sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

FC Porto é o único rival

"Ainda é muito cedo para estabelecer um relógio de countdown para o fim do campeonato. Mas a verdade é que no subconsciente de cada benfiquista então, por um lado, os seis pontos de vantagem sobre o rival e, por outro, os cinquenta e sete que distam do final da prova. Eu saí de Penafiel e exclamei: «Faltam menos três pontos!».
Jorge Jesus tem razão quando diz que os principais reforços do Benfica deviam vir da enfermaria. Fejsa, Rúben Amorim, Luisão, Sílvio, Eliseu, Salvio e, agora, parece que Talisca. Bem, é quase uma equipa que lutava pelo título aos cuidados do departamento médico. Os adeptos esperam a chegada de alguns destes reforços que tanta falta fazem e tanta qualidade têm.
Em Penafiel, gelados pelo frio, foi uma equipa quanto baste, para vencer um dos últimos, mas só um Benfica muito mais forte vencerá o surpreendente Vitória de Guimarães. Entramos num Janeiro com um calendário muito complicado para o Benfica e, por isso, não há grande margem para erros, se queremos manter esta vantagem.
Enquanto no FC Porto se proclama (mais adeptos que responsáveis) todos os dias terem a melhor equipa, a nós, Benfica, resta-nos com humildade ir vencendo os jogos, para manter a melhor equipa a boa distância. O FC Porto tem uma boa equipa e vai ser rival até ao fim. Não há outro. Haverá adversários de valor, mas não capazes de chegar ao título, reservado a dois candidatos.
Sábado, na Luz, só espero dificuldades. Tributo a Eusébio seria vencer, era isso que ele mais gostava no Benfica. Será um dos jogos mais difíceis do Benfica até ao fim da época. Rui Vitória é um excelente treinador e está no Vitória de Guimarães a fazer um excelente trabalho, como aliás fez em todos os clubes por onde passou.
O meu desejo é chegar ao fim do jogo e poder voltar a dizer: «Faltam menos três pontos para o 34»."

Sílvio Cervan, in A Bola

Um ano inesquecível

"O ano de 2014 entrou para a galeria dos mais empolgantes da história recente do Benfica.
É verdade que começou de forma triste, com o desaparecimento de duas lendas do futebol português e mundial, que tantas saudades nos deixaram. Eusébio e Coluna partiram, e, infelizmente, já não puderam desfrutar dos triunfos com que o clube que tanto amavam, e ao qual tanto deram, varreu o país. Certamente que a magnitude do seu legado serviu de inspiração aos atletas encarnados que, ao longo dos meses seguintes, nas várias modalidades e escalões, fizeram de 2014 um ano para recordar. Desde logo, no Futebol.
Campeonato Nacional, Taça de Portugal, Taça da Liga e Supertaça. Tudo ficou nas nossas mãos. Mais títulos nacionais houvesse, mais títulos seriam conquistados. Foi, como se costume dizer, uma limpeza.
Só um árbitro alemão de má memória impediu a nossa equipa de alcançar a consagração internacional que tanto merecia. Os penáltis de Turim foram, sem dúvida, o momento desportivo mais doloroso de 2014, não só pela perda de algo que parecia estar perfeitamente ao nosso alcance, como pelo sentimento de injustiça face à forma obtusa como tal desfecho se concretizou.
Já na nova temporada, as treza vitórias em quinze jogos do Campeonato, a clara vitória no Estádio da Dragão, e os seis pontos de vantagem na tabela classificativa, indiciam que o sonho do 'Bi' está bem vivo. É esse o grande desejo de todos nós para 2015. É esse o desígnio que terá de nortear a família benfiquista durante os próximos cinco meses. Unidos, enchendo estádios, criando uma avassaladora onda vermelha em torno da equipa e de cada partida, estou seguro de que voltaremos ao Marquês.
Também nas restantes modalidades o Benfica deu cartas em 2014. Campeão de Basquetebol, Atletismo e Voleibol, vencedor da Taça de Portugal em Hóquei em Patins, líder nas várias frentes em que participa nesta nova época, o último ano evidenciou um Benfica altamente competitivo, e predominamente ganhador. Também no ecletismo, 2015 promete."

