terça-feira, 9 de junho de 2015

Três vectores para o novo ciclo

Caros indefectíveis,

Continuamos sem ver fumo branco. Já escrevi ontem que para mim isso é bom sinal. Quanto mais tempo demorar melhor. Significa que a coisa está a ser bem pensada. Tudo aponta para que o escolhido venha a ser Rui Vitória. A nação benfiquista está dividida entre três nomes: Rui Vitória, Marco Silva e Vitor Pereira. Para mim nenhum deles tem o perfil necessário para treinar o nosso clube e dar início a um novo ciclo que deverá obedecer a três vectores centrais de actuação: 
1 - Consolidação da posição de primeira potência desportiva nacional no que ao futebol se refere. 
2 - Concretização em pleno do projecto Academia Caixa Futebol Campus.
3 - Projecção internacional com presença assídua nas fases avançadas da UEFA Champions League.

Estes os três vectores que devem ser a base da ambição para o novo ciclo que se avizinha. Para isso o nosso presidente Luis Filipe Vieira, declarou que uma das premissas principais do futuro timoneiro seria a identificação plena com o projecto do clube.

Debrucemo-nos em primeiro lugar na análise do ponto 2. Rui Vitória demonstrou no Vitória Sport Clube que sabe colocar miúdos a jogar na primeira liga. Conseguiu com esses mesmos miúdos ajudar o clube numa altura de crise profunda em termos orçamentais. E ainda logrou conquistar uma taça de Portugal ao Glorioso. Dos três nomes falados é o que para mim ganha vantagem neste particular. 

Consolidar a posição actual de bicampeão implica ganhar. Implica vencer o tricampeonato. Implica derrotar os nossos eternos rivais e os corruptos. Aqui é que começa o problema. Em primeiro lugar porque os lagartos vão este ano jogar o dobro. Em segundo lugar porque os corruptos não vão cometer os erros do início da época passada. E em terceiro lugar porque o plantel vai ficar mais curto (a integração de 5 miúdos implica que a equipa 'B' se expande para a 'A'. Passamos a ficar com um plantel de 20 jogadores que conquistaram o direito de vestir o manto sagrado na equipa de excelência e mais 5 aspirantes a ganhar esse direito com wild card directo para a fase de repescagem que durará numa primeira fase até à janela de transferências de Janeiro.). Isto tudo, quer dizer que a pessoa escolhida tem de ser do melhor que existe no mundo para não perder pontos contra as equipas ditas pequenas e ao mesmo tempo sair vencedor dos duelos contra os dois principais rivais. Dos três nomes falados só vejo um que tenha capacidades para o fazer. O seu nome é Vitor Pereira. Falta-lhe no entanto estar identificado com o projecto. É corrupto assumido e com muito orgulho. Gente dessa na nossa casa só se for para colocar veneno.

O terceiro ponto não é nada de negligenciar. Do meu ponto de vista é a linha que vai definir o sucesso ou não do novo ciclo. E muito do nosso futuro enquanto instituição. Ombrear com os maiores ou cingirmo-nos à nossa realidade nacional. Existem estratégias colocadas em prática de há muito pela actual direcção tendo em mente esse desiderato. O nosso clube como um dos maiores clubes da Europa tem de encontrar meios de obter recursos anuais que o permitam competir no espaço europeu. Para isso é necessário vencer na Europa. Ganhar prestígio. Só desse modo será possível daqui a três anos renovar o contrato agora assinado com a Fly Emirates e cativar assim novos investimentos na nossa marca. Para vencer na Europa é preciso muita experiência. Muito saber. A UEFA Champions League não tem nada haver com o campeonato nacional. O ritmo a que é jogada é muito mais elevado. Todos os índices do jogo são elevados bem acima do registado semanalmente no campeonato português. Mais uma vez neste ponto Vitor Pereira ganha de goleada ficando Marco Silva como distante perseguidor, mas como não queremos envenenar ninguém muito menos sermos envenenados... (Deixo o resto da conclusão para vossemecês completarem.)

