terça-feira, 28 de julho de 2015

Luto

Mais um prego no caixão do Tugão. É verdade que a Liga, hoje, vale pouco ('só' os direitos televisivos!!!), mas quando uma das personagens mais sinistras dos últimos anos do futebol português, chega a presidente do 'patronato', tendo saído do 'sindicato', fica claro o nível psicadélico do Tugão!!!
Quando alguém com obrigação de ser independente, decidiu campeonato atrás de campeonato (sempre para o mesmo lado...), com erros grosseiros, incontestáveis, e mesmo assim continua a ser tratado (por muitos...), como o melhor árbitro do Mundo e arredores... é claro que o nível de Alzheimer (auto-infligido!!!) no Tugão é elevadíssimo!!!
Fonte: BnR B

Entre hoje e amanhã

"O lastro que adquiriu em carreira na arbitragem mundialmente reconhecida e admirada confere a Proença estabilidade bastante para arriscar desafios noutras áreas.

Felizmente para a imagem do futebol português, sobejou uma réstia de bom senso na assembleia geral da FPF, necessária para eliminar o ridículo que seria aprovar o sorteio dos árbitros, uma bizarria patrocinada por Pinto da Costa, que tolera mal a independência proclamada por Fernando Gomes enquanto presidente da Federação Portuguesa de Futebol, e por Bruno de Carvalho, que vê em Luís Duque um associado do emblema leão e como tal sujeito ao dever de obediência. Para dar mais vida à festa, nada melhor do que a colaboração espontânea e surpreendente de Pedro Proença, o melhor árbitro português de todos os tempos, o qual, embora integrado na estrutura europeia da arbitragem, resolveu enveredar por ínvios percursos e com misteriosa pressa, motivando o rumorejar que de há muito anuncia uma relação de má vizinhança ente ele e Vítor Pereira, o que só vem provar que por detrás de um bom árbitro se esconde uma personalidade complexa.
Basta ler com o mínimo de atenção a entrevista ontem publicada em A BOLA, com a assinatura do jornalista António Casanova. As questões estão lá, as respostas também, algumas a navegar em reticências, sim, mas uma a esclarecer o que faltava. Afinal, como diz ter dito sempre, Proença é a favor das nomeações. Diluíram-se as dúvidas. Não todas, porém, na medida em que faltou explicar por que motivo, sendo ele defensor das nomeações, aceitou ser patrocinado por dois clubes que perseguem solução contrária. Também não precisa dar-se ao incómodo de entrar em pormenores. Como pessoa culta, experiente e inteligente que é, sabe que nesta área específica do futebol a chamada opinião pública é tolerante, distraída e, regra geral, de fraca influência. De aí a hábil estratégia de passar ao lado dos temas mais sensíveis na intenção de os empurrar para o esquecimento. Foi isso o que voltou a fazer... Até aqui, com aparente sucesso, não sei se suficiente para lhe entregar a presidência da Liga nas eleições desta terça-feira, mas se não for agora, será na próxima. Basta querer. Chamem-lhe vaidade, desejo de poder, o que quiserem, mas o lastro que adquiriu em carreira na arbitragem mundialmente reconhecida e admirada, confere-lhe estabilidade bastante para arriscar desafios noutras áreas, provavelmente como dirigente de topo, com a certeza de que uma derrota hoje é o prenúncio de uma vitória amanhã. Afirmam-no a sua ambição, naturalmente, mais a sua juventude e a sua formação. Depende mais da vontade própria do que da pressão que terceiros queiram exercer, razão pela qual me parece ficar em vantagem se esperar: o tempo é seu aliado.
A FPF vai aproximar o modelo português de avaliação de árbitros daquele que se pratica na UEFA. Uma alteração cara, que vai custar 300 mil euros/ano, e que, objectivamente, nenhuma melhoria irá suscitar na qualidade das arbitragens. No essencial, procura trazer rigor às classificações, introduzindo elementos que vão salvaguardar os mais conceituados, leia-se os que ostentam as insígnias FIFA, de desagradáveis surpresas como a que se deparou a Marco Ferreira, de repente despromovido em consequência do seu (fraco) desempenho na temporada passada.
Ninguém seja ingénuo ao ponto de esperar a extinção de erros grosseiros ou o desaparecimento de lapsos com interferência nos resultados. Não é isso que está em causa. A medida visa apenas colocar alguma ordem na feira de vaidades que todos os anos, por esta altura, desemboca em gritaria provocada por diferenças de milésimas. No fundo, todos gostariam de continuar a intrometer-se no ordenamento classificativo ao longo da época, como terá sucedido durante anos e deu no que se sabe...
Aliás, logo no ano de transição do processo de classificações de árbitros da Liga para a Federação observou-se profunda mudança que explica quase tudo: em 2012, os cinco primeiros eram todos internacionais; em 2013, passaram a ser só três, aparecendo os restantes espalhados pelos 25 lugares, com Carlos Xistra em 19.º e Marco Ferreira em 20.º. Ora, não havendo prerrogativa especial para os internacionais, qual será o drama de preencherem os lugares menores da classificação? Nenhum. É por causa da vaidade. Depois há o perigo de o sistema colapsar e... revelar segredos que não convém que deixem de o ser."

