domingo, 13 de setembro de 2015

Gerir futebol

"Nos tempos que correm o mercado de transferências de jogadores de futebol está activo durante todo o ano, ainda que depois só se concretize nos dois períodos de inscrição desportiva. Entre empresários (e suas comissões), 'olheiros' (e suas análises), 'emissários' (e suas procurações, advogados (e seus conselhos e minutas), familiares de atletas (com as suas ambições) e gestores dos clubes (com as decisões em cima da mesa), tendo pelo caminho 'bases de dados' e planos contínuos de prospecção, estamos hoje perante uma arena cada vez mais global. Basta só atentarmos nas nossas três grandes sociedades desportivas. A quantidade de 'oportunidades' e 'ofertas' que se fazem pelos mais diversos meios (e que alimentam sites, redes sociais e capas de jornais) é esmagadora. As que se concretizam são residuais e, até, as mais improváveis.
Porém, o mercado dos nossos três grandes tem uma particularidade: acontece muitas (demasiadas...) vezes que persigam o mesmo atleta e caprichem em 'desviar' o negócio que estava inicialmente bem encaminhado (ou em vias de ser finalizado entre as partes) para a esfera do rival. Assim tem acontecido novamente. Facto que, sendo reiterado, solicita um 'know how' cada vez mais especializado e rigoroso no domínio de todas as variáveis de uma operação e dos seus 'factores críticos de sucesso'.
Nuns casos, é mais importante persuadir (antes de todos) e pagar um 'prémio' chorudo ao empresário. Noutros cenários, é decisivo o entendimento com os titulares de uma percentagem minoritária dos direitos do 'passe' do jogador, o que pode desbloquear tudo. Noutras hipóteses, o beneplácito do clube do jogador e a palavra dada são o bastante. Simplesmente, noutras hipóteses, o historial do jogador mostra que não se move só por dinheiro e é necessário fazê-lo apaixonar por um 'projecto' e/ou uma 'montra' de futuro. Entre outros cenários do 'momento'. Ser conhecedor e experiente neste 'mundo', apreender os canais e rodear-se das pessoas credíveis, saber antecipar-se e perceber quem 'manda' na operação, tudo isso ou algo disso faz toda a diferença. Assim se fazem e desfazem expectativas. Assim se compreende que há uma qualificação que se exige a quem gere uma 'empresa' de futebol. Assim se enquadram as frustrações e as desilusões no que toca aos 'pelouros' das transferências. Depois, estará sempre a lei: 'perda de confiança', renúncias, destituições e responsabilidades por prejuízos. De facto, gerir futebol há muito que deixou de ser um glorioso ato de fé."

Cinco: número da semana

"Mais do que a exibição e o resultado frente ao Belenenses foram os cinco portugueses no onze final que me fizeram sorrir.