Eu já expressei os meus pontos de vistaAqui fica pois, uma vez mais, o meu pedido:



Viva o Glorioso Sport Lisboa e Benfica

<3

Três breves histórias servidas em doses de cinco

"Entre 1948 e 1953, o Benfica ganhou quatro finais consecutivas da Taça de Portugal. As três últimas da série foram impressionantes: Académica (5-1), Sporting (5-4) e FC Porto (5-0). Ei-las pela prosa de quem as presenciou.

Dia 10 de Junho de 1951
Estádio Nacional
Benfica, 5 - Académica, 1
(Golos de Rogério Pipi(4), Arsénio / Macedo)

Lisboa encheu-se de estudantes. Outra vez, dir-se-ia. Vinham no rastro da recordação da final de 1939, ganha precisamente ao Benfica. Só que tudo foi diferente. «Os lisboetas, homens das berrantes camisolas vermelhas levaram a melhor», declarou, solene, a imprensa. O chumbo marcou o registo em letras firmes: «Foram a melhor equipa, aceitando a luta em todos os sectores para onde os estudantes a quiseram levar. À energia responderam com energia. À vontade com vontade igual. E para forjarem um êxito que teve o sabor de uma desforra, utilizaram os seus melhores trunfos».
Diz, portanto, quem lá esteve, que não houve contestação ao mérito do Benfica. A primeira parte reflectiu algum equilíbrio, a despeito dos golos madrugadores de Arsénio e Rogério Pipi. Do lado dos rapazes de negro, há um homem pequeno que se agiganta, como sempre: Bentes, o doutor Bentes, o «rato atómico». Não chega.
Rogério é fagueiro, incontrolável nas fintas e nos golos. Quebra os últimos focos de resistência do Mondego logo no início do segundo tempo. Nem o enorme Mário Torres, na sua figura monumental de ébano, pode contra a finura do seu jogo.
Na época anterior, por via da disputa da Taça Latina em Lisboa, a Taça de Portugal não se disputara. EM 1948/49, o Benfica batera o Atlético na final (2-1). Francisco Ferreira ergue o troféu. É o segundo consecutivo para os 'encarnados'. Outros se seguiram.

Dia 15 de Junho de 1952
Estádio Nacional
Benfica, 5 - Sporting, 4
(Golos Rogério Pipi(3), Corona e Águas / Rola(2), Albano e Martins)

Diz-se que Rogério desmaiou de alegria quando, no último minuto do encontro, com um remate com algo de feliz que fez a bola roçar no poste antes de se aninhar nas redes do Sporting, desfez a igualdade e deu a terceira Taça de Portugal consecutiva ao Benfica. Logo ele que falhara um penálti aos 43 minutos, não conseguindo dessa forma a proeza extraordinária de marcar quatro golos em duas finais seguidas.
Vamos ao que se escreveu nesse dia glorioso de sol no Jamor: «O Benfica conquistou a Taça de Portugal na final mais rica que há memória, mas o grande triunfador era verdadeiramente o Futebol, tanto na expressão benfica (sic) como sportingue (sic) que nos deu a melhor final de todos os tempos! (...) A existência de nove golos indica uma partida pelo menos entretida, mas para além dos golos, alguns deles jóias de requintado labor, praticou-se Futebol rasteiro, rápido e desconcertante de perguntas e respostas: cientificamente organizado e não de acaso; Futebol de conjunto onde cabia a iniciativa individual».
O grande Tavares da Silva intitulava esta prosa de «A Apoteose do Jamor». E sublinhava: «A todos os títulos, a final da Taça de Portugal 1951/52 representou uma alta expressão do Futebol moderno, de uma velocidade outrora desconhecida e de movimentação sintonizada, com espaço suficiente para as manobras individuais, empenhando-se os jogadores exclusivamente nas boas normas do fair-play. O desafio teve interesse, graça, animação e ansiedade!».
E nova vitória do Benfica com Francisco Ferreira a levantar a sua última taça.
Mas ainda havia mais uma dose de cinco para ser servida...