Fernando Guerra, in A Bola

PS: Esta coisa de a meio de um raciocino qualquer, afirmar perontoriamente que o 'querido' Dr. Desdentado foi o melhor do mundo, e que é respeitado pelo universo e arredores, é daquelas coisas, que só a cegueira, ou a falta de coragem, podem explicar... O carneirismo militante é uma das principais razões, para o Tugão não sair da sarjeta...

O homem que era sexta-feira

"Josef Masopust foi a figura maior da selecção da Checoslováquia vice-campeã do Mundo em 1962 e do grande Dukla de Praga que defrontou o Benfica no ano seguinte. Era confesso admirador de Eusébio e «roubou-lhe» a primeira Bola de Ouro.

Pelo meio das curvas da vida, a recta infinita da morte. Desta vez o escolhido foi Josef Masopust. Escolhido ou colhido, tanto faz, porque a morte tem hora marcada como o touro na arena.
De repente, enquanto escrevia, lembrei-me do livro de G.K. Chesterton, «O Homem que era Quinta-Feira», obra prima do humor. E isto porque Masopust também é humor em checo: tempo de Carnaval iniciado na sexta-feira de cinzas...
Josef Masopust nasceu em Most, no Boémia do Norte, antiga Checoslováquia, em 1931.
No dia 17 de Junho de 1962 estava em Santiago do Chile disputando a final do Mundial frente ao Brasil. Não sabia ele que viria a morrer em Junho, mês da sua alegria. Aos 15 minutos faz 1-0 para surpresa universal. Checoslováquia e Brasil já se haviam defrontado na fase de grupos com um empate a zero. Depois, os brasileiros, campeões mundiais, deram a volta ao resultado por Amarildo, Zito e Vavá. Zito também morreu neste mês de Junho. Amarildo continua vivo.
A Checoslováquia tinha uma equipa brilhante (no Brasil preferem escrever Tchecoslováquia): Schrojf; Tichy; Novak; Pluskal e Popluhár; Masopust e Pospichal; Scherer, Kadraba, Kvasnak e Jelinek. Nomes estranhos de um tempo distante.
Masopust era forte, com uma técnica impressionante. Tanto jogava a médio-esquerdo como a médio-centro. Domínio exímio da bola, drible fácil e passe perfeito. Svatopluk Pluskal era o seu parceiro no Dukla de Praga (morreu em 2005). Jan Popluhár era estrela do Slovan de Bratislava (morreu em 2011). Tomás Pospichal foi figura do Banik Ostrava e do Slávia de Praga (morreu em 2003). Viliam Shrojf foi o enorme «keeper» do Slovan Brastilava e do Lokomotiv Kosice, antecessor do gigante Viktor (morreu em 2007).
Já quase nada resta da equipa vice-campeã do Mundo que calharia em sorteio defrontar Portugal no acesso ao Mundial de 1966 em Inglaterra.
Josef Masopust já era um dos eleitos, mas saiu do Chile com um prestígio formidável.
Jornalistas de 19 países europeus, correspondentes do «France Football», provavelmente a melhor publicação sobre futebol de sempre, formaram o colégio eleitoral que o elegeu como melhor jogador da Europa do ano de 1962. Cada um deles votava em cinco jogadores, atribuindo-se-lhes uma pontuação decrescente de 5 até 1. O 2.º classificado foi Eusébio.
CLASSIFICAÇÃO (pontos)
1.º Josef Masopust (Dukla de Praga).....65
2.º Eusébio (Benfica)......................53
3.º Schnellinger (FC Koln).................33
4.º Sekularac (Estrela Vermelha).........26
5.º Jurion (Anderlecht)....................15
6.º Rivera (Milan)..........................14
7.º Jimmy Greaves (Tottenham).........11
8.º J. Charles (Roma)......................10
9.º Galic (Partizan).........................10
10.º Gorocs (Ujpest)........................6
Águas ficaria com os mesmos quatro pontos de Kopa (Stade de Reims), Denis Law (Manchester United) e Sivori (Juvnetus), o vencedor da edição anterior.
Eusébio estava feliz. Logo no seu primeiro ano de Benfica era considerado um dos melhores do Continente. E dizia: «Talvez um destes dias possa pregar uma partida a Masopust».
Não foi preciso esperar muito.
Elogios atrás de elogios
No dia 6 de Março de 1963, Josef Masopust e Eusébio da Silva Ferreira encontraram-se frente a frente no Estádio da Luz sob o testemunho de 60 mil espectadores.
Eusébio: «Fiquei positivamente encantado com a equipa do Dukla. Extraordinária! E Masopust foi o melhor dos jogadores checos».
