.
Nada a dizer contra uma vitória alicerçada no brio e no saber de uma equipa experiente como poucas.
«Aqueles que têm dito e escrito que eu e toda a equipa do Benfica estávamos acabados, deviam ter assistido ao jogo de hoje», espicaçava Eusébio. Eusébio português, o bom, não o outro, sarrafeiro, claro está.

No calor abafado de Badajoz levantava-se uma brisa de orgulho."


Afonso de Melo, in O Benfica

Franco Cervi

Um bocado 'fora de época', o Benfica oficializou a contratação do Argentino Franco Cervi, ao Rosário Central. O facto de ter a mesma proveniência do Di Maria, é sempre um bom sinal!!! Apesar de ter mais parecenças com o Gaitán...
Médio ofensivo criativo, jovem, baixinho, rápido, habilidoso, canhoto, no Benfica terá que ser um extremo...  o Nico também não era extremo no Boca. O potencial é evidente, vamos ver como é que se vai processar a adaptação em Janeiro...

Normalmente, o Benfica esperaria por Janeiro para fazer a apresentação oficial na Luz, mas devido às 'estranhas' movimentações do mercado, creio que o Benfica não quis arriscar um 'desvio'!!!

É curioso, como a (des)comunicação social desportiva, está a vender a ideia que o Benfica desviou o Cervi do Sporting. Passando por cima do facto do Benfica ter mostrado interesse no jogador muito antes do Sporting... e tal como aconteceu com quase todas as recentes contratações do Sporting, a prospecção Lagarta, baseou-se exclusivamente nas informações que o Judas levou do Benfica para o Sporting... e se com alguns o Benfica não quis entrar em leilão, neste caso, e devido ao potencial envolvido, não hesitámos, e contratámos o jogador.

Um Festival de Luz e Ritmo

"O Benfica quis ir além da actividade desportiva e transformou o Estádio da Luz numa sala de espectáculos notável.

Os anos 80 foram os anos do rock, e Portugal não foi excepção. No Verão de 1988, o Benfica decidiu tirar partido do seu parque desportivo para realizar, pela primeira vez, um Festival de música: o Festival Rock Benfica 88. Com o apoio da Sociedade Portuguesa de Espectáculos, esperava-se um Festival memorável.
Contudo, muitos não partilhavam o entusiasmo, incluindo alguma imprensa especializada que ia dando como certo o fiasco, ponto em causa a participação de Bryan Adams no Festival. Mas a presença do cantor já estava confirmada, tendo feito a sua primeira aparição um mês antes do evento, na apresentação oficial do Festival, dando um pequeno concerto para cerca de 1500 pessoas.
Os críticos apontavam também para uma provável falta de adesão do público. Para contrariar essa tendência, a organização apelou à presença dos benfiquistas em massa e criou a campanha 'Um atleta um bilhete', que possibilitava a ida dos atletas mais jovens do Clube ao Festival. Cada sócio que não tencionasse ir teria a oportunidade de contribuir para o seu sucesso, comprando um bilhete que, por indicação expressa, seria oferecido a um atleta.
Críticas à parte, a 8 de Julho houve espectáculo! Mesmo com tempo de praia, '(...) muita gente jovem, tal como se esperava, aderiu a esta iniciativa participando e vivendo o espectáculo à sua maneira. Quer no palco improvisado no relvado, quer (...) nas bancadas do terceiro anel, os jovens emprestaram o seu corpo aos mais de 90 mil watts de som que se misturaram com cerca de um milhão de watts-luz. Um espectáculo dentro do próprio espectáculo'.
O primeiro grande momento foi a entrada da banda UHF, que apresentou algumas canções do seu álbum Noites Negras de Azul. Seguiu-se Bonnie Tyler, que fez vibrar os milhares de espectadores com a sua voz rouca e provocante. Subiram também ao palco os grupos The Saxon e Special Affair, mas o que todos queriam mesmo era Bryan Adams. O músico canadiano cantou e encantou com os seus sucessos musicais e, a fechar, ainda houve tempo para um dueto com Bonnie. A multidão delirou! Terminou assim uma noite única que os participantes nunca iriam esquecer.
Na área 16. Outros voos do Museu Benfica - Cosme Damião, encontram-se mais ligações entre o Clube e a Música."

Débora Cardoso, in O Benfica