sexta-feira, 27 de março de 2015

Benfica mais perto do título

"No último sábado aconteceu uma série ininterrupta de acontecimentos paradoxais. Não vale a pena culpar o árbitro, mesmo que haja, e houve, erros em prejuízo do Benfica, pela derrota em Vila do Conde.
Estávamos a ganhar 1-0 e a jogar de uma forma em que quase todos prevíamos o pior.
A falta de Gaitán justifica, mas não explica tudo. O mérito do Rio Ave não pode servir para esconder alguns erros próprios. O Benfica não jogou bem, não soube sair de uma pressão alta, e nunca teve um fio de jogo como habitualmente tem.
Ainda mal refeitos da derrota, e com as contas do campeonato a complicar, o Porto depois de estar a vencer na Madeira mostrava ser sempre capaz de tranquilizar o rival e levar os seus próprios adeptos ao desespero.
Feitas as contas, estavam pior os adeptos portistas depois de empatar, que os adeptos benfiquistas depois de perder. Mesmo sem estar bem, o Benfica pareceu estar melhor ou menos mal que o seu opositor.
De facto foi uma derrota que colocou o Benfica mais perto do título. Agora faltam oito jogos, seis em Lisboa, cinco dos quais na Luz. Temos um calendário que terá de ser vencido com competência.
Já não há margem para mais deslizes, nem se pode contar com mais ofertas do nosso rival. Temos de voltar à qualidade que os permite chegar a mais um título, ao bicampeonato que os adeptos anseiam e merecem pelo apoio que nunca falta.
O Benfica ganhará se voltar a jogar bem. Não faltará o colinho dos adeptos nesta caminhada.
O castigo do seleccionador foi reduzido de forma substancial e há justiça na decisão. Se há consenso no futebol sobre Fernando Santos, é acerca do seu irrepreensível comportamento, e da sua ética e fair play. Esta decisão é mais equilibrada, sensata e justa."

Sílvio Cervan, in A Bola

E então?

"É óbvio que fiquei desiludido com a derrota em Vila do Conde. Sou adepto e não gosto de ver a minha equipa a vacilar. É perfeitamente normal que tenha atirado alguns impropérios para o ar, que tenha amaldiçoado um pontapé mal dado, uma perda de bola ou uma desatenção na defesa. Irritei-me com as decisões de arbitragem, apeteceu-me abanar a multidão que ficou em silêncio depois do golo do empate e não quis ver resumos do jogo durante o fim de semana. Tudo isto é normal quando se gosta tanto de um Clube.
Nos dias em que não ganhamos - e são cada vez em menos número - há daquela sensação de vazio, de um falhanço que é pessoal, apesar de saber que, mesmo com esta barriguinha, também eu não conseguiria marcar golo. Provavelmente todos nós teríamos metido mão à bola ou agarrado o adversário que corria para a baliza, mas isso só se sente algumas horas depois do sucedido. Naquele momento as reacções são como as repetições da Sport TV: não passam.
Faz parte do Desporto esta coisa do ganhar e perder, mas ninguém me venha dizer que não custa. É claro que o mal-estar é atenuado quando os outros - os que fazem a festa com a desgraça alheia, pelo menos desde a final de 1988 da Taça dos Campeões Europeus - também não conseguem os seus objectivos. Nesse caso, a desfeita é relativa, é matemática, apenas um grão na engrenagem. Os danos colaterais acabaram por ser mínimos: continuamos à frente, temos o maior número de golos e de vitórias e jogamos as próximas duas jornadas em casa, com paragem no campeonato antes disso. Sim, perdemos em Vila do Conde e então? Quem dera a todos os outros terem três pontos de avanço a oito jogos do fim."

Ricardo Santos, in O Benfica

Na frente!

"Se, por absurdo, em Agosto de 2014, no fim de uma pré-temporada angustiante, alguém nos desse a assinar um documento por via do qual, no início de Abril, o Benfica estaria a liderar o Campeonato com três pontos de vantagem sobre o segundo classificado, seria fácil recolher quase tantas assinaturas quantos os sócios e adeptos abordados.
Independentemente das expectativas que, num ou noutro momento, por este ou aquele resultado, foram sendo criadas, ninguém de bom senso esperaria que o presente Campeonato se transformasse num passeio - como, diga-se, de algum modo acabou por ser o anterior.
O plantel 'encarnado' sofreu entretanto muitas baixas, e o rival directo reforçou-se com exuberância. As forças equilibraram-se. E se este Benfica pôde continuar a vencer, não é justo exigirmos-lhe que o faça nadando num mar de facilidades.
A derrota de Vila do Conde foi dolorosa, mas não vai iludir os factos: estamos a fazer um Campeonato brilhante, e somos os mais sérios candidatos ao título. Perdemos uma batalha. Já havíamos perdido outras. Mas a guerra está aí, diante de nós, para ser vencida. Com agruras, com sofrimento, com avanços e recuos, com suor e com lágrimas. A nossa cor é de sangue, e a nossa história é de luta. Da Farmácia Franco aos heróis de Berna, de Eusébio e Coluna aos dias de hoje.
Não foi a choramingar que nos tornámos um dos maiores clubes do Mundo. Foi, sim, a reagir às adversidades com alma de campeão, e a erguermo-nos, mais fortes, de cada vez que tropeçámos.
Faltam apenas oito finais. Hoje é o primeiro dia do resto da temporada, e partimos na frente.
Força Benfica!"