Dia 28 de Junho de 1953
Estádio Nacional
Benfica, 5 - FC Porto, 0
(Golos de Arsénio(3), Rogério Pipi e Águas)

O Benfica já tinha batido o FC Porto (3-0) numa final do Campeonato de Portugal, em 1939/31. Agora exibira requintes de malvadez e iniciaria uma longa carreira de vitórias sobre os 'azuis-e-brancos' em finais da Taça de Portugal.
Voltemos a usar e abusar da prosa de quem assistiu ao vivo aos acontecimentos do que se desenrolou: «Se em vez de duas equipas de Futebol, mão caprichosa tivesse colocado ontem no recinto do Jamor em gato e um rato, o despique teria evoluído e terminado da mesmíssima maneira, salvo, evidentemente, o desfecho admissível que no caso dos inimigos figadais sacrificaria, naturalmente, a vida do mais fraco. (...) Tal como faria o felino, o Benfica dispôs como quis do adversário, um Futebol Clube do Porto que mau grado os esforços bem intencionados dos seus dirigentes chegou ao fim da época como começou. (...) Não é vulgar entre turmas do mesmo plano, embora uma em melhor forma do que a outra, surgir um resultado tão volumoso que não se preste a reticências. Mas a história dos cinco golos sem resposta impostos pelos encarnados aos 'azuis-e-brancos' é clara como a água cristalina. Sem favor, merece essa legenda: certíssima. E se o onze vencedor tivesse aproveitado todas as ocasiões que criou ou se lhe depararem para golo, e se também o motor da equipa tivesse funcionado após o intervalo com a mesma regularidade do primeiro tempo, a marca ficaria histórica sem grandes motivos para reparos».
Pois. Relatório de uma vitória sem rebuço, que já marcava 3-0 ao intervalo.
Francisco Ferreira despedira-se. É Fernandes, o novo «capitão», a levantar a taça.
Daí para cá, Benfica e FC Porto reencontraram-se mais sete vezes em finais da Taça de Portugal: seis vitórias 'encarnadas!'."

Afonso de Melo, in O Benfica

Como se previa

"Não é crime Jesus ir atrás do dinheiro, mas sabia que, ao optar pelo Sporting, incomodava o presidente que o tirou do anonimato e feria o orgulho de muitos milhares de benfiquistas.

Jorge Jesus só precisou atravessar a Segunda Circular rumo ao Sporting, trocando uma compensação financeira que sempre achei escandalosa, na Luz, por outra que passa a ser ofensiva, em Alvalade. Como contra argumentava o meu camarada José Manuel Freitas nos vivos debates que em tempos travámos nas noites de domingo de A BOLA TV, se um treinador recebe verbas que a sensatez não alcança é porque alguém aceita pagá-lhas, em troca de títulos a qualquer preço, o que, a manter-se, nada indica de bom para a saúde do negócio futebol. Jesus, ou alguém em sua representação, limitou-se, pois, a fazer pela vida e a esmifrar quem vê nele o remédio capaz de aliviar todas as dores...

