quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Em defesa da jovial maturidade

"Tal como o personagem principal de 'O Curioso Caso de Benjamin Button', a nossa selecção progride em modo de regressão. Até Quaresma parece mais novo do que quando não joga no FC Porto.

NA sexta-feira passada lá se venceu à tangente a Arménia com um golo do «gajo do costume», tal como ficou expresso na feliz manchete deste jornal na edição do dia seguinte ao jogo no Estádio do Algarve. Na verdade, todas as homenagens ao dito do costume são poucas.
A Federação Portuguesa de Futebol, até para nunca vir a ser acusada de gestão danosa, devia transportar sempre Cristiano Ronaldo numa bandeja em aço inoxidável de última geração coberta por uma redoma de diamante amassado com titânio por causa das tosses. O gajo é de ouro.
Veja-se só isto: para a selecção de Cristiano Ronaldo jogar o amigável com a Argentina, em Manchester, os organizadores do acontecimento pagaram à FPF um cachet de 1,2 milhões de euros, o maior de sempre a entrar nos seus cofres. É muito dinheiro tendo em conta que Cristiano Ronaldo jogou apenas na primeira parte, cláusula que devia estar combinada entre as partes.
1,2 milhões de euros não foi dinheiro gasto, com certeza, para atrair a Old Trafford um público desejoso de conferir com os seus próprios olhos o fabuloso salto para trás no tempo que é já marca distintiva da selecção desta era Fernando Santos.
Tal como o personagem principal da história O Curioso Caso de Benjamin Button, a nossa selecção progride em modo de regressão. E progride bem, não se faça disto um bicho-de-sete-cabeças.
Até Ricardo Quaresma, quando joga na selecção, parece mais novo do que Ricardo Quaresma quando não jogo no FC Porto.
Não que haja qualquer coisa a obstar ao excelente contributo nas importantes vitórias sobre a Dinamarca e sobre a Arménia, jogos a valer, emprestado pelos jogadores seniores-seniores que Fernando Santos foi recuperar à era Queiroz. Foram até brilhantes, quase todos, pela jovial maturidade que souberam pôr em campo ao serviço da qualificação de Portugal para o Europeu de 2016 que se realiza em França.
O facto de se realizar em França é, só por si, uma excelente notícia para Fernando Santos porque tudo o que acontecer de menos bom à sua e nossa selecção será sempre, em primeira instância, por culpa do Platini. E só depois virão as culpas do seleccionador como, aliás, é prática tradicional.
Voltemos, então, ao gajo do costume até porque foi só por ele que o cachet recebido pela FPF atingiu os gordíssimos números referidos. E também foi só por ele e só com os golos dele que Portugal, muito a custo, conseguiu vencer dinamarqueses e arménios.
1-0 e 1-0, tangenciais, suficientes e com a mesma assinatura.
Cristiano Ronaldo, enfim, é o Talisca da nossa selecção.

QUATRO motivos de preocupação numa semana sem jogo do Benfica:
1) Renovação do Maxi.
2) Possibilidade de lesões do Enzo Pérez e do Gaitán ao serviço da selecção argentina caso o treinador resolvesse metê-los a jogar no amigável com Portugal.
3) Possibilidade de lesão do Talisca ao serviço da selecção do Brasil caso o treinador resolvesse metê-lo a jogar no amigável com a Áustria.
4) Possibilidade de lesão do Maxi Pereira ao serviço da selecção do Uruguai sendo certo que o treinador resolve, de caras, metê-lo a jogar no amigável com o Chile.

QUE venha a chanceler alemã protestar por Portugal ter licenciados a mais, ainda se compreende em função da conjuntura internacional, mas que venha o presidente do Bayern Munique protestar por o Benfica ter sócios demais já parece, francamente, má vontade.
Escusada seria, no entanto, aquela resposta oficial do Benfica com a ideia triste de fazer fotografar três jogadores da casa exibindo em alemão para alemão ler. Mas para quê? É que nem parece coisa nossa... antes pelo contrário.

MAIOR alegria numa semana sem jogo do Benfica:
- O golaço de Gonçalo Guedes na conversão de um livre no jogo da selecção de sub-19 com a Dinamarca.
Tristezas da semana:
- Foram-se embora o José Luís e o Asterónimo Araújo. O roupeiro e o enfermeiro. Partiram quase ao mesmo tempo. Até parece que combinaram. Eram uma simpatia, ou melhor duas simpatias.