1. Cinco jogadores portugueses integravam o onze do Benfica quando Bruno Paixão - que fez uma competente arbitragem o que importa, aqui, sublinhar e referenciar! - apitou para o final do jogo na passada sexta feira frente ao Belenenses. Cinco foram os golos que, ontem, em Barcelona, e frente ao Espanhol, marcou Cristiano Ronaldo, quebrando um jejum que já preocupava alguns e fazendo e ficando na história do futebol espanhol e do Real de Madrid. Fantástica, e de elevada nota artística, foi a jogada do quinto golo do Benfica e que evidenciou, uma vez mais, a excelência de Jonas e Gaitán. Que maravilha de jogada! Quinta é a próxima jornada da Liga de clubes e que oporá, no Dragão, o Futebol Clube do Porto ao Benfica. E ao quinto dia Deus criou o Céu e a Terra. É o sortilégio da vida. Da nossa vida. Sendo cada um de nós um ser que não se repete.
2. Na sexta feira, Nuno Santos, um jovem nascido no Norte de Portugal, estreou-se na equipa principal do Benfica. Não deixei de aplaudir a sua entrada e de repetir os merecidos aplausos, poucos minutos depois, quando mostrou a sua raça numa bola junto da linha lateral. Foi um dia bem especial para ele. Como foi um sinal para todos os jovens da formação do Benfica. Alguns deles evidenciam, nos treinos, elevada capacidade e, em certos instantes, indiscutível nota artística. E ambicionam pisarem, com toda a legitimidade, em jogos oficiais, a bem tratada relva do Estádio da Luz. Na sexta feira, Nuno Santos e Nélson Semedo, Gonçalo Guedes, Pizzi e Eliseu mostraram, a alguns que duvidavam e a outros, poucos, que continuarão a duvidar, que a Academia do Seixal é um espaço de excelência. Rui Vitória sabe combinar o risco calculado com a ambição de um bicampeão. Na luta pelo tri! E esta combinação, que exige tempo e paciência, é meio caminho para o êxito desportivo e a almofada financeira. Mais do que a exibição e o resultado da passada sexta feira foram os cinco portugueses no onze final que me fizeram sorrir. Como, aliás, tinha sorrido na passada segunda feira quando vi que Fernando Santos tinha escolhido Bernardo Silva como titular do onze frente à Albânia. Tendo consciência de que a França está mais perto para a nossa Selecção. E sabendo que alguns jogadores do Benfica podem sonhar com a presença no lote final dos escolhidos, a meio da Primavera do próximo ano, para o Europeu de França.
3. Arrancam esta semana as duas competições europeias de clubes. No que respeita à principal e financeiramente atractiva competição e tendo presente a participação por clubes - e juntando, Taça dos Campeões com Liga dos Campeões - o Benfica é o segundo clube com mais presenças: 35. Só suplantado pelo Real de Madrid com 46 e à frente de Bayern de Munique, Anderlecht e Dínamo de Kiev com trinta e duas. E bem à frente de Barcelona e Manchester United com vinte e seis. Se avaliarmos o número de participações a partir do momento da substituição da Taça dos Clubes Campeões Europeus - ou seja dos jogos que envolviam a eliminação direta - pela Liga dos Campeões (com a sua fase de grupos), ou seja, se avaliarmos a participação partir de 1992, o FC Porto lidera a par do Manchester United, do Barcelona e do Real Madrid com vinte participações. Logo seguidos de Bayern com 19, de Arsenal com 18 e do Milan e do grego Olympiakos com 17. O Benfica, neste período, tem onze participações tantas quantas as do Inter de Milão ou do Anderlecht, por exemplo. E Cristiano Ronaldo, nesta competição rainha, é o rei dos marcadores (78) e o nosso saudoso e querido Eusébio ainda integra o grupo dos dez melhores marcadores de sempre com os seus quarenta e sete golos! Portugal, os seus clubes e os seus jogadores fazem parte da história viva da principal competição europeia de clubes. Daquela que tem jogos a hora certa - salvo as excepções russa ou cazaque, por exemplo - e um hino que ao ser escutado fará estremecer alguns jovens jogadores. Que, com orgulho e por mérito, participarão, tal como o então jovem Eusébio, na grande competição europeia de clubes. Seja com a camisola de clubes centenários seja com a camisola de um clube bem recente, como será o caso do adversário do Benfica, na próxima terça feira no arranque desta edição da Liga dos Campeões. Astana nasceu em 2008 e é um clube detido por um fundo estatal do Cazaquistão. E sabendo que a cidade de Astana foi considerada, por decreto e desde 2007, a capital desta rica República do oriente profundo da Europa. Rica em razão do seu gás, do seu urânio e do seu petróleo! É contra o Astana que importa entrar com o pé direito. Com uma vitória. Para Rui Vitória no seu primeiro jogo nesta Liga. Para os jovens jogadores que sentirão a força do hino. Para nós adeptos que acreditamos na equipa, na sua capacidade, no seu espírito de dedicação e de entrega. E, nos momentos certos, da sua nota artística. Que é uma frase de sempre e não tem nem patente registada nem direitos de autor reconhecidos!
4. Importa reconhecer, aqui, o trabalho meritório que o Sindicato dos Jogadores, e em particular o seu Presidente Joaquim Evangelista, tem desenvolvido. Neste tempo de desregulação de mercados e de profunda falta de ética de alguns clubes e empresários importa saudar a presença activa, colaborante e denunciante de Joaquim Evangelista. Ontem foi-o em relação a um clube cipriota. Assumindo, e bem, que os jogadores devem ser os primeiros e mais activos denunciadores em relação a alguns abutres que devem ser corridos do futebol.
5. Haja, portanto, vontade e coragem. E que ninguém fique à espera do quinto dia!"

Fernando Seara, in A Bola

Meia dúzia

"Se há clube que inspira simpatia, é o Belenenses. Sempre foi assim. Aliás, quando alguém não gosta muito de futebol, diz que é do clube de Belém. Não sei se é pela proximidade dos pastéis, mas eu nunca ouvi dizer que à meia dúzia é mais barato. Mas o Benfica resolveu fazer jus ao nome do treinador e tirou 6 golos da caixa. Polvilhados de açúcar e canela e saboreados ao longo de 90'. Estaladiça esta vitória. O adversário deixou-se trincar sem qualquer resistência. Talvez a massa estivesse pouco folhada ou faltasse consistência ao creme. Comeram o 'pão' que o diabo amassou e o Rui, comandante dos encarnados, talvez tenha dito, pela primeira vez, toma lá e embrulha. Só é preciso agora, que na semana que aí vem, não se faça dieta. E continuar a pôr fermento no bolo que tem custado a levedar mas que, parece agora, começa a ganhar altura. Que na Europa saibamos sentar-nos à mesa e que se prepare a barriga. É preciso ganhar espaço para, no próximo domingo, caber uma francesinha. Bom apetite."