Saiu a mal do Benfica como previ, escrevi e disse não sei quantas vezes, por me parecer que jamais haveria de reconhecer que a sua escolha foi uma aposta presidencial de enorme risco, em conjuntura especial. a partir do momento em que chegou à Luz... entrou a ganhar, depressa se sentiu «dos melhores do mundo», como repetidamente tem assumido, enfatizando uma das características que melhor definem a sua personalidade. No ano seguinte, porém, ficou a 21 pontos do FC Porto, mas Vieira protegeu-o. Depois, perdeu outra vez, e continuou a perder para Vítor Pereira. Ou seja, perdeu três campeonatos antes de vencer os últimos dois: mérito dele, sim, embora, pessoalmente, veja no feito empreitada pouco palpitante. Limitou-se a serviços mínimos em face do que lhe foi oferecido em termos de praticantes de qualidade para trabalhar. Objectivamente, ficou a dever ao Benfica dois campeonatos, além da sua indisfarçavel inabilidade para lidar no espaço europeu, que duas finais perdidas na Liga Europa pouco alteram.
Ao terminar contrato Jesus ficou com liberdade plena para escolher o seu futuro, sendo certo, no entanto, que Luís Filipe Vieira teve a preocupação de lhe proporcionar uma saída confortável, desportiva e financeiramente. No estrangeiro, pois claro, na medida em que foi o próprio treinador a manifestar publicamente esse desejo, na pressuposto (errado) de que o seu nome seria tema de conversa nos gabinetes dos administrações dos principais emblemas europeus: Jorge Mendes faz milagres, mas não é santo... Sobre clubes de topo interessados... nada, e percebe-se a razão.

Jesus revelou, em comunicado de conteúdo amenizador, agradecimento ao Benfica. Foi simpático, embora insuficiente para traduzir a retribuição devida pelo que Vieira fez por ele: descobriu-o ao fim de 20 anos de uma carreira subaltenra preenchida por subidas e descidas e por uma extinta Taça Intertoto. Jesus não queria ser refém do Benfica, como anunciou, assim como o Benfica não queria ser prisioneiro do seu treinador. Como se não existisse futuro além dele. De aí que, expirada a relação contratual, seja absolutamente normal cada qual seguir a sua vida, com um pequeno/enorme senão: não é crime Jesus ir atrás do cheiro do dinheiro, mas sabia muito bem que, ao optar pelo Sporting, incomodava o presidente que lhe deu notoriedade e feria o orgulho de muitos milhares de adeptos encarnados que o admiravam como 'salvador da pátria' benfiquista.

Na cerimónia oficial que confirmou a ligação comercial à Fly Emirates, o que só por si demonstra o prestígio internacional que a águia ainda detém, Vieira declarou que o Benfica é um clube do mundo e tme de recuperar o seu lugar na Europa. Em paralelo, o administrador Domingos Soares de Oliveira alertou para a necessidade de atenuar a política de investimentos realizada nos últimos anos. Para bom entendedor... Jesus é bom treinador para consumo interno, mas em seis épocas nenhum 'coelho' retirou da formação por preferir comprar 'pronto a consumir', indiferente ao peso na despesa. Bruno Carvalho anunciou que lhe vai dar carta branca na gestão do edifício futebolístico leonino: ou há dinheiro para gastar até cansar ou será curta a vida do 'novo projecto'. É esperar para ver..."

Fernando Guerra, in A Bola

Do fantasma...

"À entrada para a década de 1930, Ribeiro dos Reis era vice-presidente do Benfica e treinador da equipa de futebol - mas encantado com o homem que levara o Vitória de Setúbal a campeão de... Lisboa, deu-lhe um dos cargos. Era o Arthur John, tinha sangue inglês, nascera na Áustria - e além de treinador era massagista, massagista continuou a ser nas Amoreiras. Presidente era Manuel da Conceição Afonso. Encadernador da Imprensa Nacional, anarca e sindacalista, vivia com a polícia política (que ainda não se chamava PIDE) à perna - ao ser eleito recebera 700 contos em dívidas. O preço médio dum automóvel andava pelos 18 contos - e menos de 18 contos gastava anualmente o Benfica em... «Assistência», que era a palavra hipócrita onde se escondia o dinheiro que se dava a jogadores e treinadores, por baixo da mesa, à sorrelfa.
Em dois anos, Arthur John ganhou dois Campeonatos de Portugal - e o Sporting desafiou-o a 16 contos por época em... «Assistência». Afonso, achando «obsceno» o montante, deixou-o ir - voltou Ribeiro dos Reis a treinador e de graça. (Para receber 16 contos um operário como o presidente do Benfica precisava de trabalhar pelo menos 2000 dias...). No Sporting, nada ganhou, criou um fantasma - o fantasma Arthur John - a atacar treinadores icónicos que, ganhando no Benfica, no Sporting não: Fernando Riera, Jimmy Hagan, Milorad Pavic... (Otto Glória foi campeão em 1966, mas com Juca a seu lado - 1962 o fantasma Arthur John trocara-lhe as voltas...).
É, Jorge Jesus no Sporting é mais do que um desafio ao futuro do Sporting - é um desafio à história do Sporting. E de duas uma: ou Jorge Jesus é o Pedroto do Sporting ou Bruno Carvalho não será o seu Pinto da Costa. (Aliás, só o será se Jesus matar esse fantasma Arthur John. Não o matando, Bruno Carvalho será talvez o D. Sebastião da Agustina que vaidoso como pote da leiteira do Gil Vicente, com a cabeça a arder de delírios e sonhos despenteados - incendiou, no seu próprio Alcácer Quibir, o Sporting...)."

