sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

As mentiras dos 'derbies'

"Um Sporting-Benfica é sempre um jogo carregado de história e de estórias. Domingo não será diferente. A mentira mais vezes repetida nestes derbies é a que ganha mais vezes o que está pior. De facto em dois terços dos casos ganha o que está melhor. Essa é a regra, e a matemática não engana.
Outra mentira, repetida muitas vezes, é que não há factor casa. Ora ganhou mais vezes quem jogou em casa, por isso está demonstrado o contrário. É assim em todos os clássicos do futebol português.
Domingo haverá uma certeza, sairemos de Alvalade em primeiro lugar. E há uma segunda certeza, para a semana não voltaremos a jogar com o Sporting, na meia-final da Taça da Liga, porque os de Alvalade não chegaram a esse objectivo. Será contra o V. Setúbal que teremos que cumprir esse objectivo, que este ano passou a ser tão prioritário para o rival azul e branco.
Nas últimas três conferências de imprensa Lopetegui nunca se esqueceu desse escopo principal. Parabéns por isso, mesmo que irrite tanto os seus próprios adeptos...
Lamento apenas que o rol de lesionados limite, cada vez mais, o Benfica desta época. Gaitán e Júlio César fazem falta, os melhores fazem sempre falta, por muito bem que joguem os colegas que os substituem. A vitória sobre o Boavista teve a cabeça dos adeptos o sabor amargo da lesão do guarda-redes e por isso ninguém saiu a rir da Luz no último sábado.
O Sporting tem um excelente treinador, mas o objectivo do Benfica domingo só pode ser o de vencer, por muitas adversidades que tenha. Não constatar que é um dos jogos mais difíceis que teremos até ao fim seria não respeitar o Sporting, e essa atitude não seria sensata e não seria digna de campeão.
E é campeões que queremos continuar a ser, este ano, pela trigésima quarta vez. É assim no Benfica, não se festejam jogos festejam-se títulos."

Sílvio Cervan, in A Bola

Mais do que um dérbi

"Olhando para as estatísticas, e ao contrário da 'verdade' com que somos anualmente confrontados, um Benfica-Sporting, na Luz, tem sempre um acentuado favorito. Por exemplo, nos últimos nove campeonatos, o Benfica venceu 6 vezes, empatou três, não perdendo em nenhuma ocasião. Mais: nos últimos oito Benficas-Sportingues disputados na Luz, apenas sofremos um golo. Pelo contrário, em Alvalade, e segundo as mesmas estatísticas, o equilíbrio prevalece, não havendo favoritismo a atribuir. Ou não se registassem precisamente três vitórias, três empates e três derrotas, nos últimos nove dérbis para o campeonato jogados no recinto dos nossos vizinhos.
Para este domingo, é pois difícil avançar com prognósticos - até porque, como alguém sabiamente afirmou, em futebol eles apenas devem ser feitos no fim dos jogos.
Já quando à importância do desafio não restam dúvidas. Embora uma vantagem de sete pontos salvaguarde, sob o ponto de vista aritmético, a liderança benfiquistas, sabemos que, na prática, uma derrota em Alvalade traria o Sporting de regresso à luta pelo título (coisa que bem dispensamos), permitindo igualmente a aproximação do FC Porto - que poderia passar a depender apenas de si próprio, situação substancialmente mais motivadora para qualquer perseguidos numa prova desta natureza. Tratando-se de um jogo decisivo para os nossos adversários directos, trata-se, consequentemente, de um jogo decisivo também para nós. E é dessa forma que o teremos de abordar.
Sabemos que do outro lado está uma equipa jovem, e que a pressão de enfrentar o tão odiado quanto temível Benfica costuma pesar-lhe nos ombros. Devemos saber jogar com isso, e com a força que o escudo de campeão transmite aos nossos atletas. A confiança e a maturidade poderão ser a chave para um resultado positivo. Um empate não seria dramático - não abria espaço a qualquer dos perigos acima referidos -, mas as vitórias são a nossa forma de estar na vida, e é para a conquista dos três pontos que teremos de apontar as baterias."

Luís Fialho, in O Benfica

Os satélites da Liga

"Ao longo desta última semana muito se ouviu sobre o desempenho do Paços de Ferreira frente ao FC Porto e sobre a actuação dessa mesma equipa, uma semana antes, frente ao SL Benfica. Todos sabemos que Paulo Fonseca foi treinador do FC Porto e todos sabemos também que o Paços de Ferreira tem - como aliás é do seu interesse - excelentes relações desportivas e institucionais com o FC Porto. Mas, como se diz em português genuíno, 'às vezes é demais'.
Quem visse o Paços de Ferreira jogar nas duas partidas não acreditaria que o espaço temporal que mediou entre as duas fosse de apenas alguns dias. Pareceria, em bom rigor, que estávamos a assistir a uma espécie de canal História do desporto.
Desde jogadores do Paços que ficaram extremamente felizes - e assim o fizeram chegar à imprensa - por ajudar o FC Porto a manter-se na luta pelo título, a um Paulo Fonseca que parece um treinador sem personalidade quando defronta o seu antigo clube, passando ainda por um Sporting de Braga que só correr com afinco quando joga com o Benfica, todo o cenário a que temos assistido nos remete para a ideia de que, na verdade, o Benfica não defronta apenas os seus dois adversários directos na luta pelo título de campeão nacional, mas todo um conjunto de satélites dispersos pela tabela classificativa.
Deve isto desmotivar-nos? Nem pensar! Pelo contrário, deverá tornar-nos conscientes de que, se vencermos o 34.º título de campeões nacionais, nenhum outro clube se aproxima sequer do nosso nível de mérito. Na verdade dos factos, no fundo da questão, o Benfica não terá, nesse dia, vencido apenas o FC Porto e Sporting na corrida ao título, mas todo um conjunto de clubes de pequena ou média dimensão que jubilam de felicidade sempre que colocam mais uma pedra no nosso caminho."

André Ventura, in O Benfica