Luís Fialho, in O Benfica

A seis vitórias (em Lisboa) do título

"Da euforia à depressão, com impaciência, angústia e incredulidade pelo meio, assim vivemos o final da tarde de sábado passado desde que Salvio inaugurou o marcador até que o árbitro terminou a partida, com o golo que deu a vitória ao Rio Ave a ser marcado no período de descontos. Bastaram umas horas para que as lamúrias e catastrofismo dessem lugar à esperança, e até algum entusiasmo, verificando o empate do FC Porto no reduto do Nacional.
Os fantasmas de um passado não muito longínquo pairaram na mente dos Benfiquistas, mas assim que terminou a partida na Madeira, foi lançado um dado interessante. Se o Benfica vencer os seis jogos que disputará em Lisboa (cinco na Luz e Restelo), será campeão nacional mesmo que não pontue nas deslocações ao Minho (Guimarães e Barcelos) e o FC Porto vença todas as partidas à excepção daquela e que defrontará o Benfica na Luz. Continuamos a ser o principal candidato ao título!
Entretanto, a senda de conquistas Benfiquistas em 2014/15 prossegue a bom ritmo (dos 14 títulos e troféus nacionais disputados pelos seniores masculinos das sete principais modalidades, 11 foram ganhos pelo Benfica). A nossa equipa de Basquetebol, sob liderança da glória Carlos Lisboa, acrescentou, ao Troféu António Pratas, Supertaça e Taça Hugo dos Santos, a Taça de Portugal, numa temporada que se tem revelado perfeita, faltando apenas atingir o principal objectivo, o 'tetra' no Campeonato Nacional. O domínio 'encarnado' na modalidade nos últimos anos (cinco campeonatos em seis épocas) faz lembrar as grandes equipas dos anos 90, com as quais cresci a admirá-las e percebi de que fibra são feitos os grandes campeões."

João Tomaz, in O Benfica

O silêncio é de ouro

"Estava a chegar a Maputo para o Congresso Luso-Moçambicano de Direito, quando a derrota do Benfica frente ao Rio Ave se apresentou como uma enorme surpresa. E não só minha: nas ruas de Maputo, nas principais avenidas da cidade e junto dos principais hotéis, portugueses e moçambicanos faziam a análise e denotavam a estupefacção perante o ocorrido. Para uma vasta maioria, uma noite de tristeza mas concomitantemente de esperança numa vitória final ainda mais saborosa.
O que surpreendia todos, inclusivamente os desatentos turistas era o incompreensível sentimento de euforia portista que, de repente, trouxe alguns adeptos para as ruas. Parecia uma vitória na Luz frente ao Benfica ou o acesso às meias finais da Liga dos Campeões. Mas não, era simplesmente a derrota... do Benfica.
O próprio Lopetegui acabou contagiado por esta onda de alucinação temporária, apressando-se a afirmar que, agora, dependem apenas deles próprios e de mais ninguém. Claro que, logo a seguir, o FC Porto empataria com o Nacional e essa onda começou a esbater-se. Nas ruas de Maputo, desapareceu por completo. Aliás... desapareceu por completo em todas as avenidas de todos os países da extensa Lusofonia. O que ficou então?
Ficou a euforia dos nossos adversários com a nossa derrota, como meninos à espera de um percalço. Ficou a histeria temporária perante a possibilidade de uma aproximação inesperada ao líder... e que resultou, no final do dia, em apenas mais um ponto, depois de uma malograda exibição frente ao Nacional.
Daqui só pode resultar um conselho vivo para o treinador e a estrutura dirigente do Futebol Clube do Porto: prezem o silêncio, pois na maior parte das vezes é de ouro. E, mesmo quando não é, salva-vos ao menos de sofríveis embaraços públicos."

André Ventura, in O Benfica