Masopust: «Eusébio! Que grande jogador! Um elemento como ele tem de ser rigorosa e duramente marcado». Troca de galhardetes no final. A partida pregara-a o Benfica: vitória por 2-1. E Mário Coluna dois golos.
Todos foram unânimes em elogiar a técnica e a arte dos checoslovacos. «Bola rasteira, permanente desmarcações, envolvendo os 'encarnados' numa teia pegajosa da qual era difícil ganhar a liberdade», escrevia Fernando Soromenho. Pecava no entanto por falta de eficácia. A eficácia que havia nos remates de Eusébio e Coluna a obrigar Kouba a desdobrar-se em defesas.
A viagem a Praga prevê-se terrível. E foi mesmo. Fernando Riera aplicou ao seu opositor um sistema rígido de marcações que deixou Kadek, Masopust e Brumovski longe das decisões do jogo e os avançados Jelinek e Kucera entregues a si próprios. O empate sem golos atirava o Benfica para as meias-finais e a caminho de mais uma final da Taça dos Campeões Europeus.
No «LÉquipe», Max Urbini escrevia: «Sacré Benfica!... Decididamente nada o faz dobrar quando se trata da Taça da Europa. Nem o frio, nem a neve, nem o futebol checo (na moda, após o Campeonato do Mundo do Chile), nem o eleito melhor jogador da Europa, que ontem recebeu a sua «Bola de Ouro», nem os vibrantes gritos de 'Dukla tp Doho!' - 'Em frente Dukla!!' - num estádio superlotado. Sacré Benfica!... A sua moral é de aço! Tinha necessidade de um empate para ter lugar na meia-final. Obteve-o e mereceu-o bem perante uma multidão que esperou a vitória dos seus até ao último segundo. E caía a noite quando a descida da colina de Strahov se fez sem alegria e até de cabeça baixa... E Eusébio, o grande Eusébio, confirmou o nítido retorno à grande forma. Trouxe a toda a equipa o peso da sua enorme classe, os seus lançamentos, os seus 'raids', os seus remates fizeram tremer de medo os 40.000 adeptos do Dukla Praga jamais esquecerá Eusébio! Sacré Benfica! É uma equipa de Taça dos Campeões!».
Seis meses mais tarde, Eusébio e Masopust ficam para sempre ligados à história da FIFA. Jogam ambos na primeira Selecção da FIFA que se reuniu em Londres, no dia 23 de Outubro de 1963 para comemorar o centenário da Federação Inglesa, disputando um jogo contra a selecção de Inglaterra no Estádio de Wembley. As equipas alinharam:
INGLATERRA - Banks; Armfield, Wilson, Milne e Norman; Bobby Moore, Paine e Jimmy Greaves; Smith, Eastham e Bobby Charlton.
SELECÇÃO DA FIFA - Yashin (URSS), depois Soskic (Jugoslávia); Djalma Santos (Brasil), depois Eizaguirre (Chile), Schnellinger (Alem. Ocid.), Pluskal e Popluhár (Checosl.); Masopust (Checosl.), depois Baxter (Escócia), Kopa (França), depois Seeler (Alem. Ocid), e Dennis Law (Escócia); Di Stéfano (Arg/Esp), Eusébio (Portugal), depois Puskas (Hung.), e Gento (Esp.). Estiveram presentes 100 mil espectadores. O seleccionador da FIFA foi Fernando Riera (Chile), mais tarde treinador do Benfica, e a Inglaterra venceu por 2-1. 1-0 por Payne; 1-1 por Dennis Law; 2-1 por Jimmy Greaves.
Antes do famoso jogo de Bratislava para a fase de apuramento do Mundial inglês, Eusébio e Masopust voltaram a encontrar-se. Em Belgrado, no dia 23 de Setembro de 1964. Estão outra vez do mesmo lado; vestem ambos a camisola da Selecção da UEFA.
O jogo serve para angariar fundos para as vitimas do terramoto de Skopje. O árbitro é o suíço Dienst e as equipas alinharam:
JUGOSLÁVIA - Soskic, depois Skoric; Belin, Jusufin, Melic e Vasevic; Cop, Samarcsic, depois Cebinac, e Zambata; Galic, Kostic e Skoblar.
SELECÇÃO DA UEFA - Yashin; Lala, Pluskal, Mészóly e Schnellinger; Varonin, Masopust e José Augusto, Seeler, Eusébio e Simões, depois Sandor. Golos para todos os gostos: 0-1, Seelr, 0-2, Eusébio, de «penalty»; 1-2, Kostic; 1-3, Eusébio; 1-4, Eusébio; 1-5 Eusébio; 2-5, Galic; 2-6, Seeler; 2-7, José Augusto.
Josef Masopust, o homem que «roubara» a Bola de Ouro a Eusébio continuava fascinado: «Quem mais brilhou foi Eusébio. E será sempre o que mais há-de brilhar em qualquer desafio que participe. É um 'caso' do futebol actual!».
Já se passaram mais de 50 anos.
Masopust e Eusébio: a morte marcou-lhe um reencontro... no mês de Junho."