Luís Fialho, in O Benfica

Um grande 2014

"Não se podia pedir muito mais ao Benfica na entrada em 2015. Não compreendo as críticas que têm surgido na imprensa nas últimas semanas em relação à prestação do plantel de Jorge Jesus nesta primeira metade da temporada 2014/15.
Que fomos eliminados prematuramente das competições europeias, ninguém o negará. Que, em relação à equipa do ano passado, perdemos alguns activos de grande valor, também não restarão dúvidas. Que o Benfica está sempre na Taça de Portugal para vencer e este ano não conseguiu ultrapassar os adversários, é uma verdade. No entanto, também verdade é que tivemos o melhor início de Campeonato dos últimos 20 anos e nos encontramos a seis pontos do segundo classificado e a dez pontos de um dos mais importantes adversários directos.
Também é verdade que começamos com o pé direito a defesa da Taça da Liga. E, ninguém o poderá negar em boa-fé, Jesus tem conseguido encontrar substitutos à altura de todos os grandes nomes que se ausentam do plantel, construindo hábeis esquemas tácticos em função dos recursos que tem disponíveis. Não é isso que queremos de um treinador? Não é isso que queremos de um presidente?
Ignorar o facto de que o mercado do Futebol não se coaduna com fechar os olhos ao seu funcionamento e à circulação do dinheiro é vetar o Benfica ao isolamento internacional. Ignorar o facto de que é impossível a uma equipa portuguesa manter indefinidamente os seus jogadores face ao mercado internacional de jogadores é continuar a gritar para o vento.
Deixo a pergunta aos Benfiquistas, numa altura em que tanto se fala da saída de Enzo e da chegada do mercado e inverno: líderes isolados do Campeonato a seis pontos do segundo classificado; um treinador que já deu evidentes provas da sua maleabilidade e um presidente que tem feito um esforço hercúleo para nos manter à tona, não obstante as dificuldades óbvias do mercado financeiro actual: Poderíamos querer mais na entrada do novo ano?"

André Ventura, in O Benfica

E Eusébio ouvia-os cantar «We all live in the Oval submarine»

"Em 1967, o Benfica joga em Belfast, para a Taça dos Campeões com o Glentoran. Um jovem adepto estás nas bancadas - chama-se George Best. A visita dos campeões portugueses torna-se motivo de sensação. Os elogios não se esgotam.

Voltemos a Eusébio. Promessa feita, promessa sendo cumprida, semana a semana, agora que está a dobrar um ano sobre o seu «encantamento», como diria Guimarães Rosa: «A gente não morre, fica encantado».
Aí onde ele estiver, encantado, Eusébio da Silva Ferreira merece que o recordemos sempre, continuadamente. Eu faço-o com gosto, como um tributo à amizade, às muitas conersas longas que tivemos, muitas por todo o mundo, atrás do Benfica e da Selecção Nacional, outras à sombra do carinho do grandíssimo Ti' Emílio que foi para Eusébio como um pai.
Escrevo e reescrevo sobre Eusébio. Repito-me por vezes, mas as lembranças também são mesmo assim, repetições de tempos que não voltam mais.
Vocês sabem, em Inglaterra há uma paixão monstra por Eusébio. Que digo eu? Em Inglaterra? Em toda a Grã-Bretanha, Irlanda e tudo.
Na Irlanda e Norte também há um fascínio por Eusébio. Uma vez estive lá como ele, em Belfast, talvez há uns dez anos. Quando o viram subir ao relvado, os adeptos do Windsor Park explodiram de entusiasmo. Assisti a outros episódios iguais: em Dublin, por exemplo, em 1996, nas vésperas do início do Campeonato da Europa.
Pouco lhes importa que Eusébio já não jogasse. Era a lenda. Viva.
Uma admiração forte, genuína. Como se lhes estivesse no sangue.
Há milhares de episódios que se podem contar sobre esse fascínio britânico por Eusébio. Já contei tantos e tantos, nas páginas de jornais, em livros, em conversas descontraídas.
O próprio Eusébio me contou tantas vezes que fiz questão em guardar preciosamente.
Falemos então da Irlanda do Norte. De Belfast.
Eusébio está profundamente incrustado no coração de Belfast: um diamante preso na sua cela negra de carvão.
Belfast: cidade escura - barro, fumo, cimento...
Em Setembro de 1967, o Benfica foi a Belfast jogar com o Glentoran para a primeira eliminatória da Taça dos Campeões.
«September 13, 1967... an historic night in Irish soccer history. Many moments from this game will always remain imprinted in the memory».
É assim que Malcolm Brodie, antigo jornalista do «Belfast Telegraph», começa a descrever essa noite extraordinária no Oval Stadium no seu livro «The Story of Glentoran». Não se tenha sido um jogo fora do comum.
Não foi. Havia, isso sim, em Belfast, a expectativa de ver jogar o famoso Benfica com Eusébio e Coluna, e José Augusto e Torres e Jaime Graça. O Campeonato do Mundo de Inglaterra decorrera há pouco mais de dois meses, Eusébio estava no auge da sua popularidade mundial. «Mighty Benfica and its glittering array of stars including the incomparable Eusébio», chama-lhes Brodie.

