quinta-feira, 28 de maio de 2015

Ninguém se esquecerá enquanto houver YouTube

"Pondo as euforias de lado, tome-se atenção porque estamos longe, muito longe, daquela fase em que «qualquer um que treine o Benfica se arrisca a ser campeão».

SERÁ Jorge Jesus o próximo treinador do Benfica ou não será? Será ou não será - é a questão do momento.
Eu, por exemplo, sou fã do nosso actual treinador. Estou-lhe grata pela onda de múltiplos títulos nacionais com que nos inundou nestes seis anos e não o culpo por o Benfica não ter ganho uma única Liga dos Campeões nestes seis anos nem por ter perdido duas finais consecutivas da Liga Europa em seis anos tendo em conta que há mais de sessenta anos que o Benfica não é campeão europeu nem se qualificava por dois anos consecutivos para uma finalzinha europeia.
Gosto também dos seus maravilhosos pontapés na gramática que descabelam os pretensos doutores da bola neste país atrasado da Europa em que as mais altas figuras do Estado dão consecutivas calinadas de português e passam incólumes, sendo gente douta e licenciada, aparentemente.
O trabalho de Jorge Jesus no Benfica é notável tal como foi notável a continuada aposta do presidente do Benfica em Jorge Jesus.
Cada um com as suas peculiaridades e os seus traços genuínos de carácter formaram uma dupla que restituiu ao Benfica a sua identidade resiliente, combativa, empolgante e ganhadora.
Por isso mesmo o Porto nunca desistiu de contratar o treinador do Benfica e o próprio Sporting, nestes seis anos de Jesus no Benfica, já tentou por mais de uma vez levá-lo para Alvalade.
E tudo pode acontecer porque, afinal se trata de futebol. Jorge Jesus não é do Benfica como Toni, como Mário Wilson, como Chalana e como o próprio Eriksson que ainda há coisa de duas semanas lhe mandou, pela imprensa, um recado adorável de quem o tem na mais alta consideração: «Do Benfica Jesus só devia sair para o Real Madrid.» É precisamente o que penso sobre o assunto porque também tenho pelo atual treinador do Benfica a mais alta das considerações.
Jorge Jesus, no entanto, é um profissional de futebol e senhor do seu destino. Nos festejos do Marquês e, uma semana depois, na celebração no Estádio da Luz, o seu rosto fechado fez-nos suspeitar que o seu destino não é Chamartín nem o Dragão mas Alvalade.
Porquê? Porque pouco se parecia este Jesus tão contido com o Jesus que vimos a dançar com a multidão no ano passado. Mais se parecia este Jesus com o Marco Silva a quem nunca ninguém viu um sorriso em público desde que assinou pelo Sporting e vá lá saber-se porquê...

O facto de o Benfica ter demorado três décadas a conseguir a proeza singela de conquistar dois títulos consecutivos de campeão não chega para se poder dizer, como o disse Mário Wilson na década de 70 do século passado, que «qualquer um que treine o Benfica arrisca-se a ser campeão».
É nestas coisas práticas que se deve pensar nos momentos de euforia que são muito bons de se viver mas que de práticos nada têm.
Obrigada, mister. Por tudo.

NO fim da tarde de segunda-feira, ainda a Benfica TV mantinha corriqueiramente no ar a programação da sua grelha semanal e já as televisões generalistas, pública e privadas, estabeleciam ligações em directo ao Estádio da Luz e à Praça do Município para não perderem um segundo que fosse do acontecimento em função dos seus campeonatos de audiências.
Num desses canais debatia-se até com sentida objecção intelectual «o exagero» das comemorações benfiquistas enquanto ao mesmo tempo, e mais uma vez à pala do mesmo Benfica, se ia facturando o ganha-pão.
O Benfica é muito mais do que um clube. É uma obra social.

FEZ bem Luís Filipe Vieira afirmar no salão nobre da Câmara que os benfiquistas voltarão a encher as ruas e as praças de Lisboa para celebrar as suas alegrias sempre que para tal haja motivo.
É que se nos proíbem de festejar os nossos simples sucessos desportivos ao ar livre, um dia destes ainda nos proíbem de nos manifestar em defesa de liberdades e de direitos nas mesmas ruas e nas mesmas praças da cidade.
Até nestas coisas vai o Benfica sempre à frente. Fico-lhe muito agradecida.

PARA todos os efeitos, Jonas é o vencedor moral da Bola de Prata. Quem é que não gosta de uma boa vitória moral?
Esta, a do nosso maravilhoso Jonas, foi das mais belas e empolgantes vitórias morais de que me lembro assistir. Um estádio inteiro a puxar por ele, uma equipa inteira a trabalhar para ele, ele próprio a fazer o que tinha de ser feito - marcar três golos inteiros - e um bandeirinha inteiro a decidir que não, nem pensar numa coisa dessas, era só o que faltava o Jonas ganhar a Bola de Prata. Ficou o troféu entregue a Jackson Martínez o que ainda mais releva o feito de Jonas porque o colombiano é um jogador de categoria excepcional, provavelmente um dos melhores do mundo na sua posição.
Estão, assim, todos e muito sinceramente de parabéns. Jackson por ter ganho a Bola de Prata, Jonas por não a ter ganho, Lima pela sua infinita generosidade e o bandeirinha pela decisão tomada que, garantem três agências de comunicação dos rivais, não passou de uma manobra estratégica, um acto perverso, para disfarçar a devoção dos árbitros ao Benfica.
Em toda e qualquer circunstância a verdade é que sempre nos invejam, o que se compreende.

MAICON, o celebrado autor de um golo irregular e depois da hora que valeu o penúltimo título nacional do Porto, disse à partida para férias que o Benfica só foi campeão graças aos árbitros.
Nada há a acrescentar às palavras de Maicon.
Há piadas que se fazem a si próprias.

UM zapping rápido no serão televisivo de domingo. A SIC transmite pelo vigésimo ano a sua gala dos Globos de Ouro e por lá se vê Vítor Baía, antigo guarda-redes e capitão do Porto, tranquilamente sentado na plateia do Coliseu de Lisboa assistindo ao espectáculo.
Caberá o histórico Baía no abominável grupo de frequentadores da Capital e do centralismo nacional que o presidente do Porto denunciou por ocasião da retomada de posse de Lourenço Pinto como presidente da Associação de Futebol do Porto?
Ao que parece estava uma casa fraca e Pinto da Costa constatou publicamente que a falta «de figuras» na cerimónia da AFP se devia ao facto, indesmentível, de «haver festa na Luz».
É verdade que houve. E correu lindamente.
Pode já não se usar «o bloqueio a Cuba» mas o bloqueio psicológico à Capital segue impante. Ainda que menos triunfal. Bastante menos triunfal.
Quem não faltou à tomada de posse de Lourenço Pinto foi Valentim Loureiro. Para o presidente do Porto a presença do antigo presidente do Boavista e da Liga na cerimónia da AFP foi sinal de que «os antigos não esquecem».
Também é verdade.
Nem os antigos esquecem, nem os modernos, nem os do futuro. Ninguém se esquecerá enquanto houver youtube.

NO próximo fim de semana, o Benfica poderá voltar a celebrar um título nacional em Guimarães. Trata-se do título de basquetebol que, a vir, se somará aos sucessos do hóquei em patins e do voleibol benfiquistas, campeões nesta temporada também inesquecível para as modalidades do Benfica.
Em Portugal as modalidades são muito estimadas mas o futebol é rei. Por isso mesmo foi muito bonita a homenagem que Rúben Amorim prestou aos campeões nacionais de hóquei em patins e de voleibol na noite em que ele próprio se sagrou campeão nacional de futebol.
O Rúben Amorim é benfiquista, está atento a tudo, é cá dos nossos. Não há volta a dar-lhe.

AMANHÃ, o Benfica encerra os seus trabalhos de 2014/2015 disputando a final da Taça da Liga, a competição que o Benfica se foi habituando a ganhar antes de se começar a habituar a ganhar campeonatos, que é o que se deseja.
Por algum lado se tem de começar, não é? No caso do Benfica, começou-se pela Taça da Liga que é troféu nacional e oficial e, por isso mesmo, entra na contabilidade dos títulos conquistados."