DE Dinis, que foi um brilhante extremo-esquerdo no Sporting entre 1969 e 1975, soubemos boas notícias através da edição de anteontem de A BOLA. O elegante angolano continua atento ao futebol português e ao dia-a-dia do clube cujo emblema defendeu com tão bons resultados.
No seu tempo de jogador não havia defesa-direito que o travasse, excepção feita a Artur, o Ruço. Os protagonizaram duelos épicos. Artur começou a confrontar-se no mesmo corredor com Dinis ainda em representação da Académica de onde rapidamente se transferiu para o Benfica passando, então, os tais duelos a ter palco de derby, o que lhes conferia uma dimensão superior.
O derby tem um histórico imenso de duelos individuais. O capítulo do mano-a-mano é inesgotável renovando-se continuamente os protagonistas, naturalmente. Como espectadora, confesso, gostei de todos a que assisti. Sendo que entre os meus primeiros se contam os duelos Eusébio-Damas e Artur-Dinis e entre os últimos se conta, por exemplo, o duelo Óscar Cardozo-Rui Patrício que, do meu ponto de vista, não foi tão artístico como os anteriormente citados mas não deixou se ser espectacular.
Olhando com benevolência para o actual quadro de jogadores dos dois lados da Segunda Circular é francamente difícil projectar o próximo mano-a-mano de fazer estarrecer o derby de Lisboa. Não é que em ambas as equipas não abundem os bons jogadores mas por isso mesmo, por serem bons, é de duvidar que permaneçam por estas bandas o tempo suficiente para poderem construir um historial de truz.

QUATRO temas insólitos numa semana sem jogo do Benfica:
1) As Ilhas Faroé foram ganhar à Grécia.
2) A presidente do Gençlerbirligi vai multar em 9 mil euros qualquer jogador que lhe apareça de barbas pela frente.
3) O Sporting vai apresentar-se na Taça da Liga com uma formação mista de jogadores da equipa B e dos juniores.
4) Está-se a acabar o chocolate.

FOI uma boa semana sem jogo do Benfica até porque nenhum dos nossos internacionais em acção se lesionou. Maxi foi titular pelo Uruguai, Talisca não se estreou no escrete, Enzo não saiu do banco em Old Trafford. Já Gaitán saiu do banco na segunda parte e quase marcava dois golos bonitos. Mas dos quase-golos não reza a história, como sabemos.
Importante é que todos regressam aptos para o que se avizinha cá por casa. O próximo compromisso diz respeito à Taça de Portugal e o adversário é o Moreirense. Máxima concentração, é o que se deseja.
Entretanto, sem jogadores do Benfica, a selecção nacional venceu a Argentina com o resultado do costume (1-0), com o golo a ser marcado quando é costume (nos instantes finais do jogo), com a assistência a ser feita pelo do costume (Ricardo Quaresma), sendo que o seu autor, desta vez, não foi «o gajo do costume» (Cristiano Ronaldo), mas Raphael Guerreiro que parece já tão acostumado a estas altas andanças que até causa espanto.
O jovem Raphael estreou-se pela selecção dos crescidos no jogo com a Arménia dando boa conta do recado na sexta-feira. Na terça-feira ficou no banco na primeira parte do jogo com a Argentina escapando-se assim a ter de enfrentar Lionel Messi. Depois jogou quase toda a segunda parte de Manchester e coube-lhe marcar o golo da vitória portuguesa. Estas coisas nunca acontecem por acaso. Raphael Guerreiro chegou para discutir o lugar com Fábio Coentrão, vai uma aposta?"

Leonor Pinhão, in A Bola

Gato por lebre

"Não fora o resultado - caído do céu - e nada se aproveitaria do particular Portugal-Argentina. É que foi mesmo particular. Uma espécie de solteiros contra casados em versão vedetista.
Num jogo em que as federações dos dois países receberam um importante cachet, houve uma enorme falta de respeito pelos espectadores que compraram o seu bilhete e pelas televisões que pagaram os direitos de transmissão. Não tanto pelo jogo ser de duvidosa qualidade (os rapazes só se esforçam qb nestas jogatans...), mas pela insensatez de, ao intervalo, terem saído Ronaldo e Messi. Não que estivessem a jogar bem, principalmente o nosso jogador, mas o que se serviu, a partir daí, foi gato por lebre. Porque mais do que Portugal e Argentina (ainda por cima em campo neutro), o contrato e a expectativa alimentados freneticamente pelos patrocinadores se concentrara nos dois craques.
Mandam as mais elementares regras éticas que não se devem defraudar tão acintosa e unilateralmente os compromisso assumidos. Era esse o dever de quem dirige, orienta e joga. É como uma pessoa pagar o ingresso para uma ópera famosa e, depois do intervalo, o programa ser alterado (comparação sem ofensa para os que ficaram a jogar) para a música pimba que se ouve nos domingos à tarde em alguns canais televisivos. Uma aldrabice.
Os craques não têm apenas direitos. Têm obrigações que devem respeitar. De um modo reforçado, tratando-se da representação do país. É para isso que não principescamente pagos.
Nestas alturas, vem-me à memória o grande Eusébio. E as precárias condições em que, às vezes, jogava para que fossem respeitados contratos firmados pelo Benfica..."

Bagão Félix, in A Bola