E Eusébio rematava e rematava e rematava...
O Glentoran fez um golo cedo, de «penalty», logo aos 9 minutos, por Colrain; Tmmy Jackson foi a sombra de Eusébio; Albert Finlay parecia feito de borracha nas suas defesas contínuas.
O público cantava: «We all live in a Oval submarine». 40.000 vozes ao soim da música dos Beatles.
Eusébio multiplicava os remates: dois ao poste, vários outros passando bem perto da baliza, ao lado, por alto, desviados pelas mãos de Finlay.
Murmúrios de admiração e espanto perpassavam as bancadas. O Benfica atacava com fúria mas com pouco método, insistindo nos remates de Eusébio e no jogo de cabeça de Torres. Os minutos escorreram: grãos de areia por entre dedos de uma mão aberta. Torres vê um golo anulado e, ao minuto 60, uma carga brutal sobre Eusébio dá ao Benfica um «penalty» a possibilidade do empate. Eusébio queixa-se com dores, está fora de campo, é Jaime Graça quem marca: falha.
O final do jogo é penoso para Eusébio. Coxeia; sofre a dureza dos homens do Ulster. Falam cinco minutos: um passe de José Augusto e Eusébio remata: poderoso, insensível, devastador. Inevitavelmente golo.
Para os jogadores do Glentoran, o empate é uma festa. Eusébio é grande! «Amazing!». dizem eles. O público invade o relvado, leva os seus em ombros, rodeia aquele atleta vigoroso de Moçambique que dominou o campo com a sua imagem soberba.
George Best é um dos adeptos que aplaudem Eusébio com entusiasmo.
Mal sabiam, ainda, que aquele golo de Eusébio valeria a eliminação: na Luz novo empate, 0-0.
Quatro anos antes, no mesmo Windsor Park, Eusébio já tinha marcado um golo vistoso, frente ao Distillery, num empate de 3-3 para a 1.ª «mão» da primeira eliminatória da Taça dos Campeões.
Eusébio não falhava os seus compromissos com o Ulster.
Por isso continuou idolatrado na sangrenta Belfast de tantas batalhas. Eles, lá, também não se esquecem. Eles que tiveram igualmente o seu herói único e irrepetível - George Best.
«Mighty Eusébio!?» escreveu-se. A tinta também não se apaga."

Afonso de Melo, in O Benfica

Prenda de Natal

"O anúncio foi demorado, sofrido, cansativo e com muitos episódios pelo meio, mas finalmente proclamou-se no último Domingo: o Sport Lisboa e Benfica é o campeão incontestável de inverno 2014/15. Depois de um atribulado período de transferência de jogadores e da saída de nomes importantes como Oblak ou Cardozo, muitos vaticinavam, outros desejavam, uma desastrosa época para os encarnados. Eis que o plantel comandado por Jorge Jesus personalizou uma verdade incontornável: o Benfica foi a equipa mais regular e tacticamente melhor organizada nestes primeiros meses de Liga Portuguesa de Futebol.
Desde equipas extremamente consistentes defensivamente até aos colectivos com melhor eficácia ofensiva (como o FC Porto), a todos o Benfica deixou a marca de vitórias sólidas e tranquilas, nem sempre ostensivas, mas consensualmente reconhecidas.
O onze liderado por Jorge Jesus tem ainda demonstrado duas características essenciais que o definirão, em Maio, como campeão nacional 2014/15: a perseverança e a capacidade de adaptação táctica. Nenhuma equipa tem acreditado tanto como o Benfica que cada vitória é fundamental e que em todos os jogos é possível vencer, independentemente do adversário ou do resultado que o jogo leva num determinado momento. A derrota frente ao SC Braga e também a vitória frente ao Mónaco para a Champions são a prova desta mesma perseverança. Por outro lado, o Benfica tem dado verdadeiras lições de táctica aos seus adversários, que se mostram surpreendidos e desarmados frente às 'inovações' e ao jogo complexo dinamizado por Jesus. Que o diga Lopetegui que ainda deve estar a estudar os movimentos dos encarnados no Dragão.
Ser Campeão de Inverno é uma óptima prenda de Natal para todos os benfiquistas. Não apenas pelo título informal, mas pela substância das coisas que ele encerra: o Benfica é a melhor equipa a jogar em Portugal nesta altura... mesmo sem Rúben Amorim, Eliseu e Fejsa."

André Ventura, in O Benfica

PS: Após 3 semanas de mistério, descobri a razão porque o jornal d'O Benfica (edição Natal) não me chegou à caixa de correio: o carteiro enganou-se na caixa, e meteu o jornal, na casa do meu vizinho!!! Que por acaso, está actualmente vazia, e assim só 3 semanas depois, com a visita ocasional do proprietário, descobri a sua localização!!!
Apesar do atraso, fica aqui as crónicas da edição de Natal em falta... Esta do Ventura, e a próxima do Afonso de Melo.