António Simões, in A Bola

Virar a página?

"Jesus é um óptimo treinador e foi um funcionário que prestou, grandes serviços do Benfica. Com ele, o Glorioso, voltou a ser um clube ganhador com uma ideia de jogo coerente com os desafios do campeonato. Na minha visão do Benfica, no momento em que Jesus terminou o seu vínculo, seria esta a mensagem que deveria ter sido repetida. Independentemente do clube pelo qual assinou.
A aqui começam os equívocos da situação em que o Benfica se encontra.
Se a direcção pensava que era altura de virar a página e traçar um novo rumo, devia ter tomado as decisões planeadas e contratar Rui Vitória. Ora parece que o que está a influenciar a escolha do treinador não é uma indefinição estratégica, mas o facto de Jesus ter saído para o Sporting. Um clube como o Benfica não se deixa condicionar pelas opções dos outros clubes. É um erro que, aliás, nos pode fazer recuar a um período em que estávamos mais preocupados com o que os nossos rivais faziam do que em organizar autonomamente uma estrutura vencedora.
Depois a sempitema aposta na formação. Há, a este propósito, um outro equívoco. Nos últimos anos, o Benfica formou uma mão-cheia de jogadores (David Luiz, Di Maria, Matic, Markovic, André Gomes) que chegaram com pouco cartel e saíram valorizados. Será que, com a excepção de Bernardo Silva, houve algum jovem subaproveitado?
A questão não é saber se se vai apostar na formação, mas, sim, que ideia de jogo um novo treinador pode trazer. Virar de página implica continuarmos a ser capazes de exibir o carrossel atacante nos jogos em casa e, ao mesmo tempo, termos um sistema alternativo que permita controlar um jogo em posse organizada (a principal insuficiência de Jesus).
Contratar um novo treinador devia depender mais de uma opção em torno do modelo de jogo desejável e menos do que fazem os nossos rivais ou do papel que os jovens talentos devem ter."

Maré cheia continua

"Depois de ter justificado publicamente o despedimento de Marco Silva através de um comunicado bastante inócuo, o presidente do Sporting reagiu aos críticos em termos pouco encomiásticos e contundentes, deixando bem claro quem é o presidente do Clube. Jorge Jesus, esse, está de férias, descansado.

A discussão à volta da mudança de treinadores nos dois principais clubes de Lisboa continua a dar indícios de que tudo está muito longe de chegar ao fim. A cada momento surgem dados novos para sustentar as polémicas vindas da semana anterior, são muitos os desmentidos, do mesmo modo que há também algumas confirmações.
Depois de ter vindo a público para, primeiro tentar justificar o despedimento de Marco Silva através de um comunicado bastante inócuo, o presidente do Sporting foi depois muito claro quando, em apenas dois minutos, tornou público aquilo que já se sabia, isto é, a contratação de Jorge Jesus por um período de três anos.
Os números expressos nesse contrato, que Marques Mendes na televisão considerou 'pornográficos', continuaram a ser objecto de críticas muito aciduladas. Mas foi o despedimento de Marco Silva que fez subir o tom dessas críticas, com várias figuras afectas ao clube do leão a manifestarem-se contrárias à forma como esse desenlace se processou, culpando directamente Bruno de Carvalho por uma iniciativa considerada imoral.
O presidente do Sporting reagiu de imediato e ontem mesmo aproveitou uma visita a Alenquer para se dirigir em termos pouco encomiásticos a antigos dirigentes, políticos e até a um Capitão de Abril. E fê-lo em termos contundentes, deixando bem à vista a ideia de que não vai deixar apenas para Jorge Jesus o protagonismo à frente do Clube.
Jorge Jesus, de férias nos Estados Unidos enquanto não deita mãos ao trabalho está, no entanto, suficientemente tranquilo e confortável. É que o seu advogado, quando abandonou Alvalade, depois de ter confirmado o contrato entre o treinador e o Clube, era portador, além de dois cheques bem nutridos, de 36 garantias bancárias condizentes com os 36 meses a que corresponde a sua ligação à nova entidade patronal.
Sabendo certamente daquilo que havia sucedido a Marco Silva, ou seja o despedimento por justa causa, Jorge Jesus quis prevenir-se antes de ter de (eventualmente) remediar.
Daqui se conclui que o presidente do Sporting aceitou todas as exigências que o seu novo treinador decidiu colocar em cima da mesa."

Grandiosa Paródia Carnavalesca

"Balões, boas da tropa, 'Eusébio' e mulheres nada elegantes...

Era terça-feira de Carnaval. Lisboa era palco de dois acontecimentos desportivos: no campo da Tapadinha, disputava-se a primeira eliminatória da Taça de Portugal; no campo do Campo Grande, acontecia a Grandiosa Paródia Carnavalesca do Benfica. Mas, nessa tarde de 14 de Fevereiro de 1961, mais de quinze mil pessoas declinaram o evento oficial e preferiam marcar presença na festa 'encarnada'.
Promovida pela Comissão Central, a '(...) reunião da família benfiquista a favor do Parque de Jogos (...)', teve início às 15 horas e prolongou-se pela tarde fora com inúmeras actividades, surpresas e... 'Balões, mais balões'. Do programa constavam, para além dos 'Sensacionais concursos carnavalescos!!!', corridas de arcos, corridas de sacos e 'Uma corrida de Atletismo de 50m,70 feita com atletas calçadas com... botas da tropa!!!...'.
Uma das grandes surpresas da tarde foi a 'estreia' de Eusébio. Sim, nesse dia Eusébio fez o seu jogo de estreia pelo Benfica, mas não o verdadeiro Eusébio. Num momento ímpar de brincadeira carnavalesca, surge em campo uma figura mascarada de Eusébio que, após saudar o público, alinha num encontro de futebol.
Mas o momento mais cómico foi, decerto, o desafio de futebol feminino. 'Vinte e uma senhoras e... mais uma, de todos os tamanhos e feitios, no mais extraordinário e hilariante jogo de futebol feito em Portugal!!!'. As duas equipas 'femininas', 'Bem dotadas fisicamente (...)' eram constituídas, nada mais nada menos, pelos jogadores de râguebi do Clube.
Esses mesmos raguebista que, desportivamente se apresentaram no Campo Grande '(...) mascarados de mulheres nada elegantes', enriqueceram nessa época de 1960/61 o palmarés do Benfica com a conquista do Campeonato Nacional e da Taça de Portugal e marcaram ainda presença na Taça dos Clubes Europeus e do Norte África.
No Museu do Benfica - Cosme Damião, na área 3. Orgulho ecléctico encontra esses e outros troféus oficiais conquistados pelo râguebi 'encarnado'."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