Afonso de Melo, in O Benfica

O guardião da memória

"Apaixonado pelo Benfica, Joaquim Macarrão dedicou grande parte da sua vida a preservar o património histórico e cultural do Clube.

Nascido no seio de uma família de pescadores, o lacobrigense Joaquim José Macarrão (1920-2008) cedo envergou a camisola encarnada, iniciando-se como jogador de futebol na filial local.
Aos 17 anos de idade, rumou a Lisboa em busca de trabalho. Encontrou-o na secretaria da Rua Jardim do Regedor. A 15 de Novembro de 1937, iniciou a sua longa jornada como funcionário do Sport Lisboa e Benfica e, paralelamente, começou a treinar e a jogar futebol.
Enquanto jogador, partilhou o campo com nomes como Gaspar Pinto, Alfredo Valadas e Guilherme Espírito Santo mas foi, sem dúvida, como funcionário que mais brilhou. Ao longo de 65 anos de dedicação - que lhe concederam o título de 'mais antigo funcionário do Clube em exercício no Estádio da Luz' - fez de tudo um pouco. Como costumava dizer: 'Nasci para servir o Benfica e só deixarei de o fazer no dia em que as forças me abandonarem por completo...'.
Em 1975, abraçou a função que o acompanhou até à despedida: Encarregado do Gabinete de Registo de Taças e Troféus. Durante cerca de 30 anos, foi responsável por reunir e registar os troféus conquistados pelas diversas secções. Mas fez mais! Encarava a preservação da história e do acervo do Clube como uma missão. Para além dos registos que efectuava (estatísticas de jogadores, de provas, recortes de imprensa...), de que somos herdeiros, estava sempre disponível para contar a história por trás de cada taça. Gabava-se de saber a história do Clube de fio a pavio: 'Sei a história toda do clube. Até me chamam «o enciclopédia»'. Em tantos anos, foram inúmeros os momentos dessa mesma história que viveu na primeira pessoa. Segundo o próprio, '(...) deu cimento, depositou a sua moedinha no mealheiro gigante na Feira Popular, e participou em muitos leilões (...)' mas destacou como momentos mais marcantes '(...) o dia em que pisou os terrenos (da Luz) para dar a sua enxadada e o da inauguração. «Estava cheio. Era o nosso estádio»'.
Joaquim Macarrão deixou de trabalhar no Benfica aos 82 anos, meses antes da inauguração do novo Estádio. Não chegou a ver concretizado um dos seus maiores sonhos: o Museu.
A constituição da Direcção de Património Cultural e a criação do Museu Benfica - Cosme Damião são, certamente, a melhor homenagem póstuma que o Sport Lisboa e Benfica lhe poderia fazer."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica