"Com humildade, vamos a Guimarães com a esperança de concretizar o sonho que alimentamos desde que alcançámos a liderança; é um desígnio comum a toda a 'nação benfiquista'.
1. O Benfica está a um pequeno passo de conquistar, após um interregno de trinta e um anos, o bicampeonato. A vitória clara, essencialmente pragmática, face a um Penafiel que viu a sua descida de divisão concretizada, deixa-nos a três pontos de um objectivo que considero estratégico. No jogo de ontem houve, apenas, instantes artísticos e segundos de magia. Como os golos ou aquela finta de Jonas quase no final do encontro. Mas faltam três pontos. Estamos mais perto. Bem mais perto. Mas, com humildade, vamos a Guimarães com a esperança secreta que na cidade considerada o berço da nossa nacionalidade consigamos a concretização de um sonho que alimenta desde o arranque da época e que desde a quinta jornada, isto é no momento em que alcançamos a liderança da nossa Liga, é um desígnio comum a toda a 'nação benfiquista'. Desígnio que legitimou o nosso afastamento das competições europeias e que não provocou uma dor excessiva naquela noite em que o Sporting de Braga - merecido finalista! - nos afastou, no Estádio da Luz, da Taça de Portugal. Três pontos. Uma vitória. E sempre com a consciência que importa dominar a ansiedade e respeitar os adversários. Na certeza que também no desporto - que aliás conhecia bem como praticante - são verdadeiras as palavras do grande escritor francês André Malraux: «Não há cinquenta maneiras de combater, há apenas uma: a do vencedor»!
2. O Penafiel já sabe que tem de reduzir o orçamento do seu futebol profissional para a próxima época desportiva. Na verdade com o relevante peso das receitas televisivas no âmbito das receitas dos nossos principais clubes desportivos percebemos bem a luta renhida pela 'não descida' e o alimentado sonho pela 'subida'. Acredito que, esta época, poderemos ter surpresas já que poderá acontecer que 'descidas desportivas' não venham a ser concretizadas em razão do não cumprimento administrativo dos requisitos inerentes à manutenção de certos clubes - em rigor sociedades desportivas - nas competições profissionais. Poderemos viver a este nível um Verão bem quente. Já que o 'direito', ou seja aqueles que cumpriram - e cumprem - os requisitos quererão, por uma vez, que o 'torto' - aqueles que não cumprem e alguns, em certos casos, sistematicamente - tenham a devida sanção, ou seja, o inequívoco afastamento das competições profissionais. Basta olharmos, mesmo que com algum grau de tolerância, para aquilo que aconteceu, esta semana, em termos da UEFA e perante grandes nomes do futebol europeu. Também no futeobl europeu aparecem 'medidas tipo troika'. O que implica que o futebol deixou de ser um 'mundo totalmente à parte'. E uma referência para aqueles que proclamam 'novos tempos' para o nosso quotidiano existencial. É tempo de acabar, entre nós, e também no futebol, a concorrência 'desleal'! E de acabar a complacência de certos profissionais que continuam a acreditar, sempre nestes finais de época, que alguns 'administradores' vão arranjar 'dinheiro' para cumprirem as suas obrigações. Obrigações que são dívidas. Dívidas acumuladas. Na certeza, tão só, e como disse um dia Nicolau Maquiavel, que «onde há uma vontade forte não pode haver grandes dificuldades»!
3. Nesta semana que arranca ficaremos a conhecer os finalistas das duas principais competições europeias de clubes. Poderá acontecer, uma vez mais, que tenhamos três equipas espanholas no lote dos quatro finalistas. O que significa, de verdade, uma angústia existencial para os grandes nomes do futebol europeu 'não ibérico'. Mas o que fica para já destas meias finais é o segundo golo do Barcelona frente ao Bayern de Munique. Em rigor: o momento de Messi. Recordei um livro acerca de Messi do jornalista e escritor Luca Caioli - a história de um menino que se converteu numa legenda! - e de um dos seus interessantes capítulos. Aquele em que nos proporciona acerca do argentina uma 'conversa' com outro grande nome da escrita do desporto contemporâneo, Santiago Segurola. O título resume, na minha perspectiva, o lance, tão lindo e tão repetido, daquele segundo golo. Vivemos um momento de «estética supersónica»! E acrescenta que é «o único jogador capaz de ganhar uma partida em qualquer parte do relvado»!
4. José Lins do Rego, um grande intelectual e apaixonado adepto do Flamengo disse um dia que «o conhecimento do Brasil passa pelo futebol». Hoje em dia, e mesmo sabendo a dor que se pode causar a alguns intelectuais, o conhecimento de Portugal passa também pelo futebol. Cristiano Ronaldo e José Mourinho são dois expoentes. Sem falarmos do espaço lusófono, tão próximo de nós, na Rússia, na Suíça, na Grécia, em França - aquela do pedreiro é de mestre Leonardo Jardim! - no Egipto, no Irão, na Croácia, na Polónia, em Chipre, ou no Extremo Oriente, por exemplo, é o futebol, e os nossos treinadores e praticantes, que fazem uma ligação do cidadão comum a Portugal. A partir de Valência já é, também, e logo com o empate de ontem em Madrid, Nuno Espírito Santo. E, também, André Gomes. É verdade que o nosso mar é imenso e é indiscutível que temos grandes nomes em diferentes áreas científicas do Mundo. Como tem sido conhecido e reconhecido.
5. Quem repetiu a vitória, pela terceira vez consecutiva, e na bonita Ilha Terceira, foi o voleibol do Benfica. Todos merecem parabéns. Mas acima de tudo a aposta benfiquista no ecletismo. Que dá projecção e dimensão. Satisfação e reputação. Expressão e convicção. E, depois, ambição. Aquela que, decerto, vai estar presente em Guimarães. Com o Vitória já 'certo' na próxima edição da Liga Europa."
Fernando Seara, in A Bola