Leonor Pinhão, in A Bola

Litoral e interior

"Por cada metro quadrado de notícias (e de não notícias) sobre a 1.ª Liga, há um centímetro quadrado de notícias sobre a 2.ª Liga. O costume... num contexto futebolístico (e não só) cada vez mais hierarquizado, onde os maiores o são cada vez mais e os pequenos o são quase definitivamente.
Contudo, chegados ao fim dos dois campeonatos - e excluídos Benfica, Porto e Sporting - qual a real diferença entre eles? Muito pouca. Aliás, nalguns aspectos a 2.ª Liga supera, competitivamente falando, a 1.ª divisão. Notável o modo como 5 equipas (7, se o Sporting B e o Benfica B pudessem ascender) chegaram à derradeira jornada com possibilidades de subir (algumas, entre ser campeão no penúltimo minuto e... não subir no último, como foi o dramático caso do D. Chaves).
Outro aspecto que me seduz na 2.ª Liga é a bem-vinda dispersão territorial. Comparemos as ligas desta época, com os clubes por distritos: 1.ª Liga - Porto (5), Lisboa (4) Braga (4), Madeira (2), Aveiro, Setúbal e Coimbra (1 cada). Nenhuma do interior. 2.ª Liga - Porto e Aveiro (3 cada), Faro (3), Lisboa (2), Viseu (2), Açores, Madeira, Vila Real e Castelo Branco (1 cada).
Sobe, pela primeira vez, o Tondela, do distrito de Viseu e regressa o União da Madeira. E ficaram bem perto de o conseguir mais dois clubes do interior: Desportivo de Chaves e Sporting da Covilhã.
Saúdo, no chamado estranhamente campeonato nacional de seniores, o regresso à 2.ª Liga do Famalicão e a ascensão do Mafra. Interessante vai ser o apuramento do 3.º clube a ser disputado entre duas equipas que já militaram na 1.ª divisão: o Varzim e o Casa Pia (este no longínquo ano de 1938)."

Bagão Félix, in A Bola

Duas finais com fecho de gala

"Coimbra: Marítimo aposta em sequelas da festa benfiquista... Jamor: a densidade do previsto equilíbrio. E a diferença do desfecho na complexa gestão Bruno-Marco...

Inédito em Portugal: temporada de futebol encerra com consecutivas finais de Taças, no espaço de 72 horas. Não foi deliberado, sim consequência de complicações no previsto calendário da Taça da Liga; e houve a sorte de nenhuma equipa ter conseguido acesso às duas decisões... Pronto, acabou por correr bem e aí está temporada com encerramento de gala.
Há favoritos em finais de Taças? Haver há; como também há frequência de serem torpedeados...

Óbvio: amanhã, em Coimbra, o Benfica partirá favoritíssimo perante o Marítimo. Não tanto por ser o grande especialista da Taça da Liga (5 conquistas em 7 edições); sobretudo por se tratar de confronto entre campeão nacional e 9.º classificado na Liga (com abismo de 41 pontos a separá-los!...; e, na soma dos dois jogos entre ambos, goleada de 8-1!).
Porém, todavia, contudo... Para além de grande parte do especialíssimo sortilégio de finais de Taça estar construído em inesperados desfechos, o Benfica acaba de passar dias de intensa festa... E a sua própria história mostra como finais (então da Taça de Portugal) imediatamente após festança de campeão lhe deram surpreendentes dissabores... Flagrantes exemplos: Benfica de Toni, embriagado por conquista do título, logo perde no Jamor face ao Belenenses; Benfica de Trapattoni, louros de campeão encharcados em champanhe, logo sucumbe às mãos do V. Setúbal.
Muito diferente foi o perfil psicológico da final conquistada pelo V. Guimarães há dois anos: nessa semana, o Benfica fora arrasado por derrotas no Dragão e na final da Liga Europa frente ao Chelsea, em ambos os casos com terrível requinte de desempate ao minuto 90+2...
Tudo por tudo do Marítimo nesta Taça da Liga, decerto apostando num ritmo que ponha à prova se o Benfica estará potencialmente dormente. Marítimo desligado do 4-1 na Luz na passada semana; sintonizado consigo próprio nos anteriores 8 jogos, sem derrota...
Já agora: Marítimo tem um jogador com alta craveira - Danilo, médio, formado no Benfica, vice-campeão mundial de sub-20, de seguida perdido em precoce saída para Itália - que seria absurdo não dar já salto rumo a outra dimensão e, palpita-me, estará sob namoro para regresso à Luz (ou será Alvalade?; Dragão longínquo, face ao corte de relações entre os dois clubes).
(...)"

Santos Neves, in A Bola

Foi um bom dia para a FIFA...