Cinco Visões

1  - Imunidade

A pressão gigantesca. Quem estará imune a tal peso? O nosso ex-treinador tinha a vantagem de não dar ouvidos a ninguém. Essa uma qualidade que não vislumbro em Rui Vitória ou Marco Silva. São os dois muito bons rapazes. Não é o perfil certo. O treinador tem de seguir a sua ideia e ponto final. Vou dar só um exemplo: Pedro Mantorras, Nuno Gomes, Saviola, Aimar, Amorim mesmo Gaitan nos primeiros anos. Algum dos nomeados teria a coragem de afastá-los do plantel?  Camacho não teve. Fernando Santos não teve. Koeman não teve. E é isso que traça a linha entre o sucesso e o insucesso. O mérito e a equipa. O jogador não pode treinar. A estrutura não pode treinar. Quem tem de treinar é o treinador. Serão tempos penosos estes se formos por esse caminho. Quem dera estivesse enganado. O que vai acontecer do outro lado da segunda circular? Eles foram buscar um manager de top. Vão-lhe dar poder total. Têm dinheiro para investir. Preciso fazer um desenho?

2 - 200%

'Os meus jogadores vão jogar o dobro', lembram-se?. Na memória a frequência de rotação dos jogadores na pressão alta constante nos jogos. Em todos os jogos. Sai um entra o Manel e a diferença era como se não se visse. Como se consegue? Com muita exigência. Uma exigência e uma busca mórbida pela perfeição. Tudo trabalhado nos treinos. Treinos intensíssimos que os jogadores transportavam para o campo. O estimular da competitividade dentro da equipa. Um estímulo de aceleração maximizada ao longo da semana para a velocidade de ponta ser atingida no instante decisivo da partida. Quem deles tem a capacidade de fazer isso há equipa? 

3 - Miúdos

Os nossos consócios querem na equipa miúdos do Seixal. O nosso presidente tem esse projecto ambicioso com o qual eu concordo mas, que irão os nossos consócios fazer quando surgir o primeiro deslize? Querem que vos refresque a memória? Preciso? O gangue do assobio é do melhor que existe no estádio da luz. E como os assobios são música para os ouvidos dos nossos queridos futuros craques. Estamos a brincar com o fogo. Esses miúdos é para estarem nas mãos de um mestre guru e não de um aspirante à designação.

4 - A campanha

Acham que a comunicação social vai perdoar a primeira derrota da época? Acham que vai perdoar a primeira falha que dê a perda de um ponto? Qual será o próximo Emerson? Os próximos? No Benfica tens de ter qualidade e não falhar nunca! 
Todo o discurso vai mudar. Os nossos rivais não vão apostar nos jovens. A CS vai virar o disco e centrar-se numa única coisa: as vitórias. E a cobrança será impiedosa. Como defender a equipa desses ataques incessantes? Estamos esquecidos? Ser duas vezes melhor não chega. Precisamos de ser três vezes melhores. Quem está preparado para o desafio? Quem está preparado para liderar essa equipa? Os seres excepcionais não se produzem, descobrem-se.

5 - A vingança

Não vão nas cantigas que essa gente canta. Ele não é nada do que era antes de entrar no Glorioso. Cresceu muito. Tem muito conhecimento com ele. Não menosprezem o vosso inimigo. Parece que está toda a gente a menospreza-lo. Eu digo-vos que ele sozinho reconstrói o que está em ruínas. Vão começar a ver vendas. Jogadores a serem potenciados. Vitórias de goleada. Já se esqueceram como é? Não menosprezem o vosso inimigo! Ele vem com tudo para cima de nós. Para cima do nosso Benfica. Ele é vingativo! Não esqueçam disto. Impermeabilidade é a sua maior virtude. Ele é impermeável a tudo o que o rodeia. Só existe uma pessoa no mundo para ele. Ele próprio. Tudo o resto para ele não importa. Pensem nisto. Ele almeja a perfeição e acredita realmente que é o melhor do mundo. E qual é o objectivo dele? Mostrar que sozinho pode derrotar o Benfica. E tem capacidade para isso. Tem capacidade e se o menosprezar-mos não temos hipótese. O nosso futuro treinador tem de ser de categoria extra e preparado para o combate.

Estarei a ver mal?

<3