"Foi com esta frase surpreendente que o director de comunicação da FIFA, Walter De Gregorio, se dirigiu aos jornalistas na conferência de imprensa em que o organismo máximo do futebol mundial reagia à detenção, num hotel de luxo, em Zurique, de seis dos seus dirigentes, acusados de corrupção e de lavagem de dinheiro por uma investigação federal do governo norte-americano.
A notícia de que entre os dirigentes da FIFA já há catorze implicados causou estrondo em todo o mundo e, em especial, nos Estados Unidos, onde, curiosamente, o futebol está longe de ser um desporto com grande popularidade. Apesar deste terramoto, a FIFA decidiu manter a caricata reunião magna da prometida reeleição de Sepp Blatter para mais um mandato como presidente. Entretanto, o ambiente passou a ser de grande ansiedade, até porque a procuradora Kelly Currie anunciou que os resultados da investigação ainda estão no seu início.
Numa comprometedora afirmação oficial, De Gregorio também anunciou que a fonte inspiradora de toda a investigação tinha sido a própria FIFA, com base numa queixa formal feita em finais de 2014. Ora, tanto a procuradora americana, como o diretor do FBI, James B. Comey, anunciaram que esta investigação se reporta a um período de cerca de vinte anos e que começou há mais de três.
Ontem, o New York Times escrevia que a investigação se refere à FIFA nos mesmos termos em que se costuma referir à máfia e aos cartéis de droga. A pergunta legítima e incontornável que o mundo faz, neste momento, é: Blatter ainda pensa que tem condições para continuar a ser presidente da FIFA?"

Vítor Serpa, in A Bola

Blatter tem de ir

"Quantos sinónimos conhece da palavra vergonha? E quantos antónimos conhece da palavra decência? Pegue em todos eles, nos sinónimos e nos antónimos, e escreva todas as frases possíveis usando-as apenas com um substantivo: Blatter.
Não é mau feitio. Nem é um ataque de 'figuismo'. É mesmo a constatação de que a FIFA está envolta num manto de escândalos que têm vindo a ser noticiados há mais de dez anos, sempre acerca de um polvo de corrupção que tem uma só cabeça. Poucos têm tido a coragem de desafiar o poderio de Blatter, mas entre eles contam-se Luís Figo e Michel Platini. Mas mesmo estes não têm força que chegue para evitar a reeleição de Blatter. Tanto que Figo deitou a toalha ao chão e desistiu na semana passada. Até que esta semana houve um desenvolvimento inesperado, com a detenção de dirigentes da FIFA precisamente por suspeitas de corrupção. Se tivesse um pingo de vergonha na cara, Joseph Blatter demitia-se, para proteger a instituição. Se houvesse ponta de decência, a FIFA, no mínimo, adiava o ato eleitoral. Mas nada: tudo vai fazendo de conta que não se passa nada.
Chega a ser revoltante. Não é só a impunidade. É a inimputabilidade. Os casos relatados de suspeitas de corrupção em actos eleitorais e na escolha da organização de campeonatos mundiais (e repare-se que a única coisa que a FIFA faz é organizar campeonatos do Mundo) são chocantes. E se não há um sismo na FIFA por causa disto então nunca haverá. E é preciso que haja. Quem ama futebol não pode gostar disto. Quem gosta de decência não pode sequer não ficar maldisposto. Blatter tem de ir à vida. No mínimo."

Uma casa sem vergonha

"A FIFA foi varrida por um escândalo sem precedentes, de enormes dimensões e cujas consequências são ainda imprevisíveis. O impacto mediático foi (e é) tremendo, mas a surpresa da opinião pública limita-se às proporções que o caso já atingiu - são muitas e importantes as figuras detidas - e ao momento escolhido para despoletar o processo - vésperas de um congresso eleitoral.
A FIFA tornou-se numa casa sem vergonha onde a transparência - que provavelmente nunca existiu - deu lugar a notórios esquemas de corrupção. Mas apesar dessa evidência, Blatter e seu séquito continuaram impunes. Até ontem. O suíço mantém-se aparentemente à margem da investigação e agarrado ao poder, embora seja difícil acreditar que assim prossiga por muito mais tempo.
Como mero observador, 'subscrevi' a candidatura de Figo à presidência da FIFA. Fui também dos que lamentaram a sua desistência. Hoje, face ao desenrolar dos acontecimentos, admito que o antigo futebolista fez bem em renunciar a uma luta eleitoral que, como se prova, está claramente inquinada. O tentacular lóbi de Blatter e companhia não permite sequer alimentar a esperança de um debate, quanto mais a possibilidade de uma vitória numa eleição onde o voto está comprado.
O relvado do Jamor preocupa o Sporting. O tapete verde está em óptimo estado, mas a configuração do Estádio Nacional facilita um processo em que o relvado rapidamente fica seco e cria condições para um jogo mais lento. Para os leões, essa é uma desvantagem. O Sporting tem, todavia, um jogo demasiado importante para que o êxito dependa de questões menores. No entanto, só o jogo dirá se o relvado será mero detalhe. À cautela, o melhor é estar preparado para comer a relva."